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sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Cadavres Exquis #26 - Especial The Chameleons


Embalado pelo tão esperado relançamento do álbum John Peel Sessions do The Chameleons, preparei este especial que dá um breve panorama de sua carreira.  Deixei o Chameleons Vox de fora por considerá-lo, sem desmerecer seu mérito e qualidade, apenas um alter-ego/tributo/projeto do grupo original. É hoje às 20hs na rádio Enter The Shadows.


Enjoy the dream!

  1. Silence, Sea and Sky
  2. Shades
  3. Intrigue in Tangiers
  4. Swamp Thing
  5. Phase (live at the Gallery Club Manchester, 1982)
  6. Monkeyland
  7. In Shreds
  8. Lufthansa
  9. A Person Isn't Safe Anywhere These Days
  10. Tears (Full Arrangement)
  11. Second Skin (Live In Bremen, 1983)
  12. Here Today (Peel Session - recorded 08/6/1981)
  13. Turn To Vices
  14. Caution
  15. As High As You Can Go
  16. Don't Fall (Peel Session - recorded 8/6/1983)
  17. Moonage Daydream (David Bowie cover)
  18. Nostalgia (Peel Session - recorded recorded 08.6.1983)
  19. The Healer  
  20. Less Than Human

domingo, 16 de novembro de 2014

The Chameleons - John Peel Sessions


Não é nenhum exagero falar que quem descobriu o The Chameleons foi John Peel, que viu nestes quatro moleques de Manchester um grande potencial - para ele, a banda  não deveria permanecer no papel de coadjuvante e sim de um dos protagonistas do efervescente pós-punk inglês. Em 8 de junho 1981, poucos meses depois de seu nascimento, foram para Londres gravar na rádio BBC, onde viraram cativos (John Peel não escondia sua empatia por Mark Burgerr e cia). A repercussão foi tão boa que Epic logo tratou de contratá-los e em 1982 debutaram com o single "In Shreds".  A aposta da major parecia um tanto precipitada, já que esperava que a banda apontasse nas paradas logo de cara. O Chameleons, na verdade, não mostrava muito interesse em submeter ao mainstream. Com a rescisão do contrato com a  Epic, eles voltaram para Manchester onde foram acolhidos por um selo local; a Statik Records foi responsável pelas suas duas primeiras obras primas: Script Of The Bridg e What Does Anything Mean? Basically. Este foi um período bastante promissor em termos de criatividade e apresentações nos quatro cantos do Reino Unido e Europa Ocidental. Apesar da agenda cheia, em 1983 e em 1985, a banda, em suas pausas de palco, participou de mais dois programas de John Peel. Como de prache, todas estas sessões resultaram no LP John Peel Sessions lançado originalmente em 1990 pela Strange Fruit. Em 2013 houve outra reprenssagem em vinil - uma capa muito mais bonita que original. No entanto não houve muito alarde sobre este relançamento que passou quase despercebido. Esta semana a Blue Apple Music anunciou  mais uma edição remasterizada deste disco. Com um quarto do preço das prensagens originais (e fora de catálogo), esta edição (em vinil e cd)  peca muito na arte da capa (aliás, as capas dos discos da Blue Apple são horríveis, o que faz muitos leigos duvidarem da qualidade de seu conteúdo). Serve também aqui aquela velha máxima: Quem vê cara não vê coração...

segunda-feira, 14 de julho de 2014

A melancolia vibrante dos Chameleons


Prometi uma vez que escreveria algo sobre os The Chameleons, uma das minhas bandas de cabeceira. Bem, o selo Blue Aplle não tem deixado a desejar quanto aos relançamentos da banda. Porém, dificilmente veremos por esta pequena editora uma reedição do álbum Strage Times, uma vez que os direitos pertencem a major Geffen. No entanto, para compensar, eu deixa deixo a disposição aqui um texto que o lusitano Luís António Coelho fez há mais de anos atrás para seu extinto blog. Além de nos instigar a uma audição mais apurada deste clássico, este artigo não deixa de ser um dos únicos tratados bem escritos na lingua portuguesa sobre este que é um dos maiores rebentos pós-punk de Manchester.

