sábado, 31 de outubro de 2009

Christian Death (extraído do livro Goth Chic – Gavin Baddeley - 2003)


Da mesma forma que o glam rock cruzou o Atlântico rumo aos Estados Unidos da década de 1970 para transformar-se no glitter rock, o gótico também foi exportado para os americanos no inicio dos anos 1980 – a variação local do gênero foi chamada de “death rock”. Como Don Bolles descreve em Retro Hell, Los Angeles logo se tornou o lar de clubs simpáticos que obedeciam ao estilo gótico. O fenômeno teve início como uma casa noturna chamada Fetish e culminou em lugares como Scream, Helter Skelter, The Crypt e Zombie Zoo.

A banda mais influente relacionada com essa cena é o Christian Death, que, como o Bauhaus, sua contraparte britânica, foi fundada em 1979. O principal arquiteto da banda foi Rozz Williams, um habitante de Los Angeles que, na época, tinha apenas 16 anos – um talento inquieto e genial que se extinguiu com a mesma rapidez com o que brilhou (Rozz Williams não era o nome verdadeiro do cantor – auspiciosamente, o pseudônimo fora tomado de uma das suas sepulturas preferidas no cemitério local). O nome da banda – em parte, uma corruptela de Christian Dior – também refletia a rejeição do cantor a sua educação religiosa e, à medida que o Christian Death passou por várias formações, a temática anti-religiosa permaneceu constante. Mais tarde, a banda afirmaria que não atacava os ensinamentos de Jesus, mas os membros da Igreja que perverteram o credo por ele pregado para satisfazer os próprios desejos. O nome da banda e o logo em forma de cruz foram baseados na observação de que o cristianismo, que se propõe a ser a religião do amor, adota como símbolo o mecanismo utilizado para executar o seu messias.

A controvérsia inerente ao nome da banda foi uma espécie de tática de choque diferente daquelas empregadas pela cena death rock. Na verdade, o rótulo “gótico” é muito mais apropriado nesse caso. Enquanto seus companheiros do 45Grave (que receberam o apoio do Christian Death em sua primeira apresentação ao vivo) buscavam inspiração em cineastas responsáveis por produções de horror de baixo orçamento como Roger Cornan e Ed Wood, as letras do Christian Death revelavam influencia de Poe e Baudelaire.

Da mesma forma, o som atmosférico do Christian Death tinha mais a ver com os experimentalismos pós-punk de seus contemporâneos ingleses do que com o rock demoníaco dos Misfits. Até mesmo na aparência, os cabelos compridos e pintados com uma tintura preta como corvo, as bijuterias prateadas, as meias arrastão e as roupas de baile pretas utilizados por Williams o colocavam no mesmo grupo que os sinistramente andróginos góticos europeus, em vez de identificá-lo com o estilo “todo dia é Halloween” de seus companheiros americanos. Os vocais de Williams também exibiam os tons barítonos tão admirados pelas bandas góticas – na verdade, a voz do cantor às vezes parecia mais inglesa do que americana. O fato de Rozz afirmar que não tinha a mínima idéia do crescimento da cena européia torna esses paralelos ainda mais surpreendentes.
Entretanto, como muito de que é brilhante, o porvir foi repleto de atribulações e controvérsia. Na verdade, a confusão teve inicio quando o Christian Death fragmentou-se não muito tempo depois de lançar seu primeiro disco. Essa foi a formação inicial da banda, mas o futuro ainda guardava mais surpresas – o Christian Death surgiu novamente quando Williams juntou-se ao guitarrista e cantor Valor Kand, ex-membro do Pompeii 99, outra banda dark “alternativa” vinda da Califórnia.

Pouco depois da nova formação do Christian Death, a banda mudou-se para a França, o que permitiu que Williams absorvesse a atmosfera de Paris, a cidade que foi lar de tantos de seus heróis decadentes um século antes. Eles gravaram Catastrophe Ballet no Rockfield Studios, no País de Gales (o mesmo estúdio que recebeu o Bauhaus para a produção dos discos The Sky’s Gone Out e Burning from the Inside). Esse álbum, lançado em 1984, apresenta um som mais suave, multifacetado, de uma beleza sombria que confirmou a reputação cult conquistada pelo Christian Death entre o crescente público gótico. O retorno da banda aos Estados Unidos resultou em Ashes (1985), o ponto alto da formação clássica da banda, onde o misticismo pretensioso de Kand e a poesia envenenada de Williams enredaram-se, compondo um efeito sinistro. Esta também foi a ultima gravação de Williams como essa versão do Christian Death.
Inicialmente, a separação foi amigável, com Williams interessado em explorar novas direções. Entretanto, a essa altura o Christian Death estava se tornando uma verdadeira fábrica de dinheiro. No fim da década de 1980, na companhia da cantora Eva O., que fez backing vocals dos primeiros trabalhos da banda (os dois acabaram casando em 1988), o fundador da banda, começou a se apresentar mais uma vez com o nome Christian Death, Esse acontecimento enfureceu a ala que estava ligada à Kand, que insistia que Williams deveria pagar direitos a eles pelo uso do nome da banda. Os fãs ficaram confusos ao ver dois Christian Death rivais excursionando no início da década de 1990 e muitos lançamentos diferentes. A obsessão de Kand pela religião esotérica e pelo misticismo parecia impenetrável para os que conheciam o Christian Death através da figura de Williams. Essa rivalidade separou os extraordinariamente fanáticos fãs da banda da mesma forma que separou seus membros.

Muitos discos lançados por Williams nessa época ainda possuem resquícios de desespero, embora, mesmo assim continuem trazendo algumas pérolas – como o épico Path of Sorrow (1993), que o cantor descreveu como seu disco do Christian Death preferido. “Eu liguei para Rozz”, explicou Kand para revista Terrorizer em 2000. “Ele me disse que precisava do dinheiro. Não pude discutir porque Rozz fez suas articulações para registrar a banda no nome dele, mas essa não foi uma atitude justa”. A resposta de Kand foi continuar com seus próprios discos do Christian Death, todos pomposamente pessimistas, tentando estampar, de uma vez por todas, sua marca criativa na banda. Com um conteúdo inflamável, combinado com capas que atraiam a censura (como uma imagem de Jesus injetando heroína, no álbum Sex and Drugs and Jesus Christ, de 1988, ou as suásticas de All The Hate, lançado no ano seguinte), Kand expunha de forma pretensiosa e provocante suas opiniões a respeito de sexo, morte e religião.

A confusão foi dispersa da pior maneira possível quando Rozz Williams tirou a própria vida, enforcando-se em seu quarto em 1º de abril de 1998. Os amigos mistificaram os motivos do suicídio do cantor. Entretanto, uma avaliação superficial de seu legado artístico revela uma alma bastante conturbada, cujo dom criativo teve um preço terrível – a capacidade de enxergar a escuridão do mundo com uma dolorosa clareza. Como muitos de seus heróis decadentes, o cantor encontrou conforto nos narcóticos, e o mesmo vício em heroína que ajudou a inspirar suas apresentações espantosas, onde recitava poemas como Whorse’s Mouth (1996), corroeu seu espírito.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

marginalidade do moderno

E no final das contas a urgência da cidade te leva a um banquete vertiginoso onde se perde por vários instantes (e para muitos, completamente) a sutiliza da beleza. A bondade vira um ato de excentricidade “inferior”, então é descartada, como se fosse um espécime muito frágil diante de uma carga de disputa doentia. Ou melhor, vira combustível a um mercado insano para aqueles que acham que ela deva ser comprada até mesmo em prateleiras virtuais. Esses anseios absurdos tratam o silencio e a calmaria como adorno de uniforme de um louco. Então, no mundo atual, é preferível marchar violentamente ao alcance de uma estranha “felicidade” que alguns acreditam estar escondida em meio a fumaça, barulhos mecânicos, dose & mais doses de remédios. Ah se muitos soubessem que a imperturbabilidade é base da contemplação e o condutor do amor perdido a tanto entulho... Amar ou ser amado não é mera recompensa, não é condição calculada. De qualquer forma, e infelizmente, o delírio cosmopolita (o torpor da ilusão violenta) é uma prova de fogo onde se busca através do mal necessário a realização do seu bem nece$$ário.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

início

O ruim do outro dia é não poder compartilhar os sabores e cheiros. Mas esse só foi o começo.

sábado, 3 de outubro de 2009

saints are down

Se Camus acha Lautréamont um revoltado mimado, o que seriam então os santos e os mártires? Pedir amor através do autoflagelo não me parece um erro tão grave, já que há ai uma afirmação de fé paradoxal, incondicional e suprema. Há um ponto de intersecção em todos os extremos. Mesmo o mais cético recorre aos sentimentos mais brandos da alma. Estamos todos no mesmo barco...

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Guerre Froide (editado originalmente no meu Junkeria Nefasta)

Um dos fenômenos mais comuns em épocas que a recessão criativa se acentua, é o apelo retrogrado de muitas áreas da arte. A febre eletro revivida no início dos anos 2000 e as insinuações da cold wave, ainda estão em alta, especialmente em modelos dirigidos na nova cena indie. Foi de olho nisso que os parceiros Yves Royer (vocals) e Fabrice Fruchart (guitarra/teclados) viram que algo do passado estava mal-resolvido e era preciso reescrever esse epílogo.

