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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Christian Death - Atrocities (1986)


Parece contraditório partir de um admirador de Rozz Williams postar mais matérias do seu arque rival Valor Kand. Bem, já se se foi para mim à época em que eu levantava a bandeira como um adolescente deslumbrado. Tenho escutado novamente os trabalhos de Valor e, embora eu descorde de todos os seus equívocos e me ver prostrado pelas vergonhas alheias que suas cafonices causam, provou que o “Christian Death” pode ser uma experiência que está além da música, conceito que davam bases ao que ele passou a denominar de Christian Death Society. Claro que é impossível, por uma questão de lógica, aceitar a sua banda como sendo uma continuação autêntica (embora haja sem dúvidas conexões) do que pretendia o grupo original, porém essas controvérsias permitiram que os fãs tivessem a possibilidade de comparar as idéias, fazer diversas interpretações tão diferentes dentro do mesmo nome.

Este é um review que escrevi em meu antigo site para o álbum Atrocities com três letras traduzidas. Como a alguns dias postei um bootleg que antecedia seu lançamento, fica este registro para não perder fio da meada.

Após o lançamento de dois EP’s ("The Wind Kissed Pictures" e "Believers of the Unpure"), o oportunista Valor, oferece-nos aqui o melhor trabalho, em minha opinião, do seu Christian Death. Este álbum, onde estréia também como vocalista (na verdade à volta a posição de cantor, como nos tempos de Pompeii 99), é também um ponto final a uma saga iniciada com Catastrophe Ballet (1984), antes da banda arriscar-se em caminhos heavy-metálicos. Gravado no lendário Rockfield Studius em Gales (onde também foi gerado seu antecessor, Ashes), Atrocities retrata de forma envolvente e dramática a dura e cruel realidade da Segunda Guerra Mundial, cujo impacto era sentido intensamente nos anos de 1980, em pleno auge da Guerra Fria. Seria proposital que sua prensagem original fosse na Alemanha pela Normal Records? Para dar um ar mais místico a sua concepção em estúdio, Valor fez questão de relatar no encarte, todo escrito à mão, que “Nós respeitamos a presença do espírito da Mulher e da Criança do Acre Hill House, durante o tempo todo em que estivemos lá”.



Um espantoso acorde de violino anuncia sua abertura com a corpulenta "Will-o-the-Wisp" onde a bateria de David Glass faz maravilhas com batidas fortes e bem marcadas. Desde a debandada de Rozz Williams, esse line-up se manteve na Europa. A nova morada influenciou diretamente no seu som, cuja estrutura não apresentava mais resquícios de sua procedência americana (o deathrock cru introduzido por Rozz no Pompeii 99 ficaram para trás) – aqui, a versão genérica do Christian Death, já ecoava como as bandas góticas do velho continente, orientadas por numa tendência mais melódica e densa.

Depois da primeira faixa, somos surpreendidos com a tranqüilidade de “Tales of Innocence”. O tema, originalmente se chamava “The Gift of Sacrifice” e cantado nos shows até então por Valor, ganhou em sua versão definitiva na bela voz de Gitane Demone que deu um ar mais dramático a letra que aborda o horror das torturas sexuais em que as prisioneiras eram submetidas nos campos de concentração. Os títulos sucedem-se às vezes agressivos, como "Stapping me Down", às vezes de uma calma venenosa e corrosiva, em "The Danzig Waltz". Seguem "Chimerè De Si De La” e "Silent Thunder" que apresentam um trabalho excepcional de guitarra de Valor e Barry Galvin (Mephisto Walz). Ao emergimos deste mar escuro e oscilante, ganhamos fôlego com a semi-acústica "Strange Fortune", porém logo em seguida os ouvidos são golpeados pela a ferocidade de "Ventriloquist" que ao vivo ganhava uma versão mais violenta que podia atingir quinze minutos de duração. E esta exibição de atrocidades avança com a arrepiante versão "Gloomy Sunday" cantada por Gitane.



O ato atmosférico de "The Death of Josef" (um réquiem ao médico Josef Mengele, conhecido como o Anjo da Morte em Auschwitz), fecha este álbum que tem a morte nas trincheiras como constante em seu imaginário. Aqui não há uma linha que separa a realidade do quimérico, pois a dor e o desespero tornam as duas condições homogêneas, como exibido nos rostos grotescos da pintura expressionista "Die Sieben Todsünden" ("os sete pecados capitais) de Otto Dix (1891—1969) que compõe a contra capa da primeira edição desse trabalho de estranha delicadeza.


Algumas letras traduzidas:



“Contos da Inocência”
Nós éramos enormes lanternas de caça
Iluminando o caminho para o banquete do faminto
Nossa rígida pele jovem pronta para ser suja

Corpos como brinquedos negociados por favores
A oferta do sacrifício

Enxugando meu corpo que não pode ser limpo novamente
A culpa sangra do gosto do pecado
Minhas vergonhas são memórias da paixão
O desejo do prazer profundo

Corpos como brinquedos negociados por favores
A oferta do sacrifício

Sem flores para poupar o que ela deu de si para eles
E quando ela voltou, ela estava, ela estava...
Ainda, ainda...

Corpos como brinquedos negociados por favores
A oferta do sacrifício

“Trovão Silencioso”
Minha cama é o jardim onde todas as vozes se encontram
Mãos deslizam através da água embaixo de meu travesseiro
Pedras como chuva banham as horas
As mãos no meu pulso, sexo, flores murchas

O trovão silencioso ergue-me para dormir
Caindo num abismo tão profundo

E se meus olhos tímidos da manhã
Meus lábios provarão de fruta verde
Palavras sem significados evocam o passado
O futuro foi o dia antes do último.

“Estranha sorte”
Eles preservavam belos quadros
Derramando o vinho, que brinde cruel...
Boatos dispersos são contados nos cafés
Respeito aos olhos do inimigo

Uma calorosa e oculta vingança de amantes
A dança das flores em um perfume roubado
Uma taça de champanhe, uma lasca de pão.
Respeito aos olhos do inimigo

Estranha sorte...

Suas canções iludiram a lealdade
Enganando os perversos quanto à fuga
Boatos dispersos contados em cafés
Respeito aos olhos do inimigo

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Skinheads para além da política e da a-política

Como todo skinhead gostaria de liberar o tostesterona

Vejo que o crescente moralismo endossado pelos novos cristãos e grupos políticos/religiosos (felizes e eufóricos pelo acesso vulgar ao consumo, “graças a deus!”) tenha gerado ou pelo tem sido um dos culpados pela nova onda de violência contra as minorias...Enfim este texto editado originalmente no meu site Junkeria Nefasta serve como uma forma de refletir esta maneira tão bruta e idiota de bandidos (e policiais civis em parte) que usam a porrada como forma de ofuscar seus próprios desejos reprimidos. A pedido do autor (um amigo anarco punk que há não vejo) sua identidade será preservada e quem achar ruim que venha tirar satisfações comigo.

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A pergunta que se faz é quais são os tão bons motivos para se carregar o rótulo e a tradição de uma cultura que durante 30 anos se desenvolveu as custas de atrocidades desumanas? Será que a música e a roupa são valiosos o suficiente para se apegar à esta tradição?

É muito claro que skinhead não é simplesmente uma afirmação de moda, e sim uma cultura, e exatamente por ser uma cultura tem valores que se identificam e outros que repudiam, e em conseqüência criam uma certa visão de mundo própria. O que essa cultura, com seus valores, tradições e costumes, fez desde de sua origem até agora? Essa questão vai além de uma visão partidaria de esquerda e direita, anarquismo e fascismo. A resposta pra isso tem que ser pensada acima de tudo com o nosso caráter humano. Na década de 60 quando a cultura skin começou, esteve intimamente ligada á uma prática que os skinheads negros e brancos apelidaram de "paki-bashing", que consistia em perseguir, humilhar, espancar e, eventualmente, assassinar sul-asiáticos (paquistaneses, indianos, bangladeshianos, e outros). A justificativa que davam para isso não era o nazismo, obviamente, aliás o bode expiatório que hoje se usa para eximir a culpa do atos de brutalidade estava sendo fundado naquele momento e não tinha nenhuma visibilidade ou força política: a National Front. Quando perguntado sobre o porque do ódio, os skinheads diziam que os asiáticos eram passatempo deles, e que agrediam-os simplesmente porque a cultura deles não tinha como costume revidar. Alguns chegavam até a criar teorias pra justificar, e usavam o patriotismo como desculpa para essas atrocidades. "Eles não falam nossa língua, não reproduzem nossa cultura. Eles roubam nossos empregos". O saldo disso foi centenas de agressões e algumas mortes em menos de 1 ano. O que não podemos esquecer nisso é que independente da visão pessoal política de cada um, uma coisa é certa: ser patriota não tem como pré-requisito ser covarde, assassino e irracional.

