quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Onde Steve

Você não pode ficar preso no que você pensa ser seu destino.
A jornada é tão importante quanto o destino.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Sempre em mim

Sempre em mim esse fantasma
Essas sombras nos meus dias
Essa nuvem impenetrável
De silêncios e silêncios
Como se faltassem meios
De romper com esse mistério
E mergulhar no teu destino
Aprender os teus abismos
Enganar os teus enganos
As profundezas do teu medo
E fazer-te sempre minha
Sempre em mim
Sempre

(Letra: Paulinho Mendonça / Música: Gerson Conrad, do disco Gérson Conrad & Zezé Motta - de 1975)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Bastard Disco

Ouvi dizer que aquela festa com luz de néon rola "anos 80 chic", mas há quem tenha afirmado que o movimento por lá era como de uma festa "trash" (menos infantilizada, é claro) onde se sentia que a presença dos "amigos" se deu por meio de muita insistência ou por uma dose de propaganda falsa - me garantiram que era quase possível sentir o eco da pista vazia embalada por sons monótonos e manjados que espantavam até as moscas, mas que animava um povo bem sem graça cuja deformação corporal revela seu estilo de vida burocrático. Na porta, como num ato de caridade dos organizadores, um hostess travestido que ainda acredita chocar aqueles que nunca tomaram conhecimento da montação requintada e original do povo que frequentava o saudoso club londrino Blitz, templo máximo da era new romantic...Para que tanto esforço em vão? Foi pensando neste constrangimento que decidi fazer uma coletânea que agora divido com vocês...Com tanta gente afirmando que é veterano na noite de São Paulo, é notável que esta pretensão é resultado do oportunismo e amadorismo em cima da falta de referência de grande parte do público. Ainda sou daqueles que acham o som é parte fundamental de um ambiente como estes ou seja lá qual for, pois faz parte de todo aparato sensível, coisa que há anos se perdeu vista (ou dos ouvidos) nos clubs que servem apenas de fundo para aqueles que adoram endossar seu autismo como se tivessem lido com toda atenção todo o script daquilo que Bauman define como "tempos líquidos...” Não estou dizendo que uma casa noturna deve ser necessariamente algo conceitual, mas poderia ser algo mais interessante.
Bem, para uma boa seleção de músicas não é preciso de muita coisa além de sensibilidade e conhecimento, e isso ajudaria a selecionar a frequencia de um espaço que tem a pretensão de ser chic. Ah quero dizer ter bom senso e humildade ao apertar o play (que deus salvem os verdadeiros DJ's da forca, não é Mr. Morrissey?) ajudaria pelo menos reeducar parte das pessoas que transformaram a cultura da noite em algo tão vulgar...
Embora eu tenha dado o subtítulo 'obscure synth-pop dancefloor', esta compilação não contém nada tão raro (raro sim de se tocar por ai). Trate-se na verdade de uma seleção muito acessível, uma vez que Sandra, Desireless, por exemplo, fizeram a suas historinhas nas FM's do mundo a fora numa época em que o synth pop, o new beat (com a sua cara de pós-EBM) e a house music conviviam harmoniosamente ou até se hibridizavam se causar grandes espantos. Propositalmente a "Bastard Disco" não se limita só a década de 1980 - a faixa do Faith Assembly fora gravada em 1993 para o álbum "Shades Of Blue", o que não chega a ser uma blasfêmia já que sua sonoridade depechemodeana agrada bastante até mesmo os mais ortodoxos. São apenas 13 músicas divididas em duas pastas, porém o volume dois daqui uns dias eu já disponibilizo...Fica também dica para quem comandará as picapes do novo Madame Satã.

1. Desireless - John (4:14)
2. Anything Box - World Without Love (4:15)
3. Industry - Sate of the Nation (3:30)
4. Peter Schilling - The Different Story (Razormaid (7:42)
5. Sandra - In the Heat of the Night (5:18)
6. Naked Eyes - Fortune And Fame (3:17)
7. Peter Godwin - Spoken Images (3:43)
8. Cetu Javu - Situations [7'' Version] (3:32)
9. Faith Assembly - Pool Of Tears (6:10)
10. A.K.A. - Cruel Lovin' (Boy-Boy Mix) (6:04)
11. Pete Wylie - Sinful (Tribal Mix) (8:05)
12. Secession - Touch (Part 3) (6:43)
13. Xymox - Imagination (Dance Mix) (6:29)

*parte 1*
*parte 2*

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

da bíblia do caos

A vida é mesmo assim, meio injusta: uns têm graça, outros tem espírito - a maioria tem apenas pedra no rins, mas tudo é destino!

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

conversa informal - usp x maconha x polícia

Eis uma transcrição de uma conversa que tive esses dias com um amigo já que a moda de hoje é apontar culpados, se eleger os "mimados" da clásse média, prender traficantes que alimentam o bolso de policiais corruptos, crucificar comediantes, endeusar o feto de uma pseudo-celebridade e se esquecer de calamidades públicas mais urgentes como a aprovação em silêncio da Código Florestal Brasileiro, a orgia dos estádios para a Copa, a epidemia de crack e a ladroagem nos Ministérios etc...

William:
O que acha destes maconheiros de merda da USP fazendo protestinho?
Rod: Então, acho que há exagero de ambas as partes...
Penso que a polícia tem largar mão de tratar usuário como criminoso. Se fosse assim já teriam fechado até faculdades particulares que viraram antros de cerveja x cocaína x putaria...No entanto acho que há exagero dos estudantes que se travestiram de ativistas revolucionários. Acho que está tudo errado.
William: O que te acontece se a polícia te pegar fumando um baseado? Seja em qual lugar for.
Rod: Mas está errado. Isso por não poderia mais acontecer. Eu sou a favor da descriminalização da maconha.
William: O que aconteceu originalmente foi que a PM pegou uns três deles fumando maconha e os repreendeu. Dai houve uma reação de outros estudantes.
Rod: A legislação atual prevê punições distintas a usuário e traficante.
William: Certo, mas até que esta descriminalização ocorra, a PM tem um procedimento a seguir.
Rod: Acho que é a lei 11.343 se não me engano...A merda é a seguinte: a maconha está em mão de cartéis de traficantes e essa é a grandíssima merda.
William: Acredito que isso não justifica fazer o que estão fazendo. Veja bem, há lugar pra todos. Há estudantes na USP que são a favor da permanência da PM e fizeram até protesto a favor disso. Enquanto isso do outro lado o pessoal protestou e ficou no quebra quebra regado a maconha e bebida. Entende? Há esta desvalorização de atitude porque é uma revolta apenas.
Rod: Quanto merda acontece por uso de álcool desenfreado?
William: Estes mesmos revoltados se forem assaltados sem parar pelos marginais locais, eles vão fazer protesto porque a PM nunca passa por ali. A bola da vez agora é protestar porque estão ali atrapalhando o momento deles.
Rod: Acho que existe muito preconceito contra maconha...Muito, mas acho que há também um "glamour" exagerado de gente deslumbrada...E também uma hipocrisia enorme de quem acha que todo maconheiro é safado. Se esquece até dos benefícios medicinais que são obscurecidos pela industria farmaceutica. Pura hipocrisia. Eu acho que existe por trás desta história alguns interesses políticos que ainda não foram bem esclarecidos...O Estado, por exemplo, está louquinho pra privatizar a USP...Em compensação há forças de extrema esquerda instigando estes alunos e por isso acho que o buraco é mais em baixo. Tem nêgo que cheira pra caralho, bebe igual um gambá mata aos montes nas ruas e estradas e ninguém fala nada...
William: Eu sou a favor daquela marcha da maconha, por ex. Deveria existir a descriminalização, não discordo disso. Mas não desta maneira
que estão fazendo, não porque foram repreendidos fazendo uso em público. Eles devem amar quando a polícia invade uma favela e sai prendendo todo mundo, mas a polícia também não pode seguir o mesmo procedimento para impedir o uso em público.
Rod: Se a PM foi colocada lá pra zelar pela segurança não deveria ficar vigiando quem fuma ou quem deixa de fumar...Maconha e USP já fazem “parceria” há séculos...
William: Todos eles têm muito dinheiro. Porque não vão estudar lá em Harvard? Terão todos os direitos possíveis...
Rod: Acho que isso é chuva em copo d'água. Sabe que eu acho? Que com as redes sociais todo mundo virou dedo duro. Vigilantes da boa moral. No fundo isso é um tremendo dedo no cu...Estão errados sim de fazer baderna, mas policial tem que caçar traficantes e não usuários. O viciado já é um problema de saúde pública. Só legalizar e esclarecer que acaba com a boa parte da violência.
William: Agora falando sério cara...O motivo do protesto deveria ser a descriminalização da maconha e não a presença da PM lá. Porque se formos mesmo na raiz do protesto e levar ao pé da letra, então daqui a pouco estaremos protestando contra a presença da polícia nas ruas, em qualquer lugar.
Rod: A polícia está despreparada. E outra, esse protesto pela maconha já foi tida pelo Supremo como um movimento de liberdade de expressão, somente. Quando houve das primeiras vezes a polícia desceu a borracha porque é muito atrasada.
William: Porque quem estiver usando drogas, seja em qual lugar for, se barrado pela polícia, enfrentará problemas. O álcool é liberado, mesmo existindo penalidades que sejam acionadas somente nas consequencias do mesmo.
Rod: O supremo garantiu qualquer viés de liberdade de expressão e não de apologia. É constitucional. O que acho errado é que tem gente que fica mais pirada com álcool, mais do qualquer peguinha de maconha. Maconha deve ser liberada pra uso próprio e acho que cada um poderia ter sua plantinha em casa e não mais depender de bandido pra consumir. Se você proíbe cai em mão errada igual como ocorreu durante a lei seca dos EUA nos anos de 1930, a explosão de máfias e assassinatos, é o que aconteu na Colombia há 20 anos atrás e que acontece agora no México.
William: Mas do álcool não podem reclamar cara...Bebem há séculos lá na USP e ninguém nunca falou nada.
Rod: Lógico, mas estou dizendo dos efeitos, as consequencia pra saúde....Ai no Sul se confirmou que os jovens bebem cada dia mais cedo. E isso está relacionado ao uso de drogas mais pesadas não é a toa que ai também tem um dos maiores índices de consumo de crack e cocaína do País.
William: Claro...Cultura aqui de final de semana é a família em volta de uma churrasqueira com uma cerveja em volta.
Rod: Dizem que a maconha é porta de entrada pra outras drogas. Eu discordo. Eu acho que, por tudo isso, é o álcool...Consequentemente a porta de entrada é o “dealer”. Olha este vídeo do Jabor http://www.youtube.com/watch?v=t58nD6PrtAw&feature=related
William: É que infelizmente mais da metade da população não enxerga o álcool como droga. Eles só enxergam as drogas que levam o vendedor e o usuário para a cadeia.
Rod: Tem muitos documentários e pesquisas que confirmam que de fato existe um exagero muito grande...Preconceitos contra a maconha. Neste vídeo, ele resume bem o que eu penso.
William: Eu ouvi. Olha cara. Tem razão...
Rod: Pra mim, em dosagens pequenas, a maconha abre a mente se usada com coerencia...Você escapa deste mundo idiota e careta que exige que você fique sempre ligado numa realidade que te colocaram goela a baixo. Cocaína eu acho uma merda do caralho.
William: Mas violência e quebra quebra não se justifica. Vejo hipocrisia neste protesto justamente pelo que disse...Estes...São os primeiros a protestar contra a ausência da PM lá caso os bandidinhos voltem a barbarizar os estudantes.
Rod: Nada justifica a violência de ambas as partes. A falta de diálogo e informação carece muito. E a policia é uma instituição que é intolerante por natureza...Você está ligado os podres que tem dentro de uma corporação até mesmo tráfico. Alguns não sabem nem ler direito.
William: haha When Dreams Fall Apart?
Rod: Ainda vou ter meu sitio e meu pézin...

