terça-feira, 31 de agosto de 2010

honesto...sangrento...grostesco

O que é louco? O que é um alienado autêntico?

É um homem que preriu ficar louco no sentido socialmente admitido, ao invés de prevaricar contra determinada idéia de honra humana.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

gênio


Ele é o afeto e o presente pois abriu a mansão ao inverno espumante e ao rumor do verão, ele que purificou a bebida e os alimentos, ele que é o charme dos lugares em fuga e a delícia super-humana das estações. Ele é afeto e o futuro, a força e o amor que nós, pisando sobre ódios e tédios, vemos passar num céu de tempestades e bandeiras de êxtase. Ele é o amor, na perfeita medida reinventada, razão maravilhosa e imprevisível, e a eternidade: adorável máquina de qualidades fatais. Sentimos o terror de sua concessão e da nossa: ó prazer de nossa saúde, élan de nossos sentidos, afeto egoísta e paixão por ele, ele que nos ama em sua vida infinita... E nós o invocamos e ele viaja... E se a Adoração se vai, soa, sua promessa ressoa: "Para trás essas superstições, esses corpos antigos, esses casais e idades. Esta é uma época que naufragou!" Ele não irá mais embora, nem de novo descerá de nenhum céu, e nem completará a redenção das raivas femininas e das alegrias dos homens e de todo este pecado: porque está feito, ele estando, estando amado. Ó seus suspiros, suas cabeças, suas corridas; a terrível velocidade da perfeição das formas e da ação. Ó fecundidade do espírito e a imensidão do universo! Seu corpo! A liberação sonhada, a explosão da graça invadida por uma nova violência! sua visão, sua visão! Todo velho ajoelhar e as penas se absolvem à sua passagem. Seu dia! a abolição de todos sofrimentos sonoros e móveis de uma música mais intensa. Seu passo! as migrações mais vastas que as antigas invasões. Ó ele e nós! o orgulho mais bondoso que as caridades perdidas. Ó mundo! cristalina canção de novas sinas. Ele nos conheceu a todos e todos amou. Saibamos, nesta noite de inverno, de cabo a cabo, do polo turbulento ao castelo, da multidão à praia, de olhar a olhar, força e afetos lassos, chamá-lo, e vê-lo, e mandá-lo embora, e sob as marés e de cima dos desertos de neve, seguir suas visões, seu sopro, seu corpo, seu dia.

Arthur Rimbaud

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

deathwish


A luta de quem eu poderia ser
Ou daquilo que poderia ter sido
Às vezes sinto um vento gelado fitando o meu peito
Ele me convida a canto escuro de uma sala
Por que eles lutam freneticamente?
Será que sou um anjo curioso que saiu aqui por acaso?
Quantas lágrimas me vieram e
Recorri à escuridão esperando o afago do útero
Muitas vezes desprezei o olhar triste da mãe
Com medo de ser meu verdadeiro espelho
“Oh filho desculpe pelo mal presente”
Aglutinei no amor as minhas verdadeiras forças.
As palavras são os sumo do fruto proibido
Um arsenal sonorizado que tenta vencer o que mais tememos
A insistência que nos deixam vivo e mais pura prova que o desejo de morte é sedutor, como o cordão umbilical em forma de forca.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

desconhecido.


Oh, oh, I can look at strangers and I can re-arrange them.
Reflection cast right back at us.
Can we still put our faith in saviors?
No semi-mental journey.

Oh, I can be the stranger and I will recreate my mind.
So I'll find those that play there but I can't trust half of my playthings, no
The stranger.

Broken mirror, seven years.
Well, that’s some kind of luck.
Shall I put my trust in strangers?
Their shattered dreams fall into dust.
I can't recall just what I'm after.
Can't recall just what we're after, no.

Oh, I can be the stranger and I will sink into those eyes.
Yes, I will be the stranger, get back all that I’ve searched for.
The stranger.
The stranger.

Broken mirror, seven years.
Well, that’s some kind of luck.
That’s some kind of luck, that’s some kind of luck.
That’s some kind of luck, that’s some kind of luck.
That’s some kind of luck, that’s some kind of luck.
That’s some kind of luck, that’s some kind of luck.

I thought you were my friend, but you are
The stranger.
1334

where is the sun?


Alguém que vi de passagem
Numa cidade estrangeira
Lembrou os sonhos que eu tinha
E esqueci sobre a mesa
Como uma pêra se esquece
Dormindo numa fruteira
Como adormece o rio
Sonhando na carne da pêra
O sol na sombra se esquece
Dormindo numa cadeira

Alguém sorriu de passagem
Numa cidade estrangeira
Lembrou o riso que eu tinha
E esqueci entre os dentes
Como uma pêra se esquece
Sonhando numa fruteira


(Milton Nascimento/Ronaldo Bastos)