segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Getting The Fear + Into A Circle


O Getting the Fear surgiu a partir da dissolução do Southern Death Cult no início de 1983. Barry, Buzz e Aky convocaram o vocalista Bee (Paul Hampshire) para substituir Ian Astbury que estava descontente com a nova direção musical que seus companheiros queriam seguir.

Em atividade por dois anos, o GTF gravou diversas demos, lançou apenas um single (“Last Salute” – pela major RCA) e fez uma maratona de apresentações em alguns clubes, incluindo uma aparição em um programa da BBC, onde aparecem tocando “Yurune" e dando entrevista. A exposição da banda foi até significativa, já que ainda colhiam os ecos causados pela popularidade do Southern Death Cult. Mas, diferente da imagem lúgubre da encarnação anterior introduzida por Ian, a banda consegue uma difícil proeza de ser pop sem cair no descartável e no vulgar. Por outro lado a proposta era bem alternativa já que era arriscado negar a sombra gótica que carregavam, típico da geração que estes garotos faziam parte.

Em abril de 1985, Aky e Buzz deixam a banda para formar o Joy, antes de partirem para outros projetos. Bee e Barry decidem levar a diante as idéias iniciadas pelo Getting the Fear, formando o In Two A Circle (nome baseado, talvez, nos círculos mágicos adotados por Aleister Crowley). Seu conceito era ultrapassar os limites da música e transformar a banda numa experiência única que agregasse poesia, ocultismo, sexualidade e introspecção espiritual. Isso tudo era perceptível tanto em suas letras quanto na atitude, já que seu som, em si, explorava as fronteiras do rock pop com boas doses de psicodelismo. A sua maior influencia literária vinha do escritor e filosofo Brion Gysin (um assíduo colaborador de William S. Burroughs) que foi primeiro ocidental que descobrir a música de transe da aldeia de Jajouka (Marrocos) executada em diversos rituais.

Depois de alguns meses compondo e ensaiando, a banda faz seu primeiro show no Croydon Underground em dezembro de 1985. Em seguida sai o single de estréia - "Rise" que, assim como os discos posteriores, segue uma política de total controle criativo - Bee e Barry produzem e fazem as artes das capas. Devido sua tiragem limitada (de cinco mil cópias) "Rise" se esgota rapidamente e em março de 1986 a banda faz uma pequena turnê pela Inglaterra e Escócia. Neste período o In Two A Circle já contava com a colaboração esporádica Rose McDowall do Strawberry Switchblade para os backing vocais. Foi através de McDowall que a banda foi envolvida no círculo de artistas como Death in June, Coil, Current 93, Psychic TV, que partilhavam dos mesmos pensamentos da vanguarda musical difundida através de experimentalismo industrial, sonoridade folk e letras que sofriam influências de poesia, magia, thelema, satanismo e hermetismo. É interessante frisar que Genesis P-Orridge (Throbbing Gristle, Psychic TV) foi um dos caras que ajudaram na divulgação das primeiras demos da banda ainda como Gettting The Fear.

Em julho daquele ano assinam um contrato com a Abstract Records, simplificam o nome para Into a Circle e editam o single "Inside Out” que chegou a apontar nas paradas independentes. Do mesmo modo este compacto marca o desistência do baixista Barry em trabalhar com músicos convidados nas gravações, o que levou a banda a trazer ao palco sons pré-gravados para tentar recriar as ambientações das sessions de estúdio. No entanto, o Into a Circle em suas apresentações não dispensa o uso bateria acústica e guitarra – a banda recebe a colaboração de diversos músicos, tendo como destaque o guitarrista Billy Morrison que futuramente tocaria como baixista para o The Cult.

"Forever" é o terceiro single e a é primeira gravação de estúdio com a participação de McDowall e que teve a co-produção assinada por Larry Steinbeck do Bronski Beat. Esse lançamento precedeu o lançamento do seu único álbum; Assassins, no verão de 1988. O LP foi promovido através de uma exaustiva turnê. Porém, mesmo com tanto empenho, Bee e Barry não conseguem reconhecimento mais amplo, fora do circuito alternativo. Rumores que eles abririam a turnê Innocents do Erasure apareceram. Isso os animaram, até que, por motives financeiros, os executivos da gravadora desistem dessa investida.

