quarta-feira, 6 de maio de 2009

Apague a fumaça! É hora de servir!

Duas jovens debruçadas na janela riam em cascata e conversam sem compromisso nas longas tardes que passavam juntas, tragando elegantemente seus cigarros. Existia ali uma aliança meio clandestina, uma aspiração ao individualismo ao gozo permanente, pelo menos a idéia era aliviar a lembrança de uma infância não muito agradável, onde a repressão católica havia amputado boa parte de suas liberdades; mas isso não havia mudado logicamente, já que a educação torta as encaminharam a este desgosto. A abstração era essencial. Eu admirava o jeito franco daquelas prosas e me encantava em tentar compreender como os sons provenientes de suas bocas enfumaçadas poderiam causar-me tamanha comoção. Não lembro exatamente as palavras, porém boa parte das conversas eram lamentos de seus recentes casamentos; eram olhares pessimistas para um futuro traçado por deveres domésticos, filhos, corpos deformados e maridos que mais pareciam formigas operárias e que dentro de casa interpretavam o patético papel de ditadores. Regra dentro de regra, uma troca ou escolha estranha dentro de dias iguais. Um amor que tinha de existir por imposição e ser exteriorizado de forma patética. Os sorrisos amarelos não eram por conta da nicotina! A campainha ou o som de chave soava como sirenes. A "simples" presença das formigas já era uma ordem para as amigas cessassem o calor das conversas num cinzeiro. Depois de muito tempo descobri que era preciso mesclar os seus tabacos e, como não pude avisá-las antes, hoje constantemente eu presto meu tributo à elas.

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