Os skins desapareceram no meio dos anos 70 e voltaram no fim dela com a explosão da segunda geração punk e o revivalismo da década de 60 (mod revival e 2-tone) gerado pelo filme Quadrophenia e a new wave. As novas gangues de skinheads trouxeram junto a Liga Anti-Paquistanês, vários grupos de skinheads tradicionais apolítocs que se autoafirmavam contrários às idéias do nazismo mas dedicavam seu tempo a perseguição e linchamento racista de asiáticos por mero entretenimento. A National Front que começou pouco antes com seu discurso nazista enrustido encontrou nos skinheads um terreno fértil, e do ódio aos imigrantes asiáticos para todos os outros imigrantes foi somente um passo. Agora todo tipo de imigrante se preocupava ao ver skinheads na rua, e esses discursos pseudo-políticos tinham cada vez menos sentido e nada se diferenciavam das tradicionais perseguições dos apolíticos. Agressões tomavam níveis absurdos e uma sensação de terror entre minorias era gritante. Muitos membros da National Front não se afirmavam nazistas, enquanto outros se afirmavam nazistas sob o mesmo partido. Skinheads da extrema direita espancavam pessoas que não concordassem com eles, sob a acusação de comunistas, anarquistas ou esquerdistas. Skinheads da extrema esquerda atacavam pessoas de valores conservadores e "não-esquerdistas", sob a acusação de neo-nazistas. Apolíticos continuavam no seu passatempo tradicional de atacar minorias frágeis por puro entretenimento. Movimentos tentaram unir todos os lados, e acabaram servindo exclusivamente como abrigo de nazistas e fonte de infinitas guerras entre gangues nos shows. A política servia como mero respaldo para a covardia e brutalidade irracional, e os apolíticos não se preocupavam em justificar suas também covardes e assassinas atitudes. As velhas práticas da raíz da década de 60 foram tingidas com o discurso político, mas continuavam sendo a mesma coisa no fim das contas.

No Brasil a mesma confusão ideológica surgiu entre os Carecas, que acabou por separá-los em Carecas e White Powers no fim da década de 80. As práticas de violência gratuita continuavam usando a política como mero pretexto. Centenas de pessoas foram brualmente atacadas e até mesmo assassinadas durante a "evolução" política do movimento Careca dos anos 80 até o começo dos 90. Agora, com as coisas já bem definidas, homossexuais, punks e esquerdistas continuam sendo linchados por Carecas, e negros, judeus e nordestinos continuam sendo linchados por White Powers. E carecas e white powers lincham-se uns aos outros. O pretexto vai se modificando, ramificando, mas as práticas continuam as mesmas. Se os mais velhos perdem cada vez mais o interesse nas brigas, as gerações novas continuam a reproduzir a violência estúpida pseudo-política. A indiferença para o absurdo, no entanto, continua dos dois lados: geração velha e geração nova.

E voltamos a pergunta: para que carregar o rótulo de uma cultura cujos os valores ao longo da história só se mostram a serviço da covardia e da desumanidade? Por que mais uma vez querer associar visões de mundo políticas com coisas que sempre as usaram como pretexto irracional, e não fundamento racional? Para que voltar para uma raíz "espírito de 69" apolítica que também só esteve a serviço do comportamento mais desprezível que um ser humano pode ter, a violência gratuita? O que há de tão especial na música e na moda que faz com que possamos relevar esse passado hediondo e assumirmos essa cultura suja? Acreditar que o discurso político por trás destas coisas são boas justificativas é uma ilusão, sejam os discursos da direita, sejam da esquerda. E não se trata também de sermos pacifistas ou demonizarmos a violência, porque a violência gratuita está para além de qualquer tolerância até do mais bélico e político. Afinal, a violência gratuita e irracional só se presta a pessoas que negam sua natureza, enquanto a verdadeira consciência política e filosófica só está reservada àqueles que assumem sua humanidade.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Getting The Fear + Into A Circle


O Getting the Fear surgiu a partir da dissolução do Southern Death Cult no início de 1983. Barry, Buzz e Aky convocaram o vocalista Bee (Paul Hampshire) para substituir Ian Astbury que estava descontente com a nova direção musical que seus companheiros queriam seguir.

Em atividade por dois anos, o GTF gravou diversas demos, lançou apenas um single (“Last Salute” – pela major RCA) e fez uma maratona de apresentações em alguns clubes, incluindo uma aparição em um programa da BBC, onde aparecem tocando “Yurune" e dando entrevista. A exposição da banda foi até significativa, já que ainda colhiam os ecos causados pela popularidade do Southern Death Cult. Mas, diferente da imagem lúgubre da encarnação anterior introduzida por Ian, a banda consegue uma difícil proeza de ser pop sem cair no descartável e no vulgar. Por outro lado a proposta era bem alternativa já que era arriscado negar a sombra gótica que carregavam, típico da geração que estes garotos faziam parte.

Em abril de 1985, Aky e Buzz deixam a banda para formar o Joy, antes de partirem para outros projetos. Bee e Barry decidem levar a diante as idéias iniciadas pelo Getting the Fear, formando o In Two A Circle (nome baseado, talvez, nos círculos mágicos adotados por Aleister Crowley). Seu conceito era ultrapassar os limites da música e transformar a banda numa experiência única que agregasse poesia, ocultismo, sexualidade e introspecção espiritual. Isso tudo era perceptível tanto em suas letras quanto na atitude, já que seu som, em si, explorava as fronteiras do rock pop com boas doses de psicodelismo. A sua maior influencia literária vinha do escritor e filosofo Brion Gysin (um assíduo colaborador de William S. Burroughs) que foi primeiro ocidental que descobrir a música de transe da aldeia de Jajouka (Marrocos) executada em diversos rituais.

Depois de alguns meses compondo e ensaiando, a banda faz seu primeiro show no Croydon Underground em dezembro de 1985. Em seguida sai o single de estréia - "Rise" que, assim como os discos posteriores, segue uma política de total controle criativo - Bee e Barry produzem e fazem as artes das capas. Devido sua tiragem limitada (de cinco mil cópias) "Rise" se esgota rapidamente e em março de 1986 a banda faz uma pequena turnê pela Inglaterra e Escócia. Neste período o In Two A Circle já contava com a colaboração esporádica Rose McDowall do Strawberry Switchblade para os backing vocais. Foi através de McDowall que a banda foi envolvida no círculo de artistas como Death in June, Coil, Current 93, Psychic TV, que partilhavam dos mesmos pensamentos da vanguarda musical difundida através de experimentalismo industrial, sonoridade folk e letras que sofriam influências de poesia, magia, thelema, satanismo e hermetismo. É interessante frisar que Genesis P-Orridge (Throbbing Gristle, Psychic TV) foi um dos caras que ajudaram na divulgação das primeiras demos da banda ainda como Gettting The Fear.

Em julho daquele ano assinam um contrato com a Abstract Records, simplificam o nome para Into a Circle e editam o single "Inside Out” que chegou a apontar nas paradas independentes. Do mesmo modo este compacto marca o desistência do baixista Barry em trabalhar com músicos convidados nas gravações, o que levou a banda a trazer ao palco sons pré-gravados para tentar recriar as ambientações das sessions de estúdio. No entanto, o Into a Circle em suas apresentações não dispensa o uso bateria acústica e guitarra – a banda recebe a colaboração de diversos músicos, tendo como destaque o guitarrista Billy Morrison que futuramente tocaria como baixista para o The Cult.

"Forever" é o terceiro single e a é primeira gravação de estúdio com a participação de McDowall e que teve a co-produção assinada por Larry Steinbeck do Bronski Beat. Esse lançamento precedeu o lançamento do seu único álbum; Assassins, no verão de 1988. O LP foi promovido através de uma exaustiva turnê. Porém, mesmo com tanto empenho, Bee e Barry não conseguem reconhecimento mais amplo, fora do circuito alternativo. Rumores que eles abririam a turnê Innocents do Erasure apareceram. Isso os animaram, até que, por motives financeiros, os executivos da gravadora desistem dessa investida.

Com a entrada da poetisa e artista punk Annie Bandez (natural de Nova York, também conhecida como Little Annie Anxiety Bandez ou Annie Anxiety) em seu line-up, o Into A Circle oferece um som mais complexo e elaborado. Daí que também surge a idéia de re-trabalhar sons antigos da época do Getting the Fear, como “Sometimes” e “Yurune”. Era latente a intenção de reestruturar o projeto, tanto que mudam o seu nome para Big World Café e depois para Ugly, até que resolvem se separar definitivamente em outubro de 1989 depois de um show no Fulham Greyhound.