Com a entrada da poetisa e artista punk Annie Bandez (natural de Nova York, também conhecida como Little Annie Anxiety Bandez ou Annie Anxiety) em seu line-up, o Into A Circle oferece um som mais complexo e elaborado. Daí que também surge a idéia de re-trabalhar sons antigos da época do Getting the Fear, como “Sometimes” e “Yurune”. Era latente a intenção de reestruturar o projeto, tanto que mudam o seu nome para Big World Café e depois para Ugly, até que resolvem se separar definitivamente em outubro de 1989 depois de um show no Fulham Greyhound.

Bee hoje em dia reside na Tailândia, onde é DJe membro da banda de electro-rock Futon ao lado de Simon Gilbert (ex-baterista do Suede), e Barry vive ainda na Inglaterra onde é produtor, um respeitado engenheiro de som, professor de conservatório e agente de turnê de diversas bandas (já trabalhou com Placebo, Green Day, Foo Fighters, Bryan Adams, Nick Cave, Iron Maiden, Kasabian, Ozzy Osbourne, Kaiser Chiefs, Will Young, Tool, Girls Aloud, Rammstein e Brian Ferry).

Em 2008, o selo Cherry Records re-edita o álbum Assassins em cd remasterizado e com oito bônus provenientes de outros singles e lados B.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

The Southern Death Cult - blog

Penso que nunca escreveram tanto sobre Southern Death Cult e adjacentes. Ainda preciso fazer pequenos ajustes. Quem sabe futuramente uma sessão para download. Enjoy!

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Black Sundays - Morbid I

Entre 1991 (ou 92?) e 1995, o Black Sundays do DJ Tonyy foi o mais expressivo projeto que apoiou e divulgou de fato as chamadas gothic tendencies no circuito alternativo paulistano. Numa em época em que a difusão on-line ainda nem era sonhada, seu idealizador se sentiu sensibilizado pela carência de informação que o público aficionado da época sofria. Mesmo que sua intenção inicial fosse ganhar este peculiar público noctívago pelos tímpanos, não era exagero chamar essa empreitada como incentivo cultural - onde havia um clube (em especial o Armagedon) que tocasse um som que estava dentro de sua proposta, lá estava a "lojinha" do Projeto Black Sundays vendendo suas fitinhas (ainda não tínhamos o cd-r que hoje em dia também já é obsoleto), camisetas, fanzines e outras coisinhas que faziam, paradoxalmente, qualquer gótico feliz...Além das discotecagem o projeto promovia mostras de filmes expressionistas do inicio do século XX voltados para tal estética, fomentando a propagação de suas atividades com uma cara mais “cult”. Parece uma afirmação nostálgica e repetitiva desmerecer a maioria dos trevosos atuais – boa parte de quem vivenciou isso sabe de cor que não se fazem mais góticos como antigamente. O que temos hoje na realidade é um subproduto banal deste bombardeamento de informações; naquela época era possível distinguir o sujeito que acompanhava esta sub-cultura, pois seu interesse era de um genuíno garimpeiro. A democracia ou a inclusão digital está ai e isso faz com que questionemos alguns gostos atuais e concluímos que boa parte das afeições pelo underground, expressadas no mundo virtual é conduzida por uma efêmera e duvidosa “paixão”. Mas, voltando ao tal Black Sundays...Até um tempo atrás, artigos como cds e LP's que faziam a felicidade desta turma, vinham de fora. Importar ainda era muito caro, então por que não "fabricar" as suas próprias compilações em fitas K7 como os amigos faziam? Vender este item ao equivalente a uns R$ 4,00 pagava a mão de obra e o recheio era o suficiente para você conhecer uma gama de bandas até então desconhecidas. Eram diversos títulos com número de catálogo número e tudo mais, sendo que a maioria tratava-se de compilações que exibiam as “principais músicas” (como um greatest hits) das bandas mais expressivas da dark music ou coletâneas sortidas que levavam em seu rótulo o subgênero que predominava seu set, tipo “dark wave”, “gothic rock’ etc. Sim, a idéia de fato era catequizar, mas não de forma arrogante, e sim de maneira bem amigável e acessível. Eu adquiri na finada Mr Boris três destas fitas e foi através destas “memorabilia” que conheci muita coisa. Elas eram embaladas com uma capinha impressa em papelão de gramatura média e marrom, com a logomarca “Black Sundays” e o track list escritos com as fonts características das demais peças gráficas difundidas pelo projeto.
Nestes lapsos nostálgicos resolvi reproduzir o set de duas destas fitas em mp3 e disponibiliza-las para download a fim de dividir a emoção que era de manipular um tapedeck. A primeira tem o título de “Morbid I” que possui uma lista de músicas com uma abordagem bem soturna que poderiam tranquilamente servir como trilha sonora para um funeral num domingo chuvoso...Dentro da pasta há digitalizado a capa do K7 original. A próxima coletânea será a “Hard Goth I”. Espero que apreciem.