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O Passeio (Alfred Lichtenstein - 1913)


Tu, esses quartos
Fixos e as áridas ruas
E o rubro sol das casas,
A infame repugnância de todos
Os livros há muito já folheados –
Não os agüento mais.

Vem, precisamos sair da cidade
Para muito longe.
Vamos deitar-nos em
Suave gramado.
Ameaçadores e tão abandonados,
Contra o absurdamente grande,
Mortalmente azul, brilhante céu,
Levantaremos mãos choradas
E encantados,
Descarnados, apáticos olhos.

Alfred Lichtenstein foi um dos primeiros poetas expressionistas alemães. Ele nasceu 23 de agosto de 1889 em Berlim. Seus poemas foram publicados a partir de 1910 em alguns dos periódicos mais importantes do Expressionismo, como o Der Sturm. Cursou direito com pós-graduação sobre legislação teatral 1913, ano em que foi convocado para servir o exército em Monique. Em 25 de setembro de 1914 morreu no front da Primeira Guerra Mundial, aos 25 anos de idade.

sábado, 5 de novembro de 2011

Christian Death - Live at West Side Club, Lyon (France) - May 17, 1984

Rozz, sem dúvida, merece mais atenção por aqui, já que o número de notas sobre Valor Kand são maiores. Hoje o artista completaria seus inimagináveis 48 anos. Além de uma homenagem, este post é também um presente aos seus seguidores que sempre estão a caça de relíquias. Trata-se de um achado: uma gravação límpida de um show do Christian Death realizado em 17 de maio de 1984 durante a excursão francesa para divulgação do álbum Catastrophe Ballet e que foi transmita por uma rádio local de Lyon (Radio-Bellevue FM). Eis o porquê de sua boa qualidade sonora que supera (em termos de capitação) outros bootlegs que ganharam posteriormente edições "oficiais" em diversos formatos, por vários selos. Vocês perceberão uma pequena queda de qualidade nas duas últimas faixas, já que consegui achá-las separadamente (estavam sem remasterização, com aquele típico zunido da fita K7) – porém tentei dar uma equalizada para que o volume e os agudos ficassem num nível semelhante do restante. De qualquer maneira isso passa quase despercebido quando se entra no clima desta apresentação empolgante (o que mostra que a banda, em sua segunda encarnação, num dado momento estava bem entrosada) de deixar os fãs mais devotos de alma lavada. Bom download.

CHRISTIAN DEATH – Live at West Side Club, Lyon (France) - May 17, 1984
Setlist:
01. Awake at the Wall
02. Sleepwalk
03. The Drowning
04. Theatre of Pain
05. Cavity - First Communion
06. The Blue Hour
07. The Fleeing Somnambulist
08. Androgynous Noise Hand Permeates
09. Electra Descending
10. As Evening Falls
11. Face
12. Cervix Couch
13. This Glass House
14. Romeo’s Distress

Line up:
Rozz Williams (vocal)
Valor Kand (guitar/backing vocals)
Gitane Demone (keyboard/backing vocals)
Constance Smith (bass)
David Glass (drum)

sábado, 29 de outubro de 2011

O Amigo (Lúcio Cardoso)


Pela noite chegou como se já estivesse, tão presente aos sentimentos, tão grave
na certeza e na renúncia de esperar melhor;
talvez, se juntos ainda pudessem caminhar
e uma lição do passado não fosse abdicada.

A calma depois, e nunca o esquecimento,
que é tão difícil quando se é tão pobre
e é preciso acreditar nas menores coisas,
no que foi, no que não será jamais,
porque tudo é diferente, e sonhamos muito,
porque tinha de ser - e se o caminho é este,
caminho de urzes e fogos sem consolo,
e também porque os sonhos não persistem
e somos fracos, com tanta, tanta luz
e um tão vasto tempo para a vida, antes que a morte levante a sua sombra
e tudo cesse no eterno esquecimento

terça-feira, 25 de outubro de 2011

As pretensões e equívocos nos desertos da Líbia


Li este trecho da introdução do livro “O Homem Revoltado” de Albert Camus, e é incrível como este tratado lançado em 1951 continua pertinente nos dias atuais onde a violência e sede de vingança é festejada cega e midiaticamente de forma enjoativa. Não estou deslegitimando mais um acontecimento da chamada “Primavera Árabe”, mas questionando através desta citação até que ponto aquele povo está preparado para uma nova era que me parece um tanto turva. Mesmo que a insurreição seja uma resposta aos anos tirania, será que os libios acabaram caindo em outra cilada de interesses maiores? Ainda não dá pra se fazer um balanço deste evento, porém a recente história nos lembra que as guerras que surgiram por anseios democráticos (seja no Oriente Médio ou na África), obtiveram resultados positivos no início (como divulgados pela mídia) e em suas etapas seguintes ganharam ares caóticos, mais violentos e muitas vezes bem obscuros. Com uma mãozinha (ou mãozona) da intervenção franco-anglo-americana, se sabe que a partir da queda e assassinato de Kadafi, o povo da Líbia tornou-se mais um devedor das potências que nunca se interessaram de fato pela sua tão sonhada liberdade...