Bee hoje em dia reside na Tailândia, onde é DJe membro da banda de electro-rock Futon ao lado de Simon Gilbert (ex-baterista do Suede), e Barry vive ainda na Inglaterra onde é produtor, um respeitado engenheiro de som, professor de conservatório e agente de turnê de diversas bandas (já trabalhou com Placebo, Green Day, Foo Fighters, Bryan Adams, Nick Cave, Iron Maiden, Kasabian, Ozzy Osbourne, Kaiser Chiefs, Will Young, Tool, Girls Aloud, Rammstein e Brian Ferry).

Em 2008, o selo Cherry Records re-edita o álbum Assassins em cd remasterizado e com oito bônus provenientes de outros singles e lados B.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

self speak (ego)


Cadavres Exquis: Olá Rod. Em algumas pesquisas que fiz no Google, descobri que o seu antigo site Junkeria Nefasta é citado como referência da chamada cena “death rock” daqui do Brasil, especialmente a de SP. Como surgiu a idéia de fazer um e-zine voltado para a tal cena?
Rod: Surgiu há quase 15 anos atrás, mas a idéia inicial era que não fizesse parte de alguma cena. Neste meio tempo a coisa tomou diversas formas. Depois que o provedor retirou o site do ar não tive mais vontade de retomá-lo, pois me desliguei de tudo que acontecia na chamada cena “deathrock” de SP que pra mim nunca existiu de fato. Na realidade estive sempre ligado de alguma forma a underground desde 1993, 1994, mas não muito ativamente, conhecia algumas pessoas que trabalhavam na noiteapenas...Era um fã assíduo do The Cult e foi através dos seus trabalhos primordiais que fiquei mais interessado no chamado “positive punk”, o que me abriu a mente para os sons relacionados vindos do post-punk.

Cadavres Exquis: Essa foi a sua porta de entrada ao circuito gótico?
Rod: Digamos que sim, mas apenas como ouvinte. Quando eu tinha meus 15, 16 anos eu ainda escutava alguns vinis de heavy metal e hard rock que ganhava, como Iron Maiden, Sepultura. Talvez fosse uma forma de me agrupar com uns amigos do colégio que já me chamavam de “gótico” sem eu saber o que era musicalmente, mas que me atraia de alguma forma...Entre estes discos estavam os álbuns “Electric” e “Sonic Temple” do Cult, mas depois que ganhei o “Love” senti que minha identificação com sons “ingleses” eram de fato uma realidade, ai vieram Siouxsie, Echo and the Bunnymen, The Mission, Sisters...Este disco foi um divisor de águas para mim. Fiquei mais interessado depois de conhecer o seu embrião, o Southern Death Cult que me atrai até hoje pela simplicidade, atitude punk, clima sombrio e místico. A coisa foi fluindo naturalmente. A partir dai, eu sempre escutava alguns programas no rádio em que sua programação estava quase totalmente voltada a este tipo de som. Na 89 FM tinha o "Novas Tendência" do José Roberto Mars e o "Rock Report" do Fábio Massari. Por estes programas conheci muita banda...É quase absurdo falar isso, mas lembro de ter escutado coisas como Virgin Prunes, Christian Death, Sisterhood, Death Cult...Era sempre bom estar com uma fita virgem em prontidão porque era certo que tocariam coisas boas. Tinha a 97 FM também, de Santo André que também abria sua programação aos sons alternativos da época já que era berço de casas importantes como o Front 575. Desta rádio tínhamos um programa excelente do Ricardo Bola (que esqueci o nome agora) e um do Enéas Neto aos domingos chamado Zenzor voltado a música eletrônica, principalmente ao EBM e eletro goth. Ah O Kid Vinil era um cara que eu sempre acompanhava, seja na TV ou no rádio...Na TV Cultura nos anos 80 ele tinha um programa chamado Som Pop que durou até o começo dos 90. Tenho alguns gravados em VHS, com clipe dos Smiths, Jesus And Mary Chain. Ele depois foi diretor da programação da Brasil 2000 há alguns anos atrás, mas logo se desligou e de vez enquando ele aparece discotecando por ai. O universo conspirava mesmo pra eu gostasse deste tipo de sonoridade.

Cadavres Esquis: Em que ano era isso? Você já frequentava algum club alternativo?
Rod: Deveria ser entre 1992, 1993...Nesta mesma época consegui uma cópia da bolacha “The Iron Mask” do Christian Death que consegui numa loja de um shopping center (!). Esse disco para mim foi fundamental, pois soava punk também, porém possuía temas bastante mórbidos. O mais bizarro foi saber que somente no Brasil foi editado em vinil e hoje em dia é uma verdadeira relíquia. Foi meu primeiro contato com Rozz Williams...Foi um ano estranho para mim, me sentia diferente dos outros garotos que estavam bastante ligados ao nascente som grunge. Eu não usava um visual extravagante até porque nem tinha grana para isso, no máximo um cabelo encaracolado que há tempo não cortava e algumas camisetas escuras e desleixadas. É engraçado falar sobre isso, mas vejo a importância de um disco ou de um som que você ouve e como aquilo te faz mudar – como um livro ou uma obra de arte. Talvez, se essa fase não tivesse acontecido eu não teria bases para fazer algo que depois é comentado por alguns até hoje. Nesta época eu sempre ia à Galeria do Rock, ficar paquerando alguns discos, com a grana que ia juntando aos poucos comecei a minha coleção. Eu também ia lá para pegar alguns flyers de festas...Lembro de um final de semana que fui pela primeira vez ao Morcegóvia com uns amigos. Foi bem bacana porque, além de ficar mais por dentro do que rolava, meu irmão, que tocava bateria comigo (no Post Morten) acabou se dando bem e engraçando numa banda de “gothic rock” chamada Abadon que mais tarde se tornaria o Imperial...Naquela noite tocaram duas bandas no palco pequeno do club, o Chuva Rubra e o Sufrágio da Alma.

Cadavres Exquis: Nos idos de 1992, 1993 a cena de São Paulo estava recomeçando já que os frequentadores oriundos da Treibhaus, Ácido Plástico, Carbono 14 e do antigo Madame Satã eram raramente vistos...
Rod: Isso....Lembro de ter ido ao primeiro show do Cult aqui no Brasil em dezembro de 1991 e eu tinha apenas 14 anos...Não me pergunte como consegui entrar, mas foi memorável. Como eu tinha dito de alguma forma anos depois já estava habituada a cena, já que neste show vi alguns membros da “velha guarda” do circuito gótico de SP...Garotas super produzidas como bruxas, rapazes vestidos como se tivessem saído do club Batcave de Londres. Tudo aquilo ficou arquivado na minha cabeça e só ajudou a arquitetar e formular meu gosto musical e estético. Porém, quando comecei a sair para estes clubs, o estilo “gótico” era mal visto, démodé já que também na mesma época surgiu uma personagem de uma novela chamado Reginaldo, então você tinha três grupos que se via por ai: o que dava a cara para bater e acreditavam na “cena”, os que viraram ‘goths’ pelo que aprenderam no folhetim e os veteranos que raramente saiam, por constrangimento mesmo e só davam o ar da graça quando de vez e outra acontecia uma festa de revival, onde tinham a certeza que sons antigos tocariam nas pistas.

Cadavres Exquis: Esses veteranos não saiam mais por qual tipo de constrangimento?
Rod: Talvez por serem comparados com o tal Reginaldo hehe. Como todos nós sabemos a Rede Globo tem a capacidade de foder tudo, seja qual for à manifestação cultural – ela tem a manha de ridicularizar tudo, seja a coisa mais interessante até a genuinamente cafona – tudo vira pastiche. Mesmo assim surgiram pessoas curiosas com a tal “cena gótica”; se via documentários sobre isso, entrevistas. Muitos jovens, com advento do Plano Real (dólar um por um), puderam ter acesso a mais itens importados e assim virar a até DJ’s, como se faz hoje gratuitamente com o mp3 ou mesmo com um ipod! De uma forma ou de outra eu também passei a comprar mais discos, conhecer mais bandas com isso – frequentar as lojas da Galeria e não sair mais de mãos vazias. Era bacanas ir à lendária Mr Boris cujas vitrines eram em formato de vitrais góticos, decorados com vinis do Specimen, Alien Sex Fiend e a prateleira de cds que ficava no centro do estabelecimento tinha o formato de caixão. Lá se vendiam muitas coisas do Projeto Black Sundays, do DJ Tonyy que hoje comanda a Trash 80’s. Para mim foi sem dúvida o mais importante projeto de divulgação das “tendências góticas” – eram vários itens lançados e que tive a oportunidade de adquirir, como K7’s, camisetas até coletâneas próprias lançadas em vinil e cd (Black Sundays Compilation vol. 1 e 2)...De tanto frequentar essas lojas, você acabava ficando amigos dos caras que trabalham lá e eles iam te mostrando muita coisa. Fiz amigos na Bizarre, Bela Lugosi também. A Zoyd acho que é a única sobrevivente desta geração.