Track list:
A 1. Death In June - Last Farwell (5:33)
A 2. Tones On Tail - Movement Of Fear (3:51)
A 3. The Eternal Afflict - Crash Course In The Garden of Christ (5:55)
A 4. Maeror Tri - Ardor (4:14)
A 5. The Cure - Cold (4:26)
A 6. The Sisters Of Mercy - Fix (3:41)
B 7. Les Berrtas - Ruhe in Unfrieden (5:15)
B 8. In Slaughter Natives - Angel Meat (5:21)
B 9. Lycia - Everything Is Cold (3:25)
B 10. Das Ich - Freuel (5:58)
B 11. Love And Rockets - Saudade (5:00)
B 12. Siouxsie and The Banshees - Obsession (3:51)

*download it here*

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Corpo Perdido, Corpo Recuperado - Autoconhecimento E Bioenergia


Autor: Sueli Nascimento


Anualmente Atenas pagava a Creta um tributo composto por sete rapazes e sete moças, para serem entregues em sacrifício ao insaciável Minotauro que se alimentava de carne humana. Cansado e disposto a terminar com a opressão Teseu solicitou ser incluído na oferenda daquele ano.

O Minotauro vivia em um labirinto, constituído de salas e passagens intrincadas, no palácio de Knossos. Ao chegar a Creta, Teseu conheceu Ariadne que se apaixonou por ele.

Ariadne, resolvida a salvar Teseu, pediu a Dédalo, o construtor, a planta do palácio que estudou meticulosamente. Ela acreditava que Teseu poderia matar o Minotauro, mas não saberia sair do labirinto. Ariadne deu um novelo de lã a Teseu recomendando que o desenrolasse, à medida que entrasse no labirinto do Minotauro, criando assim uma trilha que lhe possibilitaria encontrar a saída. Teseu usou essa estratégia, matou o Minotauro, salvou os companheiros e, com a ajuda do fio de Ariadne, encontrou o caminho de volta.

Corpo perdido

A clínica reichiana pensa o sofrimento psíquico desde uma ótica corporal. Acreditamos que a retomada da corporalidade representa uma espécie de fio de Ariadne que pode conduzir ao autoconhecemento através de nosso labirinto íntimo.

As pessoas podem aprender sobre quem são, o que querem, suas potencialidades e limites a partir das sensações bioenergéticas e usar esse autoconhecimento para lidar com o estilo de vida contemporâneo de existir distantes de si mesmas e com a percepção desconectada, tanto de seus processos internos como do mundo à sua volta.

Viver desconectado e distante de si é como estar envolvido por uma redoma de vidro percebendo o mundo de maneira distanciada, como se não fizesse parte dele, sem acolhimento, sem abrigo, sem descanso. É nessa retomada de nós mesmos que poderemos refinar nossas funções autoperceptivas e sensoriais e poderemos fazer o reaprendizado relacional sobre o qual falaremos mais adiante.

Quando reiteramos a importância desse refinamento funcional não propomos colocar pedras sobre nossos antigos modos de ver a vida e os comportamentos advindos deles, julgando-os improdutivos, renegá-los.

Isso levaria a outra forma de paralisia energética, levaria ao, já conhecido, hábito de desqualificar a nós mesmos e à repetição de alguns comportamentos inadequados que também são formas de defesa, pois é assim que aprendemos a nos comportar diante da experiência nova, angustiante.

É importante compreender que modos de pensar e padrões viciados de comportamento, baseados puramente em experiências passadas, deixam de ser território seguro e, em determinadas situações, passam a ser prejudiciais para a qualidade de vida da pessoa, não devemos nos desqualificar pelo que fizemos ou deixamos de fazer, é importante aprender com o que consideramos erros, pelo nosso bem e pelo bem de nossa convivência com os outros, mas é fundamental encontrar respostas novas para questões atuais.