O
absurdo, visto como regra da vida, é portando contraditório. Que há de espantoso em que não nos forneça os valores que decidiram por nós quanto à legitimidade do assassinato? Aliás, não é possível fundamentar uma atitude em uma emoção privilegiada. O sentimento do absurdo é um sentimento entre outros. O fato de ter emprestado suas cores a tantos pensamentos e ações no período entre as duas guerras prova apenas a sua força e a sua legitimidade. Mas a intensidade de um sentimento não implica que ele seja universal. O erro de toda uma época foi o de enunciar, ou de supor enunciadas, regras gerais de ação, a partir de uma emoção desesperada cujo movimento próprio, na qualidade de emoção, era o de se superar. Os grandes sofrimentos, assim como as grandes alegrias, podem estar no início de um raciocínio. São intercessores. Mas não se saberia como encontrá-los e mantê-los ao longo desses raciocínios. Se, portanto, era legitimo levar em conta a sensibilidade, e no niilismo que ela supõe, mais do que um ponto de partida, uma crítica vivida, o equivalente, no plano da existência, à dúvida sistemática. Em seguida, é preciso quebrar os jogos fixos do espelho e entrar no movimento pelo qual o absurdo supera a si próprio.
Quebrado o espelho, não resta nada que nos possa servir para responder às questões do século. O absurdo, assim como a dúvida metódica, faz tabula rasa. Ele nos deixa sem saída. Mas, como a dúvida, ao desdizer-se, ele pode orientar uma nova busca, Com o raciocínio acontece o mesmo. Proclamo que não creio em nada e que tudo é absurdo, mas não posso duvidar de minha própria proclamação e tenho de, no mínimo, acreditar em meu protesto. A primeira e única evidência que assim me é dada, no âmbito da experiência absurda, é a revolta. Privado de qualquer conhecimento, impelido a matar ou a consentir que se mate, só disponho dessa evidência, que é reforçada pelo dilaceramento em que me encontro. A revolta nasce do espetáculo da desrazão diante de uma condição injusta e incompreensível. Mas seu ímpeto cego reivindica a ordem no meio do caos e a unidade no próprio seio daquilo que foge e desaparece. A revolta clama, ela exige, ela quer que o escândalo termine e que se fixe finalmente àquilo que até então se escrevia sem trégua sobre o mar. Sua preocupação é transformar. Mas transformar é agir, e agir, amanhã, será matar, enquanto ela ainda não se matar é legitimo. Ela engendra justamente as ações cuja legitimação lhe pedimos. É preciso, portanto, que a revolta tire as suas razões de si mesma, já que não consegue tirá-las de mais nada. É preciso que ela consinta em examinar-se para aprender a conduzir-se.

(trecho da introdução do livro "O Homem Revoltado” de Camus)

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Uma nova primavera

Há tempos vivemos num período onde a palavra "sujeito" ou "cidadão" servem a interesses estritamente governamentais (estes disfarçados com a carapaça de um antiquado sistema). Eis que no vimos prostrados ao que Bauman e outros autores definem como a "sociedade de consumidores" cujo modelo encoraja, promove e reforça a escolha de um estilo de vida consumista onde se rejeita todas as opções culturais alternativas...Almas dopadas/vazias (ou almejadas a "vencer", sem dar-se conta da condição de escravos em "luta em vão") que se limitam as cifras...Essências líquidas que se vêem enferrujadas e materializadas em diversos tipos de câncer.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Apesar da proibição de sua mãe, indo brincar nos túmulos (Stéphane Mallarmé)

(A proibição de sua mãe de descer assim – sua mãe o que lhe disse o que tinha de fazer. Para ele isso se passa numa lembrança de infância, essa noite prescrita se ele se matasse, não poderia mais, adulto, consumar o ato.)

ele beberá de propósito para se reencontrar

Ele pode avançar, porque vai no mistério. (Não desce ele a cavalo sobre o corrimão toda a obscuridade – todo o que ele ignora dos seus, corredores esquecidos desde a infância.). Esse é o caminho inverso da noção da qual não conheceu a ascensão, tendo, adolescente, chegado ao Absoluto: espiral, no alto da qual permanecia como Absoluto, incapaz de mover-se, acedendo e mergulhando dentro da noite pouco a pouco. Ele acredita atravessar os destinos dessa noite memorável: enfim chega onde deveria chegar, e vê o ato que o separa da morte.
Outra travessura.
Ele: eu não posso fazer isso seriamente: mas o mal que sofro é terrível, de viver: no fundo dessa confusão malsã e inconsciente das coisas que o seu absoluto isola ele sente a ausência do eu, que representa existência do Nada em substância, é preciso que eu morra, e como este frasco contém o nada por minha raça adiado até a mim (esse velho calmante que ela não tomou, os ancestrais imemoriais só o tendo guardado no naufrágio), eu não quero conhecer o Nada, antes de ter devolvido aos meus este porquê eles me engendraram – o ato absurdo que atesta a inanidade de sua loucura. (O inacabamento que seguiria e só ele mancha momentaneamente meu Absoluto.)
Isso desde que eles abordaram este castelo durante um naufrágio sem dúvida – outro naufrágio de algum grandioso projeto.
Não assovieis porque falei da inanidade de vossa loucura! silêncio, nada dessa demência que quereis mostrar propositalmente. Pois bem! se voz é tão fácil retornar ao infinito para procurar o tempo – e vir a ser – será que as portar estão fechada?
Só eu – só eu – vou conhecer o nada. Vós, volvereis ao vosso amálgama.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Christian Death - Atrocities (1986)


Parece contraditório partir de um admirador de Rozz Williams postar mais matérias do seu arque rival Valor Kand. Bem, já se se foi para mim à época em que eu levantava a bandeira como um adolescente deslumbrado. Tenho escutado novamente os trabalhos de Valor e, embora eu descorde de todos os seus equívocos e me ver prostrado pelas vergonhas alheias que suas cafonices causam, provou que o “Christian Death” pode ser uma experiência que está além da música, conceito que davam bases ao que ele passou a denominar de Christian Death Society. Claro que é impossível, por uma questão de lógica, aceitar a sua banda como sendo uma continuação autêntica (embora haja sem dúvidas conexões) do que pretendia o grupo original, porém essas controvérsias permitiram que os fãs tivessem a possibilidade de comparar as idéias, fazer diversas interpretações tão diferentes dentro do mesmo nome.

Este é um review que escrevi em meu antigo site para o álbum Atrocities com três letras traduzidas. Como a alguns dias postei um bootleg que antecedia seu lançamento, fica este registro para não perder fio da meada.

Após o lançamento de dois EP’s ("The Wind Kissed Pictures" e "Believers of the Unpure"), o oportunista Valor, oferece-nos aqui o melhor trabalho, em minha opinião, do seu Christian Death. Este álbum, onde estréia também como vocalista (na verdade à volta a posição de cantor, como nos tempos de Pompeii 99), é também um ponto final a uma saga iniciada com Catastrophe Ballet (1984), antes da banda arriscar-se em caminhos heavy-metálicos. Gravado no lendário Rockfield Studius em Gales (onde também foi gerado seu antecessor, Ashes), Atrocities retrata de forma envolvente e dramática a dura e cruel realidade da Segunda Guerra Mundial, cujo impacto era sentido intensamente nos anos de 1980, em pleno auge da Guerra Fria. Seria proposital que sua prensagem original fosse na Alemanha pela Normal Records? Para dar um ar mais místico a sua concepção em estúdio, Valor fez questão de relatar no encarte, todo escrito à mão, que “Nós respeitamos a presença do espírito da Mulher e da Criança do Acre Hill House, durante o tempo todo em que estivemos lá”.



Um espantoso acorde de violino anuncia sua abertura com a corpulenta "Will-o-the-Wisp" onde a bateria de David Glass faz maravilhas com batidas fortes e bem marcadas. Desde a debandada de Rozz Williams, esse line-up se manteve na Europa. A nova morada influenciou diretamente no seu som, cuja estrutura não apresentava mais resquícios de sua procedência americana (o deathrock cru introduzido por Rozz no Pompeii 99 ficaram para trás) – aqui, a versão genérica do Christian Death, já ecoava como as bandas góticas do velho continente, orientadas por numa tendência mais melódica e densa.

Depois da primeira faixa, somos surpreendidos com a tranqüilidade de “Tales of Innocence”. O tema, originalmente se chamava “The Gift of Sacrifice” e cantado nos shows até então por Valor, ganhou em sua versão definitiva na bela voz de Gitane Demone que deu um ar mais dramático a letra que aborda o horror das torturas sexuais em que as prisioneiras eram submetidas nos campos de concentração. Os títulos sucedem-se às vezes agressivos, como "Stapping me Down", às vezes de uma calma venenosa e corrosiva, em "The Danzig Waltz". Seguem "Chimerè De Si De La” e "Silent Thunder" que apresentam um trabalho excepcional de guitarra de Valor e Barry Galvin (Mephisto Walz). Ao emergimos deste mar escuro e oscilante, ganhamos fôlego com a semi-acústica "Strange Fortune", porém logo em seguida os ouvidos são golpeados pela a ferocidade de "Ventriloquist" que ao vivo ganhava uma versão mais violenta que podia atingir quinze minutos de duração. E esta exibição de atrocidades avança com a arrepiante versão "Gloomy Sunday" cantada por Gitane.



O ato atmosférico de "The Death of Josef" (um réquiem ao médico Josef Mengele, conhecido como o Anjo da Morte em Auschwitz), fecha este álbum que tem a morte nas trincheiras como constante em seu imaginário. Aqui não há uma linha que separa a realidade do quimérico, pois a dor e o desespero tornam as duas condições homogêneas, como exibido nos rostos grotescos da pintura expressionista "Die Sieben Todsünden" ("os sete pecados capitais) de Otto Dix (1891—1969) que compõe a contra capa da primeira edição desse trabalho de estranha delicadeza.


Algumas letras traduzidas:



“Contos da Inocência”
Nós éramos enormes lanternas de caça
Iluminando o caminho para o banquete do faminto
Nossa rígida pele jovem pronta para ser suja

Corpos como brinquedos negociados por favores
A oferta do sacrifício

Enxugando meu corpo que não pode ser limpo novamente
A culpa sangra do gosto do pecado
Minhas vergonhas são memórias da paixão
O desejo do prazer profundo

Corpos como brinquedos negociados por favores
A oferta do sacrifício

Sem flores para poupar o que ela deu de si para eles
E quando ela voltou, ela estava, ela estava...
Ainda, ainda...

Corpos como brinquedos negociados por favores
A oferta do sacrifício

“Trovão Silencioso”
Minha cama é o jardim onde todas as vozes se encontram
Mãos deslizam através da água embaixo de meu travesseiro
Pedras como chuva banham as horas
As mãos no meu pulso, sexo, flores murchas

O trovão silencioso ergue-me para dormir
Caindo num abismo tão profundo

E se meus olhos tímidos da manhã
Meus lábios provarão de fruta verde
Palavras sem significados evocam o passado
O futuro foi o dia antes do último.

“Estranha sorte”
Eles preservavam belos quadros
Derramando o vinho, que brinde cruel...
Boatos dispersos são contados nos cafés
Respeito aos olhos do inimigo

Uma calorosa e oculta vingança de amantes
A dança das flores em um perfume roubado
Uma taça de champanhe, uma lasca de pão.
Respeito aos olhos do inimigo

Estranha sorte...

Suas canções iludiram a lealdade
Enganando os perversos quanto à fuga
Boatos dispersos contados em cafés
Respeito aos olhos do inimigo

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O Rio da Posse (Fernando Pessoa)

Que somos todos diferentes, é um axioma da nossa naturalidade. Só nos parecemos de longe, na proporção, portanto, em que não somos nós. A vida é, por isso, para os indefinidos; só podem conviver os que nunca se definem, e são, um e outro, ninguéns.
Cada um de nós é dois, e quando duas pessoas se encontram, se aproximam, se ligam, é raro que as quatro possam estar de acordo. O homem que sonha em cada homem que age, se tantas vezes se malquista com o homem que age, como não se malquistará com o homem que age e o homem que sonha no Outro? Somos forças porque somos vidas. Cada um de nós tende para si próprio com escala pelos outros. Se temos por nós mesmos o respeito de nos acharmos interessantes, [...]. Toda a aproximação é um conflito. O outro é sempre o obstáculo para quem procura. Só quem não procura é feliz; porque só quem não busca, encontra, visto que quem não procura já tem, e já ter, seja o que for, é ser feliz, como não pensar é a parte melhor de ser rico. Olho para ti, dentro de mim, noiva suposta, e já nos desavimos antes de existires. O meu hábito de sonhar claro dá-me uma noção justa da realidade. Quem sonha demais precisa de dar realidade ao sonho. Quem dá realidade ao sonho tem que dar ao sonho o equilíbrio da realidade. Quem dá ao sonho o equilíbrio da realidade, sofre da realidade de sonhar tanto como da realidade da vida (e do irreal do sonho com o sentir a vida irreal).
Estou-te esperando, em devaneio, no nosso quarto com duas portas, e sonho-te vindo e no meu sonho entras até mim pela porta da direita; se, quando entras, entras pela porta da esquerda, há já uma diferença entre ti e o meu sonho. Toda a tragédia humana está neste pequeno exemplo de como aqueles com quem pensamos nunca são aqueles em quem pensamos.

(trecho "O Livro do Desassossego")

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Skinheads para além da política e da a-política

Como todo skinhead gostaria de liberar o tostesterona

Vejo que o crescente moralismo endossado pelos novos cristãos e grupos políticos/religiosos (felizes e eufóricos pelo acesso vulgar ao consumo, “graças a deus!”) tenha gerado ou pelo tem sido um dos culpados pela nova onda de violência contra as minorias...Enfim este texto editado originalmente no meu site Junkeria Nefasta serve como uma forma de refletir esta maneira tão bruta e idiota de bandidos (e policiais civis em parte) que usam a porrada como forma de ofuscar seus próprios desejos reprimidos. A pedido do autor (um amigo anarco punk que há não vejo) sua identidade será preservada e quem achar ruim que venha tirar satisfações comigo.

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A pergunta que se faz é quais são os tão bons motivos para se carregar o rótulo e a tradição de uma cultura que durante 30 anos se desenvolveu as custas de atrocidades desumanas? Será que a música e a roupa são valiosos o suficiente para se apegar à esta tradição?

É muito claro que skinhead não é simplesmente uma afirmação de moda, e sim uma cultura, e exatamente por ser uma cultura tem valores que se identificam e outros que repudiam, e em conseqüência criam uma certa visão de mundo própria. O que essa cultura, com seus valores, tradições e costumes, fez desde de sua origem até agora? Essa questão vai além de uma visão partidaria de esquerda e direita, anarquismo e fascismo. A resposta pra isso tem que ser pensada acima de tudo com o nosso caráter humano. Na década de 60 quando a cultura skin começou, esteve intimamente ligada á uma prática que os skinheads negros e brancos apelidaram de "paki-bashing", que consistia em perseguir, humilhar, espancar e, eventualmente, assassinar sul-asiáticos (paquistaneses, indianos, bangladeshianos, e outros). A justificativa que davam para isso não era o nazismo, obviamente, aliás o bode expiatório que hoje se usa para eximir a culpa do atos de brutalidade estava sendo fundado naquele momento e não tinha nenhuma visibilidade ou força política: a National Front. Quando perguntado sobre o porque do ódio, os skinheads diziam que os asiáticos eram passatempo deles, e que agrediam-os simplesmente porque a cultura deles não tinha como costume revidar. Alguns chegavam até a criar teorias pra justificar, e usavam o patriotismo como desculpa para essas atrocidades. "Eles não falam nossa língua, não reproduzem nossa cultura. Eles roubam nossos empregos". O saldo disso foi centenas de agressões e algumas mortes em menos de 1 ano. O que não podemos esquecer nisso é que independente da visão pessoal política de cada um, uma coisa é certa: ser patriota não tem como pré-requisito ser covarde, assassino e irracional.

Os skins desapareceram no meio dos anos 70 e voltaram no fim dela com a explosão da segunda geração punk e o revivalismo da década de 60 (mod revival e 2-tone) gerado pelo filme Quadrophenia e a new wave. As novas gangues de skinheads trouxeram junto a Liga Anti-Paquistanês, vários grupos de skinheads tradicionais apolítocs que se autoafirmavam contrários às idéias do nazismo mas dedicavam seu tempo a perseguição e linchamento racista de asiáticos por mero entretenimento. A National Front que começou pouco antes com seu discurso nazista enrustido encontrou nos skinheads um terreno fértil, e do ódio aos imigrantes asiáticos para todos os outros imigrantes foi somente um passo. Agora todo tipo de imigrante se preocupava ao ver skinheads na rua, e esses discursos pseudo-políticos tinham cada vez menos sentido e nada se diferenciavam das tradicionais perseguições dos apolíticos. Agressões tomavam níveis absurdos e uma sensação de terror entre minorias era gritante. Muitos membros da National Front não se afirmavam nazistas, enquanto outros se afirmavam nazistas sob o mesmo partido. Skinheads da extrema direita espancavam pessoas que não concordassem com eles, sob a acusação de comunistas, anarquistas ou esquerdistas. Skinheads da extrema esquerda atacavam pessoas de valores conservadores e "não-esquerdistas", sob a acusação de neo-nazistas. Apolíticos continuavam no seu passatempo tradicional de atacar minorias frágeis por puro entretenimento. Movimentos tentaram unir todos os lados, e acabaram servindo exclusivamente como abrigo de nazistas e fonte de infinitas guerras entre gangues nos shows. A política servia como mero respaldo para a covardia e brutalidade irracional, e os apolíticos não se preocupavam em justificar suas também covardes e assassinas atitudes. As velhas práticas da raíz da década de 60 foram tingidas com o discurso político, mas continuavam sendo a mesma coisa no fim das contas.

No Brasil a mesma confusão ideológica surgiu entre os Carecas, que acabou por separá-los em Carecas e White Powers no fim da década de 80. As práticas de violência gratuita continuavam usando a política como mero pretexto. Centenas de pessoas foram brualmente atacadas e até mesmo assassinadas durante a "evolução" política do movimento Careca dos anos 80 até o começo dos 90. Agora, com as coisas já bem definidas, homossexuais, punks e esquerdistas continuam sendo linchados por Carecas, e negros, judeus e nordestinos continuam sendo linchados por White Powers. E carecas e white powers lincham-se uns aos outros. O pretexto vai se modificando, ramificando, mas as práticas continuam as mesmas. Se os mais velhos perdem cada vez mais o interesse nas brigas, as gerações novas continuam a reproduzir a violência estúpida pseudo-política. A indiferença para o absurdo, no entanto, continua dos dois lados: geração velha e geração nova.

E voltamos a pergunta: para que carregar o rótulo de uma cultura cujos os valores ao longo da história só se mostram a serviço da covardia e da desumanidade? Por que mais uma vez querer associar visões de mundo políticas com coisas que sempre as usaram como pretexto irracional, e não fundamento racional? Para que voltar para uma raíz "espírito de 69" apolítica que também só esteve a serviço do comportamento mais desprezível que um ser humano pode ter, a violência gratuita? O que há de tão especial na música e na moda que faz com que possamos relevar esse passado hediondo e assumirmos essa cultura suja? Acreditar que o discurso político por trás destas coisas são boas justificativas é uma ilusão, sejam os discursos da direita, sejam da esquerda. E não se trata também de sermos pacifistas ou demonizarmos a violência, porque a violência gratuita está para além de qualquer tolerância até do mais bélico e político. Afinal, a violência gratuita e irracional só se presta a pessoas que negam sua natureza, enquanto a verdadeira consciência política e filosófica só está reservada àqueles que assumem sua humanidade.

sábado, 1 de outubro de 2011

World Vegetarian Day

Heifer whines could be human cries
Closer comes the screaming knife
This beautiful creature must die
This beautiful creature must die
A death for no reason
And death for no reason is MURDER

And the flesh you so fancifully fry
Is not succulent, tasty or kind
It's death for no reason
And death for no reason is MURDER

And the calf that you carve with a smile
It is MURDER
And the turkey you festively slice
It is MURDER
Do you know how animals die?

Kitchen aromas aren't very homely
It's not "comforting", cheery or kind
It's sizzling blood and the unholy stench
Of MURDER

It's not "natural", "normal" or kind
The flesh you so fancifully fry
The meat in your mouth
As you savour the flavour
Of MURDER

NO, NO, NO, IT'S MURDER
NO, NO, NO, IT'S MURDER
Oh ... and who cares about an animals life?

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Sin and Sacrifice of Christian Death - Live at Turin Big Club - 23/10/1985


Na segunda encarnação do Espaço Retrô (que funcionou na Rua Fortunato 34 - Sta. Cecília, entre 1995-98) havia um pequeno cômodo no mezanino onde o Rogério do fanzine Ruídos Alternativos exponha suas publicações e de outros editores independentes. Nesta época ele me deu um catálogo de uma distribuidora de discos espanhola chamada Musicas de Regimen que tinha acervo bastante extenso. Encomendas por correio eram uma das formas mais econômicas para se adquirir discos, pois você escapava dos abusos de intermediários (lojas ou importadoras). Os preços da Musica de Regimen eram bem atrativos; sem contar que eram cotados em Pesetas, ou seja, quase um terço do nosso Real. Além de cds, vinis, vhs (um deles, o Sons Find Devils dos Virgin Prunes que acabei adquirindo por este catálogo e inexplicavelmente ainda continua sem uma merecida edição em dvd) havia um sub-catalogo de bootlegs em K7 das bandas mais absurdas. Um deles foi este que disponibilizo agora para vocês: um show raro do Christian Death gravado em 23 de outubro de 1985 (em Turim, Itália), meses depois da debandada de Rozz Williams e que fez da tour européia para divulgação do álbum Ashes. Acredito que neste período, Valor, Gitane e David Glass ainda se dominavam "Sin and Sacrifice", mas logo em seguida passariam a tocar, sorrateiramente, como "Sin and Secrifice of Christian Death" até finalmente simplificarem de vez para "Christian Death", o que não agradou nenhum pouco Rozz. Reza a lenda que as apresentações desta época eram propositalmente bastante escuras e, por causa dos falsetes vocais ala Rozz Williams de Valor, muitas pessoas iam às apresentações pensando estar "ouvindo" o vocalista original.

O set list baseia-se em músicas dos álbuns Catastrophe Ballet, Ashes entre outras que fariam parte dos dois EP's e do álbum (Atrocities), lançados no final de 1985 (The Wind Kissed Pictures) e começo de 1986. Desta maneira é possível notar que, mesmo com o "desfalque" de Rozz, Valor antes mesmo de assumir os vocais já estava munido de um extenso repertório para levar, de modo um tanto controverso, seu Christian Death adiante. Live at Turin Big Club é um excelente bootleg de qualidade sonora média; um pouco abafado, mas nada mal para uma gravação proveniente de uma fita K7 que estava há uns 15 anos engavetada. Tentei dar uma "remasterizada" no Sound Forge, aumentando o seu volume, resgatando o máximo de agudo (tudo bem que quase não se nota, mas juro tentei fazer um milagre) e recortando algumas faixas que estavam emendadas. Quem já está habituado com tantos bootlegs de baixa qualidade do Christian Death editados oficialmente por ai, não vai achar este tão capenga, fazendo valer mais aquela velha frase clichê que conforta qualquer colecionador: "o que vale é o registro". So, enjoy!

Sin and Secrifice of Christian Death - Live at Turin Big Club - 23/10/1985

1. The Death of Josef (fragment)
2. Sleepwalk
3. The Wind Kissed Pictures
4. Will O' the Wisp
5. The Luxury of Tears
6. When I was Bed
7. Between Youth
8. Androgynous Noise Hand Permeates
9. Electra Descending
10. Strapping Me Down
11. Ashes
12. Lament (Over the Shadows)
13. This Glass House

Ps: É possível notar (pelos acordes de baixo) que eles tocariam também "Gloomy Sunday" logo após "When I Was Bed", mas acabou sendo sendo descartada e substituita por "Between Youth".


Line-up:
Valor Kand (vocals & guitar)
Gitane Demone (keyboards & vocals)
David Glass (drums)
Barry Galvin (guitar)
Johann Schumann (bass)

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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Music on Vinyl

Na Europa a (re) valorização do vinil vem ganhando força desde o começo dos anos 2000 e ironicamente tem se tornado a última aposta da industria fonográfica sobreviver ou retomar um pouco da sua já tão miada força no formato tradicional. Pensando nisso alguns selos pequenos vem pensando nesta promissora oportunidade.
O selo holandês
Music On Vinyl é uma destas pequenas editoras que tem resgatado alguns clássicos (antigos e recentes) no velho e tão charmoso formato. Entre tantos títulos interessantes e indispensáveis, destaco (por afinidades musicais e fazerem parte da minha discoteca básica) This Is My Truth Tell Me Yours do Manic Street Preacher, Dirt do Alice in Chains, Elizium do Fields of The Nephilim e Camera Obscura da Nico - todos em edições classudas em 180 gramas, daquelas pesadinhas, para ter e se orgulhar.
Fãs de jazz, rock, black, pop, grunge, proto-punk, brit pop, punk, metal, folk etc se deliciarão com o seu
catálogo.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Death Cult - Ghost Dancers (live bootleg)

Há algum tempo atrás (entre 1990 e 1993) a Galeria do Rock abrigava uma loja chamada Rock N’ Roll, cujo acervo era, na sua maior parte, dedicado a vinis bootegs, ou seja, aqueles bolachões de edições limitadíssimas não autorizadas (muitas vezes proveniente da Itália, Rússia e Japão) que continham materiais raros e nunca lançados pelas bandas. Aliás, a Galeria do Rock atual quase não há mais lojas que investem no velho e bom vinil. Aos órfãos restou praticamente a Baratos Afins (um dos últimos redutos “vinilisticos” por lá) e a Galeria Nova Barão, que fica ali pertinho...Bem, no começo dos anos de 1990 a pirataria não tinha esta conotação vulgar de hoje – não era essa coisa prática (prática no sentido de ser pouco seletiva, sem muito encanto) e pobre reproduzida em mídia ou em mp3; era feita com acabamento caprichado (arte gráfica elaborada, prensagem profissional) e carregava, por isto, uma áurea de elegância e excentricidade, o que satisfazia os fãs que não se contentavam com o material oficial soltado pelas gravadoras. O cara que acompanha a banda e quer incrementar sua coleção, sabe as “cerejas do bolo” não estão nos registros convencionais. Contudo, com o advento da internet, perdeu-se a preocupação e o interesse pelo suporte físico destes arquivos.

Na Rock N’ Roll também era possível encontrar as réplicas dos bootlegs originais, com suas capas mal xerocadas (no “melhor” ou “pior” estilo do it yourself) - muitas vezes estes exemplares eram apenas envolvidos numa espécie de envelope branco contendo apenas o set escrito com máquina de escrever. A apresentação poderia ser tosca, mas seu conteúdo tinha valor incalculável e acredito que boa parte daquilo dificilmente chegará algum dia a ser ripado em mp3 (e postado em algum blog) ou mesmo reeditado por algum selo fundo de quintal. Quem era aficcionado em Sisters of Mercy (uma das bandas mais pirateadas de todos os tempos) ficava em choque com quantidade de LP’s com gravações de shows, sobra de estúdios, transmissões de rádio e demos com as mais variadas qualidades sonoras – tinham desde coisas podres captadas por um gravador de mão pela audiência até coisas “cristalinas” registradas em DAT pela galera da mesa de som. Aqueles que queriam arrebatar estes discos tinham que desembolsar uma bela grana, porém o dono disponibilizava um serviço de gravações de fita K7 para quem não tinha como bancar e quisesse saborear um pouco daquele universo clandestino. As reproduções destas fitas nem sempre agradavam muito, pois o som na maioria das vezes ficava extremamente abafado, no entanto isso acabava sendo um mero detalhe para os que queriam ter em mãos aquelas exclusividades. Também era possível encomendar cópias em vídeos (VHS) de shows raros, filmados da platéia, por alguém que não tinha a mínima habilidade com a câmera. A prateleira do The Cult era um sonho, no entanto tinha uma peça ali que me chamava muito a atenção – o vinil Ghost Dancers (com a capa xerocada); um show gravado em 13 de setembro 1983 no teatro Playhouse (Whitley Bay), quando a banda tocava como Death Cult. Como comprar aquele disco não estava a meu alcance, acabei encomendando uma cópia em fita, que quase arrebentou de tanto tocar. Eu cheguei a pensar em ripar a fitinha para cd-r, por uma questão de preservação mesmo, já que depois com a notícia do óbito da Rock N’ Rock, eram remotas as chances de rever aquele disco novamente e, assim, solicitar uma nova cópia. Embora nostálgica, a Era analógica foi pouco prática e por isso tinha lá os seus inconvenientes e isso fica bem claro nestes relatos de um tempo em que ipode quebraria o maior galho...

Passado alguns anos virei um adicto de vinis e em uma daquelas garimpadas que eu fazia pela madrugada adentro encontrei um colecionador inglês que tinha o bendito a venda em seu site pessoal. E não era um simples colecionador e sim um cara que tinha trabalhado como roadie nos primórdios do Cult. Logicamente não hesitei em comprar, pois sabia que a chance era única. Depois de uns dias esperando ansiosamente, lá estava eu com o cobiçado Ghost Dancers em mãos. Seu estado de conservação me chamou muito atenção; sua capa original estava praticamente zerada (não era como aquela cópia da cópia como exposta na loja). Algo incrível já que se tratava de uma relíquia de tiragem limitada de 500 cópias em vinil azul, editada em 1985 por um selo japonês chamado Garageland. Valeu cada libra investida e a minha persistência, afinal só quem é colecionador sabe a emoção de manipular um destes “brinquedos”.

Seu track list (logo a baixo) é bem típico daquela fase, mas com algumas coisas singulares - a música “Ressurection Song” foi creditada aqui apenas como “Resurrection”. Esta faixa nunca ganhou uma versão de estúdio, o que agrega um valor discográfico a este vinil. Diferente que muitos devem pensar, “Ressurection” não é nem de longe um esboço da dançante “Resurrection Joe” (1984). “Wild Thing” (cover do The Troogs costumeiramente fechava as apresentações daquela época) tem aqui umas de suas versões pesadas e tribais graças as baquetadas impiedosas e inconfundíveis de Ray Mondo que logo após este show se despedia do Death Cult. A qualidade sonora deste boot não é uma das melhores, mas por estas histórias e particularidades o torna bastante especial para mim e, acredito também, para os fãs old school a quem eu dedico este post.
Espero que gostem e bom download!

Death Cult line up:
Ian Astbury - vocal
Billy Duffy - guitar
Jamie Stewart - bass
Ray Mondo – drums


PEQUENA BIOGRAFIA

Em maio de 1983, um mês após o fim do Southern Death Cult, o vocalista Ian Astbury se junta ao guitarrista Billy Duffy (William Howard Duffy, nascido em Manchester, recém saído do Theatre of Hate) para formar o Death Cult. A idéia inicial de Ian era dar continuidade a sua banda original, e como o guitarrista buscava mais liberdade musical e para compor, essa junção resultou naqueles históricos "casamentos musicais" que deram mais do que certo (a exemplo do que ocorreu com Robert Plant/Jimmy Page, Mick Jagger/Keith Richards, John Lennon/Paul McCartney, Morrissey/Johnny Marr e tantos outros). A banda foi considerada logo de início como um "super grupo" pós-punk já que se tratava na realidade da junção de três bandas que tinham feito alguma fama dentro daquela cena. Para completar a “cozinha”, foram chamados dois ex-integrantes da banda punk-gótica Ritual; o baterista Raymond Taylor Smith (natural de Serra Leoa, apelidado de Ray Mondo) e o guitarrista Jaime Stewart (nascido em Harrow, norte da Inglaterra) convocado para o baixo.

O entrosamento foi certeiro e após alguns ensaios e gravações demos, a banda lança em julho daquele ano um EP com quatro músicas pelo selo Situation Two. O disco teve boa repercussão e as comparações com o Southern Death Cult foram inevitáveis, mas era possível notar que além da cadencia tribal e das características fortes do "positive punk", as canções traziam uma veia mais rock n roll sixties graças as guitarras sujas e psicodélicas de Billy Duffy que começavam a se destacar. Também não se pode ignorar o amadurecimento da voz de Ian que ao se dar conta das limitações dos músicos do SDC, viu a necessidade de buscar músicos criassem e dessem maior suporte para canções mais elaboradas que viriam a partir daí.
Nas entrevistas o Death Cult também fazia questão de deixar clara suas influências que vinham de artistas que bebiam do blues como Jimi Hendrix, Doors, Led Zeppelin - e que a partir disso queriam dar uma cara mais orgânica ao cenário alternativo inglês que na ocasião parecia estar tão fake, devido a extrema valorização do visual e pelo uso massivo de sintetizadores. O baixista Jamie Stewart lembra que outra fixação daquela época era com tudo que fosse relacionado a guerra do Vietnã: "coisas como o filme Apocalypse Now e 'The End' dos Doors fazia a cabeça de todas as bandas de Brixton na época e Ian tentava falar sobre essa situação absurda na qual jovens eram jogados em uma guerra completamente sem sentido." Esta ai porque da temática fotográfica do EP de estréia.


A banda logo inicia uma extensa turnê em algumas cidades européias. O público de Oslo (Noruega - 25/07/1983) foi privilegiado em assistir a sua primeira apresentação. Já de volta a Inglaterra, eles participam de um famoso evento do pós-punk inglês Futurama Festival.

Em setembro o baterista Ray se despedia da banda para tocar no Sex Gang Children (meses depois, por estar ilegalmente na Inglaterra, ele fora deportado para Serra Leoa), ocupando o lugar deixado pelo saudoso Nigel Preston que logo foi convidado para tocar no Death Cult. Preston já era um velho conhecido de Billy Duffy, uma vez que havia tocado com ele no Theatre of Hate.

Com o novo baterista, a banda lança em outubro de 1983 o single "God Zoo", música que trás um som mais lapidado e dançante, o que demonstrava que eles estavam dispostos a deixar de vez as conotações góticas para traz e todos os rótulos incessantes que sofria da imprensa britânica. Depois desta mudança sonora, Ian e Billy decidem tirar do nome da banda a sua parte mais negativa - a palavra "Death".

