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sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Christian Death - pecado e sacrifício - part II


Não haverá história mais difícil de contar do que a do Christian Death. Existem muitas incertezas com relação a alguns fatos que sempre foram apresentados como verídicos, pelo meio existem histórias cruzadas de amores, traições e ódios. O Christian Death chegou a ser duas bandas distintas ao mesmo tempo em continentes diferentes e a editar discos sob o mesmo nome, tal deve-se a duas pessoas: Rozz Williams e Valor Kand.
Esta é a minha versão bem resumida dos fatos. Como admirador sem idolatrar nenhum dos líderes, nem menosprezar o outro (claro que, muitas vezes, Valor nos tira boas risadas), ambos deram a sua contribuição para o projeto, cada qual à sua maneira e dentro das suas limitações.
Fundado em 1979, por Rozz Williams (nascido Roger Allan Painter – criado num berço batista), o Christian Death assumiu desde logo um papel de liderança e inovação na cena alternativa da costa oeste americana. O punk estava, como na Europa, em pleno declínio. O hardcore veio para dar mais aquela acentuada ao discurso. Era possível colocar o dedo na ferida com mais pressão levantando o tom contra as instituições conservadoras. A banda ao invés de dar mais peso ao som decidiu seguir um caminho mais mais experimental, sombrio e sua imagem andrógina era uma afronta até aos entusiastas mais radicais (era muito comum Rozz ser agredido durante os shows por punks, skinheads etc). Que eu me lembre, não surgiu depois deles nenhum nome na chamada "música gótica" que tenha tanta força e misticismo, fato que fez legado nunca parar de crescer.
Em 1982 foi editado o seu primeiro álbum, “Only Theatre of Pain”, uma obra prima do gênero ainda hoje classificado como um dos melhores documentos do subgênero batizado pelo próprio Rozz de “deathrock”. Por esta altura ele contava com os parceiros Rikk Agnew (guitarra, no lugar de John “Jay” Albert, vindo do lendário Adolecensts), George Balanger (bateria) e James McGeartly (baixo). Além destes, disco contou com os backing vocals de Ron Athey e Eva O., também protagonistas dos acontecimentos mais bizarros das sessões movidas a speedy e outros aditivos. 
Um registro sublime de Rozz, com temas como "Cavity - First Communion", "Romeo's Distress" e "Spiritual Cramp" que levaram rapidamente o Christian Death ao sucesso e desde o logo se firmaram como "farol de almas danadas". Um misto de satanismo (... Satan is by far the kindest guest...) e romantismo, algo de muito belo e poderoso, mas ao mesmo tempo infame e surrealista, “Only Theatre of Pain” é um disco que talvez classificasse nos 10 melhores discos alternativos da década de 1980. Mas, devido ao uso abusivo de drogas, começam as confusões que iriam acompanhar para sempre a banda e, sobretudo o seu líder. Rikk e Balanger são os primeiros a debandar, sendo substituídos por Eva O. (guitarra) e Rod China (bateria). 
O grupo finalmente extinguiu-se com a saída de todos os músicos que acompanhavam Rozz e este acaba por aceitar o convite de um editor francês (Yan Farcy, dono da L'Invitation Au Suicide,) mudando-se para Paris na companhia de Valor Kand (guitarra/vocais), Gitane Demone (teclados/vocais) e David Glass (bateria), todos originários de uma banda chamada Pompeii 99 (que estava prevista acompanhar o Christian Death na sua excursão pela Europa quando subitamente se desfez). A baixista Constance Smith é escalada para completar o line-up.
Em 1984, e já sobre a mágica influência de Paris, sai “Catastrophe Ballet” (gravado no País de Gales, no lendário Rockfield Studio onde já tinham passado Bauhaus, The Cult etc). A banda muda ligeiramente de rumo; abandona a sonoridade “punk” de “Only Theatre of Pain” (que tanto agrada) deixando também de lado um pouco do seu ódio à religião e adota um estilo mais melódico, mesmo frágil comparado com a agressividade do seu antecessor. O resultado é, no entanto, igualmente brilhante. Seguiu-se uma breve turnê pela Europa para a promoção do disco. Contance abandona o barco dias depois do inicio da excursão, sendo substituída pelo ilustre Dave Roberts (Sex Gang Children), que conheceram no club Batcave, único local onde a banda tocou em sua rápida passagem por Londres.
No ano seguinte e de volta a Los Angeles, o Christian Death edita “Ashes”, um álbum que ficaria como legado mais expressivo da união entre Rozz e Valor (e onde aparece pela primeira vez Sevan Kand, filho de Valor e Gitane, que contribuiu com um choro numa das faixas). Curiosamente a banda apenas fez uma aparição após o lançamento; uma performance chamada The Path Of Sorrrows (contava com o show da banda, happening e um banquete). Rozz Williams decide então abandonar o projeto tento ficado claro (ao que se diz, embora eu tenha algumas dúvidas) que Valor e Gitane seguiriam para Europa previsto para prosseguir com a divulgação do trabalho, como condição eles mudariam o nome da banda para For Sin And Sacrifice Must We Die A Christian Death e apenas usariam material no qual tinham trabalhado.
Ao contrário do acordo, Valor decidiu apodera-se do projeto por completo. Chegou à Europa e não só não mudou o nome da banda como inclusive tocavam temas de “Only Theatre of Pain” nos shows, um álbum todo feito por Rozz que nada tinha a ver com ele uma vez quem nem sequer se conheciam na altura. Alguns fãs ficaram confusos com a situação e dividiram-se. De um lado os seguidores de Rozz acusavam Valor de traição chegando mesmo a por em causa as suas qualidade de músico e duvidando de sua devoção à “causa gótica” (ele sempre esteve mais inclinado ao heavy metal) e para muitos o Christian Death morrera ali. Por outro lado, ouve aqueles que nem sequer perceberam o que realmente havia acontecido, ou mesmo admitiram ter sido um ganho para o projeto a passagem de Valor para dono e senhor do mesmo. Julgo que ambos os casos terão suas razões (há sempre duas verdades, pelo menos).
Não terá sido o fim da banda. Nem Valor será um completo traidor (o acordo de usar o nome ficaria acertado por contrato entre em ele, Rozz e Gitane), mas também não chegará à generalidade de Rozz. Visto por qualquer fã mais recente toda a situação não poderá deixar de parecer no mínimo caricata; a banda nasce, lança um álbum e muda todos os músicos à exceção do seu líder que mais tarde acaba por ser quase “expulso” por um guitarrista e sua esposa que a ele se junta para preencher a saída dos músicos iniciais. Bizarro, no mínimo. 
Apesar disso, o primeiro disco saído da nova realidade do Christian Death, “The Wind Kissed Pictures” (EP), seria lançado na Itália sob o nome de The Sin and Sacrifice of Christian Death, mas logo depois “Atrocities” (1986) já seria novamente editado sob o nome de Christian Death. Neste disco, Valor conta com a contribuição do guitarrista Barry “Bari-Bari” Galvin (futuro Mephisto Walz), responsável por boa parte da base harmônica do disco. Rozz, entretanto, seguia seus projetos paralelos, sobretudo o Premature Ejaculation (reformulado com Chuck Collision), ligado mais experimentações, colagens sonoras e perfomance, bem como o Heltir e Shadow Project que eram alvo de maior atenção de sua parte.
Por seu lado, Valor continuava a perpetuar a infâmia do Christian Death através de um novo registro – “The Scripiture (A Translation of World Belief’s by Valor)” (1987), onde trás sua versão da bíblia e outros textos sagrados. Não deixa de ser um bom disco, que trás as primeiras incursões “metaleiras mezzo pop” do músico que investe em refrões fáceis como em “Sick of Love”. “1983”, cantada por Gitane, é uma das mais belas covers de Jimi Hendrix feitas até hoje. 
Ficaria clara a intenção da banda em alcançar um publico maior que não se restringisse ao que definira como Christian Death Society (grupo de fãs e pessoas que compartilhavam dos mesmos ideais, um deles absurdos como a profecia de Nostradamus que previa o fim do mundo em 1999 e que os obrigaria a um êxodo para o Pólo Norte). O clipe do single “Church of No Return” chega a ser exibido em alguns programas de TV. De uma pequena banda de garagem de Pomona, o nome Christian Death ficaria associada a um punhado de referencias e imagens constrangedoras, tanto no seu apelo vulgar (blasfêmias com apelos sexuais desnecessárias) quanto ao gosto pra lá de duvidoso do Sr. Valor Kand que causa quase sempre ondas fortes de vergonha alheia com seu estilo Cigano/Luis Caldas. As outras investidas em clipes é um verdadeiro desfile de mau gosto e amadorismo.
Por fim em 1988 seria editado “Sex & Drugs & Jesus Christ”, o ultimo disco que contaria com a participação de Gitane Demone e que seria o mais polêmico (e com maior êxito comercial) de todos os trabalhos até então apresentados. Desde logo a capa, a meu ver a melhor produzida por esta encarnação, foi imediatamente censurada por ser demasiada ofensiva. Depois, toda a estrutura musical do disco mereceu forte criticas por parte de alguns “profissionais” da música, acusando Valor de um primarismo aberrante e Gitane de uma colocação de voz no mínimo irrisória. Embora eu não concorde com toda a crítica (há sim uma produção meio tosca, mas não sei afirmar se foi proposital), julgo mesmo que se trata de um dos melhores trabalhos do Christian Death (Valor).
Estávamos, pois, em 1990. Valor depois do lançamento de “Sex & Drugs & Jesus Christ” fez uma pequena pausa. A italiana Contempo lança”Insanus, Ultio, Proditio, Misericordiaque”, coletânea de outtakes, entre eles “Infans Vexatio”, uma versão retrabalhada de “Lullaby" (musica de 1984), cantada por Rozz. Daí, surgiram as especulações de uma reunião. Na verdade apenas a sua base instrumental fora regravada e os vocais originais foram mantidos com alguns efeitos; é uma peça meio “bluesy”, bem diferente da pegada do restante do repertorio que compõe o álbum “Catastrophe Ballet”.
Adverso a qualquer reconciliação com Valor, Rozz, por sua vez, cedera ao convite de um selo para reformular o Christian Death. Confuso? Ele junta-se de novo com Rikk Agnew (guitarra), Eva O (backing vocal), Casey (baixo) e Cujo (bateria) para uma serie de apresentações nos buracos mais podres dos EUA e Canadá. Essa digressão terminaria no ano seguinte seria imortalizada no cd “Sleepless Night: Live in 1990”, seguindo-se de “The Iron Mask” (1992), álbum que trás releituras de músicas antigas, inusitadamente lançado também em LP (lá fora, até então só tinham versões em cd) no Brasil pelo pequeno selo Bullet Records. Rozz acaba declarando que este disco foi um erro por não gostar da sua sonoridade, tendo decidido que os seguintes registros iriam pegar exatamente onde tinha deixado a banda alguns anos antes, por altura de”Ashes”. O contrato com a Cleopatra fora firmado um pouco antes deste lançamento com o solo “Every King A Bastard Son” – um disco perturbador de spoken words. 
Assim, em 1993 seria editado “The Path Of Sorrows”, descrito por Rozz como sendo seu disco favorito do Christian Death. E o mesmo tempo veria luz também “The Rage Of Angels” que, embora tenha sido fruto das mesmas sessões de estúdio e sobras de material do Shadow Project, soaria diferente do seu irmão gêmeo, sendo mais agressivo. Rozz fez menção de afirmar que era o mais pesado documento desde “Only Theatre Of Pain”. Depois destes trabalhos, Rozz prosseguiria com os seus projetos paralelos. 
Por seu lado, Valor tinha feito algo parecido quatro anos antes, lançando simultaneamente os álbuns “All The Love” e “All The Hate”, que contavam com a participação do guitarrista Nick The Bastard e do seu filho Savan Kand (com oito anos na época), presente na faixa “I Hate You”. 
Ainda em 1993, Rozz, entretanto, faria um novo concerto alguns membros da formação original que ficaria registrado no álbum “Iconologia” (Triple X) e no VHS “Live” (Cleopatra). Este concerto é marcado por várias controvérsias como a prisão de Rozz no dia anterior por posse de heroína e a briga com Rikk Agnew que abandona a banda antes do fim do show, sendo substituído pelo seu irmão Frank Agnew, que toca o restante do set atrás do palco. 
Em 1994 segue o lançamento do seu EP “Shrine”, do projeto Daucus Karota – um híbrido de proto-punk e glam rock. Neste mesmo ano, através de Nico B (diretor do curta Pig) Rozz voltaria a reencontrar Gitane Demone. Desta reunião nasceria o álbum “Dream Home Heartache”, com seu estilo “cabaret decadence”. Paralelamente Valor reformaria seu Christian Death e lançaria depois um hiato o álbum “Sexy Death God”, seguido do ao vivo duplo “Amen”, discos já contavam com a parceria da baixista Maitri.
Em 1997 saiu o ultimo álbum de estúdio de Rozz Williams, o semi-acústico “From The Heart”, novamente com sua companheira de sempre Eva O, no Shadow Project, desta vez sem a colaboração de Paris. Muito pobre e doente Rozz cometeria suicídio no dia primeiro de abril de 1998, em seu apartamento em West Hollywood. 
Deste modo Valor torna-se o dono absoluto e legal do nome Christian Death, para insatisfação de uns e agrado dos mais devotos. Num jogo de erros e acertos, fica claro que os equívocos, talvez propositais, mantém vivo o que chamo de idéia, e não propriamente uma banda. Embora seja muito distante e destina do grupo original, não há outra maneira de classificá-la a não ser por este nome. Faz parte da saga...

