sábado, 29 de outubro de 2011

O Amigo (Lúcio Cardoso)


Pela noite chegou como se já estivesse, tão presente aos sentimentos, tão grave
na certeza e na renúncia de esperar melhor;
talvez, se juntos ainda pudessem caminhar
e uma lição do passado não fosse abdicada.

A calma depois, e nunca o esquecimento,
que é tão difícil quando se é tão pobre
e é preciso acreditar nas menores coisas,
no que foi, no que não será jamais,
porque tudo é diferente, e sonhamos muito,
porque tinha de ser - e se o caminho é este,
caminho de urzes e fogos sem consolo,
e também porque os sonhos não persistem
e somos fracos, com tanta, tanta luz
e um tão vasto tempo para a vida, antes que a morte levante a sua sombra
e tudo cesse no eterno esquecimento

terça-feira, 25 de outubro de 2011

As pretensões e equívocos nos desertos da Líbia


Li este trecho da introdução do livro “O Homem Revoltado” de Albert Camus, e é incrível como este tratado lançado em 1951 continua pertinente nos dias atuais onde a violência e sede de vingança é festejada cega e midiaticamente de forma enjoativa. Não estou deslegitimando mais um acontecimento da chamada “Primavera Árabe”, mas questionando através desta citação até que ponto aquele povo está preparado para uma nova era que me parece um tanto turva. Mesmo que a insurreição seja uma resposta aos anos tirania, será que os libios acabaram caindo em outra cilada de interesses maiores? Ainda não dá pra se fazer um balanço deste evento, porém a recente história nos lembra que as guerras que surgiram por anseios democráticos (seja no Oriente Médio ou na África), obtiveram resultados positivos no início (como divulgados pela mídia) e em suas etapas seguintes ganharam ares caóticos, mais violentos e muitas vezes bem obscuros. Com uma mãozinha (ou mãozona) da intervenção franco-anglo-americana, se sabe que a partir da queda e assassinato de Kadafi, o povo da Líbia tornou-se mais um devedor das potências que nunca se interessaram de fato pela sua tão sonhada liberdade...

O
absurdo, visto como regra da vida, é portando contraditório. Que há de espantoso em que não nos forneça os valores que decidiram por nós quanto à legitimidade do assassinato? Aliás, não é possível fundamentar uma atitude em uma emoção privilegiada. O sentimento do absurdo é um sentimento entre outros. O fato de ter emprestado suas cores a tantos pensamentos e ações no período entre as duas guerras prova apenas a sua força e a sua legitimidade. Mas a intensidade de um sentimento não implica que ele seja universal. O erro de toda uma época foi o de enunciar, ou de supor enunciadas, regras gerais de ação, a partir de uma emoção desesperada cujo movimento próprio, na qualidade de emoção, era o de se superar. Os grandes sofrimentos, assim como as grandes alegrias, podem estar no início de um raciocínio. São intercessores. Mas não se saberia como encontrá-los e mantê-los ao longo desses raciocínios. Se, portanto, era legitimo levar em conta a sensibilidade, e no niilismo que ela supõe, mais do que um ponto de partida, uma crítica vivida, o equivalente, no plano da existência, à dúvida sistemática. Em seguida, é preciso quebrar os jogos fixos do espelho e entrar no movimento pelo qual o absurdo supera a si próprio.
Quebrado o espelho, não resta nada que nos possa servir para responder às questões do século. O absurdo, assim como a dúvida metódica, faz tabula rasa. Ele nos deixa sem saída. Mas, como a dúvida, ao desdizer-se, ele pode orientar uma nova busca, Com o raciocínio acontece o mesmo. Proclamo que não creio em nada e que tudo é absurdo, mas não posso duvidar de minha própria proclamação e tenho de, no mínimo, acreditar em meu protesto. A primeira e única evidência que assim me é dada, no âmbito da experiência absurda, é a revolta. Privado de qualquer conhecimento, impelido a matar ou a consentir que se mate, só disponho dessa evidência, que é reforçada pelo dilaceramento em que me encontro. A revolta nasce do espetáculo da desrazão diante de uma condição injusta e incompreensível. Mas seu ímpeto cego reivindica a ordem no meio do caos e a unidade no próprio seio daquilo que foge e desaparece. A revolta clama, ela exige, ela quer que o escândalo termine e que se fixe finalmente àquilo que até então se escrevia sem trégua sobre o mar. Sua preocupação é transformar. Mas transformar é agir, e agir, amanhã, será matar, enquanto ela ainda não se matar é legitimo. Ela engendra justamente as ações cuja legitimação lhe pedimos. É preciso, portanto, que a revolta tire as suas razões de si mesma, já que não consegue tirá-las de mais nada. É preciso que ela consinta em examinar-se para aprender a conduzir-se.