No dia 13 de janeiro de 1984, a banda fazia sua primeira aparição na TV como The Cult no programa The Tube. “Estamos mais para a vida do que para a morte”, disse Astbury antes dos primeiros acordes. Nessa altura eles começando a se popularizar nos quatro cantos da Inglaterra, devido ao sucesso do single "Spiritwalker" que apontava no primeiro lugar da parada independente. Este compacto procede a uma tour européia que acontecera meses antes do lançamento de seu primeiro álbum, Dreamtime.


Ghost Dancers - Recorded live Sept. 13, 1983 at Playhouse, Whitley Bay - LP Numbered, Blue

Track List
A1 Christians
A2 To Young
A3 The Waste Of Love
A4 Ghost Dance
A5 Butterflies
A6 Brothers Grimm
B1 Flower In The Desert
B2 Gods Zoo
B3 Resurrection
B4 Horse Nation
B5 Moya
B6 Wild Thing

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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

free your mind

E não podemos admitir que se impeça o livre desenvolvimento de um delírio, tão legítimo e lógico como qualquer outra série de idéias e atos humanos.
(Antonin Artaud)

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

tetine

Concordo com a tese evolutiva e filosófica que diz a forma de qualquer organismo representa a sua vontade. Logo que me deparei com isso lembrei-me porque uma vaca leiteira dedica tantos litros (amor) a sua prole...O que seria essas mulheres de seios artificialmente avantajados? Apenas objetos masturbatórios, de nível que se rasteja a lama por atenção....A falta de feminilidade era algo que as marcavam antes mesmo de seu novo adorno, já que era preciso, mesmo antes do silicone, um belo enxerto de massa encefálica.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Novo mundo maravilhoso (por Chân Mât Dãng)

Há algum tempo, minha percepção é a de que a indústria alimentícia nada mais é do que a antesala da indústria farmacêutica. Numa ponta nos envenenam, para na outra nos fornecerem o veneno que seria antídoto. Mas eu ainda pensava em termos de "alimentos" até que um dia observei esses "alimentos" sendo descarregados num supermercado -- fosse pão ou leite, as caixas eram atiradas umas sobre as outras e grosseiramente empilhadas e depois carregadas aos trancos... O mesmo tratamento que receberam os fardos de papel higiênico e as caixas de sabão em pó... Então percebi que não havia alimentos sendo descarregados ali -- eram só mercadorias! O marketing das campanhas e as embalagens até nos fazem crer que aquilo é alimento -- mas não é. A maioria é no máximo comida para encher a barriga -- e só mais uma mercadoria. Visa lucro, não visa saúde nem bem estar. E pela primeira vez me vi achando conservantes e espessantes e outros "antes" realmente necessários, e muito coerentes com esse tipo de comida -- senão, depois de tanto processar, misturar e modificar nas indústrias, e depois transportar, sacudir, empilhar, e mais sacudir até chegar em casa e de novo empilhar... Na hora em que se abre a embalagem, não fossem todos os "antes", o que é que iríamos encontrar?

Há, no entanto, um novo mundo maravilhoso. Um novo paradgima de alimentação, que vai mesmo além dos restaurantes naturais, da alimentação vegetariana ou até mesmo da vegana... É o que o chef Flavio Passos, que estudou no
Living Light Culinary Arts Institute, chama de Alimentação Viva, e com quem fiz recentemente um curso. Os alimentos são usados em sua forma natural, sem jamais passarem por qualquer fonte de calor, preservando assim seus nutrientes, cores, perfumes, sabores – com enormes benefícios ao conjunto de nossa saúde (física, emocional, mental). Citando o próprio chef:

Ao longo de vários anos de experimentação e vivência com diferentes ciências de nutrição foi possível perceber que o “tipo de combustível” que fornecemos para nossos corpos influencia não somente seu funcionamento biológico, mas também a qualidade das emoções e dos pensamentos que habitam em nosso interior. [...] Um exemplo: das verduras se obtém farto suprimento de magnésio, mineral responsável pelo bom funcionamento do coração, o relaxamento das artérias e de todo o organismo. Quando se ingere uma quantidade satisfatória deste mineral é possível observar uma tendência à tranqüilidade, à ausência de stress, à boa circulação sanguínea, a flexibilidade aumenta em nível físico e em nível mental. (*)

Através de seus cursos, o chef Flavio Passos passa esse novo paradigma de alimentação e estilo de vida – e é demonstrando grande conhecimento e propriedade que ele o faz, e com amorosidade e genuína alegria. O resultado são pratos nutritivos, deliciosos e absolutamente lindos (como o da foto abaixo ©Terra Dourada) e muito simples de se fazer em casa – com o benefício de não haver panelas para lavar depois! É também um incentivo a trazer criatividade e felicidade para a alimentação – atualmente, eu preparo meus alimentos sorrindo, assim como medito.

(*) Nota do blog: textos Você é o que come e Sucos Verdes: uma Revolução!, citados a partir do site Terra Dourada.

texto extraído DAQUI

domingo, 21 de agosto de 2011

vagabonds


"Escrevo-lhe um pouco ao acaso o que me vem à pena, ficaria muito contente se de alguma maneira você pudesse ver em mim mais que um vagabundo.
Acaso haverá vagabundos e vagabundos que sejam diferentes? Há quem seja vagabundo por preguiça e fraqueza de caráter, pela indignidade de sua própria natureza: você pode, se achar justo, me tomar por um destes.
Além deste, há um outro vagabundo, o vagabundo que é bom apesar de si, que intimamente é atormentado por um grande desejo de ação, que nada faz porque está impossibilitado de fazê-lo, porque está como que preso por alguma coisa, porque não tem o que lhe é necessário para ser produtivo, porque a fatalidade das circunstâncias o reduz a este ponto, um vagabundo assim nem sempre sabe por si próprio o que poderia fazer, mas por instinto, sente: “No entanto, eu sirvo para algo, sinto em mim uma razão de ser, sei que poderia ser um homem completamente diferente. No que é que eu poderia ser útil, para o que poderia eu servir; existe algo dentro de mim, o que será então?”.
Este é um vagabundo completamente diferente; você pode, se achar justo, tomar-me por um destes.
Um pássaro na gaiola durante a primavera sabe muito bem que existe algo em que ele pode ser bom, sente muito bem que há algo a fazer, mas não pode fazê-lo. O que será? Ele não se lembra muito bem. Tem então vagas lembranças e diz para si mesmo: “Os outros fazem seus ninhos, têm seus filhotes e criam a ninhada”, e então bate com a cabeça nas grades da gaiola. E a gaiola continua ali, e o pássaro fica louco de dor.
“Vejam que vagabundo”, diz um outro pássaro que passa, “esse aí é um tipo de aposentado”. No entanto, o prisioneiro vive, e não morre, nada exteriormente revela o que se passa em seu íntimo, ele está bem, está mais ou menos feliz sob os raios de sol. Mas vem a época da migração. Acesso de melancolia – “mas” dizem as crianças que o criam na gaiola, “afinal ele tem tudo o que precisa”. E ele olha lá fora o céu cheio, carregado de tempestade, e sente em si a revolta contra a fatalidade. “Estou preso, estou preso e não me falta nada, imbecis! Tenho tudo que preciso. Ah! Por bondade, liberdade! ser um pássaro como os outros.”
Aquele homem vagabundo assemelha-se a este pássaro vagabundo…
E os homens ficam freqüentemente impossibilitados de fazer algo, prisioneiros de não sei que prisão horrível, horrível, muito horrível.
Há também, eu sei, a libertação, a libertação tardia. Uma reputação arruinada com ou sem razão, a penúria, a fatalidade das circunstâncias, o infortúnio, fazem prisioneiros.
Nem sempre sabemos dizer o que é que nos encerra, o que é que nos cerca, o que é que parece nos enterrar, mas no entanto sentimos não sei que barras, que grades, que muros.
Será tudo isto imaginação, fantasia? Não creio; e então nos perguntamos: meu Deus, será por muito tempo, será para sempre, será para a eternidade?
Você sabe o que faz desaparecer a prisão. É toda afeição profunda, séria. Ser amigos, ser irmãos, amar isto abre a porta da prisão por poder soberano, como um encanto muito poderoso. Mas aquele que não tem isto permanece na morte.
Mas onde renasce a simpatia, renasce a vida."