Cadavres Exquis: Além de um fanzine o Black Sundays tinha um projeto de discotecagem né?
Rod: Exatamente. O zine “Enter The Shadow” que era até então o único meio de ficar por dentro do que acontecia na cena fora daqui, como lançamentos, biográficas que hoje você encontra de monte pela Internet. Você ficava ansioso até que o próximo volume saísse. O zine, além de música sempre apresentava matérias sobre cinema e arte...Era bem caprichado, bem escrito, dava gosto de ler. Ainda tenho umas cópias guardadas com maior cuidado. O projeto de discotecagem rolava no Armagedon, infelizmente não tive a oportunidade de apreciar nenhuma edição, porém tenho alguns flyers de recordação. Quando falo que foi o melhor projeto de divulgação da cena obscura quero dizer em relação às coisas que vinham de fora também, já que nos anos 1980 eram raros os lugares que davam atenção para isso, ou se faziam, faziam de forma meio despretensiosa aqui em SP ou em Brasília. O que rolava era conhecido como “dark” e serviu de bases pro “rock paulista” também...Penso que o primeiro lugar com o “selo’ de club gótico aqui de São Paulo, foi a Treibhaus, o que costumo dizer que foi a nossa “Batcave”. Não cheguei a frequentar, mas tenho algumas fotos do lugar e histórias de colegas que batiam carteirinha lá... O pessoal ia pra se divertir e estavam pouco se fodendo pra pseudofilosofias.

Cadavres Exquis: Você comentou que tinha uma banda, ela chegou a fazer algum show ou gravar alguma coisa?
Rod: Era uma banda que fazia apenas covers. Ensaiávamos num quarto da casa dos meus pais em Caieiras (Grande São Paulo). Tirávamos sons do Cult, Sisters of Mercy, Fields, Stooges, Sex Pistols, Christian Death...Mas tínhamos uma ou duas músicas nossas que chegamos a gravar em K7, algo bem caseiro mesmo. A banda durou uns três anos, meu irmão ingressou no Abadon e logo se mudou pra Marília para fazer faculdade de Biblioteconomia. De apresentação mesmo considero apenas uma oficial, quando abrimos um show do Brazilian Cure (The Cure cover) e Pesadelo Químico (grupo performático de Adriano Pacionotto) num lugar chamado Graphitte em Guarulhos. Acho que isso foi em 1996, foi também à última vez que tocamos juntos. Penso que é meio pretensioso chamar aquilo de banda. Era mais um passa tempo mesmo, mas deveríamos ter levado mais a sério, acho que daria certo.

Cadavres Exquis: Depois disso, para qual outro projeto que você partiu?
Rod: 1997 foi um ano estranho para mim e acredito que também foi para o guitarrista da banda, Paulinho, que embora tenha se mudado para SP, nos distanciamos um pouco. Estávamos passando por uma fase conturbada, de problemas pessoais, mas foi legal, pois descobri que tinha uma certa facilidade para me expressar através de desenhos estranhos. Eu lembro que sem a banda eu poderia fazer um fanzine com esses desenhos que eram inspirados em sons “punk góticos” que eu curtia, como Sex Gang Children, Malaria!, Southern Death Cult, Danse Society...Um amigo meu do cursinho, em uma conversa discontraida, nomeou o meu estilo de “junkeria nefasta”. Gostei bastante e comecei a escrever biografia das bandas e mais desenhos surgiram até que conheci o Cid (Carcasse) que na época construía o site Sépia Zine. Ele curtiu a idéia do zine e me incentivou a integrar o Junkeria Nefasta ao Sépia. A coisa ficou no “gelo” por um ano...E neste ano eu frequentava um pouco o circuito clubber, me desliguei do que rolava por ai em termos alternativos; mesmo na segunda versão do Espaço Retrô abria seu espaço para projetos de música eletrônica, techno até mesmo brit pop...O circuito em SP passava por mais uma transformação; mesmo o cenário gótico desta vez se emergia por fóruns na Internet ou em volta de algumas novas manias; o RPG e Marilyn Manson, o que fez com que muito 'wanna be' aparecesse e esses ficassem mais interessados em se fantasiar. Desta maneira me afastei um pouco. Arquivei por um momento o Junkeria Nesfasta...Seria algo muito bacana, já que na época nem se falava em “death rock”. Era uma forma também de mostrar que a cena estava meio defasada, com a invasão de bandas de metal-gótico, crossover que invadiam a mente dos novos frequentadores dos clubs, o que me irritava de verdade. Eu parecia um velho reacionário, e arrumava briga com muita gente em fóruns que defendiam com unhas e dentes esta nova tendência. Hoje em dia acho esse tipo de birra uma piada, até porque não é de hoje que sons híbridos de vez em quando resultam em coisas boas...Em 1998 surgiram projetos legais de discotecagem numa casa chamada Umbral, como o “Pandora” que, mesmo dando espaço aos headbangers, oferecia sons old school nas pistas, o que fez aproximar-me timidamente de tudo outra vez...Muitos zines literários saíram na mesma época, muito material era reaproveitado com o que se achava na rede. Era mais fácil ter contato com gente “engajada” e novos DJs surgiram a rodo.

Cadavres Exquis: Foi ai que veio a idéia de fazer algum outro zine?

Rod: Em 1995 eu tinha escrito uma pequena biografia do Christian Death, escrita em word Pad! Era bem curta e me baseava em poucas informações (muitas equivocadas) que eu obtinha em alguns zines (como Past, Present, Forever) e mesmo dos discos. Era um ano legal para levar isso adiante, porque novas bandas e selos como Cleopatra impulsionavam o interesse pelo até então esquecido “gothic rock” mais tradicional. Em 1998, com a rede eu consegui mais material, imagens...Foi ai que tive a idéia de fazer um fanzine sobre a banda. Em abril daquele mesmo ano Rozz se matou, o que me motivou mais a prestar essa homenagem. Neste mesmo período tive a sorte de trocar algumas palavrinhas com Ron Athey, o ex-namorado do Rozz e co-fundador do Premature Ejaculation que esteve em SP para apresentar sem longa Hallelujah! no festival de diversidade sexual, Mix Brasil. Isso tudo me impulsionou a começar a colocar isso em prática com um amigo que tinha um zine chamado Shadow of Darkness, mas foi no outro ano com o Gheirart (Brazilian Cure, Love Cure’s e atual Dandi-Dracula) que a coisa deu certo. O que era para ser um zine acabou virando uma revista em off set mesmo...o “Invocations of Rozz Williams” saiu em 99. Ficou mais legal que se esperava; muita gente o considera um item fundamental. Claro que se eu pudesse o refaria com uma diagramação mais suja e com informações mais precisas, mas dentro do que tínhamos em mãos foi uma realização legal, ficamos bastante satisfeitos com o resultado e com a repercussão.

Cadavres Exquis: Existe alguma possibilidade de ser relançado?
Rod: Talvez algum dia, ainda tenho o seu fotolito. Mas como disse, preferia refaze-lo já que muita informação ali não é o suficiente perto do que já foi publicado sobre a banda e sobre o Rozz...Refaria com uma cara mais suja, com colagens e até poesias. A diagramação anterior é bem careta, mas eram as ferramentas que tínhamos em mãos. Os fãs adoraram porque até então não se tinha nada de Rozz escrito em português. Mesmo fãs lá de fora solicitaram algumas cópias, eu mesmo deixei uma no Runyon Canyon Park em Hollywood, onde o Rozz costumava caminhar.