Usar no presente aqueles padrões de pensamento e comportamento que funcionaram bem no passado é como usar, na vida adulta, a blusa preferida dos tempos da infância.

As pessoas crescem e o que funcionava antes pode não servir mais, insistir em usar hoje os mesmos recursos, as mesmas ferramentas que foram úteis, ou deram certo, no passado é como usar uma blusa de criança, será no mínimo desconfortável, pode provocar falta de ar, machucar a pele, afinal você já não é mais o mesmo.

Não se pode proteger adequadamente do frio só com aquele pedacinho de lã, da mesma forma é preciso compreender quais mudanças ocorreram e estão ocorrendo agora em sua vida e buscar ampliar recursos que se harmonizem com o momento que está vivendo.

Corpo recuperado

O aprimoramento de nosso modo de viver é importante para o desenvolvimento de defesas funcionais que substituam o encouraçamento rígido que nos limita.

Flexibilizar as couraças é fundamental também para a qualidade da relação da pessoa consigo mesma, elas preservam de alguns impulsos internos difíceis de lidar – por exemplo, quando uma pessoa se depara com um aspecto de sua personalidade até então desconhecido, despertado por uma situação peculiar ou sente como se houvesse outra pessoa dentro dela tomando atitudes que jamais pensaria tomar colocando-se em situações constrangedoras sem que entenda por quê.

Na maior parte das vezes esses impulsos internos não compreendidos, são considerados erros, comportamentos inadequados, atitudes autodestrutivas, mas na verdade foi o afastamento progressivo do Eu que criou toda a confusão entre o Eu que se quer e o Eu que se consegue ser. Pensamos a flexibilização das couraças e a retomada da corporalidade como o ato de tecer o fio de Ariadne. Mas há saída.

Tecendo o fio de Ariadne

Wilhelm Reich, durante as quatro décadas dedicadas à pesquisa em ciência natural sobre a vida e suas funções, afirmava que amor, conhecimento e trabalho devem nortear a vida dos seres humanos, e serão esses os princípios que nortearão a retomada da corporalidade e da relação consigo mesmas das pessoas.

Através do aprendizado sobre si mesmo esse Eu encontrará espaço para se manifestar. É preciso olhar para dentro de nós mesmos com atenção e cuidado, mas sem medo, pois com o apoio de nosso fio de Ariadne teremos a saída de nosso labirinto íntimo.

Paradoxalmente, a redescoberta de si pode ser assustadora e maravilhosa. É fundamental ir além do que nos foi dito sobre quem somos ou o que deveríamos ser; ir além de nossos pressupostos sobre amor, sexo, vida compartilhada, encontros amorosos e descobrir o que, realmente, pensamos e sentimos sobre isso tudo; o que precisamos ainda aprender e o que já podemos ensinar aos outros.

fonte

Perfil do Autor

Analista reichiana. Consultora Associada da FLUIR Desenvolvimento Social e Humano.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Satanic Versus

Expresse-se
Expresse-se
Expresse-se
Expresse-se
Expresse seu sofrimento, sua fé, opinião
Expresse sua auto-admiração
A dignidade da vida e da morte
Com cultura e civilização
Com hora para a simpatia e hora para a ação
Expresse vingança e condenação
Seu senso de liberdade, justiça, paz,
Expresse suas políticas externas
Os direitos dos homens, o empreendimento
O livre arbítrio e integridade
Seu amor-próprio e auto-desejo
Sua fé em Deus e no fogo religioso
O fim da razão e o fim da ciência
O fim da família, o fim da violência
Versos satânicos de sua superstição
A terra da abundância e do armamento
O fim da história, o fim dos tempos
O fim da música e o fim da rima
Expresse o controle imaculado
Expresse o inexpressível
Expresse-se como a nação principal
O primeiro, o segundo, o terceiro domínio do mundo
Estampe estrelas e listras para sempre
Conspiração do terror e da salvação

(o sempre irônico e anti-imperialista Laibach)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

NICO – CHELSEA GIRL (1967) – Por Fernando Naporano

Nas edições antigas da Revista Bizz (de quase 30 anos atrás) havia nas suas últimas páginas uma coluna entitulada "Discografia Básica" com resenhas álbuns essenciais para discotecários de música pop ou colecionadores de música boa de plantão. Vai ai uma entre outras que pretendo postar aqui futuramente.