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Programa Cadavres Exquis# finis


Há uns 15 dias tive um problema sério no meu HD externo, o que me custou uma boa carga emocional e material ($$). Ocorreu o comprometimento de muitos arquivos. Dentre os perdidos, estavam TODAS as músicas que fariam parte das próximas edições dos Programas Cadavres Exquis (Rádio Enter The Shadows), bem como os sets e arquivos antigos (mais de 2000 músicas) avulsos que eu disporia no Mixcloud muito em breve. Era um trabalho que dedicava semanalmente na pesquisa das musicas, garimpo de raridades, melhoria do áudio, remasterização etc. Por este inconveniente (e frustração), decidi extinguir este segmento do projeto. Pode ser que ele ressurja um dia em outros formatos e fragmentos, como em sets online que serão postados esporadicamente e comunicados por aqui. Coisas de trabalho eu consegui recuperar (thanks God!), o que é de grande valia e que servirá na continuidade ao conceito em outros formatos como uma nova marca de camisetas, material impresso, site que traduzam este universo imagéticamente. Houve uma razão (supernatural??) para que isso tenha acontecido ou, pra ser bem piegas; “há males que vem para o bem”. Ha! 
To be continued...
Thanks For All Your Support (demons, angels, good spirits & envious)

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Cadavres Exquis #56


  1. Lucy Show - Ephemeral (This Is No Heaven)
  2. D'as Hirth - Ancora Qui
  3. Romanticne Boje - Bez Tebe
  4. Siedlerheim - Berliner Luft
  5. Frische Farbe - Lass Mich, Ich Will Dich
  6. Suspects - Bombs
  7. Circuit 7 - Video Boys
  8. Bal Paré - Helden
  9. System Liliput - Harpa
  10. Luc Van Acker & Didi De Paris - Onze Vader
  11. Robert Rental - On
  12. Chapter 24 - Little Jack´s Gun
  13. The Visitor - Evil Is A Vicious Lover
  14. Din A Testbild - Logischer Gefrierpunkt
  15. Frigidaire Tango - Recall
  16. The Art Of Waiting - In The Hidey Hole
  17. Nejet' Nok.. - Schwerkraft
  18. Spifere Boys - Funtime
  19. Asbestos Rockpyle - Police State
  20. C - In Line

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Cadavres Exquis #55


  1. Direct Attack - Excessive Acceptance
  2. Cirkus Modern - Besettels
  3. Day After - Ticking Away
  4. Pale - The Livid Triptych
  5. Seltsame Zutande - Fussball
  6. D'Arc - Analysis
  7. Deafear - Fear Of Tears
  8. Local Passion - Nouvelle Histoire
  9. Impuls - U-Bahn Impressionen
  10. II''III'' - 20110704
  11. Coïtus Int. - Tourist Ghetto
  12. Futility - Zero Sum (demo)
  13. Necropolis of Love - Done and Gone
  14. Etromix - 1945
  15. The Shadocks - Amerika
  16. Darius And The Magnets - Stonesteps
  17. Sati De Crem - Ellos
  18. The Exetix - Holy Heaven
  19. Blue Peter - Radio Silence
  20. Ana Curra - Lagrimas

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Cadavres Exquis #54


  1. David Harrow - Without Sin
  2. Burning Skies Of Elysium - Far From The Crowd
  3. Formes Nouvelle - Greece On The Morning
  4. Inner Landscape - What's Happening
  5. Malaise Rouge - L'Histoire Continue
  6. Rythmo Populi - Necropolis
  7. Baby Buddha - Then I Sleep
  8. Svatsox - Crossbones Red Vebanon
  9. Echoes Of Silence - Running
  10. Siflèt - Rodger
  11. Windton Tong - Theoretical China
  12. Part 1 - Black Mass
  13. The Contractions - Vampyre's Song
  14. Red Rain Coat - Small Town
  15. Amour Puzzle - Mec Vague
  16. Velvet Monkey - You're Not There
  17. Persona Non Grata - Lacerados Hombres
  18. Popular Mechanix - Mosquito Men
  19. The Senses Bureau - Love And Industry
  20. Private Lives - Lead Two Lives

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Cadavres Exquis #27 (last set of 2014)


Segue o último set do programa Cadavres Exquis de 2014. Sei que muitos de estão atribulados nesta época com as derradeiras atividades de final de ano e não poderão escutar, mas nada como uma emersão “post punk” para aliviar/escapar um pouco desta loucura absorvida sem muito questionamento pelo senso comum. É hoje as 20hs na Rádio Enter The Shadows.


  1. Blue In Heaven - I Just Wanna
  2. Jesus Couldn't Drum - A Minutes Silence
  3. The Bonaparte's - Voodoo Revenge
  4. Gentleman In War - White Widow
  5. All About Eve - Suppertime
  6. Picture Book - Success
  7. The N.U.E - Broken Window
  8. Into A Circle - Evergreen
  9. Eleven Pond - Watching Trees
  10. Balaam And The Angel - The Wave
  11. Quite Simples - Unknown Stranger
  12. Big Self - Don't Turn Around
  13. Toyah - Ieya
  14. The Church - As You Will
  15. In Search Of Beauty - Love Is Colder Than Dead
  16. Style Sindrome - Waving In The Dar
  17. The Lords Of The New Church - Live For Today
  18. A Drop In The Gray - All The Same
  19. Bad Baby - Salvation Army
  20. Closed Session - It's Time To Go 

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Cadavres Exquis #16


Hoje, às 21hs, na Rádio Enter The Shadows.

1. The Horrors - Shadazz
2. 1000 Mexicans - Diving For Pearls
3. Seppuku - Assignment France
4. Vaniish - Memory Work
5. Feud - Witchtrial
6. Fall Of Saigon - Blue Eyes
7. Jeunesse D'Ivoire - A Gift Of Tears
8. Made In Poland - Ucieczka
9. Love and Rockets - Life In Laralay
10. Esplendor Geométric - Moscú Está Helado
11. Vox Rei - Le Ombre Dei Soldati
12. Replicantes - Administradores Del Ocio
13. Xeno & Staccato - Jardin D'été
14. The Bolshoi - Sliding Seagulls
15. Joolz - Denise
16. Rosa Crux - Aglon 
17. Gods Gift - Discipline
18. Moderne - Switch On Bach
19. Carmody - Most Of You
20. Feeding Fingers - This Isn't Going to Hurt

sábado, 15 de março de 2014

Morte e Delineador


 
Esses depoimentos foram extraídos do site Music Fan Club. Não sei até que ponto estes relatos são verdadeiros. Eu considero alguns bem duvidosos a ponto de ter quase certeza que houve uma grande dose tendenciosa do editor original que estava bem envolvido com hype/sensacionalismo difundido pela gravadora Cleopatra no início dos anos de 1990 que é subliminarmente (para não falar escaradamente) citada nos tópicos "Gótico Americano" e "Ressureição". De qualquer maneira, recoloco aqui uma tradução em português feita pelo Marcelo Garcia (RIP) e postada originalmente no fórum do Sépia Zine em 1998/99. 

O GÓTICO ERA O FUNERAL DE GALA DO PUNK ROCK, E A CERIMÔNIA NUNCA TEVE FIM...