Cadavres Exquis: Vejo que essas bandas que você cita hoje em dia seria bem clichê se fosse incluído dentro da chamada cena death rock...
Rod: Sim eu concordo...Mas nunca foi muito proposital para mim. Além do “deathrock” sempre fui um admirador de rock em geral, são tantas bandas que levaria um dia para citar todas...O “deathrock” está no pacote da chamada cena obscura, o rock gótico nada mais é que o resultado da mistura de vários estilos que foram se desenvolvendo desde o fim dos anos 50...Mesmo musicalmente é quase impossível classificar o gótico, fica a cargo de cada um interpretar. Seja aqui ou lá fora. Quem tenta fazer uma cronologia bonitinha da coisa acaba se dando mal; vemos pelo tanto de vinil ripado nos blogs de mp3 ou mesmo em relançamentos de discos “perdidos” do pós-punk que o Bauhaus, por exemplo, não foi o único responsável por isso tudo com sua “Bela Lugousi’s Dead”...O fato é mais complexo e mais amplo do que se pensa; é um grande quebra cabeça e intercambio de estilos. Muitos paises tiverem seu papel nisto, como Alemanha com seu Neue Deutsche Welle ou a França com sua cold wave, onde saíram centenas de bandas que hoje aos poucos vem sendo resgatadas. Essa coisa de que tudo que aconteceu na ponte área Londres x Los Angeles foi desmascarado...Mesmo no Brasil, falar da primeira geração “deathrock” não se limita apenas no contingente “dark” (que não tinham nada de humor negro além de referências mais sérias como o existencialismo e do próprio pós-punk, via Joy Division). Poderíamos voltar mais no tempo e citar o Joelho de Porco como um dos percussores da “cena” daqui. Já são reconhecidos como uma das primeiras bandas punks do Brasil, mas se você ver os vídeos antigos, o visual, vai concordar comigo...Zé do Caixão, não só pelos seus filmes de terror, e sim seus filmes pornôs-bizarros rodados na Boca Lixo. Tem coisa mais underground que isso? Acho uma tremenda bobeira algumas pessoas até hoje quererem ver a música ou uma expressão artística de maneira muito limitada, separada de tudo que acontece a volta. Uma época eu achava que era coerente brigar ou lutar por isso. Mas é como dar soco em ponta de faca. Você vai ficando mais velho e vê que isso é uma tremenda idiotice. Mesmo porque na pós-modernidade e com o crescimento das redes sociais você pode ser tudo, celebridade, criar sua personagem e ter uma banda nova que soa como antiga, ainda há pessoas que acham tudo isso é uma novidade. Fazer uma batida quatro por quatro, baixo a frente de tudo, vocal ala Ian Curtis está super na moda...e se você faz isso soa super cool.

Cadavres Exquis: Esta percepção foi o motivo para que você se desligasse do projeto “Batzone”?
Rod: Também. Quando criei este projeto com uns amigos, estávamos crentes que poderíamos salvar a tal cena dos clichês, do estrago que o metal-gótico (via bandas que tinham vocalistas com seu visual de “secretária medieval”, tipo Nightwish) e o chamado “future pop” com suas tranças de nylon tinham causado por ai. O “Batzone” foi uma forma oportunista de resgatar o que o Junkeria Nefasta havia plantado anos atrás, de apresentar sons antigos que há muito tempo não chegaram nem ao conhecimento do publico. Paralelamente eu e Julia Ghoulia também estávamos com planos de fazer uma versão brasileira do portal Deathrock.com do Mark Splatter...Isso era o ano de 2003, eu acho, quando a loja o Douglas Graves, a Batcave Records, era o reduto deste pessoal que estava de saco cheio de tudo isso, embora alguns até tinham projetos bastante próximo do que acontecia até então. O Douglas mesmo era um punk veterano, que tinha um currículo de bandas bem extenso. Era uma turma boa. Como alguns sabem a “cena” gótica daqui também nunca foi adiante por causa das panelas e a desunião de algumas pessoas que reafirmam sua desonestidade e atitude porca e fomos prejudicados por isso também...Eu mesmo fiquei sem receber pela capa que fiz pro cd bootleg do Poesie Noire – vol 1! Bom voltando ao “Batzone”; ele surgiu como um projeto de discotecagem que durou umas duas edições, depois se transformou em um zine que durou três edições; duas editadas em papel e uma arquivada. Nós tínhamos uma idéia de ir contra corrente, mas nada de lutar diretamente com a coisa como se fossemos enviados do além...Percebi que até um ponto funcionava pelo seu ar provocativo, mas depois percebi que não, porque tudo caiu no senso comum e humor havia acabado e tudo voltava ao velho clichê que tanto criticava. É bem difícil lidar com adolescentes...

Cadavres Exquis: E qual foi o motivo do fim?
Rod: Entre 2003 e 2005 a cena Deathrock cresceu bastante lá fora e como SP é uma cidade que sempre recebe as “novidades”, não poderia ser diferente. Eu também queria colocar em prática algumas coisas que vi em algumas viagens que fiz pra Los Angeles, onde passei por pontos importantes como as lojas Retail Slut, Dark Vinyl e o projeto Release the Bats...Bater um papo com a Gitane Demone e William Faith (Faith and The Muse) foi inspirador, e eles mesmos estavam empolgados com o que estava acontecendo. O Batzone assim como alguns membros de algumas bandas era um contingente só, mas sempre houve aqueles que interpretaram a coisa errada. Tinha uma galera nova que seguia a gente, mesmo nos show do Crippeled Ballerinas que chegou até abrir um show do The Brides (EUA) por aqui. Muito moleque se empolgou com a parada de ver alguns “punks de boutique” vestidos como zumbis e pogando. Surgiu à idéia de gang, porque eles não queriam ser chamados de góticos e muita gente levou a sério. Os nossos zines tinham a sigla DRSP, uma forma de identificar de onde vinha o pessoal que fazia, assim como em Los Angeles, NY...Alguns babacas pensaram que isso fosse uma ordem, um grupo que estava literalmente disposto a lutar (a dar porrada!) pelo tal deathrock! Isso mesmo. Mas havia gente dentro do projeto que estava mesmo disposta a isso mesmo...Vi que a coisa estava crescendo de forma equivocada. E ai decidi abandonar o barco, já que eu não era nenhum neófito e não era obrigado e ver esta palhaçada toda...Eu lembro que quando eu tinha uns seis ou sete anos de idade eu tinha um clubinho, isso me fez recordar da infância e pra me poupar de algumas coisas, decidi que era melhor meu nome não ficar mais ligado a isso, ainda mais depois que vi que alguns caras até estavam se associando alguns skinheads para arrumar confusão por ai. Não aceito fundamentalismo de jeito nenhum e essas siglas nada mais são que uma forma de segregação...Quem lê isso pode discordar, mas me dá muita preguiça. É uma afetação inútil.

Cadavres Exquis: Já cheguei a ver seu nome citado por algumas pessoas que ainda acreditam na tal cena...
Rod: Eu também já vi, em blogs que até “roubaram” matérias do Junkeria Nefesta...Em algumas entrevistas de membros do tal “DRSP” citam o meu zine como “algo mais legal já feito”. De fato eu me dedicava, mas não em nome de uma cena, movimento e sim pela música que ouço. Penso que é uma tremenda idiotice essa coisa de separar isso por regiões tipo DRSP, DRRJ, DRES. Sinceramente penso que isso seja insignificante a ponto de achar que a tal cena está mais morta do que já estava em mãos de molecada deslumbrada. É como dar faca na mão de criança. Sei que é exagero, pois isso nem tem grande impacto na vida cotidiana e que faz disso uma coisa underground é a falta de interesse que isso gera...Sei que isso logo vai acabar de vez, se é que já não acabou - sei que existe pequenos focos no Brasil a fora. A coisa mais chata é ver que sempre tem alguém querendo teorizar alguma tendência, rotular...Deathrock e gótico é tudo a mesma merda...Quem leva isso muito a sério deve ter algum problema mental ou mesmo é limitado intelectualmente. São Paulo tem muita coisa legal, mas assim como muita cidade do interior há muita gente provinciana e que vive de aparências...As coisas chegam no Brasil muito deturpadas mesmo e há gente de montão que tem a capacidade de fazer isso muito “bem”. Não temos uma cultura alternativa com bases fortes, embora haja gente engajada de verdade envolvida...Nem temos uma tradição cultural que permite isso, até porque a arte e educação são coisas que não são levadas com respeito por aqui...Penso que a Tropicália foi único movimento cultural realmente brasileiro. O resto é pura cópia mal feita.

Cadavres Exquis: Mas você não acha que é melhor isso do que apenas ficar na idéia?
Rod: Talvez, porque até recebo alguns mailings com festas que ainda deixam a coisa acesa. Mas não é por meio de estereótipos, clichês e segregações que isso vai pra frente. Mas temos um histórico de muito tempo de gente sem referencia que transforma isso em radicalismo, o que deixa a coisa “feia”, sem sentido e ridículo em pleno século XXI. Seria a mesma coisa de um sueco querer fazer samba em seu país, por mais que haja identificação fica um resquício esquisito no ar se não houver bom senso...Infelizmente muitas bandas clássicas “deathrock” que embarcaram nesta também e foram reformadas por causa de grana, ou tentar fazer fama retroativa em cima disso. Estão fazendo um jogo horrível e que até macula o passado. Acho que o que era bom ficou para trás...Onde de fato existiram bandas com atitudes inteligentes ligadas a um senso estético e artístico legal, mesmo que ingênuo funcionava muito bem, hoje em dia tenho lá minha dúvidas...Se fosse para escolher, eu esqueceria essas bandas que frequentam festivais de hoje e ficaria com as bandas de pós-rock que têm mais feeling do que estas que insistem em brincar com roupas e esqueletos comprados numa loja de fantasia da 25 de Março. Desde sempre o rock esteve ligado a moda, e não é com qualquer trapo que você convence, para começar por ai...Tem que ter atitude - deathrock virou sinonimo de burrice e mal gosto. Ter um visual não é esconder sua verdade, nem serve como escudo estúpido como de uma torcida “organizada” de futebol. Falo isso porque é como eu vejo a coisa hoje, esses emblemas são para queimar o filme, já que se formos olhar lá pra trás, onde o “positive punk” serviu de apoio e ajudou a compor o chamado som “batcave”, a versão britânica do “deathrock” e veremos esta incoerência. O “positeve punk” tinha raízes nos redutos anarco punks onde a homofobia e a violência era execrada...Tudo era baseado na libertação do espírito e naturalmente no respeito. Era feito por gente mais séria e refinada e vejo que a sua estética elegante está sendo revisitada por muita gente da moda e música contemporanea..

