sábado, 29 de outubro de 2011
O Amigo (Lúcio Cardoso)
Pela noite chegou como se já estivesse, tão presente aos sentimentos, tão grave
na certeza e na renúncia de esperar melhor;
talvez, se juntos ainda pudessem caminhar
e uma lição do passado não fosse abdicada.
A calma depois, e nunca o esquecimento,
que é tão difícil quando se é tão pobre
e é preciso acreditar nas menores coisas,
no que foi, no que não será jamais,
porque tudo é diferente, e sonhamos muito,
porque tinha de ser - e se o caminho é este,
caminho de urzes e fogos sem consolo,
e também porque os sonhos não persistem
e somos fracos, com tanta, tanta luz
e um tão vasto tempo para a vida, antes que a morte levante a sua sombra
e tudo cesse no eterno esquecimento
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