Os atores: Peter Murphy (Bauhaus), Daniel Ash (Love & Rockets), David Dorrell (empresário do Bush), Jon Savage (autor de England'sDreaming), Ian Astbury (The Cult), Marc Almond (Soft Cell), Robert Smith (The Cure), Brian McNelis (Gerente da gravadora Cleopatra), Fred H. Berger (editor do Propaganda), Rozz Williams (Christian Death), Siouxsie Sioux, Michael Aston (ex-Gene Loves Jezebel).

THE BATCAVE

Astbury: Todas as bandas iam juntas ao Batcave, em Londres, por voltade 1981 e começo de 82. O lugar era dirigido por Ollie Wisdom, que tocava no Spacimen. O clube era bem misturado, não era apenas um club dark. O Specimen era a banda da casa, e eles eram bastante sombrios, mas eles eram tão alemães quanto a Família Addams. Eram uma versão necrófila de David Bowie.

Almond: O Batcave mudou de lugar algumas vezes, mas o melhor de todos foi num lugar chamado Gossips, no Soho. Tinha um pequeno teatro, onde se fazia striptease, que era usado para se assistir a filmes góticos e para shows. Você podia ver pessoas como Robert Smith no bar.

Smith: Nós costumávamos ir ao Batcave por que entrávamos de graça e o lugar tinha uma boa atmosfera e as pessoas eram realmente legais. Mas a música era terrível! Toda aquele romantismo em torno da morte! Qualquer um que já tenha experimentado a sensação de estar à beira da morte pode lhe dizer que não existe nada de romântico nisso.

Dorrell: Um dos pontos altos era ir ao Batcave quando estava no Leicester Square. Tinha um jipe do exército estacionado ao lado do bar. Ao mesmo tempo, um cara invadiu o palácio e a rainha acordou tendo ao pé de sua cama aquele irlandês meio demente, meio bêbado. Uma semana depois de ter saído da cadeia, ele tocou com o Red Lipstick no Batcave.

O VISUAL

Ash: Uns seis meses após o início do Bauhaus, nós começamos a ter um público que se vestia de preto e garotos que usavam as mesmas roupas que a gente. Nós costumávamos chamá-los de demônios andróginos do espaço.

Astbury: Muita gente faz piada, mas os garotos que se vestem assim levam tudo muito a sério. Para eles é uma coisa do outro mundo.

McNelis: Basicamente, desde que você se vista de preto, você é considerado gótico. Savage: De vez em quando, o gótico parece ser uma boa válvula de escape para as ansiedades da adolescência. Você pode se disfarçar, ser mórbido e obsessivo com a morte e chocar os seus pais e amigos. Se bem que agora você encontra um visual gótico em tantos filmes, que já não parece mais algo tão alienígena assim.

Berger: Não esqueçam The Rocky Horror Picture Show, Fome de Viver e até mesmo Ed Wood. Tim Burton é realmente considerado o cineasta gótico número um. E muitos gostam do Arquivo X.

Williams: Eu acho que o que há de romântico no gótico é expor o seu coração, dizendo 'É assim que eu me sinto por dentro'.

Smith: Acho que tem muito a ver com um certo sentimento de alienação que os góticos têm. Eles se encontram, se vestem de uma maneira específica e parece haver uma mentalidade de tribo. Supõe-se que você esteja morto aos 25 anos.

Astbury: Algumas bandas, como Specimen e Alien Sex Fiend, tinham o visual de um vampiro futurista. Vinha mais do glam do que propriamente do túmulo. Era apenas uma reação contra os new romantics, por que eles eram metidos e superficiais. Havia também o flerte com a decadência pré-nazista da Berlin do final da década de 20 que era algo bem andrógino.

Berger: A estética, em grande parte, foi estabelecida pelo Bauhaus. Os caras usavam maquiagem e eram bonitos.

Astbury: O modelo para os homens era Sid Vicious: cabelos negros espetados e jaqueta de couro preta. Para as mulheres, definitivamente, era Siouxsie com suas botas pretas de cano longo, a pintura que deixava o rosto pálido e a maquiagem escura, e também o grande cabelo negro espetado.

Siouxsie: Nunca usei maquiagem que deixasse o meu rosto pálido; eu não tinha esse visual den palhacinho. Na verdade, é muito engraçado - em muitos dos nossos shows eu costumava olhar para a platéia e via um monte de pequenos Robert.

Smith: Os Banshees frequentemente expressavam o seu desgosto com o meu visual no Cure - nós éramos uma banda de capa de chuva, mas nunca fomos góticos. Muitas das minhas fotos usando um rosário ou um crucifixo pertencem exclusivamente ao período de 18 meses que eu passei tocando nos Banshees, pois determinaram que eu deveria usar o uniforme deles, o que eu tinha que aceitar por que aquele não era o meu grupo. Mas eu gostei de tocar com eles e sempre me dei bem com o Severin.

Siouxsie: Podem creditar tudo isso ao Robert e ao Severin. É tudo culpa deles. Os dois pegavam minhas roupas e os meus colares. Havia muitas noites estranhas, muita troca de roupas. Exceto pelo fato de que eles não tinham nada que eu tivesse vontade de usar.

GÓTICO AMERICANO

Berger: Noventa por cento das bandas que criaram e sustentaram esse gênero de música eram bandas como Bauhaus, Sisters Of Mercy, Dead Can Dance, Fields Of The Nephlim e Siouxsie And The Banshees. Na América, eram poucas as bandas, como o Christian Death, alguns desses grupos, como o London After Midnight, ainda estão em atividade.

Astbury: Para os garotos da Inglaterra, o gótico era sinônimo de niilismo e vazio. A Grã-Bretanha de Margaret Thatcher era horrível e opressiva. O desemprego era grande e tudo parecia um pouco como 1984 de Orwell. Era quase como se a juventude estivesse de luto. Acho que essa era a razão pela qual tanta gente usava preto. Toda aquela coisa de vampirismo era mais na América.

Ash: A única diferença entre os góticos ingleses e americanos é o sotaque.

Siouxsie: Talvez seja essa a diferença. Não acho que exista uma cena gótica inglesa. Na América, as pessoas tendem a levar tudo muito a sério e elas fazem bem o dever de casa. Parece que tem um significado muito maior para o público de lá.

Williams: Confesso que não me lembro bem de como tudo começou nos Estados Unidos, ou em Los Angeles especificamente, mas era chamado de death rock no início, e evoluiu a partir da cena punk de Los Angeles, por volta de 79, 80. Era de onde vinham bandas como 45 Grave, Castration Squad... Também foi de onde surgiu o Christian Death.

Astbury: Quando os Cramps surgiram, eles pareciam uma banda de psychobilly dos anos 60, mas eles tinham um visual muito sombrio. O baixista deles na época, Bryan Gregory, parecia um papa defunto. Depois o gótico americano tornou-se uma espécie de Plan 9 From Outer Space. Um outro aspecto notável no gótico americano é a confusão que eles fazem entre bruxaria e satanismo.

Siouxsie: Isso mesmo. Não é todo dia que você pega um certo tipo de música e descobre várias religiões antigas e ocultismo envolvidos nisso. Acho que isso tem muito a ver com o fato de que a simbologia religiosa é algo muito atraente. Existe uma analogia. Se um Cristo moderno fosse morto numa cadeira elétrica, será que teríamos legiões de pessoas usando pequenas cadeiras elétricas em volta do pescoço?

Williams: Em Los Angeles, eu praticava rituais e lia livros de ocultismo, assassinatos e morte. Eu passei por tudo, de ser um satanista a - não diria ir à Igreja todos os domingos, mas a ficar mais perto de Deus. Creio que agora encontrei um ponto de equilíbrio. Agora as pessoas dizem "Mas eu pensei que você acreditasse em Deus". Eu sou mais como "Bem, eu acredito, mas isso não significa que eu não posso mais assistir ao meu vídeo de Charles Manson".

SEXO E DROGAS

Williams: A sexualidade era um pouco ambígua, mas os gays não chegavam propriamente a sair do armário. Eu era gay, mas não costumava falar muito sobre isso a não ser que conhecesse muito bem a pessoa e soubesse como se sentia a esse respeito. Havia uma coisa meio machista a princípio, mas aos poucos as pessoas foram ficando mais abertas.

Almond: No Batcave davam mais importância ao visual. As pessoas achavam legal a música e serem misteriosas e sombrias. Se você era gay, você podia se divertir sem que ninguém lhe importunasse.

Aston: Quando chegamos a Los Angeles, na nossa primeira turnê americana, nós conhecemos o Christian Death. Um deles virou pra mim e disse, "Ok, com qual de nós você quer dormir, garoto ou garota?"

Williams: Hum... Eu me lembro de ter visto o Gene Loves Jezebel no Roxy, mas não me lembro de ter conhecido nenhum deles pessoalmente, então deve ter sido outra pessoa, ele pode ter confundido a gente com outra banda, ou... talvez eu estivesse bêbado demais para lembrar direito.

Almond: Em Londres, havia muita bebida e também muito speed. A uma certa altura, a música tinha um lado psicodélico, que certamente veio à tona nos trabalhos do Cure e dos Banshees. Eles faziam coisas como Dear Prudence por exemplo, que parecia ter muita influência do ácido. Acho que a cena gótica do norte da Inglaterra teve muita inflência do snakebite black - essa bebida tinha um pouco de speed misturado nela.

Williams: Em Los Angeles, tudo era permitido. Havia alguns que realmente se amarravam em speed, alguns que já estavam na heroína e outros que simplesmente bebiam pra caramba e também havia as pílulas - muito Valium.

AS NEGAÇÕES

Williams: Quando eu comecei com o Christian Death, nós chámavamos a nossa músicas de death rock. Então, em algum momento, eu comecei a ouvir essa palavra, 'gótico'. Tive uma sensação do tipo, uau, sou parte de algo novo que está acontecendo. Mas agora, já se passaram tantos anos. Muitos garotos que encontro hoje em dia, se eu menciono Black Sabbath ou Alice Cooper, eles perguntam "Quem?".

Almond: Eu não era exatamente gótico, mas sou sempre citado por que existe uma ponta de gótico/romantismo na minha música. Algo que captura o lado sombrio e melancólico da natureza humana. Alguns dos meus artistas favoritos foram rotulados de góticos, o que abrange desde Roy Orbison até nomes mais óbvios como Velvet Underground, Nico e Nine Inch Nails.