CARTAS A THÉO, Van Gogh – Tradução de Pierre Ruprecht – L&PM

quinta-feira, 28 de julho de 2011

domingo, 10 de julho de 2011

Para acabar com o julgamento de Deus (Antonin Artaud)

TUTUGURI
Rito de Sol Negro

E lá embaixo, no pé da encosta amarga,
cruelmente desesperada do coração,
abre-se o círculo das seis cruzes
bem lá embaixo
como se incrustada na terra amarga,
desincrustada do imundo abraço da mãe
que baba.
A terra do carvão negro
é o único lugar úmido
nessa fenda de rocha.
Rito é o novo sol passar através de sete pontos antes de explo -
dir no orifício da terra.
Há seis homens
um para cada sol
e um sétimo homem
que é o sol
cru
vestido de negro e carne viva.
Mas este sétimo homem
é um cavalo,
um cavalo com um homem conduzindo-0.
Mas é o cavalo
que é o sol
e não o homem.
No dilaceramento de um tambor e uma trombeta longa
estranha,
os seis homens
que estavam deitados
tombados no rés-do-chão,
brotaram um a um como girassóis,
não sóis
porém solos que giram,
lótus d’água,
e a cada um que brota
corresponde, cada vez mais sombria
e refreada
a batida do tambor
até que de repente chega a galope, a toda velocidade
último sol,
o primeiro homem,
o cavalo negro com um
homem nu,
absolutamente nu
e virgem
em cima.
Depois de saltar, eles avançam em círculos crescentes
e o cavalo em carne viva empina-se
e corcoveia sem parar
na crista da rocha
até os seis homens
terem cercado
completamente
as seis cruzes.
Ora, o tom maior do Rito é precisamente
A ABOLIÇÃO DA CRUZ
Quando terminam de girar
arrancam
as cruzes do chão
e o homem nu
a cavalo
ergue
uma enorme ferradura
banhada no sangue de uma punhalada.
A BUSCA DA FECALIDADE
Onde cheira a merda
cheira a ser.
homem podia muito bem não cagar,
não abrir a bolsa anal
mas preferiu cagar
assim como preferiu viver
em vez de aceitar viver morto.
Pois para não fazer cocô
teria que consentir em
não ser,
mas ele não foi capaz de se decidir a perder o ser,
ou seja, a morrer vivo.
Existe no ser
algo particularmente tentador para o homem
algo que vem a ser justamente
COCÔ
( AQUI RUGIDO)
Para existir basta abandonar-se ao ser
mas para viver
é preciso ser alguém
e para ser alguém
é preciso ter um OSSO,
é preciso não ter medo de mostrar o osso
e arriscar-se a perder a carne.
homem sempre preferiu a carne
à terra dos ossos.
Como só havia terra e madeira de ossos
ele viu-se obrigado a ganhar sua carne,
só havia ferro e fogo
e nenhuma merda
e o homem teve medo de perder a merda
ou antes desejou a merda
e para ela sacrificou o sangue.
Para ter a merda,
ou seja, carne
onde só havia sangue
e um terreno baldio de ossos
onde não havia mais nada para ganhar
mas apenas algo para perder, a vida.
reche modo
to edire
de za
tau dari
do padera coco
Então o homem recuou e fugiu.
E então os animais o devoraram.
Não foi uma violação,
ele prestou-se ao obsceno repasto.
Ele gostou disso
e também aprendeu
a agir como animal
e a comer seu rato
delicadamente.
E de onde vem essa sórdida abjeção?
Do fato de o mundo ainda não estar formado
ou de o homem ter apenas uma vaga idéia do que seja o mundo
querendo conservá-la eternamente?
Deve-se ao fato de o homem
ter um belo dia
detido
a idéia do mundo.
Dois caminhos estavam diante dele:
o do infinito de fora
o do ínfimo de dentro.
E ele escolheu o ínfimo de dentro
onde basta espremer
o pâncreas,
a língua,
o ânus,
ou a glande.
E deus, o próprio deus espremeu o movimento.
É deus um ser?
Se o for, é merda.
Se não o for,
não é.
Ora, ele não existe
a não ser como vazio que avança com todas as suas formas
cuja mais perfeita imagem
é o avanço de um incalculável número de piolhos.
"O Sr. Está louco, Sr. Artaud? E então a missa?"
Eu renego o batismo e a missa.
Não existe ato humano
no plano erótico interno
que seja mais pernicioso que a descida
do pretenso Jesus-cristo
nos altares.
Ninguém me acredita
e posso ver o público dando de ombros
mas esse tal cristo é aquele que
diante do percevejo deus
aceitou viver sem corpo
quando uma multidão
descendo da cruz
à qual deus pensou tê-los pregado há muito tempo,
se rebelava
e armada com ferros,
sangue,
fogo e ossos
avançava desafiando o Invisível
para acabar com o JULGAMENTO DE DEUS
A QUESTÃO QUE SE COLOCA...
O que é grave
É sabermos
que atrás da ordem deste mundo
existe uma outra
Que outra?
Não o sabemos.
O número e a ordem de suposições possíveis
neste campo
é precisamente
o infinito!
E o que é o infinito?
Não o sabemos com certeza.
É uma palavra que usamos
para designar
abertura
da nossa consciência
diante da possibilidade
desmedida,
inesgotável e desmedida.
E o que é a consciência?
Não o sabemos com certeza.
É o nada.
Um nada
que usamos
para designar
quando não sabemos alguma coisa
e de que forma
não o sabemos
e então
dizemos
consciência,
do lado da consciência
quando há cem mil outros lados.
E então?
Parece que a consciência
está ligada
em nós
ao desejo sexual
e à fome.
Mas poderia
igualmente
não estar ligada
a eles.
Dizem,
é possível dizer,
há quem diga
que a consciência
é um apetite,
o apetite de viver:
e imediatamente
junto com o apetite de viver
o apetite da comida
imediatamente nos vem à mente;
como se não houvesse gente que come
sem o mínimo apetite;
e que tem fome.
Pois isso também
existe:
os que tem fome
sem apetite;
e então?
Então
o espaço do possível
foi-me apresentado
um dia
como um grande peido
que eu tivesse soltado;
mas nem o espaço
nem a possibilidade
eu sabia exatamente o que fossem,
nem sentia necessidade de pensar nisso,
eram palavras
inventadas para definir coisas
que existiam
ou não existiam
diante da
premente urgência
de uma necessidade:
suprimir a idéia,
a idéia e seu mito
e no seu lugar instaurar
a manifestação tonante
dessa necessidade explosiva:
dilatar o corpo da minha noite interior,
do nada interior
do meu eu
que é noite,
nada,
irreflexão,
mas que é explosiva afirmação
de que há
alguma coisa
para dar lugar:
meu corpo.
Mas como,
reduzir meu corpo
a um gás fétido?
Dizer que tenho um corpo
porque tenho um gás fétido
que se forma em mim?
Não sei
mas
sei que
o espaço,
o tempo,
a dimensão,
o devir,
o futuro,
o destino,
o ser,
o não-ser,
o eu,
o não-eu
nada são para mim;
mas há uma coisa
que é algo,
uma só coisa
que é algo
e que sinto
por ela querer
SAIR:
a presença
da minha dor
do corpo,
a presença
ameaçadora
infatigável
do meu corpo;
e ainda que me pressionem com perguntas
e por mais que eu me esquive a elas
há um ponto
em que me vejo forçado
a dizer não,
NÃO
à negação;
e chego a esse ponto
quando me pressionam,
e me apertam
e me manipulam
até sair de mim
o alimento,
meu alimento
e seu leite,
e então o que fica?
Fico eu sufocado;
e não sei que ação é essa
mas ao me pressionarem com perguntas
até a ausência
e a anulação
da pergunta
eles me pressionam
até sufocarem em mim
a idéia de um corpo
e de ser um corpo,
e foi então que senti o obsceno
e que
soltei um peido
de saturação
e de excesso
e de revolta
pela minha sufocação.
É que me pressionavam
ao meu corpo
e contra meu corpo
e foi então
que eu fiz tudo explodir
porque no meu corpo
não se toca nunca
"POST SCRIPTUM"
Quem sou eu?
De onde venho?
Sou Antonin Artaud
e basta eu dizê-lo
como só eu o sei dizer
e imediatamente
verão meu corpo atual
voar em pedaços
e se juntar
sob dez mil aspectos
notórios
um novo corpo
no qual nunca mais
poderão
me esquecer.

OBS:
Estes texto-poesias foram extraídos de uma transmissão radiofônica intitulada "PARA
ACABAR COM O JULGAMENTO DE DEUS" que foi realizada por Artaud (como autor e narrador) junto com seus amigos Roger Blin, Marie Casarès e Paule Thévenin que, além de narrarem, o ajudaram na produção dos efeitos sonoros durante o ato que que pode ser baixado neste
link.