(trecho da introdução do livro "O Homem Revoltado” de Camus)

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Uma nova primavera

Há tempos vivemos num período onde a palavra "sujeito" ou "cidadão" servem a interesses estritamente governamentais (estes disfarçados com a carapaça de um antiquado sistema). Eis que no vimos prostrados ao que Bauman e outros autores definem como a "sociedade de consumidores" cujo modelo encoraja, promove e reforça a escolha de um estilo de vida consumista onde se rejeita todas as opções culturais alternativas...Almas dopadas/vazias (ou almejadas a "vencer", sem dar-se conta da condição de escravos em "luta em vão") que se limitam as cifras...Essências líquidas que se vêem enferrujadas e materializadas em diversos tipos de câncer.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Apesar da proibição de sua mãe, indo brincar nos túmulos (Stéphane Mallarmé)

(A proibição de sua mãe de descer assim – sua mãe o que lhe disse o que tinha de fazer. Para ele isso se passa numa lembrança de infância, essa noite prescrita se ele se matasse, não poderia mais, adulto, consumar o ato.)

ele beberá de propósito para se reencontrar

Ele pode avançar, porque vai no mistério. (Não desce ele a cavalo sobre o corrimão toda a obscuridade – todo o que ele ignora dos seus, corredores esquecidos desde a infância.). Esse é o caminho inverso da noção da qual não conheceu a ascensão, tendo, adolescente, chegado ao Absoluto: espiral, no alto da qual permanecia como Absoluto, incapaz de mover-se, acedendo e mergulhando dentro da noite pouco a pouco. Ele acredita atravessar os destinos dessa noite memorável: enfim chega onde deveria chegar, e vê o ato que o separa da morte.
Outra travessura.
Ele: eu não posso fazer isso seriamente: mas o mal que sofro é terrível, de viver: no fundo dessa confusão malsã e inconsciente das coisas que o seu absoluto isola ele sente a ausência do eu, que representa existência do Nada em substância, é preciso que eu morra, e como este frasco contém o nada por minha raça adiado até a mim (esse velho calmante que ela não tomou, os ancestrais imemoriais só o tendo guardado no naufrágio), eu não quero conhecer o Nada, antes de ter devolvido aos meus este porquê eles me engendraram – o ato absurdo que atesta a inanidade de sua loucura. (O inacabamento que seguiria e só ele mancha momentaneamente meu Absoluto.)
Isso desde que eles abordaram este castelo durante um naufrágio sem dúvida – outro naufrágio de algum grandioso projeto.
Não assovieis porque falei da inanidade de vossa loucura! silêncio, nada dessa demência que quereis mostrar propositalmente. Pois bem! se voz é tão fácil retornar ao infinito para procurar o tempo – e vir a ser – será que as portar estão fechada?
Só eu – só eu – vou conhecer o nada. Vós, volvereis ao vosso amálgama.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Christian Death - Atrocities (1986)


