sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Guerre Froide (editado originalmente no meu Junkeria Nefasta)

Um dos fenômenos mais comuns em épocas que a recessão criativa se acentua, é o apelo retrogrado de muitas áreas da arte. A febre eletro revivida no início dos anos 2000 e as insinuações da cold wave, ainda estão em alta, especialmente em modelos dirigidos na nova cena indie. Foi de olho nisso que os parceiros Yves Royer (vocals) e Fabrice Fruchart (guitarra/teclados) viram que algo do passado estava mal-resolvido e era preciso reescrever esse epílogo.

Talvez o estimulo desse revival também tenha sido dado em 2004, quando o selo alemão Genetic Music decidiu tirar do anonimato o único rebento em vinil do Guerre Froide – um EP contendo quatro canções. A memória resgatada no cd não continha nenhuma faixa extra e sua arte, obviamente em menor escala, continha uma réplica do pôster que vinha em sua edição original.Os admiradores desse tipo de som sentiram-se mais instigados do que totalmente satisfeitos com esse agrado. A procura de mais músicas em mp3 provenientes das duas raríssimas tapes viraram febre entre os aficionados nos fóruns de especializados. O Guerre Froide ganhara então o status de cult. Antes póstumo do que nunca...

A banda iniciou suas atividades em 1980 e era formada por Yves (que no fim dos anos 70 integrou diversas bandas punks como Stress e Banlieue Nord), Fabrice, Patrick Mallet (ex-Skniks, baixo) e Gilbert Deffais (programação). Como muitas bandas de sua época, agregava a poesia, as artes e a tensão bélica pós-Segunda Guerra (que inspirou seu nome) dentro de um som meio tosco, mas carregado de climas dirigidos por um baixo quase distorcido de tão grave e bits secos. Soava simples, introspectivo ao mesmo tempo agressivo. Essas combinações de “impacto” transcendiam com exatidão toda aquela névoa existencialista que há décadas pairou sobre a juventude francesa.

Após bem sucedidas apresentações nuns buracos nos arredores de sua cidade natal, Lille (situada na fronteira com a Bélgica), onde reunia um significativo número de fiéis admiradores, a banda partiu para a gravação da primeira tape – “Cicatrice”, editada pelo pequeno selo de Yves, o Cryogénisation Report Tapes.

No ano seguinte, Mallet debandava e dava lugar a Jean-Michel Bailleux. Uma nova integrante foi convocada: Marie-José Deffais entrava para agregar novos elementos eletrônicos com seu sintetizador analógico. Sua sonoridade ganhou um aspecto futurista-primitivo; minimalista e mecânico, o que pode ser comprovado no seu 12” homônimo de 1981. Esse som cru, repetitivo e monótono despertou atenção de muitos da mesma forma instantânea que durou a própria banda.

Após o desmembramento do Guerre Froide, Yves andou pelo underground tocando com o Gegenacht, banda com orientação mais industrial e performática. Uma sessão de estúdio e uma presentação ao vivo foram compiladas para a tape "At Home!" lançada em 1984. Era mais uma edição humilde da Cryogénisation responsável por outra fita do seu projeto posterior, o Pour L'Exemple que marcava retomada da sua parceria com Fabrice Fruchart. Esse projeto receberia mais atenção que os anteriores, durando de 1986 a 1992, chegando a produzir um EP também muito disputado pelos colecionadores. Musicalmente, essas investidas mostravam quase a mesma linha; ritmo marcial encoberto por um clima deliciosamente decadente.

Depois de anos de completo silêncio, o duo decidiu continuar a trajetória do Guerre Froide. Estimulados pela aclamada reedição do seu único EP, eles assinaram com o selo Brouillard Définitif e gravaram finalmente um álbum completo - "Angoisses et Divertissement". Para preencher seu line-up eles recrutaram um novo baixista: Samuel Druon. O cd compõe-se essencialmente de canções gravadas entre dezembro de 2006 e março de 2007. O álbum possui homenagens a dois grandes escritores do século passado como Antoine de Saint-Exupéry em "Saint-Ex" e Arthur Rimbaud com "L'Eternité" assim como readaptações de antigas canções como "A Corps Perdus" do Pour L'Exemple, das clássicas “Demain Berlin” (aqui com o subtítulo de “Zum Ende”) e "Romance", ainda uma reprise de “La Chanson d'Ian”, tirada da demo de 1980.

O lançamento chega como consolo pra os fãs e, como dito acima, algo tinha que ser feito para concluir esta fria fábula, porém esperamos que seu desfecho definitivo ainda demore a acontecer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário