domingo, 3 de fevereiro de 2013

A internação compulsória de viciados em crack e outras histórias...

 
"Sociedade é produto das nossas necessidades; o governo, da nossa eqüidade. A primeira promove a nossa felicidade de forma positiva, unindo nossas afeições; o segundo, negativamente, reprimindo nossos vícios. Umas estimula a comunicação, o outro cria distinções. O primeiro protege, o último castiga”. Palavras atemporais de William Godwin no século XVIII. Claro que existe uma linha tênue no que diz respeito a vícios. Aqui no texto literalmente diz respeito a qualquer tipo de deleite, mas podemos enquadrá-lo ao contexto desta reflexão que rabisco. Tratando-se de "drogas" (incluindo remédios), elas sempre existiram. Porém, é preciso apontar que a repressão e a hipocrisia têm grande culpa na explosão de "maus hábitos", que não tem uma motivação puramente transgressora das alterações da mente de forma recreativa (leia-se de expansão de percepção); estes maus hábitos ganharam ares prejudiciais para pessoas que não indagam a própria existência, a ponto de se transformar em uma das principais epidemias da sociedade pós-moderna. Essa conduta é fruto e a marca principal da consolidação de uma classe média criada por programas de governo tal como existe no Brasil. Os bons hábitos (frutos da cultura e educação) foram sucateados em nome da "renda" que ajudou a alavancar nos últimos oito anos o consumo de droga em mais de 60%. Isso mostra que por trás principalmente das drogas químicas, como cocaína e o crack existem trilhas de sangue. Que esta epidemia seja associada à falta de competência do "estado" que agora tem como obrigação (como em qualquer parte do mundo) corrigir a sua negligencia. O governo brasileiro (que cria e patrocina distinções, como bem tinha observado Godwin) nada faz e ao que parece, há muitos políticos (se não a maioria, encabeçada também por poderosos e cínicos líderes evangélicos) financiados pelo submundo do narcotráfico. Os políticos mais "ajuizados" tentaram mostrar serviço tentando quase em vão lutar duramente contra o tabagismo e sua poderosa industria. Percebendo o risco aos seus negócios, as grandes cervejarias como a Ambev passaram a financiar fortemente políticos da oposição...A campanha do Lula a partir de 2003 (um alcoólatra nato), teve doações destes grupos e o resultado desta falta de combate fez com o que o consumo de álcool entre jovens começasse cada vez mais cedo (há crianças de 10 a 13 anos bebendo a "inocente cerveja" já nesta idade) e isso para muitos é tido como algo socialmente normal. Tal banalidade é endossada nas campanhas publicitárias machistas e infantis destas bebidas. A previsão é mais que óbvia: daqui para frente nós teremos uma crescente legião de alcoólatras e consumidores inveterados de drogas. Tanto se fala da maconha como porta de entrada para outros vícios nocivos, mas temos fortes argumentos para que isso seja pura balela de quem não tem o que falar. Internação compulsória é como se jogássemos o lixo para de baixo do tapete. Nada é tão prático e ineficiente do que esconder as feridas fétidas dos abutres, tratar pessoas doentes como criminosos. Esta é a realidade abobalhada e perniciosa que infelizmente fazemos parte. Voltemos a fingir que nos importamos com os "mártires fritos" (sem trocadilho ao estado que ficaram, meus pêsames, mas uma alusão direta ao seu estado mental muito comum no meio universitário e interiorano, chegado numa balita e doses cavaleres de loiras geladas) de numa boate do sul do país, pois eram a maioria branca, bonita e de "família". Cogita-se até a construção de em memorial para homenagea-los, enfim...Todo dia ao ir trabalhar vejo outros tantos afros-descendentes marchando para morte com um cachimbo improvisado na mão. Quem sou eu para jugá-los? Sei que são as "sobras" de um modelo sócio-economico ultrapassado que deve ser revisto. Penso que dos piores karmas é ter nascido brasileiro e engolir essas disparidades angustiantes que nem o deslumbre do versão e do carnaval me permitem esquecer ou esboçar qualquer sorriso amerelo.