domingo, 22 de setembro de 2013

Por enquanto não é o fim


Este é apenas um parecer que descarta a possibilidade (a falta de posts nestes últimos meses é resultado de uma certa preguiça também) de abandono deste blog. Reapareço para falar há muito material interessante e raro que quero apresentar por aqui. Estou preparando a passos de tartaruga um pequeno tratado de uma das bandas de cabeceira e que há tempo merecia uma nota: The Chameleons que vem relançando seus álbuns pelo selo Blue Aple Music. Para quem ainda compra discos, vale a pela adiquiri-los, no entanto não aconselho se desfazer das antigas edições que estão virando relíquias (ou seja estão bem valorizadas). Não há previsão que haja um re-release do aclamado Strange Times, já que o direitos pertencem a major americana Geffen, a mesma dos seus conterrâneos de Manchester Stones Roses (que bebeu de alguma forma de Chameleons considerado por mim pelo menos, um dos alicerces da cena que culminaria não só com a nomenclatura "Madchester", mas como o Brit Pop como um todo, dadas as devidas coloborações do rock indie melancólico e onírico de Echo & The Bunnymen, The Sound...). Se alguém não conhece o embrião do Chameleons, chamado de Years terá a oportunidade de escutar num próximo volume da Cadavres Exquis (material é que não falta). (In)conscientemente o conceito deste blog tem como base o espírito "elegance avec decadencedecadente" do pos-punk do fundo do porão, que parece ser inesgotável. Nestas garimpadas foi legal saber que já ouve um lançamento em fita K7 de uma coletânea homônima em 1984 pelo selo canadense Chimik Communications, cujo set mostrava o que acontecia de mais estranho e barulhento na Alemanha, Inglaterra e outros paises cuja veia vanguardista sempre foi determinante. Devo disponibilizar esta peça aqui, embora seja uma velha conhecida do aficionados "hardocores". Digo isso também porque vejo que há um interligação muito forte entre as músicas que fazem a minha cabeça e de muita gente que gentilmente oferece perolas para nossos ouvidos, como os blogs irmãos Crispy NuggetsFritz Die Spinne, Punks on PostcardsPhoenix Hairpins e o majestoso Systems of Romance. Mesmo com o acervo de incalculável valor disponinilizados em mp3, eles nos instigam a engordar mais a nossa coleção de vinil e fitas cassete que voltaram a circular em alguns catálogos novos minimal wave. A fita cassete, pelo menos pra mim, foi muito importante até como captação de uns programas antigos de radio, trocas que conseguiram moldar de alguma forma meu gosto musical. Devo ter uma caixa cheio delas. As “seladas”(originais) dividem espaço com vinis e posso dizer que são poucos os privilegiados que possuem peças ao vivo do lendário selo Rior Records, como Ecstasy & Vendetta Over New York (showzão do Sex Gang Children no club Danceteria em NY, em 1983 que ganhou edição de cd pela Cleopatra no começo dos anos de 1990) e Decomposition of Violets do Christian Death que ganharia edições em vinil e em cd bem mais tarde, quando a banda já tinha se espatifado em duas. Mas desta coleção de K7 há uma que prometo um dia (em breve) disponibilizar aqui assim que eu digitalizar: a demo-tape Céu Cinza da banda gótica paulistana Abadon que hoje se transfigura pelo nome de Outro Destino, onde as letras "sem papas na língua" de Fábio desfilam num som mais pesado (heavy), diferente da sonoridade “goth/dark wave” (Sisters e a geração de gothic rock alemão noventista eram as inspirações dos arranjos, porém de forma mais tímida e limpa, pelo menos em versões estúdio) que eles propunham dos anos de 1995. É um registro que vale a pena ser imortalizado, já que esta fase antecede também o bem conhecido Imperial, que participou da coletânea Violet Carson onde a nova/velha cara do bem defasado (no sentido de apoio e qualidade sonora/estética) cenário "gótico" tupiniquim (leia-se São Paulo-Rio-Brasilia) que ainda (*bosejos*) dava sinais "vida". Muitas dequeles bandas que surgiram há mais 20 anos atrás não entendiam ou não sacavam nada da sofisticação contra tempo da bateria (ironicamente é como vinho; só é bom nas antigas safras). Voltando a falar da Céu Cinza: achei uma pena terem desperdiçado e lapidado exageradamente o talento do baterista André. Suas batucadas foram camufladas por uma bateria eletrônica que ele mesmo conduziu por “ordens maiores"(o tecladista na época não queria nada que sobrepusesse seu instrumento cheio de efeitos e strings clichês). Quem determinou isso desconhece que o improviso selvagem e um tanto ambíguo (pra não dizer afetado) do verdadeiro pós-punk faz toda a diferença. O que alguns ali chamavam de "gothic rock pra macho" (antitese do "chabi", apelido ou anagrama inventado por alguns integrantes da banda que direcionava aos góticos mais afeminados), tinha um argumento paltado mais no coro de torcida gaúcha, do Grêmio em especial. Para quem viu meu irmão aprendendo a tocar bateria em panelas, sabe que isso fodeu um pouco o resultado e poderia ter sido melhor. Havia um potencial latente que foi anulado por uma certa vaidade, mas que gerou músicas fortes como “Estátuas” que teria virado (caso fosse executada por algum DJ) um hit nos clubs, ao lado de "Pânico e Solidão" do Cabine C, de dez anos antes. As adversidades da vida impediram que isso acontecesse. No entanto, parece que a missão de ir contra maré do tempo dá resultados; e a poesia de Fábio é o tapa na cara merecido de quem ainda é está deslumbrado com este deserto vivo da pós-modernidade, com estes dias de pesadelo entulhados de fantasia...Por enquanto é isso.