Cadavres Exquis: Mas por ter feito o Junkeria Nefasta, fez parte de tudo isso...
Rod: Não posso criticar muito, pois sei que de alguma forma ajudei a compor a chamada “cena tupiniquin” daqui, ou melhor, formatar um grupo de admiradores deste subgênero. De alguma forma você se sente responsabilizado, mas “responsabilizado” é algo forte, pois no fim não levo a coisa a sério, tanto que me desliguei pelo fato de não levar isso mesmo a sério. Vejo que quem vive isso está numa fase de sonho em que estar “batalhando” por isso é quase um ideal...Não quero soar arrogante falando tudo isso, porque cada um tem as suas fases e o aprendizado é individual. Mas melhor isso que gastar o tempo com música cafona que sai dos auto falantes dos carros nos finais de semana...O punk e o “gothic rock” (que pra mim nada mais é que um sub produto do punk) mesmo que reconhecidos pelos seus estereótipos acabam abrindo a mente para outras manifestações legais como literatura, cinema, artes plásticas, body art etc. Quando alguém se empapuça deste tipo de representação percebe que sua bagagem foi preenchida com um monte de referência legal de vanguarda como expressionismo, dadaísmo, futurismo...O que é muito válido mesmo nos dias de hoje, onde você pode criar peças gráficas baseadas neste tipo de arte. Quando o grupo (Batzone) se desintegrou ainda lancei um zine com uma banda que me ajudou de fato a olhar a coisa mais amplamente, o Virgin Prunes cujo trabalho ecoava muito além da música...Começaram como uma “gang”, mas a maior arma deles era a ironia que de fato é forma mais genuína de superação e afrontamento da própria existência.

Cadavres Exquis: O desligamento do Batzone foi uma forma de seguir a coisa sozinho, já que muitas de suas matérias foram reaproveitadas no site Junkeria Nefasta...
Rod: Foi uma forma mais barata de continuar...E era uma boa oportunidade de alcançar mais leitores, sem contar que foi uma boa desculpa para colocar o “velho” Junkeria Nefasta finalmente no ar com uma nova cara e com a colaboração de outras pessoas. Eu o atualizava semanalmente. Usei até matérias que havia escrito num blog de curta duração chamado Drop Dead, onde eu colocava até uns desenhos meus. Depois que acabou, fiquei sabendo que algumas das matérias são usadas no banco de dados em português do Lastfm, mesmo alguns blogs prestaram homenagem a ele...Acho legal esta memória boa que o zine trás, tem gente que até o usou o nome “junkeria nefasta” como gíria hehehe.

Cadavres Exquis: E não seria uma boa reformá-lo?
Rod: Acho que não tenho mais paciência e nem saudade de nada da época que ele estava no ar. Mas aos poucos tenho postado algumas matérias neste blog. Às vezes tenho me dedico mais as minhas colagens...Queira ou não é uma forma de manter viva essa coisa toda, de forma mais subjetiva. Algumas delas já foram até usadas para banda Dandi Dracula que mostra uma nova possibilidade de banda “dark” sem cair na cafonice que estamos cansados de ver por ai.

Cadavres Exquis: O “deathrock” está morto então?
Rod: Totalmente, como o próprio termo sugere. E nem sei porque perdi meu tempo escrevendo tudo isso.

Cadavres Exquis: E as discotecagens da Escola de Cretinos?
Rod: Rolaram umas duas vezes, uma no club Hole e outra na Loca já faz um tempo...Eu e o Alex Ratz estávamos na época bem antenados em sons minimalistas e cold wave. Pretendíamos até montar um projeto musical. Meu sintetizador Korg ainda continua guardado, esperando minha boa vontade e uma nova oportunidade.

Cadavres Exquis: No site Junkeria Nefastas tinha uma sessão de inventario com a sua coleção. Você ainda continua fazendo esta listagem?
Rod: Depois que o site saiu do ar eu parei de relacionar os itens que adquiro, mas hoje em dia eu tenho me contido mais...Não tenho mais espaço para os discos, mas no dia que eu tiver mais espaço e oportunidade vou fazer uma sala só pra eles. Quando eu morrer quero ser cremado com todos eles. É um vício difícil de se curar.

Cadavres Exquis: Quais foram os últimos itens que você comprou?
Rod: Peguei umas edições especiais e remasters do Cult e Chameleons UK, alguns vinis do selo Minimal Wave. Mas estou dando atenção a uma série de cds com gravações esquecidas do Premature Ejaculation que nunca tinham sido lançadas em cd, apenas em K7. É um estilo difícil de assimilar, porém acho que são itens fundamentais para quem ama o trabalho do Rozz Williams - nestes trabalhos está a sua verdadeira essência. Parte das minhas colagens se deve a esse tipo de sons perturbadores.

Cadavres Exquis: Fora aos estilos que citou até agora, quais as outras coisas que você ouve e que de nenhum jeito você escutaria a alguns anos atrás?
Rod: Há uns dois anos decidi dar mais atenção a alguns sons fundamentais, até uma forma de enxergar o que de ruim eu tinha na minha coleção e poderia ser descartado. Descobri tardiamente Scott Walker, o folk inglês dos anos 60 de raízes celtas e meu interesse pela Nico ficou mais forte quando garimpei mais a sua obra solo. Ainda gosto muito de coisas vindas do post-punk, mas com esses “clássicos” foi possível ser mais seletivo, descartar muitas merdas que antes dava atenção... Tirando isso, gosto de umas coisas da Tropicália, new wave, Skid Row, Buena Vista Social Club. Às vezes me pego escutando coisas antigas do pessoal do Clube da Esquina como Milton Nascimento e Beto Guetes...Gosto bastante do primeiro álbum do Ney Matogrosso - o considero bem ousado e atual, trocaria qualquer disco de EBM por alguém dele.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

The Nephilm

O primeiro contato que tive com o Fields of The Nephilim foi quando escutei o EP Returning To Gehenna (em vinil) que peguei de um amigo que, como eu, estava atrás de "novos" sons obscuros. Sonoramente, não me despertou grande interesse já que, por ignorância de um neófito, me remetia algo que eu já havia escutado de Sisters of Mercy – aqueles vocais vindos do fundo da catacumba etc. Mesmo com suas limitações, é um disco divertido e de grande mérito, mesmo porque foi uma fundamental inspiração para algumas bandas medíocres e pré-fabricadas de gothic rock dos anos 90. Em seguida, consegui emprestado (outra bolacha), o Dawnrazor que me ajudou me preparar ao que estava por vir.

Mesmo depois de visitar outras tendências, Carl McCoy é ainda um cara que me faz ficar matutando com sua música. O álbum The Nephilm é um dos meus “convites” prediletos ao pesadelo. A maturidade da banda foi consolidada não apenas em termos de sonoridade, mas porque ficaram mais explícitas em suas letras quais eram suas fontes místicas (mitologia suméria endossado com o ocultismo Aleister Crowley).

O disco foi lançado em 1988 e no ano seguinte saíram em turnê pelos Estados Unidos. Porém, essa excursão não foi bem sucedida. Apesar da sua familiar imagem influenciada pelos velhos filmes westerns, os americanos levaram muito a sério os seus temas que na maioria das vezes tratavam de anjos decaídos, semideuses, demônios etc o que acabou afugentando um pouco o público da terra do Tio Sam.

Para aqueles que se sentiram atraídos, McCoy é tido com uma das figuras mais enigmáticas da historia do rock n' roll. Sua imagem de cow-boy morto-vivo não é apenas um jogo de cena (maquiagem nos rostos e a androginia vinda da turma da Batcave não faziam parte do repertorio da sua banda). O rapaz teve uma infância regrada pelos ensinamentos cristãos; seus pais eram testemunhas de Jeová o que fez com que desde cedo assimilasse algumas histórias bíblicas sobre os watchers (vigilantes espirituais) e os nephilins – geração de indivíduos gigantes provenientes do relacionamento de anjos decaídos com mulheres mortais (alguns inteirados no assunto supõem que desses seres originaram-se semideuses, como Hércules, e deuses, como Zeus). Isso foi essencial para arquitetar o alicerce artístico do Fields of the Nephilim e todos os projetos que vieram em seguida como The Nefilim, Nephilim entre outros. Além dessas alusões inspiradoras, o que me chamou atenção na banda foi seu desempenho e coragem de tocar a diante a carreira numa época onde uma crítica boçal já tinha o gótico como algo démodé.