Ash: Havia muito mais no Bauhaus do que batom e sombra. E existe uma grande ironia nisso tudo: se você observar a arte do movimento Bauhaus original, vai ver que é o oposto do gótico. Era extremamente funcional e simples, o contrário do gótico. Então o nome da banda era completamente diferente do rótulo que acabou ganhando.

Astbury: Bandas como o Bauhaus sempre pensaram nelas mesmas como se fossem uma escola de arte dadaísta, em oposição a toda aquela coisa de filme de horror B.

Smith: Tinha uma banda gótica que abriu pra gente na turnê inglesa de 81, o Danse Society. Acho que eles sinceramente acreditavam que eram os UNDEAD. Eu achava aquilo encantador, era como um teatro. As pessoas podem dizer que o Cure era gótico, mas estão mentindo. Você não pode estilizar a história. O raciocínio é: se as fotos mostram o Cure usando maquiagem e toda a indumentária dos góticos então nós éramos uma banda gótica. O fato é que isso nunca aconteceu com o Cure. Não existem essas fotos. É essa razão pela qual posso provar que nós não éramos góticos. Isso não vai acabar com a discussão, ela vai prosseguir, mas eu aqui dentro eu tenho a certeza do que nós fomos e do que nós não fomos, que é tudo que importa para mim.

Siouxsie: Acho que Robert está tendo essa reação por que ele é o gótico original. Ele inventou isso. O único motivo pelo qual temos pessoas com visual de palhaço é por que quando o Robert estava nos Banshees ele não conseguia colocar a maquiagem direito. É tudo por causa do batom que ele passava sem olhar no espelho. Eu bem que tentei avisar, mas ele escutava?

Smith: Nããããão. Eu era o único gótico de verdade nos Banshees.

Siouxsie: Oh, claro.

Smith: Quando você consegue fazer a Siouxsie negar que os Banshees eram góticos, então você realmente tem uma estória. Siouxsie: Nós não somos!!! Gótico não existe!

O FIM
 
Astbury: Quando acabou? Provavelmente em 84, final de 85. Aí começa o reinado das guitar bands, e tudo aquilo que havia ficou redundante. A palavra gótico agora é uma espécie de piada, algo kitsch. O engraçado é que têm muitas pessoas que você nem imagina que se ligavam nesse tipo de som, mas eu conversei com Courtney Love e ela disse que foi a um show do Cult no Camden Palace. Você nunca sabe quanta influência realmente teve. Aí estão as raízes do grunge: Courtney Love em Londres em 1984.

Dorrell: Gótico era apenas boa diversão. As pessoas envolvidas eram genuinamente criativas e bem intencionadas. Era o punk usando máscara e com as entranhas abertas. Mas o gótico não deixou muito além de um cadáver para ser exumado.

Astbury: Num sentido metafórico, o gótico foi o funeral do punk rock. Então a maioria se dispersou, formou uma família ou se envolveu com algo diferente. E isso foi tudo. Os Sisters Of Mercy continuaram, mantendo a chama acesa. Depois veio o Mission, que era uma espécie de ressaca gótica. Para aqueles que ainda queriam, lá estava. Os Banshees também continuaram. Existem ainda alguns lugares onde as pessoas podem usar aquele visual e não se sentirem oprimidas. São lugares aonde as pessoas podem ir para sonhar. E o que de errado em sonhar?

A RESSUREIÇÃO

Almond: Depois que o movimento gótico esfriou, ele conseguiu sobreviver por que os clubes continuaram a tocar música gótica e industrial. Há clubes como o Torture Garden, em Londres, que são puro fetiche, mas também são muito góticos.

Berger: O gótico morreu no Reino Unido no início da década de 90. Ele percorre ciclos nos Estados Unidos - ele morre e renasce várias vezes. A essa altura, ele já deve ter morrido umas cinco vezes. Sendo ligado a uma subcultura de vampirismo, a idéia de voltar do túmulo parece muito apropriada.

McNelis: O gótico está bem vivo em toda parte. Existem lugares que abrigam uma cena mais forte - São Francisco, Los Angeles, Nova York - mas está em toda parte. Agora mesmo estamos experimentando um renascimento com a chegada de bandas como Nine Inch Nails e Marilyn Manson, que usam elementos góticos. Uma vez que as pessoas se interessem, elas tendem a gostar e se aprofundar no assunto. Exite muita coisa nova acontecendo, como Rosetta Stone, The Prophetess e Switchblade Symphony, que são os maiores nomes no momento.

Ash: Por que o gótico ainda é popular? Simplesmente por que quando uma pessoa se sente deslocada, ela geralmente procura algo diferente. As pessoas que gostam de Nine Inch Nail, não estão em sintonia com o mainstream. É música com substância em oposição aos Lionel Ritchies da vida.

Savage: O crossover entre o gótico e o industrial parece ter alguma fascinação por assassinato em massa, o que é uma bobagem. Em termos de cultura pop, isso é antigo. É só olhar o Marilyn Manson. Muita gente se amarrava nisso há trinta anos - alô? O único problema com essa tática de chocar é que você tem que superar o que veio antes. Eu realmente não gostaria de me envolver com Charles Manson. O que há de divertido nisso? Um clássico de Alice Cooper dá de dez em Marilyn Manson.

McNellis: Alice Cooper? Não... Era uma coisa mais para o lado do Kiss do que para o gótico. Dizem que Marilyn Manson é gótico, mas os góticos não pensam assim. Gótico é uma forma singular de rebelião: eles não querem dar mosh; são solitários, que gostam de livros e se vestem de maneira estranha para aborrecer os pais.

Murphy: A única banda que ouvi ultimamente que evoca esse poder único é o Portishead. Outros grupos que me impressionaram foram o Blue Wolves e o Goya Dress, os dois são britânicos. Eu também acho que o U2 tornou-se um bocado gótico nos últimos tempos. O Bowie tentou isso nos anos 90, mas ele era verdadeiramente gótico em 1979 com The Men Who Sold The World ou até mesmo Hunky Dory. Leonard Cohen também.

Smith: É uma cena persistente e imutável. Não importa o que esteja acontecendo em volta, está sempre lá. Eu consigo entender a sedução que existe. O visual é algo bastante romântico e existem muitos reflexos poéticos. Os góticos não são diferentes de nenhuma outra tribo. Eles apenas têm mais apelo visual.

Almond: Eu acho que o gótico está voltando - você pode sentir no ar! Eu vi um desfile de moda de Alexander McQueen em Londres que foi realizado numa igreja, e muitas das roupas tinham um tom muito religioso e gótico.

Ash: Moro em Los Angeles agora e existem muitos clubes lá e em São Francisco e provavelmente em todo o país. Eu me lembro de ter ido a alguns clubes e ter tido a sensação de voltar a 1982; era exatamente a mesma coisa. Você tem uma garotada de dezesseis, dezessete anos comprando discos que foram gravados há quinze anos atrás. É engraçado, você nunca vê os góticos na rua, mas eles sempre saem do esconderijo quando rola um show.

domingo, 1 de julho de 2012

Something Inside of Me Has Died

I have crept
Though your ugly world
I have slept in every way
I have something
Nobody can steak
You have nothing
Because I'm for real

Something inside me has
Has
Died
Died

I don'f know
Where I'll be in a thousand years
It don't show
I've hid it well behind my other tears
In the shadow
No need to fight

Something inside me has
Has
Has
Died
Died

(Kommunity FK)

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Remembrance (Gotham Alternative Pub)

Inaugurado em fevereiro de 2001, o pequeno Gotham Alternative Pub (em Pinheiros) abrigou diversos projetos voltados ao som EBM, 80's, future pop, gothic tendencies etc..O espaço era bem agradável e intimista; dois andares com lounge, bar e uma pequena pista de dança, onde até Wayne Hussey (ex-The Mission) chegou a se apresentar como DJ. A casa iniciou suas atividades como "Te Gusta?" e durante seu funcionamento quem arquitetava boa parte de sua programação eram os DJ's Alex Twin (Individual Industry e 3 Cold Men) e Pherro. Umas das festas primordiais foi a "Gotham Fashion" que, devido a sua boa repercussão, acabou dando o nome definitivo ao local.

Aos domingos (esporadicamente, aos sábados) quem comandava as pick ups eram os DJ's e amigos de longa data Ricardo "Kova" Izidoro e Luiz Soncini (que hoje vive em Portugal). Residentes dos extintos clubs Morcegóvia, The The e Umbral, a dupla de veteranos (aliás trio, pois a colaboração da esposa de Luiz, Luciana Ribeiro, sempre foi fundamental) promoveu sub a marca da L&L Project importantes eventos da cena gótica de São Paulo no começos dos anos 2000, incluindo até um festival (1st The Arc of Descent Festival) que contou, além de bandas tupiniquins, com a atração internacional Absurd Minds (Alemanha). O L&L Project foi uma forma que estes parceiros encontraram para divulgar e expandir a "cultura gótica", seja através de suas festas, do zine periódico The Arc of Descent ou de seu catálogo repleto de compilações feitas em K7 ou CD-r.

No Gotham, eles apresentavam discotecagens temáticas que atendiam os mais variados gostos dentro da música obscura. As noites "The Spiritual Way" eram voltadas a bandas de ethereal, dark wave, synth pop, principalmente as que tinhas vocais femininos (as tais "heavly voices"). Já as "Shadowland" atraiam os fãs de vertentes mais pesadas como doom, goth metal, crossover...Isso só para citar uma parte de uma lista com pelo menos seis festas que eles organizavam mensalmente por lá. Obviamente os domingos em que rolavam "Remembrance" eram os meus prediletos, pois em sua programação desfilavam velharias e lados B do gothic rock, pós-punk, cold wave e EBM "old school". Em uma delas me surpreendi com o som de Gene Loves Jezebel (acho que foi o único lugar que escutei "Shaving My Neck" na pista), Danse Society, Virgin Prunes saindo dos amplificadores...Como a sua proposta saudosista era muito semelhante ao recém-criado Batzone, não demorou para que eu recebesse o convite para eu tocar como guest na edição seguinte (no dia 28/04/2002 - mais informações e download dos set lists num próximo post). Além desta gentileza sonora, era comum que nestas festas se distribuísse gratuitamente coletâneas em K7 para as primeiros dez pessoas que chegassem. Garimpando meu acervo de fitas achei duas do "Remembrance" cujos os sets em mp3 divido agora com vocês. Como os K7's Black Sundays, estes não apresentam nenhuma raridade, no entanto tratam-se de mais um daqueles aperitivos de clássicos que no mínimo desperta boas recordações daqueles que perambulavam pelo circuito alternativo paulistano até a metade da década retrasada. O Gotham fechou suas portas no dia 13 de outubro de 2002. Foi um fim prematuro, já que tinha de tudo para dar certo. O que nos resta é mesmo relembrar...