Parece contraditório partir de um admirador de Rozz Williams postar mais matérias do seu arque rival Valor Kand. Bem, já se se foi para mim à época em que eu levantava a bandeira como um adolescente deslumbrado. Tenho escutado novamente os trabalhos de Valor e, embora eu descorde de todos os seus equívocos e me ver prostrado pelas vergonhas alheias que suas cafonices causam, provou que o “Christian Death” pode ser uma experiência que está além da música, conceito que davam bases ao que ele passou a denominar de Christian Death Society. Claro que é impossível, por uma questão de lógica, aceitar a sua banda como sendo uma continuação autêntica (embora haja sem dúvidas conexões) do que pretendia o grupo original, porém essas controvérsias permitiram que os fãs tivessem a possibilidade de comparar as idéias, fazer diversas interpretações tão diferentes dentro do mesmo nome.

Este é um review que escrevi em meu antigo site para o álbum Atrocities com três letras traduzidas. Como a alguns dias postei um bootleg que antecedia seu lançamento, fica este registro para não perder fio da meada.

Após o lançamento de dois EP’s ("The Wind Kissed Pictures" e "Believers of the Unpure"), o oportunista Valor, oferece-nos aqui o melhor trabalho, em minha opinião, do seu Christian Death. Este álbum, onde estréia também como vocalista (na verdade à volta a posição de cantor, como nos tempos de Pompeii 99), é também um ponto final a uma saga iniciada com Catastrophe Ballet (1984), antes da banda arriscar-se em caminhos heavy-metálicos. Gravado no lendário Rockfield Studius em Gales (onde também foi gerado seu antecessor, Ashes), Atrocities retrata de forma envolvente e dramática a dura e cruel realidade da Segunda Guerra Mundial, cujo impacto era sentido intensamente nos anos de 1980, em pleno auge da Guerra Fria. Seria proposital que sua prensagem original fosse na Alemanha pela Normal Records? Para dar um ar mais místico a sua concepção em estúdio, Valor fez questão de relatar no encarte, todo escrito à mão, que “Nós respeitamos a presença do espírito da Mulher e da Criança do Acre Hill House, durante o tempo todo em que estivemos lá”.



Um espantoso acorde de violino anuncia sua abertura com a corpulenta "Will-o-the-Wisp" onde a bateria de David Glass faz maravilhas com batidas fortes e bem marcadas. Desde a debandada de Rozz Williams, esse line-up se manteve na Europa. A nova morada influenciou diretamente no seu som, cuja estrutura não apresentava mais resquícios de sua procedência americana (o deathrock cru introduzido por Rozz no Pompeii 99 ficaram para trás) – aqui, a versão genérica do Christian Death, já ecoava como as bandas góticas do velho continente, orientadas por numa tendência mais melódica e densa.

Depois da primeira faixa, somos surpreendidos com a tranqüilidade de “Tales of Innocence”. O tema, originalmente se chamava “The Gift of Sacrifice” e cantado nos shows até então por Valor, ganhou em sua versão definitiva na bela voz de Gitane Demone que deu um ar mais dramático a letra que aborda o horror das torturas sexuais em que as prisioneiras eram submetidas nos campos de concentração. Os títulos sucedem-se às vezes agressivos, como "Stapping me Down", às vezes de uma calma venenosa e corrosiva, em "The Danzig Waltz". Seguem "Chimerè De Si De La” e "Silent Thunder" que apresentam um trabalho excepcional de guitarra de Valor e Barry Galvin (Mephisto Walz). Ao emergimos deste mar escuro e oscilante, ganhamos fôlego com a semi-acústica "Strange Fortune", porém logo em seguida os ouvidos são golpeados pela a ferocidade de "Ventriloquist" que ao vivo ganhava uma versão mais violenta que podia atingir quinze minutos de duração. E esta exibição de atrocidades avança com a arrepiante versão "Gloomy Sunday" cantada por Gitane.