Enquanto alguns grupos contemporâneos a eles se desintegravam ou se rendiam ao pop, os Nephilns nos brindavam com um magistral segundo álbum. A longa introdução de “Endemoniada” tem guitarras que nos carregam junto ao ruído do trem em movimento para uma paulada acelerada e letal que molda o resto do disco. A brilhante produção de Bill Buchanan projetou a banda um estilo mais onírico, conseguindo criar uma boa ambientação de terror, embora haja simplicidade dos arranjos (os vocais também soam mais sussurrados e roucos, muitos bem colocados).

Essa obra nos conduz a sonhos estranhos, mesmo quando estamos acordados. Suas músicas são profundas e as letras, embora um pouco clichês, são boas e causam empatia, já que conseguem fazer o ouvinte mergulhar em um mar frio e calmo de sua mente, onde velho
Cthulhu habita. Tal estado parece ser terno, suficiente para seu desfecho em "Last Exit for the Lost" sem que não nos façamos envolver completamente em pensamentos de morte ou ideação suicida; essa é uma peça que apresenta uma construção sublime, uma evolução melódica dramática e ritmo hipnótico que surte em seu ápice um efeito tranquilizador, de paz, como se pudéssemos mergulhar num silêncio absoluto.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Oppenheimer Analysis

LinkO porquê do aparecimento de uma nuance gélida e marcial da música sintetizada, durante a fase mais crítica da Guerra Fria, parece um fenômeno um tanto óbvio nos porões alternativos europeus. A cold wave, assim como outra manifestação obscura, ainda é a trilha ideal para a angústia pós-moderna e ao temor apocalíptico.

Andy Oppenheimer, natural de Liverpool, é um dândi com jeito de cientista maluco andrógino e que até hoje é um expert no assuntos "armas de destruição em massa". Sua mente inquieta não ficou apenas voltadas aos estudos - uma boa forma de se abstrair e comunicar seus interesses foi através das artes plásticas (seus quadros surreais em guache, que já foram exibidos e em Londres e em Brigghto) e música.

Suas primeiras pesquisas influenciaram muitas as canções escritas e gravadas com Martin Lloyd (teclados e sintetizadores) no início dos anos 80 como Oppenheimer Analysis. A parceria começou em 1979 depois que se conheceram em uma festa de abertura de um evento de ciências.

No meio dos anos de 1970, Andy foi para Londres, quando estava na universidade. Envolveu-se com o movimento punk, mas foi da cena new romantic (principalmente da sua atração por Human League) que veio sua inspiração rítmica para o projeto com Martin. É bom frisar que ao invés da imagem festeira do povo do club Blitz, os dois amigos preferiam abordar nas suas canções temas mais introspectivos, existenciais e que retravam a paranóia em torno da ameaça de uma guerra nuclear.

Em 1982 eles lançaram aquilo que foi seu único registro oficial até então: o cassete "New Mexico" gravado no Feedback Studio, em Londres. Essa fita teve uma boa vendagem nas convenções de ficção cientifica, clubs e pubs onde o Oppenheimer Analysis tocava. Após isso a banda foi dissolvida e caiu no esquecimento...

O recente interesse nos sons minimalistas/eletrônicos fez com Andy e Martin se reunissem em 2005. O selo nova-iorquino Minimal Wave tem dado um bom suporte para a ressurreição do projeto - o item número 1 do seu catalogo é um EP (em vinil, com um belo pôster com fotos e letras) da dupla contendo material antigo remasterizado. Fez tanto sucesso entre os antenados no estilo que ganhou uma segunda edição em 2007.

Por mais que haja uma dose de oportunismo nessas voltas, este caso é perdoável, pois a "onda fria" soa contemporânea e parece que sua provável reaparição venha preencher o vácuo deixado pelas recentes bandas eletro. Para o Oppenheimer Analysis e outras bandas veteranas pode ser uma forma de recuperar o tempo perdido numa era onde a informação corre mais rápida...Parece tardio, mas antes tarde do que nunca.

Link: Em seu
site oficial é possível comprar mp3, cd-rs com sobras de estúdio e músicas novas. Além disso, ele oferece informações, agenda de shows, reviews e fotos.

*Matéria editada no meu antigo site Junkeria Nefasta.

domingo, 4 de julho de 2010

Zero Le Crechê


Jamie Lord (vocal/guitarra), Andy Mitchell (guitarra), Terry Miles (baixo) e Richard Olley (bateria) faziam um sublime e emocional dark pop. A música “Last Years Wife”, presente em diversas coletâneas tinha em refrão pegajoso, um hit em potencial, mas que por ironia do destino não vingou sucesso nas paradas independentes. De qualquer maneira é um clássico e uma das prediletas de quem é apaixonado trevosidades do início dos 80...

Discografia:
- “Last Years Wife”/”The Women Say” (7” - Flicknife Records, 1984)
- “Falling”/”Beyond Westworld” (7” - Cherry Records, 1985– em sua versão 12” há mais uma música; “Terminal Tracks”)
- Last Year’s Wife - The Collection (CD - Cherry Records, 2008)









Into the light
Into the day,
We push and fall and we all sing and pray,
Out in the garden
I catch your eye,
Out on the edge there,
Oh we can fly.

Sometimes our anger will tear us apart,
fever that grips us is breaking our heart.

All is the same and I sing your praise,
no room for me love it's just a phase,
youth will fade and you will be gone,
a young mans beauty won't last for long.

Sometimes our anger will tear us apart,
fever that grips us is breaking our heart.

domingo, 29 de novembro de 2009

The Danse Society


Com muita saudade do inverno, mole ao som de Twilight Ritual, vamos ao que prometi; um pouco mais de música. Com muita lembrança daquele clima “wave” falarei de um rebento do pós-punk que veio do norte da Inglaterra: The Danse Society.

(este texto já foi reproduzido inclusive no last.fm sem minha autorização. tudo bem que não é grande coisas, mas propositalmente fiz algumas mudanças para que lá as incluam também).

Em seu pesadelo
Todos somos tão felizes


O OMD foi além do Danse Society ou o Danse Society foi além de OMD? Sei que pode ser viagem minha, mas as duas bandas trilharam caminhos parecidos; no começo de suas carreiras, o som de ambas causavam certa angustia e resistência numa atmosfera ou inferninhos iluminadas a meia luz. Com o passar dos anos eles renderam ao white funk que buscava as danceterias mais sofisticadas iluminadas com néon ou laser.

Das duas, eu tenho mais propriedade de falar daquela vinda de Shedffield que está na lista das minhas (cinco?) bandas prediletas e as quais suas músicas me fazem viajar em cenas de filmes b como "Um Mundo Desconhecido" (1951), "Fantasma do Espaço" (1953)...Aliás, elas poderiam ser a trilha de trechos deles em alguma montagem feita por algum fã para o Youtube.

Tudo teve início no Y?, uma banda composta por Bubble (baixo), Paul Gilmartin (bateria), Paul "Bee" Hampshire (teclados), Dave Patrick (guitarra) e o andrógino Steve Rawlings (vocais/synths e percussão). Em 1979, após gravarem a faixa "End of Act One", que fez parte da compilação Bouquet of Steel (lançada em fevereiro de 1980 e que reunia bandas da cena local, e é um item raríssimo!), o Y? anexou dois membros do Lips-X; o guitarrista Paul Nash e o tecladista Lyndon Scarfe. O Lips X tinha acabado de lançar, com muito esforço, um mini álbum em k7 chamado Everything to Lose e tinha uma direção muito parecida com o Y? e a idéia de juntar os talentos foi certeira. Com a fusão, o grupo denonimou-se Danse Crazy. Bee deixou a banda e foi para o Japão onde formou o glam/new romantic Panache e, depois, de volta à Inglaterra, assumiu os vocais do Getting The Fear, composto pelos ex-integrantes do Southern Death Cult que posteriormente se transformaria no Into A Circle.

Com a repercussão da cena eletro de Shedfield, o Danse Crazy é convidado para participar do lendário The World's Second Science Fiction Music Festival mais conhecido como Futurama Festival que aconteceu no Queen's Hall onde dividiria o palco com alguns nomes conhecidos: Joy Division, Cabaret Voltaire, A Certain Ratio, OMD, Public Image Limited, Soft Cell. Este evento que reuniu audiência de mais ou menos seis mil pessoas foi transmito pela TV BBC em novembro de 1980. O Danse Crazy apareceu em rede nacional tocando a música "Sink" cujo estilo é um bom resumo de sua fase arcaica que lembrava muito o Trisome 21 (que faz sua segunda apresentação em SP amanhã) dos primeiros compactos. Depois disso seguiram algumas apresentações, incluindo um show de abertura no Manchester Poly para o Cure que os convida para outro gig numa festa de Natal que Robert Smith e seus companheiros organizaram em Londres.