Nota 1: Numa das últimas edições do "Remembrance" foram distribuídas cinco cópias de um CD-R (com o subtítulo "Nights 1") que era na verdade um híbrido dos dois K7 citados com o acréscimo de alguns "bônus". Sendo assim, disponibilizei apenas estas faixas extras deste item (indicadas com asterisco em seu track list abaixo) já que seria redundante e desperdício de espaço no disco virtual montar uma pasta com quase os mesmos arquivos dos outros volumes. So, do it yourself.
Nota 2: Em cada pasta há a capa da fita/cd original e colorida digitalizada. Divirtam-se.

Obrigado ao Twin e Luiz que gentilmente me passaram algumas informações.

REMEMBRANCE VOL. 1

A 1. Cocteau Twins - Blind Dumb Deaf
A 2. This Mortal Coil - 16 Days (reprise)
A 3. Trisomie 21 - Relapse 2
A 4. Twilght Ritual - Closed Circuit
A 5. Death in June - Rose Clouds of Holocaust
A 6. Absolute Body Control - Is There an Exit?
B 1. Sex Gang Children - Sebatian
B 2. Virgin Prunes - Pagan Love Song
B 3. Gene Loves Jezebel - Shaving My Neck
B 4. Play Dead - The Tenent
B 5. Bauhaus - Boys
B 6. The Damned - Shadow of Love
B 7. Rosetta Stone - If Only and Sometimes
B 8. Christian Death - Deathwish (1992 Version)

*download it here*

REMEMBRANCE VOL. 2

A 1. Pink Industry - Pain of Pride
A 2. Vita Noctis - Hade
A 3. Cranes - Inescapable
A 4. Dead Can Dance - Avatar
A 5. Opera Multi Steel - Cathédrale
A 6. Mecano - Room for Two
A 7. Malaria - Keltes Klares Wasser
B 1. Gitane Demone - Incediary Lovers
B 2. Nosferatu - Inside The devil
B 3. Garden of Delight - Spirit Invocation
B 4. Paralysed Age - Dark
B 5. Asmond Bizarr - Remember Dorian
B 6. Red Lorry Yellow Lorry - Cut Down
B 7. The Sisters of Mercy - Poison Door

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REMEMBRANCE (NIGHTS 1)

1. Wolfsheim - Blind*
2. Cocteau Twins - Blind Dumb Deaf
3. Pink Industry - Pain of Pride
4. Dead Can Dance - Avatar
5. Siouxsie and The Banshees - Lunar Camel*
6. Malaria - Keltes Klares Wasserr
7. Mecano - Room for Two
8. Opera Multi Steel - Cathédrale
9. Trisomie 21 - Breaking Down*
10. Twilght Ritual - Closed Circuit
11. Clan of Xymosx- No Words*
12. Joy Division - Atmosphere*
13. Bauhaus - Boys
14. Sex Gang Children - Sebastianne
15. Virgin Prunes - Pagan Love Song
16. Gene Loves Jezebel - Shaving My Neck
17. The Damned - Shadow of Love
18. The Sisters of Mercy - Poison Door
19. Red Lorry Yellow Lorry - Cut Down
20. Christian Death - Deathwish (1992 Version)
21. Rosetta Stone - If Only and Sometimes

*download it here*

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Grebo Rock: que porra é esta?

Entre tantos movimentos e estilos inventados pelos semanários ingleses New Musical Express, Sound e Malody Maker, o grebo rock ocupa o lugar entre os mais desconhecidos e menos lembrados. Para alguns foi tão nulo quanto o chamado positive punk (expressão que tentava amontoar alguns dissidentes mais “sombrios e místicos” do anarco-punk com outros entusiastas do “early-goth-batcave” ou mesmo gente que não tinha nada a ver com o assunto). De qualquer forma, essa categoria foi responsável (ou serviu de intermédio) para o aparecimento e a consolidação de outros gêneros que começaram a dar as caras no final dos anos de 1980 e início dos 90, como o lurch- um grunge com sotaque britânico que não chegou a decolar, mas foi bem representado, entre muitos outros, por nomes como Tabitha Zu, Sunshot, Homage Freaks e Daisy Chainsaw.

A origem deste fenômeno podia ser, em parte, uma resposta à ressaca causada pelo declínio da segunda geração gótica (bandas pós-Batcave, surgidas a partir da metade dos anos 1980), embora, musicalmente, o grebo ainda tomava para si algumas referências rítmicas vindas do inicio do pós-punk. O jornalista Mick Mercer apontou que no fim dos anos de 1980, o rock gótico tinha mudado significantemente e sua diluição deu origem, entre outras manifestações, ao próprio grebo.

O fato era realmente que cena alternativa da terra da Rainha passava por uma recessão e profundas transformações que tiveram inicio em 1985, ano em que a darkisse dava sinais de óbito, pois tudo que fora experimentado dentro daquele padrão estético parecia estar esgotado e a própria imprensa musical já não levava mais a sério quem insistia em percorrer a carreira pelas sombras. O grande templo do pós-punk, a Factory (em Manchester), já promovia suas festas regadas a ácido e new beat. Os goths moribundos que procuravam ouvir rock não tinham mais a Batcave como refugio. Houve uma eminente necessidade de inovar. Depois que o The Cult lançou o álbum Love (um trabalho em que se ousava falar de amor num período em que a ordem era enaltecer a autodestruição) abriu-se espaço para novos-velhos hippies como The Mission, All About Eve, Crazyhead, Balaam & The Angel e Gaye Biker on Acid que não viam nada de mais em arriscar a fazer mais barulho, agregando elementos do hard rock sem frescura, numa clara saudação a seus ídolos de duas décadas anteriores com direito a guitarras psicodélicas, cabelos compridos e outros adereços flower power que serviram de base e inspiração ao que estava por vir.

A aderência de muitas bandas às peculiaridades neo-psicodélicas (a retomada dos os ideais de paz e amor, mas sem a ingenuidade dos anos 60) foi uma forma de ir à contra mão e preencher um vazio, já que tudo que estava acontecendo no cenário musical ainda carregava os rastros fúteis da era new wave lembrada pelo uso exagerado de recursos eletrônicos, o que ainda era bastante visível nas programações das rádios e nas paradas de sucesso. A música sintetizada continuava a fazer a cabeça da primeira "geração MTV" que se via curvada à ditadura do mainstream por onde desfilavam caras novas inexpressivas que logo desapareciam em função do hype. Porém, há quem tirou proveito disso, pois o underground voltou a ser marginalizado e um espaço livre e fértil para quem ainda queria fazer um trabalho honesto. A partir do final dos anos de 1980 a ordem entre alguns outsiders era voltar a fazer rock de maneira crua, deixando o ar soturno de lado para se dedicar a canções, cujos acabamentos e os arranjos pouco importavam. Isto virou uma febre entre as bandas independentes que despontavam principalmente na costa meridional da Inglaterra.

As bandas mais influentes da cena foram o Pop Will Eat Itself (que tinham músicas temáticas como "Oh Grebo I Think I Love You" e "Grebo Guru"), The Wonder Stuff, Ned's Atomic Dustbin, Carter USM, Batfish (esta conhecida anteriormente como The Batfish Boys, formada depois que o vocalista Simon Denbigh deixou o March Violets), Blyth Power e as vindas da cidade Leicester como Crazyhead, The Bomb Party (umas das bandas mais chapadas que apareceram...), The Hunters Club, Scum Pups e Gaye Bykers on Acid. A banda londrina Medicine Factory (depois rebatizada de Stark) também foi uma das mais ativas nesta cena. O termo também serviu para descrever o Jesus Jones no inicio de carreira, mas a banda era muito “limpinha” se comparada à porra-louquice dos demais fanfarrões. Rejeitados, os rapazes acabaram por fim percorrendo caminhos mais comerciais (na linha EMF), alcançando um significante sucesso na Inglaterra, nos Estados Unidos e Brasil, onde se apresentou no festival Hollywood Rock de 1992. Entre tantos nomes o Zodiac Mindwarp & the Love Reaction foi considerado o papa da filosofia grebo, seja na atitude (esculhambado e beirando ao clichê do hard rock poser) quanto o som que era absolutamente agressivo e ensurdecedor, o que agradou muito os motoqueiros de plantão. Seu álbum Tattoed Messiah (1988) é considerado um clássico.

O estilo musical destas bandas era bem variado e sofria muita influencia de garage rock dos anos 60, pop, hip-hop, psychobilly, swamp blues (tipo Gun Club e The Scientists) e incursões eletrônicas (visto que no período a cultura rave estava ascensão e quase ninguém ficou imune a isso). Em resumo, os tais grebo rockers era um bando de anarquistas que cresceram ouvindo punk e se apoiaram, de forma freak e desleixada, na hora de criar uma sonoridade apunhalada e bastante receptiva às acepções do heavy metal ou do rock n’ roll mais direto, com letras bem humoradas de fundo místico-nacissista, em que o sexo e as viagens lisérgicas aparecem como única e final solution.

A moda grebo incluía dreadlocks (alguns não lavavam os longos cabelos para que estas tranças aparecessem naturalmente), cabeças raspadas (com rabo de cavalo), roupas largas, botas surradas, camisas xadrez (será que antecederam o que a moçada de Seatle tinha como marca registrada?), jeans desbotados, jaquetas de couro, adereços camuflados, chapéus estranhos e lenços de pescoço.

O movimento, embora breve, fez um razoável sucesso naquele período e influenciou muitas bandas que surgiram mais tarde e que foram responsáveis pela reformulação da música pesada ocorrida nos anos de 1990.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

self speak (ego)


Cadavres Exquis: Olá Rod. Em algumas pesquisas que fiz no Google, descobri que o seu antigo site Junkeria Nefasta é citado como referência da chamada cena “death rock” daqui do Brasil, especialmente a de SP. Como surgiu a idéia de fazer um e-zine voltado para a tal cena?
Rod: Surgiu há quase 15 anos atrás, mas a idéia inicial era que não fizesse parte de alguma cena. Neste meio tempo a coisa tomou diversas formas. Depois que o provedor retirou o site do ar não tive mais vontade de retomá-lo, pois me desliguei de tudo que acontecia na chamada cena “deathrock” de SP que pra mim nunca existiu de fato. Na realidade estive sempre ligado de alguma forma a underground desde 1993, 1994, mas não muito ativamente, conhecia algumas pessoas que trabalhavam na noiteapenas...Era um fã assíduo do The Cult e foi através dos seus trabalhos primordiais que fiquei mais interessado no chamado “positive punk”, o que me abriu a mente para os sons relacionados vindos do post-punk.