O ato atmosférico de "The Death of Josef" (um réquiem ao médico Josef Mengele, conhecido como o Anjo da Morte em Auschwitz), fecha este álbum que tem a morte nas trincheiras como constante em seu imaginário. Aqui não há uma linha que separa a realidade do quimérico, pois a dor e o desespero tornam as duas condições homogêneas, como exibido nos rostos grotescos da pintura expressionista "Die Sieben Todsünden" ("os sete pecados capitais) de Otto Dix (1891—1969) que compõe a contra capa da primeira edição desse trabalho de estranha delicadeza.


Algumas letras traduzidas:



“Contos da Inocência”
Nós éramos enormes lanternas de caça
Iluminando o caminho para o banquete do faminto
Nossa rígida pele jovem pronta para ser suja

Corpos como brinquedos negociados por favores
A oferta do sacrifício

Enxugando meu corpo que não pode ser limpo novamente
A culpa sangra do gosto do pecado
Minhas vergonhas são memórias da paixão
O desejo do prazer profundo

Corpos como brinquedos negociados por favores
A oferta do sacrifício

Sem flores para poupar o que ela deu de si para eles
E quando ela voltou, ela estava, ela estava...
Ainda, ainda...

Corpos como brinquedos negociados por favores
A oferta do sacrifício

“Trovão Silencioso”
Minha cama é o jardim onde todas as vozes se encontram
Mãos deslizam através da água embaixo de meu travesseiro
Pedras como chuva banham as horas
As mãos no meu pulso, sexo, flores murchas

O trovão silencioso ergue-me para dormir
Caindo num abismo tão profundo

E se meus olhos tímidos da manhã
Meus lábios provarão de fruta verde
Palavras sem significados evocam o passado
O futuro foi o dia antes do último.

“Estranha sorte”
Eles preservavam belos quadros
Derramando o vinho, que brinde cruel...
Boatos dispersos são contados nos cafés
Respeito aos olhos do inimigo

Uma calorosa e oculta vingança de amantes
A dança das flores em um perfume roubado
Uma taça de champanhe, uma lasca de pão.
Respeito aos olhos do inimigo

Estranha sorte...

Suas canções iludiram a lealdade
Enganando os perversos quanto à fuga
Boatos dispersos contados em cafés
Respeito aos olhos do inimigo

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O Rio da Posse (Fernando Pessoa)

Que somos todos diferentes, é um axioma da nossa naturalidade. Só nos parecemos de longe, na proporção, portanto, em que não somos nós. A vida é, por isso, para os indefinidos; só podem conviver os que nunca se definem, e são, um e outro, ninguéns.
Cada um de nós é dois, e quando duas pessoas se encontram, se aproximam, se ligam, é raro que as quatro possam estar de acordo. O homem que sonha em cada homem que age, se tantas vezes se malquista com o homem que age, como não se malquistará com o homem que age e o homem que sonha no Outro? Somos forças porque somos vidas. Cada um de nós tende para si próprio com escala pelos outros. Se temos por nós mesmos o respeito de nos acharmos interessantes, [...]. Toda a aproximação é um conflito. O outro é sempre o obstáculo para quem procura. Só quem não procura é feliz; porque só quem não busca, encontra, visto que quem não procura já tem, e já ter, seja o que for, é ser feliz, como não pensar é a parte melhor de ser rico. Olho para ti, dentro de mim, noiva suposta, e já nos desavimos antes de existires. O meu hábito de sonhar claro dá-me uma noção justa da realidade. Quem sonha demais precisa de dar realidade ao sonho. Quem dá realidade ao sonho tem que dar ao sonho o equilíbrio da realidade. Quem dá ao sonho o equilíbrio da realidade, sofre da realidade de sonhar tanto como da realidade da vida (e do irreal do sonho com o sentir a vida irreal).
Estou-te esperando, em devaneio, no nosso quarto com duas portas, e sonho-te vindo e no meu sonho entras até mim pela porta da direita; se, quando entras, entras pela porta da esquerda, há já uma diferença entre ti e o meu sonho. Toda a tragédia humana está neste pequeno exemplo de como aqueles com quem pensamos nunca são aqueles em quem pensamos.