Talvez o estimulo desse revival também tenha sido dado em 2004, quando o selo alemão Genetic Music decidiu tirar do anonimato o único rebento em vinil do Guerre Froide – um EP contendo quatro canções. A memória resgatada no cd não continha nenhuma faixa extra e sua arte, obviamente em menor escala, continha uma réplica do pôster que vinha em sua edição original.Os admiradores desse tipo de som sentiram-se mais instigados do que totalmente satisfeitos com esse agrado. A procura de mais músicas em mp3 provenientes das duas raríssimas tapes viraram febre entre os aficionados nos fóruns de especializados. O Guerre Froide ganhara então o status de cult. Antes póstumo do que nunca...

A banda iniciou suas atividades em 1980 e era formada por Yves (que no fim dos anos 70 integrou diversas bandas punks como Stress e Banlieue Nord), Fabrice, Patrick Mallet (ex-Skniks, baixo) e Gilbert Deffais (programação). Como muitas bandas de sua época, agregava a poesia, as artes e a tensão bélica pós-Segunda Guerra (que inspirou seu nome) dentro de um som meio tosco, mas carregado de climas dirigidos por um baixo quase distorcido de tão grave e bits secos. Soava simples, introspectivo ao mesmo tempo agressivo. Essas combinações de “impacto” transcendiam com exatidão toda aquela névoa existencialista que há décadas pairou sobre a juventude francesa.

Após bem sucedidas apresentações nuns buracos nos arredores de sua cidade natal, Lille (situada na fronteira com a Bélgica), onde reunia um significativo número de fiéis admiradores, a banda partiu para a gravação da primeira tape – “Cicatrice”, editada pelo pequeno selo de Yves, o Cryogénisation Report Tapes.

No ano seguinte, Mallet debandava e dava lugar a Jean-Michel Bailleux. Uma nova integrante foi convocada: Marie-José Deffais entrava para agregar novos elementos eletrônicos com seu sintetizador analógico. Sua sonoridade ganhou um aspecto futurista-primitivo; minimalista e mecânico, o que pode ser comprovado no seu 12” homônimo de 1981. Esse som cru, repetitivo e monótono despertou atenção de muitos da mesma forma instantânea que durou a própria banda.

Após o desmembramento do Guerre Froide, Yves andou pelo underground tocando com o Gegenacht, banda com orientação mais industrial e performática. Uma sessão de estúdio e uma presentação ao vivo foram compiladas para a tape "At Home!" lançada em 1984. Era mais uma edição humilde da Cryogénisation responsável por outra fita do seu projeto posterior, o Pour L'Exemple que marcava retomada da sua parceria com Fabrice Fruchart. Esse projeto receberia mais atenção que os anteriores, durando de 1986 a 1992, chegando a produzir um EP também muito disputado pelos colecionadores. Musicalmente, essas investidas mostravam quase a mesma linha; ritmo marcial encoberto por um clima deliciosamente decadente.

Depois de anos de completo silêncio, o duo decidiu continuar a trajetória do Guerre Froide. Estimulados pela aclamada reedição do seu único EP, eles assinaram com o selo Brouillard Définitif e gravaram finalmente um álbum completo - "Angoisses et Divertissement". Para preencher seu line-up eles recrutaram um novo baixista: Samuel Druon. O cd compõe-se essencialmente de canções gravadas entre dezembro de 2006 e março de 2007. O álbum possui homenagens a dois grandes escritores do século passado como Antoine de Saint-Exupéry em "Saint-Ex" e Arthur Rimbaud com "L'Eternité" assim como readaptações de antigas canções como "A Corps Perdus" do Pour L'Exemple, das clássicas “Demain Berlin” (aqui com o subtítulo de “Zum Ende”) e "Romance", ainda uma reprise de “La Chanson d'Ian”, tirada da demo de 1980.

O lançamento chega como consolo pra os fãs e, como dito acima, algo tinha que ser feito para concluir esta fria fábula, porém esperamos que seu desfecho definitivo ainda demore a acontecer.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

um pouco de transcendência da espécie & amor

A Supressão do ser é a supressão do Masculino-Feminino. Não haverá mais nada disso. Nem mais Pai-Mãe. Contração de um Divisor comum: Satã. O Espírito Santo foi o Macho: esse morreu para sempre. (Antonin Artaud)