Manhã de 18 de junho de 1988, Ibiza, a femme fatale do Velvet Underground, estava morta. Vítima de uma hemorragia cerebral após uma queda de bicicleta. As vezes a vida prega peças extremamente irônicas. Justamente ela, uma notívaga por excelência, alcoólatra e junky, despede-se num ensolarado passeio matinal. No dia seguinte, em Berlim, o cobiçado corpo de Christa Paffgen estava cremado. A idade e nacionalidade de Nico (um anagrama de icon) é um tema de discussão, pois dizem que ela nasceu em outubro em Colônia, (Alemanha) em 1938 ou 1944, enquanto outros afirmam que foi em março em Budapeste (Hungria), em 1943.

Dúvida à parte, sabe-se que a incursão musical dessa modelo e atriz (sua primeira aparição cinematográfica dói no filme La Dolce Vita, de Fellini), educada entre a França e a Itália, foi em 1964, quando se mudou para Nova York e arrumou emprego como cantora de bar. Conheceu e fascinou Bob Dylan, que levou-a a Andy Warhol, que, por sua vez, nos ido de 1965 apresentou-o ao recém fundado Velvet Underground, em que permaneceu como cantora até 1967, tendo participado apenas do primeiro LP do white light/white heat da psicodelia americana. Ainda em 1967, aoós sua participação no Exploding Plastic Inevitable (projeto multimídia do Velvet Underground por Wharol), a chanteuse optou pela carreira solo.
Dona de uma personalidade febril e suicida, era bastante descolada no jet set musical, se já não bastasse ser apadrinhada pelo mestre da art pop e ter adquirido uma controvertida fama como Velvet. Tendo o badalado cineasta Paul Morrisey como manager, não foi difícil convencer o produtor Tom Wilson a gravar seu debut como solista.

Chelsea Girl, o disco em questão,, lançado nos fins de 1967, cujo o título é quase homônimo ao filme de Andy Warhol (Chelsea Girls), é um dos trabalhos mais sensíveis e cinzentos da década de 1960. Uma obra lapidada por sua insofismável melancolia, (re)visitando os porões proibidos da paixão, plenos de mistérios, medo e tristeza. Com cinco canções escritas pelos integrantes do Velvet – cujos destaques são a cold-ballad “The Winter Song” (John Cale) e a hipnótica “Chealse Girls” (Lou Reed/Sterling Morrison) -, três do então adolescente Jack Browne (entre elas a arrepiante “These Days”), uma do outsider Tim Hardin e outra de Bob Dylan (“I’ll Keep It With Mine”), feita especialmente para ela. Chelsea Girl é um LP em que Nico, com sua voz sua suave e penetrante, melancólica e glacial, personifica-se como uma idiossincrática folk singer, ladeada por arranjos orquestrais, sutis nuances psicodélicas e um rockmântico gosto amargo do 60’s beat-ballads.

Após a estréia em 1967, a noir-chanteuse (ilu)minada por uma vida errática, gravou até a sua morte um total de nove LPs, sendo que durante sete anos esteve afastada da música graças a sucessivas crises existenciais, sublimadas em gim e heroína. Entre memoráveis LPs, temos o folk-minimal Marble Index (produzido por John Cale, que sobre o fracasso comercial do disco declarou: “Como é possível vender o suicídio?”), o delicado semi-experimental Desert Shore, o clássico “The End” (Doors) e tradicional “Das Lied der Deutschen”), e o gótico-claustrofóbico Drama of Exile (demonstrando também que, sem querer, apenas por uma questão de natureza, foi precursora da dark music) e o doloroso Camera Obscura (um trabalho que, além da sublime cover de “My Funny Valentine”, conta com a inserções de elementos do gênero pós-industrial). Hoje, sua obra, embora um tanto quanto obscura, legou uma irreparável influência de cantoras/compositoras contemporâneas como Danielle Dax e Diamanda Galas continuam reciclar sob uma nova ótica.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Algumas considerações sobre Cultura Alternativa