(trecho "O Livro do Desassossego")

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Skinheads para além da política e da a-política

Como todo skinhead gostaria de liberar o tostesterona

Vejo que o crescente moralismo endossado pelos novos cristãos e grupos políticos/religiosos (felizes e eufóricos pelo acesso vulgar ao consumo, “graças a deus!”) tenha gerado ou pelo tem sido um dos culpados pela nova onda de violência contra as minorias...Enfim este texto editado originalmente no meu site Junkeria Nefasta serve como uma forma de refletir esta maneira tão bruta e idiota de bandidos (e policiais civis em parte) que usam a porrada como forma de ofuscar seus próprios desejos reprimidos. A pedido do autor (um amigo anarco punk que há não vejo) sua identidade será preservada e quem achar ruim que venha tirar satisfações comigo.

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A pergunta que se faz é quais são os tão bons motivos para se carregar o rótulo e a tradição de uma cultura que durante 30 anos se desenvolveu as custas de atrocidades desumanas? Será que a música e a roupa são valiosos o suficiente para se apegar à esta tradição?

É muito claro que skinhead não é simplesmente uma afirmação de moda, e sim uma cultura, e exatamente por ser uma cultura tem valores que se identificam e outros que repudiam, e em conseqüência criam uma certa visão de mundo própria. O que essa cultura, com seus valores, tradições e costumes, fez desde de sua origem até agora? Essa questão vai além de uma visão partidaria de esquerda e direita, anarquismo e fascismo. A resposta pra isso tem que ser pensada acima de tudo com o nosso caráter humano. Na década de 60 quando a cultura skin começou, esteve intimamente ligada á uma prática que os skinheads negros e brancos apelidaram de "paki-bashing", que consistia em perseguir, humilhar, espancar e, eventualmente, assassinar sul-asiáticos (paquistaneses, indianos, bangladeshianos, e outros). A justificativa que davam para isso não era o nazismo, obviamente, aliás o bode expiatório que hoje se usa para eximir a culpa do atos de brutalidade estava sendo fundado naquele momento e não tinha nenhuma visibilidade ou força política: a National Front. Quando perguntado sobre o porque do ódio, os skinheads diziam que os asiáticos eram passatempo deles, e que agrediam-os simplesmente porque a cultura deles não tinha como costume revidar. Alguns chegavam até a criar teorias pra justificar, e usavam o patriotismo como desculpa para essas atrocidades. "Eles não falam nossa língua, não reproduzem nossa cultura. Eles roubam nossos empregos". O saldo disso foi centenas de agressões e algumas mortes em menos de 1 ano. O que não podemos esquecer nisso é que independente da visão pessoal política de cada um, uma coisa é certa: ser patriota não tem como pré-requisito ser covarde, assassino e irracional.