Cadavres Exquis: Essa foi a sua porta de entrada ao circuito gótico?
Rod: Digamos que sim, mas apenas como ouvinte. Quando eu tinha meus 15, 16 anos eu ainda escutava alguns vinis de heavy metal e hard rock que ganhava, como Iron Maiden, Sepultura. Talvez fosse uma forma de me agrupar com uns amigos do colégio que já me chamavam de “gótico” sem eu saber o que era musicalmente, mas que me atraia de alguma forma...Entre estes discos estavam os álbuns “Electric” e “Sonic Temple” do Cult, mas depois que ganhei o “Love” senti que minha identificação com sons “ingleses” eram de fato uma realidade, ai vieram Siouxsie, Echo and the Bunnymen, The Mission, Sisters...Este disco foi um divisor de águas para mim. Fiquei mais interessado depois de conhecer o seu embrião, o Southern Death Cult que me atrai até hoje pela simplicidade, atitude punk, clima sombrio e místico. A coisa foi fluindo naturalmente. A partir dai, eu sempre escutava alguns programas no rádio em que sua programação estava quase totalmente voltada a este tipo de som. Na 89 FM tinha o "Novas Tendência" do José Roberto Mars e o "Rock Report" do Fábio Massari. Por estes programas conheci muita banda...É quase absurdo falar isso, mas lembro de ter escutado coisas como Virgin Prunes, Christian Death, Sisterhood, Death Cult...Era sempre bom estar com uma fita virgem em prontidão porque era certo que tocariam coisas boas. Tinha a 97 FM também, de Santo André que também abria sua programação aos sons alternativos da época já que era berço de casas importantes como o Front 575. Desta rádio tínhamos um programa excelente do Ricardo Bola (que esqueci o nome agora) e um do Enéas Neto aos domingos chamado Zenzor voltado a música eletrônica, principalmente ao EBM e eletro goth. Ah O Kid Vinil era um cara que eu sempre acompanhava, seja na TV ou no rádio...Na TV Cultura nos anos 80 ele tinha um programa chamado Som Pop que durou até o começo dos 90. Tenho alguns gravados em VHS, com clipe dos Smiths, Jesus And Mary Chain. Ele depois foi diretor da programação da Brasil 2000 há alguns anos atrás, mas logo se desligou e de vez enquando ele aparece discotecando por ai. O universo conspirava mesmo pra eu gostasse deste tipo de sonoridade.

Cadavres Esquis: Em que ano era isso? Você já frequentava algum club alternativo?
Rod: Deveria ser entre 1992, 1993...Nesta mesma época consegui uma cópia da bolacha “The Iron Mask” do Christian Death que consegui numa loja de um shopping center (!). Esse disco para mim foi fundamental, pois soava punk também, porém possuía temas bastante mórbidos. O mais bizarro foi saber que somente no Brasil foi editado em vinil e hoje em dia é uma verdadeira relíquia. Foi meu primeiro contato com Rozz Williams...Foi um ano estranho para mim, me sentia diferente dos outros garotos que estavam bastante ligados ao nascente som grunge. Eu não usava um visual extravagante até porque nem tinha grana para isso, no máximo um cabelo encaracolado que há tempo não cortava e algumas camisetas escuras e desleixadas. É engraçado falar sobre isso, mas vejo a importância de um disco ou de um som que você ouve e como aquilo te faz mudar – como um livro ou uma obra de arte. Talvez, se essa fase não tivesse acontecido eu não teria bases para fazer algo que depois é comentado por alguns até hoje. Nesta época eu sempre ia à Galeria do Rock, ficar paquerando alguns discos, com a grana que ia juntando aos poucos comecei a minha coleção. Eu também ia lá para pegar alguns flyers de festas...Lembro de um final de semana que fui pela primeira vez ao Morcegóvia com uns amigos. Foi bem bacana porque, além de ficar mais por dentro do que rolava, meu irmão, que tocava bateria comigo (no Post Morten) acabou se dando bem e engraçando numa banda de “gothic rock” chamada Abadon que mais tarde se tornaria o Imperial...Naquela noite tocaram duas bandas no palco pequeno do club, o Chuva Rubra e o Sufrágio da Alma.

Cadavres Exquis: Nos idos de 1992, 1993 a cena de São Paulo estava recomeçando já que os frequentadores oriundos da Treibhaus, Ácido Plástico, Carbono 14 e do antigo Madame Satã eram raramente vistos...
Rod: Isso....Lembro de ter ido ao primeiro show do Cult aqui no Brasil em dezembro de 1991 e eu tinha apenas 14 anos...Não me pergunte como consegui entrar, mas foi memorável. Como eu tinha dito de alguma forma anos depois já estava habituada a cena, já que neste show vi alguns membros da “velha guarda” do circuito gótico de SP...Garotas super produzidas como bruxas, rapazes vestidos como se tivessem saído do club Batcave de Londres. Tudo aquilo ficou arquivado na minha cabeça e só ajudou a arquitetar e formular meu gosto musical e estético. Porém, quando comecei a sair para estes clubs, o estilo “gótico” era mal visto, démodé já que também na mesma época surgiu uma personagem de uma novela chamado Reginaldo, então você tinha três grupos que se via por ai: o que dava a cara para bater e acreditavam na “cena”, os que viraram ‘goths’ pelo que aprenderam no folhetim e os veteranos que raramente saiam, por constrangimento mesmo e só davam o ar da graça quando de vez e outra acontecia uma festa de revival, onde tinham a certeza que sons antigos tocariam nas pistas.

Cadavres Exquis: Esses veteranos não saiam mais por qual tipo de constrangimento?
Rod: Talvez por serem comparados com o tal Reginaldo hehe. Como todos nós sabemos a Rede Globo tem a capacidade de foder tudo, seja qual for à manifestação cultural – ela tem a manha de ridicularizar tudo, seja a coisa mais interessante até a genuinamente cafona – tudo vira pastiche. Mesmo assim surgiram pessoas curiosas com a tal “cena gótica”; se via documentários sobre isso, entrevistas. Muitos jovens, com advento do Plano Real (dólar um por um), puderam ter acesso a mais itens importados e assim virar a até DJ’s, como se faz hoje gratuitamente com o mp3 ou mesmo com um ipod! De uma forma ou de outra eu também passei a comprar mais discos, conhecer mais bandas com isso – frequentar as lojas da Galeria e não sair mais de mãos vazias. Era bacanas ir à lendária Mr Boris cujas vitrines eram em formato de vitrais góticos, decorados com vinis do Specimen, Alien Sex Fiend e a prateleira de cds que ficava no centro do estabelecimento tinha o formato de caixão. Lá se vendiam muitas coisas do Projeto Black Sundays, do DJ Tonyy que hoje comanda a Trash 80’s. Para mim foi sem dúvida o mais importante projeto de divulgação das “tendências góticas” – eram vários itens lançados e que tive a oportunidade de adquirir, como K7’s, camisetas até coletâneas próprias lançadas em vinil e cd (Black Sundays Compilation vol. 1 e 2)...De tanto frequentar essas lojas, você acabava ficando amigos dos caras que trabalham lá e eles iam te mostrando muita coisa. Fiz amigos na Bizarre, Bela Lugosi também. A Zoyd acho que é a única sobrevivente desta geração.

Cadavres Exquis: Além de um fanzine o Black Sundays tinha um projeto de discotecagem né?
Rod: Exatamente. O zine “Enter The Shadow” que era até então o único meio de ficar por dentro do que acontecia na cena fora daqui, como lançamentos, biográficas que hoje você encontra de monte pela Internet. Você ficava ansioso até que o próximo volume saísse. O zine, além de música sempre apresentava matérias sobre cinema e arte...Era bem caprichado, bem escrito, dava gosto de ler. Ainda tenho umas cópias guardadas com maior cuidado. O projeto de discotecagem rolava no Armagedon, infelizmente não tive a oportunidade de apreciar nenhuma edição, porém tenho alguns flyers de recordação. Quando falo que foi o melhor projeto de divulgação da cena obscura quero dizer em relação às coisas que vinham de fora também, já que nos anos 1980 eram raros os lugares que davam atenção para isso, ou se faziam, faziam de forma meio despretensiosa aqui em SP ou em Brasília. O que rolava era conhecido como “dark” e serviu de bases pro “rock paulista” também...Penso que o primeiro lugar com o “selo’ de club gótico aqui de São Paulo, foi a Treibhaus, o que costumo dizer que foi a nossa “Batcave”. Não cheguei a frequentar, mas tenho algumas fotos do lugar e histórias de colegas que batiam carteirinha lá... O pessoal ia pra se divertir e estavam pouco se fodendo pra pseudofilosofias.

Cadavres Exquis: Você comentou que tinha uma banda, ela chegou a fazer algum show ou gravar alguma coisa?
Rod: Era uma banda que fazia apenas covers. Ensaiávamos num quarto da casa dos meus pais em Caieiras (Grande São Paulo). Tirávamos sons do Cult, Sisters of Mercy, Fields, Stooges, Sex Pistols, Christian Death...Mas tínhamos uma ou duas músicas nossas que chegamos a gravar em K7, algo bem caseiro mesmo. A banda durou uns três anos, meu irmão ingressou no Abadon e logo se mudou pra Marília para fazer faculdade de Biblioteconomia. De apresentação mesmo considero apenas uma oficial, quando abrimos um show do Brazilian Cure (The Cure cover) e Pesadelo Químico (grupo performático de Adriano Pacionotto) num lugar chamado Graphitte em Guarulhos. Acho que isso foi em 1996, foi também à última vez que tocamos juntos. Penso que é meio pretensioso chamar aquilo de banda. Era mais um passa tempo mesmo, mas deveríamos ter levado mais a sério, acho que daria certo.

