Avistada de longe, aquela cidade parecia um entulho daquilo que me falaram que era riqueza. Aniquilada freneticamente, ela era o resultado de um sistema digestivo mal canalizado que expelia fezes de concreto e metal...Alguns pedaços vivos de gordura davam sua liga e alguns nervos engendravam, como escaravelhos, aquela nojice toda. No céu, as nuvens baixas davam-se por vencidas pela poluição, formando um manto que tentava, por acidente ou não, poupar a vergonha destes trabalhadores. Cada inspiração, um suplicio. Eu decidi seguir voando acima daquela cortina espessa no céu. Foi ótimo seguir este caminho, já que havia perdido a paciência de tentar interpretar o rosto daqueles que estavam guiando aquele óvulo grotesco. A minha curiosidade não era inocente; eu queria decifrar a fé daqueles organismos unidos drasticamente 24 horas por dia mantendo vivo um desejo de ver a esfera evoluir e crescer sem um motivo aparente. O ritmo era circular; eles seguiam o mesmo caminho, vinham e voltavam em tempo cronometrado. Ah! E o céu? Lá de cima não vi o sol nascer para eles. O grande astro havia se cansado destes vermes que não faziam mais questão de sua beleza, pois os olhos daqueles que tinham a pretensão de pensar que estavam vivos haviam atrofiado pela falta de uso e contemplação. Rá deixou à eles uma tímida luz como forma de caridade; uma fina aurora, ou melhor, um esplendor funesto de fim de tarde. Ninguém tinha mais idéia de tempo, ninguém sabia se era hora de começar, de terminar, ninguém se importava...mas na dúvida era melhor continuar.
terça-feira, 12 de maio de 2009
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