quinta-feira, 16 de abril de 2009

O meu gato preto


Certa noite, quando era criança, estava correndo na via escura que dava para casa da minha avó, me deparei com um gato preto com os olhos verdes enormes brilhando em minha direção. O terror foi tão grande que soltei um grito insano hahaha! Lembro que minha avó me confortou com um copo d'água com açúcar, enquanto meu coração quase dilatava desconfortavelmente em meu peito. Mesmo atemorizado com a minha reação, o maldito bichano insistiu em se hospedar por lá. Eu havia pensado ele tivesse tomado esta atitude como forma de atenuar o seu remorso, afinal eu quase morri por conta daquele olhar funesto. A exemplo de outros felinos, ele era traiçoeiro, desconhecia a benevolência. E se ele estivesse ali apenas para se divertir do meu temor? Confesso que era bem torturante pensar que a qualquer hora ele poderia me assustar novamente. Na verdade, o que me aliviava um pouco daquela paranóia toda, era tentar me alienar que ele já estava bem velho e debilitado por causa de uma infecção em sua cauda. Ele não teria nem mais força para repetir tal maldade, embora aqueles olhos sempre me indicassem o oposto. E eu acompanhei diariamente a corrosão de seu membro até a sua morte, duvido eu, tranqüila. A minha platéia neste período foi à forma que encontrei de me aliar a ele, ou talvez me de vingar silenciosamente, deixando o arrependimento bem de lado uma vez que a angústia é o menor dos defeitos.

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