Dave Patrick e Paul Hampshire decidem ficar em Londres para fazer fama e dinheiro, mas caem no anonimato.

No início de 1981, os membros remanescentes imediatamente se trancam no estúdio Hologram em Stockport para gravar a música "These Frayed Edges" com Lyndon Scarfe fazendo as bases de baixo e teclado. Em fevereiro, depois de diversas audições, Tim Wright é convocado para o baixo e um segundo tecladista é dispensado da formação da época que contava com Paul Nash (guitarra), Steven Rawlings (vocais), Lyndon Scarfe (teclados), Tim Wright (baixo) e Paul Gilmartin (bateria). Com mudança significante do som, a banda decide mudar de nome; eles mantém a palavra “Danse”, devido ao grande número de seguidores desde a sua primeira encarnação, e no lugar de “Crazy” colocam "Society" , inspirado num poster que continha a frase "o país e a sociedade ocidental" visto num show em uma universidade local.

Próxima parada no estúdio e desta vez no Ric-Rac em Leeds para gravar o single “Clock/Continent” editado em maio daquele ano pelo próprio selo, Society Records. Logo em seguida assinam com o recém inaugurado selo punk Pax Records (cujo dono passou ser o empresário dos rapazes) que o reeditou o 7” em agosto de 1981. Aproveitando o contrato, lançam o 12” "There is no Shame in Death" que continha três faixas gravadas na fase "Danse Crazy"; a faixa título, a instrumental "Dolphins" e a enigmática "These Frayed Edges".

"Freqüentemente nos comparam com Joy Division, não sei exatamente porque. Talvez pelo feeling; em todo caso, a nossa música é otimista." - afirmou Rawlings.

Em outubro de 1981 participam da primeira Peel Session. A gravação aconteceu na Universidade de Sheffield com um set de quatro músicas: "Womans Own", "Were So Happy", "Sanity Career" e "Love As Positive Narcotic". A session passou a ser uma das favoritas de John Peel e foi reprisada três vezes. Este registro também agradou tanto a banda que "Womans Own" e "We're So Happy" viram versões oficiais e acabam virando single. A transmissão projetou a muito bem o que resultou num grande review de um show no The Golf Club publicado na Malody Maker no começo de 1982.

Em fevereiro daquele ano saí a coletânea anti-guerra da Pax chamada Wargasm, a qual a banda participa com a música "Continent" num track list só com bandas punks. Seguem então suas as disputadas apresentação de suporte ao Theatre of Hate (no The Marples) e Killing Joke (seu segundo show em Londres).

Alguns meses depois o EP “Womans Own” é lançado nos formatos 7” e 12”, sendo que o full lenght tinha mais duas faixas: “Belief” e “Continent”. O Danse Society volta para Londres para abrir dois show do UK Decay; um no Marquee e outro no Zig Zag Club.

Outra gravação em estúdio e desta vez é para a demo de “My Heart” e decidem trocar de empresário.

Em outubro de 1982 sai o mini-LP Seduction (Society Records), item básico para qualquer amante do early goth britânico. O disco foi bem recebido; visitou alguns charts independentes e ganhou até uma edição japonesa.

Seu amadurecimento musical chamou a atenção de algumas gravadoras grandes. O estilo do Danse Society poderia ser até básico para quem está acostumado com o som de muitas bandas da época (levemente dançante, teclados hipnóticos e cold wave...), mas tinha algo especial que poderia dar uma nova cara ao techno-pop em voga. A atmosfera aterradora das músicas e o vocal sussurrado de Rawlings reproduzidos fielmente no stage fez com que a resposta por parte do público e da imprensa também fossem bem positiva.

Após o lançamento do single “Somewhere”, em 1983, o Danse Society assinou com a Arista. O primeiro registro pela major foi o single “Wake Up” seguido do full-length Heaven Is Waiting. Com o respaldo da major, vieram as primeiras aparições no Canadá e nos EUA (no Danceteria) ocasionando uma maior popularidade. O imaginário criado pelos temas combinado com as luzes, fumaças e projeções de vídeos no palco fornecem uma boa idéia do clima do álbum Heaven is Waiting que apresenta um som mais coeso e elaborado. Mesmo assim, sua venda não satisfez as expectativas da Arista que passou a exigir um som mais pop. O pedido foi atendido muito a contra gosto, resultando no single “Say It Again”, cujos diversos remixes acabaram entrando nas paradas dance/pop do EUA e Europa. Descontente com nova direção musical, Lyndon sai e um novo tecladista é recrutado: David Whitaker (ex-Music For Pleasure), que rapidamente se adapta dando uma outra dimensão ao estilo do Danse Society.

Os fãs torceram o nariz para a nova fase. Opondo-se ao contrato, eles tentam voltar às raízes gravando em 1986 o single “Hold On (To What You´ve Got)”, que acaba não alcançando as vendas exigidas. Havia planos de lançar um álbum chamado Heaven Again, mas a Arista engavetou com receio de mais um fracasso comercial.

Em 1987, já fora do cast da gravadora, a banda finalizou o LP Looking Through, um álbum com mais pontos baixos do que altos. Em sua contra capa contém o aviso de que aquele seria seu último trabalho. Steve Rawlings decide partir para formar o Society, que durou muito pouco, mas lançou dois singles (“Saturn Girl” e “Love It”), ambos produzidos por Youth (Killing Joke, Brillant, KLF..). Este trabalho revela quem era o culpado pela discórdia que levou a sua saída do Danse Society: o vocalista assumia a proposta mais funk orientada por baterias sintéticas pronta para as pistas de dança. Depois da desastrosa experiência, anos mais tarde ele passou a dedicar-se ao projeto de música eletrônica ambiente chamado Meridian Dream, enquanto o resto da banda tentou segurar a onda (ainda como Danse Society) com o também ex-Music For Pleasure Mark Copson (vocal) gravando demos e fazendo algumas apresentações na Espanha. Após isso, passam a se chamar Johnny In The Clouds, mas logo se separaram.

Em 2001 a Anagram Records relançou em cd o mine-LP Seduction no formato de coletânea, incluindo outros singles em seu track list. É da Anagram também a segunda edição digital com bônus tracks de Heaven is Waiting (a primeira saiu por volta de 1992 pela Arista/Great Expectations). Em 2007 o selo também reeditou Looking Through em cd, com um encarte bacana, porém sua remasterização é algo constrangedor...

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

ao ritmo morto-vivo


No começo dos anos de 1990 o casal de "vampiros" Ady (vocais) e Barom Garces (sintetizadores) formaram o Chateau Royale. Na época, poucos em Londres ainda davam atenção à música gótica e formar uma banda do gênero por lá (seguindo a pauta de alguns estereótipos) era quase como pedir para ser vítimas das mais cruéis piadas. Por esse motivo, talvez, a sua carreira trilhou um caminho muito tímido.
Seus dois primeiros registros foram lançados em k7, entre 1991 e 92. Depois disso, decidem criar seu próprio selo, Christus Release, por onde editaram dois EP's:
- In Morning (1994) - um trabalho ainda amador, com sonoridade meio “demo-tape”, onde as três faixas exploram climas medievais através de melodias sintéticas. Seu encarte apresenta a seguinte descrição: “Aqui estamos te presenteando com nossa fruta proibida – In Morning - dividirá com você as primeiras lágrimas da noite...”.
- Angel (1995) - traz vocais quase sussurrados guiados por um arranjo cold wave. Destaque para a faixa "Christiane F", onde a personagem é tida como morta, ressuscita e tenta lembrar-se quem foi.
Chateau Royale desapareceu sem deixar pistas...Sua música pode ser comparada à iluminação discreta do interior de uma catedral cujas alegorias não despertam somente angústias, mas também um estranho conforto.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

The Passions

A raiz do The Passions foi basicamente uma banda londrina chamada The Delericts que deixou de existir em 1978. Antes disso, seu baixista, Clive Temperly, foi envolvido no mítico grupo protopunk The 101' ers que tinha em sua formação o saudoso Joe Strummer (antes de formar o The Clash).
Em 1979 a banda foi rebatizada para The Passions (após um curto período tocando como Rivers of Passion) e começou a investir num som mais melódico e com elegante toque dark. A partir daí eles nos presentearam até 1983 com um punhado de canções de belezas atemporais, que estão a altura do seu único hit, "I'm in Love with a German Filmstar". Vale a pena conferir seu trabalho e tirar a prova de que Barbara Cogan é a dona de uma das vozes femininas mais belas do rock britânico dos anos 80. Uma ótima trilha para o outono.