terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

NICO – CHELSEA GIRL (1967) – Por Fernando Naporano

Nas edições antigas da Revista Bizz (de quase 30 anos atrás) havia nas suas últimas páginas uma coluna entitulada "Discografia Básica" com resenhas álbuns essenciais para discotecários de música pop ou colecionadores de música boa de plantão. Vai ai uma entre outras que pretendo postar aqui futuramente.



Manhã de 18 de junho de 1988, Ibiza, a femme fatale do Velvet Underground, estava morta. Vítima de uma hemorragia cerebral após uma queda de bicicleta. As vezes a vida prega peças extremamente irônicas. Justamente ela, uma notívaga por excelência, alcoólatra e junky, despede-se num ensolarado passeio matinal. No dia seguinte, em Berlim, o cobiçado corpo de Christa Paffgen estava cremado. A idade e nacionalidade de Nico (um anagrama de icon) é um tema de discussão, pois dizem que ela nasceu em outubro em Colônia, (Alemanha) em 1938 ou 1944, enquanto outros afirmam que foi em março em Budapeste (Hungria), em 1943.

Dúvida à parte, sabe-se que a incursão musical dessa modelo e atriz (sua primeira aparição cinematográfica dói no filme La Dolce Vita, de Fellini), educada entre a França e a Itália, foi em 1964, quando se mudou para Nova York e arrumou emprego como cantora de bar. Conheceu e fascinou Bob Dylan, que levou-a a Andy Warhol, que, por sua vez, nos ido de 1965 apresentou-o ao recém fundado Velvet Underground, em que permaneceu como cantora até 1967, tendo participado apenas do primeiro LP do white light/white heat da psicodelia americana. Ainda em 1967, aoós sua participação no Exploding Plastic Inevitable (projeto multimídia do Velvet Underground por Wharol), a chanteuse optou pela carreira solo.
Dona de uma personalidade febril e suicida, era bastante descolada no jet set musical, se já não bastasse ser apadrinhada pelo mestre da art pop e ter adquirido uma controvertida fama como Velvet. Tendo o badalado cineasta Paul Morrisey como manager, não foi difícil convencer o produtor Tom Wilson a gravar seu debut como solista.

Chelsea Girl, o disco em questão,, lançado nos fins de 1967, cujo o título é quase homônimo ao filme de Andy Warhol (Chelsea Girls), é um dos trabalhos mais sensíveis e cinzentos da década de 1960. Uma obra lapidada por sua insofismável melancolia, (re)visitando os porões proibidos da paixão, plenos de mistérios, medo e tristeza. Com cinco canções escritas pelos integrantes do Velvet – cujos destaques são a cold-ballad “The Winter Song” (John Cale) e a hipnótica “Chealse Girls” (Lou Reed/Sterling Morrison) -, três do então adolescente Jack Browne (entre elas a arrepiante “These Days”), uma do outsider Tim Hardin e outra de Bob Dylan (“I’ll Keep It With Mine”), feita especialmente para ela. Chelsea Girl é um LP em que Nico, com sua voz sua suave e penetrante, melancólica e glacial, personifica-se como uma idiossincrática folk singer, ladeada por arranjos orquestrais, sutis nuances psicodélicas e um rockmântico gosto amargo do 60’s beat-ballads.

Após a estréia em 1967, a noir-chanteuse (ilu)minada por uma vida errática, gravou até a sua morte um total de nove LPs, sendo que durante sete anos esteve afastada da música graças a sucessivas crises existenciais, sublimadas em gim e heroína. Entre memoráveis LPs, temos o folk-minimal Marble Index (produzido por John Cale, que sobre o fracasso comercial do disco declarou: “Como é possível vender o suicídio?”), o delicado semi-experimental Desert Shore, o clássico “The End” (Doors) e tradicional “Das Lied der Deutschen”), e o gótico-claustrofóbico Drama of Exile (demonstrando também que, sem querer, apenas por uma questão de natureza, foi precursora da dark music) e o doloroso Camera Obscura (um trabalho que, além da sublime cover de “My Funny Valentine”, conta com a inserções de elementos do gênero pós-industrial). Hoje, sua obra, embora um tanto quanto obscura, legou uma irreparável influência de cantoras/compositoras contemporâneas como Danielle Dax e Diamanda Galas continuam reciclar sob uma nova ótica.

Um comentário:

  1. Eu assisti "La Dolce Vita" do fellini, é por causa deste filme que ela usava seu alter-ego. Marcou uma geração, no ingênuo começo da decada de 1960, era considerado um filme anti-stabilishment!! - Marcio Silva de Almeida - Joinville/SC

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