Por muito inovadoras e alternativas que se julguem, a maior parte das bandas de rock alternativo passam a vida a fazer o mesmo álbum. E normalmente, fazem-no cada vez pior. É uma característica que se tem acentuado na última década e que, inevitavelmente, irá também afectar as bandas que surgiram nesta última fornada. Por muitos elogios que a crítica ainda dedique aos Strokes, aos Franz Ferdinand, aos Kaiser Chiefs e aos Interpol, daqui a dois ou três anos esses mesmo críticos vão estar de costas voltadas para elas a cavarem a sua sepultura e a anunciarem as próximas grandes bandas que, essas sim, é que serão o supra-sumo da barbatana do rock alternativo. Alguém, por acaso, ainda se lembra do endeusamento que crítica fez dos Suede, dos Manic Street Prechers, dos Placebo e dos Kula Shaker durante os anos 90?
 
Os Chameleons foram uma banda de rock alternativo dos anos 80 que passou a vida a fazer o mesmo álbum e a fazê-lo cada vez melhor. Apesar de não andarem muito longe daquilo que os The Sound, The Church, os U2 e os Echo & Bunnymen faziam em meados dos anos 80, os Chameleons tinham uma sonoridade única, tão apaixonada como nostálgica, e rapidamente identificável. Mark Burgess (voz e baixo), Reg Smithies (guitarras), Dave Fielding (guitarra e teclas) e John Laver (percussão) criavam hinos, mas também evocações, despertavam angústias, mas também conforto, e a sua energia, apesar de melancólica, nunca é depressiva. Pelo contrário, a melancolia dos Chameleons é o melhor antídoto contra a depressão, porque é uma melancolia vibrante. A melancolia de estar sozinho na praia, num dia de inverno, a ouvir o som arrebatador e intimista do mar, sabendo que não há mais nada que nos faça sentir tão próximos nós mesmos. E mesmo quando é amargurada, nunca nos faz sentir derrotados. E mesmo quando é revoltada, nunca é simplista nem degradante. Um som visceral e onírico que nos faz também sentirmo-nos ouvidos. E não há música mais bela do que aquela que desperta no ouvinte a sensação de estar ele próprio a ser ouvido.
 
Se descontarmos a colectânea de primeiras gravações da banda, intitulada The Fan & the Bellows, a primeira versão de Strange Times teve o nome de Script of the Bridge. Datada de 1983, é já uma obra-prima, porque qualquer álbum que comece com "Don’t Fall" e termine com "View From a Hill", e pelo caminho tenha, entre outras preciosidades de valor incalculável, um monumento chamado "Second Skin", só pode ser uma obra-prima. Mas a segunda versão, de 1985, é ainda melhor. Chama-se What Does Anything Mean? Basically e, para além de ser o álbum que os Interpol gostavam de já ter criado, mas ainda não conseguiram, apresenta uma banda já perfeitamente consciente da sua singularidade.

 
Strange Times é a versão definitiva do testamento que os Chameleons tinham vindo a preparar ao longo dos anos. É um dos melhores álbuns de sempre da história do pop/rock, com uma música, "Swamp Thing", que só por si vale mais do que a discografia inteira de qualquer banda que a imprensa musical nos últimos anos tenha classificado como “the next big thing”. Porque é que nunca é mencionado nas listas de melhores álbuns de sempre daquelas publicações que só sabem fazer listas dos melhores álbuns de sempre?, não faço a mínima ideia. Mas sei que os críticos são suficientemente acomodados para pensarem que só porque conhecem os Sonic Youth, os Jesus & Mary Chain, os Pixies e os Stone Roses, já acham que sabem tudo o que é preciso saber sobre o rock alternativo dos anos 80.
 
