domingo, 26 de janeiro de 2014

Desenterrando a cena Death Rock de Nova York


Passaram-se mais de dez anos da ressurreição, auge e queda do fenômeno retrô do death rock, período em que meus zine Batzone e Junkeria Nefasta tiveram papel de correspondentes por aqui.
A "segunda morte" do Deathrock, ocorreu pelo simples fato gênero passar a ser assimilado pelo "goth establishment" (alicerçada pela geração internet) e passou a ser mais um produto das referências e clichês que, paradoxalmente, ele até então contestava.

Em 2012 a tão esquecida (ou melhor, ignorado, já que a atenção neste quesito foi sempre voltada à Califórnia) cena de Nova York foi lembrada em forma de LP - algo louvável já que boa parte destas bandas não tinha em vida lançado um único compacto. Dark New York (Gotham City's PostPunk, Goth, & Deathrock Bands 1983-1988) Vol. 1 (Black Scorpio Records) alguma forma sinalizou que estamos talvez no início de uma nova onda saudosista que agrada tanto esta ala punk das tendências góticas. Em seu set list: Scarecrow, surgido em 1983, gravou em seus cinco anos de vida apenas algumas demos, que no início dos anos 2000 foram postas para download gratuito no site Mp3.com. Caminho muito semelhante percorrido pelo Naked And The Dead. No caso desta banda, o seu único K7 gravado em 1985 não era apenas uma demo, e sim um EP oficial. Bem, Dark New York esgotou-se rapidamente, eu mesmo não consegui a minha - a falta de alerta de amigos não me faltou, mas só agora me dei conta o quanto este registro é importante dada à relevância discografia para estas bandas que em parte (Of A Mesh é único da lista que teve seu trabalho vertido em dois 12"; um em 1986 e outro no ano posterior) não chegaram a deixar nenhum lançamento em vinil. Outro motivo para adquirir esta peça é que ela te dá a oportunidade de perceber a diferença sonora entre as bandas "deathrock" das duas costas estadunidenses. As bandas de Nova York (formadas normalmente por fãs de Siouxsie, Bauhaus e de tudo que rolava dentro e em torno do club Danceteria que importou para seu palco nomes como Sex Gang Children, Malaria! e The Cult em sua primeira aparição pela América em 1984) estavam de fato mais antenadas ao que rolava na Inglaterra, Alemanha, França etc. por isso suas texturas - guitarras mais esparsas, cheias de efeitos e bateria tribal - estava alinhada ao que rolava do outro lado do oceano. Este intercambio ficou mais evidente quando a turnê americana Batcave (com Specimen e sua trupe) passou por Nova York e obviamente escolheu o Danceteria como endereço das suas performances. Se uma coletânea na época tivesse sido lançada naquela época como esta intenção póstuma, Nova York não fosse entendida, dentro do seu contexto pós-punk, apenas como berço da No Wave.  Sendo assim, aqui vale aquela máxima; “antes tarde do que nunca” e ainda bem que estamos vivos para desfrutar destes lançamentos.


É em Nova York também que hoje acolhe mais um selo muito interessante voltado pra coisas esquecidas, tanto antigas quanto novas apostas – o Sacred Bones Records tem como uma de suas pupilas a famosa Zola Jesus. A Sacred acabou de lançar uma coletânea que talvez ajudará a tornar a volta do rótulo "deathrock" uma realidade. Killed by Deathrock, Vol. 1 trás obscuridades (velharias) tanto americanas quanto velho continente ignoradas durante anos, porém, em minha opinião, apesar da qualidade indiscutível, não sei se são nomes mais indicados para contar a história do "estilo". No entanto a função dela seja contar na verdade esta história de outra forma, na contramão da narração "oficial" que omite sua grande e instigante complexidade. Esse volume é o começo de uma série que deve nos atrair bastante já que podemos confiar no gosto apurado de Caleb Braaten (fundador da Sacrad Bones) que, como um entusiasta “pós-punk”, é um exímio garimpeiro. Your Funeral, por exemplo, é uma pérola escondida, injustamente nunca citada nos anais da cena deathrock californiana. Essas garotas poderiam ser chamadas da versão feminina do Christian Death (em 1981/82), se o posto não fosse dado ao Voodoo Church. Elas lançaram apenas o compacto “I Wanna Be You” naquele maravilhoso 1982 que por coincidência ou não era o ano que o Christian Death lançava uma bomba sonora chamada Only Theatre of Pain e o Voodoo Church debutava com seu disputadíssimo 12” homônimo que merece com urgência uma reedição. O resto do set trás uma variedade de bandas até conhecida por quem está bem habituado com este universo funesto cuja elegância sempre esteve moldada pela atitude "do it youself".

sábado, 11 de janeiro de 2014

Hidden Madness - compilation

Ouvir estes sons não deixa de ser uma forma de refúgio (imaginário) deste calor insalubre e estranhamente comemorado por muitos. Hidden Madness trás velharias e coisas contemporâneas numa harmonia que só os toques gélidos e atemporais da cold/minimal wave é capaz de produzir.
 
