Então vi um homem sentado ao lado de uma choupana bem humilde; ele parecia guardar o lugar com um olhar distante, como se evocasse um pesar guardião. O sol do final daquele dia deixava o campo alaranjado, num tom onírico. Atravessamos o cemitério do manicômio cuidadosamente, respeitando aquele silêncio. As cruzes brancas enfileiradas compunham um belo balé estático; orquestravam uma atmosfera de pavor. Entre elas, haviam alguns cadáveres de animais (a maioria de coelhos brancos) servidos como despacho numa noite recente - o sangue de cor viva em plumas muita claras eram de uma composição muito simpática, como se compensasse a dor daquele sacrifício. Aquelas velas e garrafas vazias com rótulos diabólicos sorriam para mim. Eram os loucos e amargurados que jaziam naquela terra - eles eram os verdadeiros obstáculos que deveríamos enfrentar. "E quando o sol partir?" era pergunta que sempre ressoava. Éramos garotos que tinham uma banda de garagem e nossas bicicletas já tinham enfrentado caminhos muitos esquisitos naquele período. Muitas inspirações e poucas composições, mas o que enriquecia as tardes de tentativas dissonantes que trilhavam estas experiências. Voltar por aquele atalho não fazia parte de nossa vontade, embora sabíamos que isso nos traria um medo fundamental que distrairia nosso tédio. Seguimos em frente e depois desta paisagem mortífera, passamos por dentro do hospital e seguimos por um campo de grama crestada, banhado por um lago de águas negras, coberto de cinzas. O inverno estava cortante e seco, o que fez que algumas queimadas se alastrassem. Eu não sei que obsessão era aquela de chegar ao topo do Ovo do Pato (como era conhecido um monte bem redondo que ficava cercado por uma vasta plantação de eucaliptos) . Enfim, a segunda pausa foi num depósito abandonado de cadeira de rodas. Este armazém causou calafrios, o que tornou nossa volta mais desesperada. Cada um então seguiu um caminho distinto. Alguns parecidos, alguns se renderam ao cotidiano ou a extravagância. Ao me lembrar desses fatos, tento interpretar os motivos de minha danação!
quarta-feira, 6 de maio de 2009
inverno 94
Então vi um homem sentado ao lado de uma choupana bem humilde; ele parecia guardar o lugar com um olhar distante, como se evocasse um pesar guardião. O sol do final daquele dia deixava o campo alaranjado, num tom onírico. Atravessamos o cemitério do manicômio cuidadosamente, respeitando aquele silêncio. As cruzes brancas enfileiradas compunham um belo balé estático; orquestravam uma atmosfera de pavor. Entre elas, haviam alguns cadáveres de animais (a maioria de coelhos brancos) servidos como despacho numa noite recente - o sangue de cor viva em plumas muita claras eram de uma composição muito simpática, como se compensasse a dor daquele sacrifício. Aquelas velas e garrafas vazias com rótulos diabólicos sorriam para mim. Eram os loucos e amargurados que jaziam naquela terra - eles eram os verdadeiros obstáculos que deveríamos enfrentar. "E quando o sol partir?" era pergunta que sempre ressoava. Éramos garotos que tinham uma banda de garagem e nossas bicicletas já tinham enfrentado caminhos muitos esquisitos naquele período. Muitas inspirações e poucas composições, mas o que enriquecia as tardes de tentativas dissonantes que trilhavam estas experiências. Voltar por aquele atalho não fazia parte de nossa vontade, embora sabíamos que isso nos traria um medo fundamental que distrairia nosso tédio. Seguimos em frente e depois desta paisagem mortífera, passamos por dentro do hospital e seguimos por um campo de grama crestada, banhado por um lago de águas negras, coberto de cinzas. O inverno estava cortante e seco, o que fez que algumas queimadas se alastrassem. Eu não sei que obsessão era aquela de chegar ao topo do Ovo do Pato (como era conhecido um monte bem redondo que ficava cercado por uma vasta plantação de eucaliptos) . Enfim, a segunda pausa foi num depósito abandonado de cadeira de rodas. Este armazém causou calafrios, o que tornou nossa volta mais desesperada. Cada um então seguiu um caminho distinto. Alguns parecidos, alguns se renderam ao cotidiano ou a extravagância. Ao me lembrar desses fatos, tento interpretar os motivos de minha danação!
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