Cadavres Exquis: Depois disso, para qual outro projeto que você partiu?
Rod: 1997 foi um ano estranho para mim e acredito que também foi para o guitarrista da banda, Paulinho, que embora tenha se mudado para SP, nos distanciamos um pouco. Estávamos passando por uma fase conturbada, de problemas pessoais, mas foi legal, pois descobri que tinha uma certa facilidade para me expressar através de desenhos estranhos. Eu lembro que sem a banda eu poderia fazer um fanzine com esses desenhos que eram inspirados em sons “punk góticos” que eu curtia, como Sex Gang Children, Malaria!, Southern Death Cult, Danse Society...Um amigo meu do cursinho, em uma conversa discontraida, nomeou o meu estilo de “junkeria nefasta”. Gostei bastante e comecei a escrever biografia das bandas e mais desenhos surgiram até que conheci o Cid (Carcasse) que na época construía o site Sépia Zine. Ele curtiu a idéia do zine e me incentivou a integrar o Junkeria Nefasta ao Sépia. A coisa ficou no “gelo” por um ano...E neste ano eu frequentava um pouco o circuito clubber, me desliguei do que rolava por ai em termos alternativos; mesmo na segunda versão do Espaço Retrô abria seu espaço para projetos de música eletrônica, techno até mesmo brit pop...O circuito em SP passava por mais uma transformação; mesmo o cenário gótico desta vez se emergia por fóruns na Internet ou em volta de algumas novas manias; o RPG e Marilyn Manson, o que fez com que muito 'wanna be' aparecesse e esses ficassem mais interessados em se fantasiar. Desta maneira me afastei um pouco. Arquivei por um momento o Junkeria Nesfasta...Seria algo muito bacana, já que na época nem se falava em “death rock”. Era uma forma também de mostrar que a cena estava meio defasada, com a invasão de bandas de metal-gótico, crossover que invadiam a mente dos novos frequentadores dos clubs, o que me irritava de verdade. Eu parecia um velho reacionário, e arrumava briga com muita gente em fóruns que defendiam com unhas e dentes esta nova tendência. Hoje em dia acho esse tipo de birra uma piada, até porque não é de hoje que sons híbridos de vez em quando resultam em coisas boas...Em 1998 surgiram projetos legais de discotecagem numa casa chamada Umbral, como o “Pandora” que, mesmo dando espaço aos headbangers, oferecia sons old school nas pistas, o que fez aproximar-me timidamente de tudo outra vez...Muitos zines literários saíram na mesma época, muito material era reaproveitado com o que se achava na rede. Era mais fácil ter contato com gente “engajada” e novos DJs surgiram a rodo.

Cadavres Exquis: Foi ai que veio a idéia de fazer algum outro zine?

Rod: Em 1995 eu tinha escrito uma pequena biografia do Christian Death, escrita em word Pad! Era bem curta e me baseava em poucas informações (muitas equivocadas) que eu obtinha em alguns zines (como Past, Present, Forever) e mesmo dos discos. Era um ano legal para levar isso adiante, porque novas bandas e selos como Cleopatra impulsionavam o interesse pelo até então esquecido “gothic rock” mais tradicional. Em 1998, com a rede eu consegui mais material, imagens...Foi ai que tive a idéia de fazer um fanzine sobre a banda. Em abril daquele mesmo ano Rozz se matou, o que me motivou mais a prestar essa homenagem. Neste mesmo período tive a sorte de trocar algumas palavrinhas com Ron Athey, o ex-namorado do Rozz e co-fundador do Premature Ejaculation que esteve em SP para apresentar sem longa Hallelujah! no festival de diversidade sexual, Mix Brasil. Isso tudo me impulsionou a começar a colocar isso em prática com um amigo que tinha um zine chamado Shadow of Darkness, mas foi no outro ano com o Gheirart (Brazilian Cure, Love Cure’s e atual Dandi-Dracula) que a coisa deu certo. O que era para ser um zine acabou virando uma revista em off set mesmo...o “Invocations of Rozz Williams” saiu em 99. Ficou mais legal que se esperava; muita gente o considera um item fundamental. Claro que se eu pudesse o refaria com uma diagramação mais suja e com informações mais precisas, mas dentro do que tínhamos em mãos foi uma realização legal, ficamos bastante satisfeitos com o resultado e com a repercussão.

Cadavres Exquis: Existe alguma possibilidade de ser relançado?
Rod: Talvez algum dia, ainda tenho o seu fotolito. Mas como disse, preferia refaze-lo já que muita informação ali não é o suficiente perto do que já foi publicado sobre a banda e sobre o Rozz...Refaria com uma cara mais suja, com colagens e até poesias. A diagramação anterior é bem careta, mas eram as ferramentas que tínhamos em mãos. Os fãs adoraram porque até então não se tinha nada de Rozz escrito em português. Mesmo fãs lá de fora solicitaram algumas cópias, eu mesmo deixei uma no Runyon Canyon Park em Hollywood, onde o Rozz costumava caminhar.

Cadavres Exquis: Vejo que essas bandas que você cita hoje em dia seria bem clichê se fosse incluído dentro da chamada cena death rock...
Rod: Sim eu concordo...Mas nunca foi muito proposital para mim. Além do “deathrock” sempre fui um admirador de rock em geral, são tantas bandas que levaria um dia para citar todas...O “deathrock” está no pacote da chamada cena obscura, o rock gótico nada mais é que o resultado da mistura de vários estilos que foram se desenvolvendo desde o fim dos anos 50...Mesmo musicalmente é quase impossível classificar o gótico, fica a cargo de cada um interpretar. Seja aqui ou lá fora. Quem tenta fazer uma cronologia bonitinha da coisa acaba se dando mal; vemos pelo tanto de vinil ripado nos blogs de mp3 ou mesmo em relançamentos de discos “perdidos” do pós-punk que o Bauhaus, por exemplo, não foi o único responsável por isso tudo com sua “Bela Lugousi’s Dead”...O fato é mais complexo e mais amplo do que se pensa; é um grande quebra cabeça e intercambio de estilos. Muitos paises tiverem seu papel nisto, como Alemanha com seu Neue Deutsche Welle ou a França com sua cold wave, onde saíram centenas de bandas que hoje aos poucos vem sendo resgatadas. Essa coisa de que tudo que aconteceu na ponte área Londres x Los Angeles foi desmascarado...Mesmo no Brasil, falar da primeira geração “deathrock” não se limita apenas no contingente “dark” (que não tinham nada de humor negro além de referências mais sérias como o existencialismo e do próprio pós-punk, via Joy Division). Poderíamos voltar mais no tempo e citar o Joelho de Porco como um dos percussores da “cena” daqui. Já são reconhecidos como uma das primeiras bandas punks do Brasil, mas se você ver os vídeos antigos, o visual, vai concordar comigo...Zé do Caixão, não só pelos seus filmes de terror, e sim seus filmes pornôs-bizarros rodados na Boca Lixo. Tem coisa mais underground que isso? Acho uma tremenda bobeira algumas pessoas até hoje quererem ver a música ou uma expressão artística de maneira muito limitada, separada de tudo que acontece a volta. Uma época eu achava que era coerente brigar ou lutar por isso. Mas é como dar soco em ponta de faca. Você vai ficando mais velho e vê que isso é uma tremenda idiotice. Mesmo porque na pós-modernidade e com o crescimento das redes sociais você pode ser tudo, celebridade, criar sua personagem e ter uma banda nova que soa como antiga, ainda há pessoas que acham tudo isso é uma novidade. Fazer uma batida quatro por quatro, baixo a frente de tudo, vocal ala Ian Curtis está super na moda...e se você faz isso soa super cool.

Cadavres Exquis: Esta percepção foi o motivo para que você se desligasse do projeto “Batzone”?
Rod: Também. Quando criei este projeto com uns amigos, estávamos crentes que poderíamos salvar a tal cena dos clichês, do estrago que o metal-gótico (via bandas que tinham vocalistas com seu visual de “secretária medieval”, tipo Nightwish) e o chamado “future pop” com suas tranças de nylon tinham causado por ai. O “Batzone” foi uma forma oportunista de resgatar o que o Junkeria Nefasta havia plantado anos atrás, de apresentar sons antigos que há muito tempo não chegaram nem ao conhecimento do publico. Paralelamente eu e Julia Ghoulia também estávamos com planos de fazer uma versão brasileira do portal Deathrock.com do Mark Splatter...Isso era o ano de 2003, eu acho, quando a loja o Douglas Graves, a Batcave Records, era o reduto deste pessoal que estava de saco cheio de tudo isso, embora alguns até tinham projetos bastante próximo do que acontecia até então. O Douglas mesmo era um punk veterano, que tinha um currículo de bandas bem extenso. Era uma turma boa. Como alguns sabem a “cena” gótica daqui também nunca foi adiante por causa das panelas e a desunião de algumas pessoas que reafirmam sua desonestidade e atitude porca e fomos prejudicados por isso também...Eu mesmo fiquei sem receber pela capa que fiz pro cd bootleg do Poesie Noire – vol 1! Bom voltando ao “Batzone”; ele surgiu como um projeto de discotecagem que durou umas duas edições, depois se transformou em um zine que durou três edições; duas editadas em papel e uma arquivada. Nós tínhamos uma idéia de ir contra corrente, mas nada de lutar diretamente com a coisa como se fossemos enviados do além...Percebi que até um ponto funcionava pelo seu ar provocativo, mas depois percebi que não, porque tudo caiu no senso comum e humor havia acabado e tudo voltava ao velho clichê que tanto criticava. É bem difícil lidar com adolescentes...

Cadavres Exquis: E qual foi o motivo do fim?
Rod: Entre 2003 e 2005 a cena Deathrock cresceu bastante lá fora e como SP é uma cidade que sempre recebe as “novidades”, não poderia ser diferente. Eu também queria colocar em prática algumas coisas que vi em algumas viagens que fiz pra Los Angeles, onde passei por pontos importantes como as lojas Retail Slut, Dark Vinyl e o projeto Release the Bats...Bater um papo com a Gitane Demone e William Faith (Faith and The Muse) foi inspirador, e eles mesmos estavam empolgados com o que estava acontecendo. O Batzone assim como alguns membros de algumas bandas era um contingente só, mas sempre houve aqueles que interpretaram a coisa errada. Tinha uma galera nova que seguia a gente, mesmo nos show do Crippeled Ballerinas que chegou até abrir um show do The Brides (EUA) por aqui. Muito moleque se empolgou com a parada de ver alguns “punks de boutique” vestidos como zumbis e pogando. Surgiu à idéia de gang, porque eles não queriam ser chamados de góticos e muita gente levou a sério. Os nossos zines tinham a sigla DRSP, uma forma de identificar de onde vinha o pessoal que fazia, assim como em Los Angeles, NY...Alguns babacas pensaram que isso fosse uma ordem, um grupo que estava literalmente disposto a lutar (a dar porrada!) pelo tal deathrock! Isso mesmo. Mas havia gente dentro do projeto que estava mesmo disposta a isso mesmo...Vi que a coisa estava crescendo de forma equivocada. E ai decidi abandonar o barco, já que eu não era nenhum neófito e não era obrigado e ver esta palhaçada toda...Eu lembro que quando eu tinha uns seis ou sete anos de idade eu tinha um clubinho, isso me fez recordar da infância e pra me poupar de algumas coisas, decidi que era melhor meu nome não ficar mais ligado a isso, ainda mais depois que vi que alguns caras até estavam se associando alguns skinheads para arrumar confusão por ai. Não aceito fundamentalismo de jeito nenhum e essas siglas nada mais são que uma forma de segregação...Quem lê isso pode discordar, mas me dá muita preguiça. É uma afetação inútil.

