segunda-feira, 30 de agosto de 2010

gênio


Ele é o afeto e o presente pois abriu a mansão ao inverno espumante e ao rumor do verão, ele que purificou a bebida e os alimentos, ele que é o charme dos lugares em fuga e a delícia super-humana das estações. Ele é afeto e o futuro, a força e o amor que nós, pisando sobre ódios e tédios, vemos passar num céu de tempestades e bandeiras de êxtase. Ele é o amor, na perfeita medida reinventada, razão maravilhosa e imprevisível, e a eternidade: adorável máquina de qualidades fatais. Sentimos o terror de sua concessão e da nossa: ó prazer de nossa saúde, élan de nossos sentidos, afeto egoísta e paixão por ele, ele que nos ama em sua vida infinita... E nós o invocamos e ele viaja... E se a Adoração se vai, soa, sua promessa ressoa: "Para trás essas superstições, esses corpos antigos, esses casais e idades. Esta é uma época que naufragou!" Ele não irá mais embora, nem de novo descerá de nenhum céu, e nem completará a redenção das raivas femininas e das alegrias dos homens e de todo este pecado: porque está feito, ele estando, estando amado. Ó seus suspiros, suas cabeças, suas corridas; a terrível velocidade da perfeição das formas e da ação. Ó fecundidade do espírito e a imensidão do universo! Seu corpo! A liberação sonhada, a explosão da graça invadida por uma nova violência! sua visão, sua visão! Todo velho ajoelhar e as penas se absolvem à sua passagem. Seu dia! a abolição de todos sofrimentos sonoros e móveis de uma música mais intensa. Seu passo! as migrações mais vastas que as antigas invasões. Ó ele e nós! o orgulho mais bondoso que as caridades perdidas. Ó mundo! cristalina canção de novas sinas. Ele nos conheceu a todos e todos amou. Saibamos, nesta noite de inverno, de cabo a cabo, do polo turbulento ao castelo, da multidão à praia, de olhar a olhar, força e afetos lassos, chamá-lo, e vê-lo, e mandá-lo embora, e sob as marés e de cima dos desertos de neve, seguir suas visões, seu sopro, seu corpo, seu dia.

Arthur Rimbaud

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