Não é por acaso que Strange Times foi também o último álbum dos Chameleons (pelo menos, até 2001, quando Mark Burgess e companhia decidiram, surpreendentemente, voltar a juntar-se para lançarem Why Call It Anything?). É o álbum que, ao mesmo tempo que apresenta a maior evolução na identidade sonora da banda, sugere também uma atmosfera de despedida, ou de regresso a casa, que não se sentia nos discos anteriores. E isso torna-se bem claro pelo seu alinhamento. As cinco primeiras faixas são, todas elas, criações únicas na discografia da banda, tanto em termos de estrutura como na sua dimensão atmosférica, e não fariam sentido em nenhum dos álbuns anteriores. Mas são também canções que não se imagina mais nenhuma banda a criar sem parecer estar a querer imitar os Chameleons. As cinco faixas seguintes, que se sucedem uma às outras sem espaços de intervalo, formam uma espécie de unidade conceptual, simultaneamente épica e contemplativa, com uma doçura nostálgica sem a qual a música dos Chameleons deixaria de poder soar a Chameleons, criando uma visão retrospectiva da história da banda. E atenção que o conceptual, na música, não é uma propriedade exclusiva do rock progressivo ou do art-rock, como os críticos costumam dar a entender. Os temas entre "Time/The End of Time" e "I’’ll Remember" têm valor para serem ouvidos como criações independentes, mas é enquanto parcelas de uma só unidade que eles fazem mais sentido.
 
No entanto, é nas primeiras cinco faixas de Strange Times que os Chameleons se redescobrem a si mesmos. "Mad Jack" é a canção mais festiva da discografia da banda. Apesar de a letra, sobre a dependência de drogas, ser de uma euforia condenada, a música respira confiança e energia de rejuvenescimento por todos os poros. Caution, que em termos líricos repete a temática da canção anterior, começa com Burgess a entoar a mesma expressão de alegria despreocupada que utilizara no refrão em "Mad Jack" (“pa pa ra pa”), mas de uma forma muito mais fragilizada, até pela atmosfera sombria criada pelas guitarras e pela secção rítmica. Mesmo que o seu riso nesse início pareça um riso inconsciente ou alienado, é um efeito que acaba por intensificar ainda mais o carácter fatalista que a música irá desenvolver ao longo dos seus quase oito minutos, terminando com um grito de raiva e dor que é também um momento único de libertação. "Soul In Isolation" tem a mesma dimensão catártica de Caution e uma urgência agressiva e idealista, como só os Chameleons saberiam criar. Começa com a bateria a envolver-nos com uma dinâmica de provocação-resposta, seguida por uma guitarra a anunciar desde logo o estrondo que se adivinha, seguida pelo pulsar ameaçador do baixo e, no fim, pela voz inquieta e ameaçada de Burgess a cantar “Soul in isolation/I can hear you breathing down the hall/ Soul in isolation/I can hear you whisper through the walls”. Ao contrário da angústia adolescente do grunge e de todas as suas ramificações, a angústia dos Chameleons nunca se deixa contaminar pela degradação, nunca perde a sua dignidade redentora e nunca parece forçada nem caricatural. "Tears", uma canção dedicada um amigo da banda que morrera pouco antes da gravação do álbum, é dos momentos mais sóbrios e, ao mesmo tempo, comoventes de Strange Times, precisamente pela sobriedade com que a morte e o sentimento de perda e de isolamento são evocados.
 
"Swamp Thing" é, obviamente, um milagre da música alternativa. Para quem ainda não teve o privilégio de a ouvir, é a música rock como sempre julgámos ter ouvido o rock e nunca antes o ouvíramos verdadeiramente. Não só por ser uma canção em estado de graça desde o primeiro segundo, por ter um daqueles inícios que nos basta ouvir uma única vez para sabermos que nos irá fascinar para sempre, por progredir de forma simultaneamente tensa e evocativa, com variações rítmicas e sobressaltos nos precisos instantes em que achamos que é impossível que a música possa ficar ainda melhor, e por nos reconfortar, por fim, com o som gélido e inflamado de uma tempestade purificadora.
 
As faixas bonus que surgem na edição em CD de Strange Times são, mais do que meras curiosidades, verdadeiros complementos ao álbum original. Principalmente a versão alternativa de "Tears", o sublime "Paradiso" e as covers de "John, I’m Only Dancing" de David Bowie e de "Tomorrow Never Knows", um dos maiores clássicos psicadélicos dos Beatles, ao qual os Chameleons dão uma dimensão épica e uma inovação lírica, ao começarem a música com os primeiros versos de outro clássico dos fab four, "Everybody’s Got Something To Hide Except For Me and My Monkey".
 
Luís António Coelho