Cadavres Exquis: Já cheguei a ver seu nome citado por algumas pessoas que ainda acreditam na tal cena...
Rod: Eu também já vi, em blogs que até “roubaram” matérias do Junkeria Nefesta...Em algumas entrevistas de membros do tal “DRSP” citam o meu zine como “algo mais legal já feito”. De fato eu me dedicava, mas não em nome de uma cena, movimento e sim pela música que ouço. Penso que é uma tremenda idiotice essa coisa de separar isso por regiões tipo DRSP, DRRJ, DRES. Sinceramente penso que isso seja insignificante a ponto de achar que a tal cena está mais morta do que já estava em mãos de molecada deslumbrada. É como dar faca na mão de criança. Sei que é exagero, pois isso nem tem grande impacto na vida cotidiana e que faz disso uma coisa underground é a falta de interesse que isso gera...Sei que isso logo vai acabar de vez, se é que já não acabou - sei que existe pequenos focos no Brasil a fora. A coisa mais chata é ver que sempre tem alguém querendo teorizar alguma tendência, rotular...Deathrock e gótico é tudo a mesma merda...Quem leva isso muito a sério deve ter algum problema mental ou mesmo é limitado intelectualmente. São Paulo tem muita coisa legal, mas assim como muita cidade do interior há muita gente provinciana e que vive de aparências...As coisas chegam no Brasil muito deturpadas mesmo e há gente de montão que tem a capacidade de fazer isso muito “bem”. Não temos uma cultura alternativa com bases fortes, embora haja gente engajada de verdade envolvida...Nem temos uma tradição cultural que permite isso, até porque a arte e educação são coisas que não são levadas com respeito por aqui...Penso que a Tropicália foi único movimento cultural realmente brasileiro. O resto é pura cópia mal feita.

Cadavres Exquis: Mas você não acha que é melhor isso do que apenas ficar na idéia?
Rod: Talvez, porque até recebo alguns mailings com festas que ainda deixam a coisa acesa. Mas não é por meio de estereótipos, clichês e segregações que isso vai pra frente. Mas temos um histórico de muito tempo de gente sem referencia que transforma isso em radicalismo, o que deixa a coisa “feia”, sem sentido e ridículo em pleno século XXI. Seria a mesma coisa de um sueco querer fazer samba em seu país, por mais que haja identificação fica um resquício esquisito no ar se não houver bom senso...Infelizmente muitas bandas clássicas “deathrock” que embarcaram nesta também e foram reformadas por causa de grana, ou tentar fazer fama retroativa em cima disso. Estão fazendo um jogo horrível e que até macula o passado. Acho que o que era bom ficou para trás...Onde de fato existiram bandas com atitudes inteligentes ligadas a um senso estético e artístico legal, mesmo que ingênuo funcionava muito bem, hoje em dia tenho lá minha dúvidas...Se fosse para escolher, eu esqueceria essas bandas que frequentam festivais de hoje e ficaria com as bandas de pós-rock que têm mais feeling do que estas que insistem em brincar com roupas e esqueletos comprados numa loja de fantasia da 25 de Março. Desde sempre o rock esteve ligado a moda, e não é com qualquer trapo que você convence, para começar por ai...Tem que ter atitude - deathrock virou sinonimo de burrice e mal gosto. Ter um visual não é esconder sua verdade, nem serve como escudo estúpido como de uma torcida “organizada” de futebol. Falo isso porque é como eu vejo a coisa hoje, esses emblemas são para queimar o filme, já que se formos olhar lá pra trás, onde o “positive punk” serviu de apoio e ajudou a compor o chamado som “batcave”, a versão britânica do “deathrock” e veremos esta incoerência. O “positeve punk” tinha raízes nos redutos anarco punks onde a homofobia e a violência era execrada...Tudo era baseado na libertação do espírito e naturalmente no respeito. Era feito por gente mais séria e refinada e vejo que a sua estética elegante está sendo revisitada por muita gente da moda e música contemporanea..

Cadavres Exquis: Mas por ter feito o Junkeria Nefasta, fez parte de tudo isso...
Rod: Não posso criticar muito, pois sei que de alguma forma ajudei a compor a chamada “cena tupiniquin” daqui, ou melhor, formatar um grupo de admiradores deste subgênero. De alguma forma você se sente responsabilizado, mas “responsabilizado” é algo forte, pois no fim não levo a coisa a sério, tanto que me desliguei pelo fato de não levar isso mesmo a sério. Vejo que quem vive isso está numa fase de sonho em que estar “batalhando” por isso é quase um ideal...Não quero soar arrogante falando tudo isso, porque cada um tem as suas fases e o aprendizado é individual. Mas melhor isso que gastar o tempo com música cafona que sai dos auto falantes dos carros nos finais de semana...O punk e o “gothic rock” (que pra mim nada mais é que um sub produto do punk) mesmo que reconhecidos pelos seus estereótipos acabam abrindo a mente para outras manifestações legais como literatura, cinema, artes plásticas, body art etc. Quando alguém se empapuça deste tipo de representação percebe que sua bagagem foi preenchida com um monte de referência legal de vanguarda como expressionismo, dadaísmo, futurismo...O que é muito válido mesmo nos dias de hoje, onde você pode criar peças gráficas baseadas neste tipo de arte. Quando o grupo (Batzone) se desintegrou ainda lancei um zine com uma banda que me ajudou de fato a olhar a coisa mais amplamente, o Virgin Prunes cujo trabalho ecoava muito além da música...Começaram como uma “gang”, mas a maior arma deles era a ironia que de fato é forma mais genuína de superação e afrontamento da própria existência.

Cadavres Exquis: O desligamento do Batzone foi uma forma de seguir a coisa sozinho, já que muitas de suas matérias foram reaproveitadas no site Junkeria Nefasta...
Rod: Foi uma forma mais barata de continuar...E era uma boa oportunidade de alcançar mais leitores, sem contar que foi uma boa desculpa para colocar o “velho” Junkeria Nefasta finalmente no ar com uma nova cara e com a colaboração de outras pessoas. Eu o atualizava semanalmente. Usei até matérias que havia escrito num blog de curta duração chamado Drop Dead, onde eu colocava até uns desenhos meus. Depois que acabou, fiquei sabendo que algumas das matérias são usadas no banco de dados em português do Lastfm, mesmo alguns blogs prestaram homenagem a ele...Acho legal esta memória boa que o zine trás, tem gente que até o usou o nome “junkeria nefasta” como gíria hehehe.

Cadavres Exquis: E não seria uma boa reformá-lo?
Rod: Acho que não tenho mais paciência e nem saudade de nada da época que ele estava no ar. Mas aos poucos tenho postado algumas matérias neste blog. Às vezes tenho me dedico mais as minhas colagens...Queira ou não é uma forma de manter viva essa coisa toda, de forma mais subjetiva. Algumas delas já foram até usadas para banda Dandi Dracula que mostra uma nova possibilidade de banda “dark” sem cair na cafonice que estamos cansados de ver por ai.

Cadavres Exquis: O “deathrock” está morto então?
Rod: Totalmente, como o próprio termo sugere. E nem sei porque perdi meu tempo escrevendo tudo isso.

Cadavres Exquis: E as discotecagens da Escola de Cretinos?
Rod: Rolaram umas duas vezes, uma no club Hole e outra na Loca já faz um tempo...Eu e o Alex Ratz estávamos na época bem antenados em sons minimalistas e cold wave. Pretendíamos até montar um projeto musical. Meu sintetizador Korg ainda continua guardado, esperando minha boa vontade e uma nova oportunidade.

Cadavres Exquis: No site Junkeria Nefastas tinha uma sessão de inventario com a sua coleção. Você ainda continua fazendo esta listagem?
Rod: Depois que o site saiu do ar eu parei de relacionar os itens que adquiro, mas hoje em dia eu tenho me contido mais...Não tenho mais espaço para os discos, mas no dia que eu tiver mais espaço e oportunidade vou fazer uma sala só pra eles. Quando eu morrer quero ser cremado com todos eles. É um vício difícil de se curar.

Cadavres Exquis: Quais foram os últimos itens que você comprou?
Rod: Peguei umas edições especiais e remasters do Cult e Chameleons UK, alguns vinis do selo Minimal Wave. Mas estou dando atenção a uma série de cds com gravações esquecidas do Premature Ejaculation que nunca tinham sido lançadas em cd, apenas em K7. É um estilo difícil de assimilar, porém acho que são itens fundamentais para quem ama o trabalho do Rozz Williams - nestes trabalhos está a sua verdadeira essência. Parte das minhas colagens se deve a esse tipo de sons perturbadores.

Cadavres Exquis: Fora aos estilos que citou até agora, quais as outras coisas que você ouve e que de nenhum jeito você escutaria a alguns anos atrás?
Rod: Há uns dois anos decidi dar mais atenção a alguns sons fundamentais, até uma forma de enxergar o que de ruim eu tinha na minha coleção e poderia ser descartado. Descobri tardiamente Scott Walker, o folk inglês dos anos 60 de raízes celtas e meu interesse pela Nico ficou mais forte quando garimpei mais a sua obra solo. Ainda gosto muito de coisas vindas do post-punk, mas com esses “clássicos” foi possível ser mais seletivo, descartar muitas merdas que antes dava atenção... Tirando isso, gosto de umas coisas da Tropicália, new wave, Skid Row, Buena Vista Social Club. Às vezes me pego escutando coisas antigas do pessoal do Clube da Esquina como Milton Nascimento e Beto Guetes...Gosto bastante do primeiro álbum do Ney Matogrosso - o considero bem ousado e atual, trocaria qualquer disco de EBM por alguém dele.