 
 
  1. Soma Sema - Under Waves
  2. Bal Paré - In meiner Erinnerung
  3. Shock - R.E.R.B.
  4. Lebanon Hanover - Ice Cave
  5. Twilight Ritual - L'uomo Moderno
  6. Xeno & Oaklander - Nuit
  7. Shoc Corridor - A Blind Sign
  8. Sixth June - Come Closer
  9. EMAK 1 - Tanz In Den Himmel
  10. Tropic Of Cancer - A Color
  11. Twice A Man - Sorrow
  12. Adolphson & Falk - 5 E Avenyn
  13. Martial Canterel - Steele
  14. Gina X Performance - Waiting
  15. Martin Dupont - Your Passion
  16. Nocturnal Emissions - Don't Believe It's Over
*download*

Para quem não quer baixar, apenas escutar:
https://soundcloud.com/rod-heltir/hidden-madness-compilation
(desculpem, mas não eu consegui compartilhar o player diretamente aqui pois o site não está me dando a opção do código).

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Merry Xmas?


Li a seguinte frase do João Pereira Coutinho hoje na Folha: "Simplificando, existem dois grupos: para os ansiosos, o Natal é uma prova; para os deprimidos, uma provação". Não é preciso advinhar em que ala me encaixo. Há algumas semanas fiz este set que traduz um pouco meu estado de espírito nesta época tão tensa. Capa e contra capa em tamanho real para quem quiser imprimir etc...aquela história de sempre.

tracklist:
  1. For Against - December
  2. Derniere Volonté - Le Refuge
  3. Autumn - Colours Blurred
  4. Engelsstaub - Kissed By God
  5. Chris & Cosey - Send The Magick Down
  6. Clock DVA - The Unseen
  7. Faith and the Muse - Interlude: Annabell
  8. Death In June - Torture By Roses
  9. In Slaughter Natives - Human Ashes
  10. Lycia - Broken Days
  11. COIL - Montecute
  12. Vampire State Building - The Sage (stutt edit)
  13. Echo & The Bunnymen - Porcupine [Alternate Version]
  14. Love Is Colder Than Death - Very III
  15. Sol Invictus - The Killing Tide
  16. Trisomie 21 - There's A Strange Way This Morning
*download here*

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Considerações sobre o box “5 Albums” do Fields



Recebi este item e posso garantir que não tem nada de diferente de tantos outros boxes de outras bandas que estão sendo lançado por ai (aliás isso virou uma febre desde quando a Sony começou com esta história dos "Original Album Classics"). Os discos vem em embalagens que simulam capas de vinil, porém as informações técnicas de todos estão reunidos num único encarte (com apenas uma foto da banda e nenhuma letra de música), o que faz a gente não se desfazer de jeito nenhum das edições mais antigas (tanto em vinil ou cd). Outro motivo para gente não descartar as velharias da coleções, é a informação de que o único álbum remasterizado a partir das fitas originais desta caixa é o Elizium. Os outros tiveram uma melhora no volume e masterizações a partir do que a gravadora já tinha digitalizado (ou seja, dos cds). Eu havia escrito na matéria sobre este lançamento que não havia nenhuma música que antecediam Dawnrazor; na verdade este álbum traz como bônus novamente as gravações editadas nos EP`s Returning To Gehenna e Burning The Fields. Então fica a pergunta: vale a pena adquirir? Eu digo que é algo apenas para fãs, nada mais. 
Mas, quem quiser mais informações pode conferir neste link da Beggars Banquet.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Invictus (William Ernest Henley)


Dentro da noite que me rodeia
Negra como um poço de lado a lado
Agradeço aos deuses que existem
por minha alma indomável

Sob as garras cruéis das circunstâncias
eu não tremo e nem me desespero
Sob os duros golpes do acaso
Minha cabeça sangra, mas continua erguida

Mais além deste lugar de lágrimas e ira,
Jazem os horrores da sombra.
Mas a ameaça dos anos,
Me encontra e me encontrará, sem medo.

Não importa quão estreito o portão
Quão repletade castigo a sentença,
Eu sou o senhor de meu destino
Eu sou o capitão de minha alma.