Para compensar a falta de textos autorais e para variar um pouco das matérias tão citado e extinto site Junkeria Nefesta, postarei algumas matérias e entrevista transcrita do meu acervo, provenientes de revistas e fanzines dos anos 80 e 90. A idéia é que este blog seja também uma fonte de pesquisa aos interessados pelas tendências musicais que permeiam os seus arquivos. Para estrear esta etapa escolhi um texto que faz um link com a entrevista da postagem anterior. Mas não se trata de um texto tirado de impresso e sim de um ensaio editado em 14/05/2001 numa lista de discussão (talvez do Sépia Zine), cujo autor assinava apenas como Donimo. Essas considerações soam um pouco ideológicas, mas ainda muito atuais já que não é de hoje que a cultura alternativa se perdeu nas mãos de uma juventude apática, amortizada pelo consumo e pela falta de ideais. Ainda acrescento que ela não virou só virou divertimento de burguês, mas também escapismo vulgar uma classe desprovida de beleza, educação e informação (fica a dica – sites de festas afins que mais parecem literalmente os portais do inferno).

É chegada a hora de questionarmos a chamada Cutura Alternativa, herança das agitações dos anos 60. Seu mérito foi apresentar-se como uma nova forma de expressão jovem, uma indignação em relação a um mundo cada vez mais desumano.

Mas, sejamos francos: a Cultura Alternativa transformou-se em um divertimento burguês, hedonismo justificado numa consciência que muitas vezes não existe. Ela é uma alternativa a que, se dentro dos meios onde se desenvolve, encontramos muito mais os idiotas do cotidiano (ainda mais arrogantes) do que pessoas verdadeiramente engajadas?

Toda identificação cultural exige uma devoção ou, pelo menos, um real interesse. Atualmente, nossa "Cultura Alternativa" vive de aparências; reduziu-se unicamente ao campo da moda. O parecer tomou o lugar do ser. E uma subcultura que não se propõe a criar nada, que não representa um inconformismo, tende a ser esmagada pelas idéias da maioria ou contaminar-se com elas. Não estou dizendo que "ser-alternativo" signifique enclausurar-se em determinado modo de vida ou guiar-se pelo comportamento de um grupo; não é isso! Deve haver uma identificação mínima entre o indivíduo e o grupo; do contrário, só há incoerência. E nosso mundo está farto de incoerências!

Que Cultura Alternativa é essa, que repete os mesmos vícios do dia-a-dia, que se perde em mesquinhez? Seriam seus únicos propósitos os escândalos, as brigas entre facções, o segregacionismo?

Os inimigos dos partidários alternativos são os próprios "alternativos", já que sua "cultura" é fraca e inconsistente demais para voltar-se contra a sociedade. No entanto isso não significa que tal cultura seja inofensiva : ela mexe nas feridas da ótica dominante, nega os preconceitos da maioria (ao mesmo tempo que cria os seus) e estabelece hábitos próprios. A promiscuidade e a violência, condenáveis para a opinião da hipócrita maioria, são permitidas e às vezes, são o grande chamariz dessas subculturas. Freqüentar o cemitério, pixar muros, mutilar-se são comportamentos bizarros de adolescentes sem rumo : é somente assim que as pessoas os vêem. Elas não conseguem enxergar nessas atitudes um exercício de liberdade, pois a importância da liberdade só é compreendida quando o autoritarismo impera ou quando há um clima de terror. Esse terror e essa repressão são sentidos por poucos (e imitados por muitos) em momentos de aparente tranqüilidade (como nossos dias). A mídia ajuda a dissipá-los.

Também é por isso que a Cultura Alternativa volta-se contra a mídia : pois ela não é um instrumento livre e não permite que a sociedade adquira consciência por si própria. A Cultura Alternativa, hoje, parece não ter sentido, pois as pessoas que vivem nela imersas nem sempre estão dispostas a lutar por ela. Muitas a encaram apenas como uma diversão excêntrica, sem procurar fortalecê-la, sem ter a consciência que essa pequena parcela da sociedade poderia tornar-se importante se desenvolvesse algo de novo e cultivasse o respeito à pluralidade e ao diálogo. Há também a presunção de alguns partidários que julgam que seus mundinhos são algo fora da sociedade e querem ver cada vez menos gente envolvida, pois isso garantiria que apenas "pessoas interessadas" participassem de uma determinada "cena". Quem pensa assim não está muito longe do totalitarismo.

Todo "movimento" deve estar disposto a degradar-se; deve colocar-se a prova. Se, ao final de um período, sobreviver com suas idéias iniciais quase intactas, isso provará que ele é legítimo e necessário. Sempre haverá os fúteis e os desinteressados (estrangeiros no underground), mas esses não suportam o "peso da cena" por muito tempo.