Os skins desapareceram no meio dos anos 70 e voltaram no fim dela com a explosão da segunda geração punk e o revivalismo da década de 60 (mod revival e 2-tone) gerado pelo filme Quadrophenia e a new wave. As novas gangues de skinheads trouxeram junto a Liga Anti-Paquistanês, vários grupos de skinheads tradicionais apolítocs que se autoafirmavam contrários às idéias do nazismo mas dedicavam seu tempo a perseguição e linchamento racista de asiáticos por mero entretenimento. A National Front que começou pouco antes com seu discurso nazista enrustido encontrou nos skinheads um terreno fértil, e do ódio aos imigrantes asiáticos para todos os outros imigrantes foi somente um passo. Agora todo tipo de imigrante se preocupava ao ver skinheads na rua, e esses discursos pseudo-políticos tinham cada vez menos sentido e nada se diferenciavam das tradicionais perseguições dos apolíticos. Agressões tomavam níveis absurdos e uma sensação de terror entre minorias era gritante. Muitos membros da National Front não se afirmavam nazistas, enquanto outros se afirmavam nazistas sob o mesmo partido. Skinheads da extrema direita espancavam pessoas que não concordassem com eles, sob a acusação de comunistas, anarquistas ou esquerdistas. Skinheads da extrema esquerda atacavam pessoas de valores conservadores e "não-esquerdistas", sob a acusação de neo-nazistas. Apolíticos continuavam no seu passatempo tradicional de atacar minorias frágeis por puro entretenimento. Movimentos tentaram unir todos os lados, e acabaram servindo exclusivamente como abrigo de nazistas e fonte de infinitas guerras entre gangues nos shows. A política servia como mero respaldo para a covardia e brutalidade irracional, e os apolíticos não se preocupavam em justificar suas também covardes e assassinas atitudes. As velhas práticas da raíz da década de 60 foram tingidas com o discurso político, mas continuavam sendo a mesma coisa no fim das contas.

No Brasil a mesma confusão ideológica surgiu entre os Carecas, que acabou por separá-los em Carecas e White Powers no fim da década de 80. As práticas de violência gratuita continuavam usando a política como mero pretexto. Centenas de pessoas foram brualmente atacadas e até mesmo assassinadas durante a "evolução" política do movimento Careca dos anos 80 até o começo dos 90. Agora, com as coisas já bem definidas, homossexuais, punks e esquerdistas continuam sendo linchados por Carecas, e negros, judeus e nordestinos continuam sendo linchados por White Powers. E carecas e white powers lincham-se uns aos outros. O pretexto vai se modificando, ramificando, mas as práticas continuam as mesmas. Se os mais velhos perdem cada vez mais o interesse nas brigas, as gerações novas continuam a reproduzir a violência estúpida pseudo-política. A indiferença para o absurdo, no entanto, continua dos dois lados: geração velha e geração nova.

E voltamos a pergunta: para que carregar o rótulo de uma cultura cujos os valores ao longo da história só se mostram a serviço da covardia e da desumanidade? Por que mais uma vez querer associar visões de mundo políticas com coisas que sempre as usaram como pretexto irracional, e não fundamento racional? Para que voltar para uma raíz "espírito de 69" apolítica que também só esteve a serviço do comportamento mais desprezível que um ser humano pode ter, a violência gratuita? O que há de tão especial na música e na moda que faz com que possamos relevar esse passado hediondo e assumirmos essa cultura suja? Acreditar que o discurso político por trás destas coisas são boas justificativas é uma ilusão, sejam os discursos da direita, sejam da esquerda. E não se trata também de sermos pacifistas ou demonizarmos a violência, porque a violência gratuita está para além de qualquer tolerância até do mais bélico e político. Afinal, a violência gratuita e irracional só se presta a pessoas que negam sua natureza, enquanto a verdadeira consciência política e filosófica só está reservada àqueles que assumem sua humanidade.

sábado, 1 de outubro de 2011

World Vegetarian Day

Heifer whines could be human cries
Closer comes the screaming knife
This beautiful creature must die
This beautiful creature must die
A death for no reason
And death for no reason is MURDER

And the flesh you so fancifully fry
Is not succulent, tasty or kind
It's death for no reason
And death for no reason is MURDER

And the calf that you carve with a smile
It is MURDER
And the turkey you festively slice
It is MURDER
Do you know how animals die?

Kitchen aromas aren't very homely
It's not "comforting", cheery or kind
It's sizzling blood and the unholy stench
Of MURDER

It's not "natural", "normal" or kind
The flesh you so fancifully fry
The meat in your mouth
As you savour the flavour
Of MURDER

NO, NO, NO, IT'S MURDER
NO, NO, NO, IT'S MURDER
Oh ... and who cares about an animals life?