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terça-feira, 24 de junho de 2014

Nascimento (Georg Trakl)



Montanhas: negror, neblina e neve.
Vermelha, a caça desce a floresta;
Oh, os olhares de musgo da presa.

Silêncio da mãe; sob pinheiros negros
Abrem-se as mãos dormentes
Quando, vencida, aparece a fria lua.

Oh, o nascimento do Homem. Noturna murmura
A água azul no fundo da rocha;
O anjo decaído olha em suspiros sua imagem,

E pálido corpo desperta em câmara úmida.
Duas luas

Iluminam os olhos da anciã pétrea.
Dor, grito que dá à luz. Com asa negra
A noite toca a têmpora do menino,
Neve que desce de nuvem purpúrea.

(Tradução: Cláudia Cavalcante)

domingo, 17 de junho de 2012

Day (Shadow Project poetry)


A morte provoca. Ela se satisfaz com promessas de gratidão: promessas de paz eterna
A morte interpreta. Seu mistério. A dor, sofrimento e perda. A morte oferece refúgio. Confiança não é o que ela oferece. Morte, ela mente. "Se eu segurar minha vida em minhas mãos, ninguém vai entender..." A vida é uma escolha. A morte é uma escolha. A escolha é sua liberdade. A escolha é inteiramente sua. Não. Não é bem assim... Nem sempre.

(Rozz Williams)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O Passeio (Alfred Lichtenstein - 1913)


Tu, esses quartos
Fixos e as áridas ruas
E o rubro sol das casas,
A infame repugnância de todos
Os livros há muito já folheados –
Não os agüento mais.

Vem, precisamos sair da cidade
Para muito longe.
Vamos deitar-nos em
Suave gramado.
Ameaçadores e tão abandonados,
Contra o absurdamente grande,
Mortalmente azul, brilhante céu,
Levantaremos mãos choradas
E encantados,
Descarnados, apáticos olhos.

Alfred Lichtenstein foi um dos primeiros poetas expressionistas alemães. Ele nasceu 23 de agosto de 1889 em Berlim. Seus poemas foram publicados a partir de 1910 em alguns dos periódicos mais importantes do Expressionismo, como o Der Sturm. Cursou direito com pós-graduação sobre legislação teatral 1913, ano em que foi convocado para servir o exército em Monique. Em 25 de setembro de 1914 morreu no front da Primeira Guerra Mundial, aos 25 anos de idade.

sábado, 29 de outubro de 2011

O Amigo (Lúcio Cardoso)


Pela noite chegou como se já estivesse, tão presente aos sentimentos, tão grave
na certeza e na renúncia de esperar melhor;
talvez, se juntos ainda pudessem caminhar
e uma lição do passado não fosse abdicada.

A calma depois, e nunca o esquecimento,
que é tão difícil quando se é tão pobre
e é preciso acreditar nas menores coisas,
no que foi, no que não será jamais,
porque tudo é diferente, e sonhamos muito,
porque tinha de ser - e se o caminho é este,
caminho de urzes e fogos sem consolo,
e também porque os sonhos não persistem
e somos fracos, com tanta, tanta luz
e um tão vasto tempo para a vida, antes que a morte levante a sua sombra
e tudo cesse no eterno esquecimento

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Apesar da proibição de sua mãe, indo brincar nos túmulos (Stéphane Mallarmé)

(A proibição de sua mãe de descer assim – sua mãe o que lhe disse o que tinha de fazer. Para ele isso se passa numa lembrança de infância, essa noite prescrita se ele se matasse, não poderia mais, adulto, consumar o ato.)

ele beberá de propósito para se reencontrar

Ele pode avançar, porque vai no mistério. (Não desce ele a cavalo sobre o corrimão toda a obscuridade – todo o que ele ignora dos seus, corredores esquecidos desde a infância.). Esse é o caminho inverso da noção da qual não conheceu a ascensão, tendo, adolescente, chegado ao Absoluto: espiral, no alto da qual permanecia como Absoluto, incapaz de mover-se, acedendo e mergulhando dentro da noite pouco a pouco. Ele acredita atravessar os destinos dessa noite memorável: enfim chega onde deveria chegar, e vê o ato que o separa da morte.
Outra travessura.
Ele: eu não posso fazer isso seriamente: mas o mal que sofro é terrível, de viver: no fundo dessa confusão malsã e inconsciente das coisas que o seu absoluto isola ele sente a ausência do eu, que representa existência do Nada em substância, é preciso que eu morra, e como este frasco contém o nada por minha raça adiado até a mim (esse velho calmante que ela não tomou, os ancestrais imemoriais só o tendo guardado no naufrágio), eu não quero conhecer o Nada, antes de ter devolvido aos meus este porquê eles me engendraram – o ato absurdo que atesta a inanidade de sua loucura. (O inacabamento que seguiria e só ele mancha momentaneamente meu Absoluto.)
Isso desde que eles abordaram este castelo durante um naufrágio sem dúvida – outro naufrágio de algum grandioso projeto.
Não assovieis porque falei da inanidade de vossa loucura! silêncio, nada dessa demência que quereis mostrar propositalmente. Pois bem! se voz é tão fácil retornar ao infinito para procurar o tempo – e vir a ser – será que as portar estão fechada?
Só eu – só eu – vou conhecer o nada. Vós, volvereis ao vosso amálgama.