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sexta-feira, 1 de maio de 2015

Cadavres Exquis #41 - Especial The Sound


Três motivos que me fizeram homenagear o The Sound neste programa:

1. No último domingo (26 de abril), completou-se 16 anos que o  vocalista Adrian Borland deu fim a própria vida. Para compensar a falta que o cara nos faz, nada como aqueles gracejos discográficos/póstumos que deixam qualquer fã satisfeito;



2. Em fevereiro foi lançado mais um box que representa a segunda metade da trajetória da banda. O primeiro, contendo os primeiros álbuns, foi relatado aqui e na época descrevi a minhas expectativas para uma continuação, que finalmente completaria a reedição dos seus álbuns em cds remasterizados. Não demorou muito para que isso acontecesse! Bem, resumindo a história contida nesta caixa: depois de iniciar a carreira pelo selo Korova (Echo & The Bunnymen, Strawberry Switchblade etc), a banda assinou com a Statik Records (o mesmo que descobriu The Chameleons) e lançou mini-LP Shock Of Daylight, seguido dos álbuns Heads And Hearts e In the Hothouse (duplo,  ao vivo no Marquee).  O The Sound ainda gravaria mais um disco (Thunder Up) pelo selo belga Play It Again Sam, antes de pendurar as chuteiras. Como toda edição "deluxe" que se preza, aqueles aperitivos como lados B de singles, demo tapes nunca editadas e músicas inéditas não poderiam ficar de fora. O cd Propaganda (reprenssagem da edição esgotada de 1999, da extinta Renascent), aparece como "bônus", já que seu contexto difere dos demais (que cobrem a fase de 1984 à 1987); temos aqui um registro da banda nos seus primórdios (pré-Korova), e, evidentemente, deveria ter sido parte da primeira caixa. Mas enfim, é um material indispensável, pois é um apanhado das primeiras gravações feitas na casa dos pais de Adrian em 1979, pouco depois dissolvição do The Outsiders. Esta é a chance de ter numa tacada só a discografia deste que foi um dos grandes frutos do pós-punk inglês. E em grande estilo, como os grandes clássicos merecem!

3. Um documentários sobre Adrian e o The Sound deve ficar pronto até agosto deste ano. Entre depoimentos de amigos, parentes e ex-integrantes, o material contará com imagens inéditas e raras tanto de apresentações como backstage! Neste trecho [clique aqui] dá para ter uma idéia do que vem por aí. 


Track list do especial:

  1. Sense of Purpose
  2. Golden Soldiers
  3. Monument
  4. Unwritten Law (Peel Session)
  5. Where The Love Is?
  6. Night Versus Day
  7. Red Paint
  8. Total Recall
  9. Heartland
  10. Dreams Then Plans
  11. Love Is Not A Ghost
  12. Missiles (early version)
  13. Winter
  14. Acceleration Group
  15. Silent Air
  16. I Can't Escape Myself
  17. Barria Alta
  18. Winning
  19. One Thousand Reasons
  20. New Dark Age (live Broadcast at BBC Radio) 
É hoje, às 20hs na Rádio Enter The Shadows.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

The Sound ‎– Jeopardy · From The Lion's Mouth · All Fall Down ...Plus


Já escrevi algumas matérias do The Sound por aqui. Umas delas acabou entrando para sessão de artigos no site oficial de Adrian Borland. Falar da banda para mim é uma grande satisfação, pois é uma forma de fazer parte da trajetória deste que é um dos rebentos do pós-punk que eu mais gosto. A injusta falta de reconhecimento ao talento do Sound durante sua existência é sempre compensada por alguma homenagem póstuma a altura, que tenta de alguma forma exaltar a sua qualidade sonora e legado. Os relançamentos de alguma forma fazem parte destas reverências. Maio deste ano foi um mês que selo inglês Edsel Records (especializado em re-issues) nos presenteou com uma caixa com 4 cd's da banda: Jeopardy, From The Lions Mouth, All Fall Down e BBC Live Concert. Os dois primeiros álbuns (Jeopardy e From The Lions Mouth) já haviam ganhado em 2012 uma re-edição simples pelo selo 1972, no entanto não continham lados B e raridades de bônus como nas versões apresentadas nesta caixa.  Já All Fall Down e BBC Live até então eram tidos como relíquias uma vezes que suas tiragens pela Renascent, quando encontradas, velem não menos que 30/50 libras. BBC Live In Concert é uma versão abreviada de The BBC Recording (Renascent) - este CD possui apenas dois concertos gravados em 1981 e 1985, enquanto o original trás também os broadcasts dos programas de Mick Read (09/10/1981) e John Peel (16/11/1981). Seria interessante se todos os albuns fossem relançados num box mais completo. Eu fico indagando se este não é apenas a primeira parte do que pode vir (e torço para ser!). In The Hothouse, Shock Of Daylight & Heads And Hearts e Thunder Up dariam uma bela e merecida sequencia. Jeopardy · From The Lion's Mouth · All Fall Down ...Plus também serve de introdução aos novos fãs do The Sound que devem ficar mais atiçados com este item "deluxe" que trás um booklet de 36 páginas com fotos, letras e uma grande resenha do colecionador discos/entendedor de música alternativa Tim Peacock.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Adrian Borland - A Collection

 
Adrian Borland deixou este mundo em abril de 1999. Porém, para aqueles que admiram bons sons, tudo que ele fez perdura, ou melhor, ecoa até os dias de hoje, como eu já havia escrito nesta resenha dedicada à ele. Esta admiração por parte dos poucos (e fieis) seguidores não é apenas dirigida à contemplação de sua obra; Adrian é acima de tudo é uma referência no que se entende por ser alternativo, virtude que não é uma mera afetação momentânea ou juvenil. Sua influência já atravessa a terceira década com a mesma força aos ouvidos mais sensíveis que desprezam o indie atual, que nada mais é que um grande saco de merda anêmico.

Depois do fim do The Sound, alguns duvidaram que suas criações não tivessem o mesmo brilho daquelas concebidas com os seus antigos companheiros de banda. As apostas negativas foram em vão: ele mostrou que tinha autonomia e talento de sobra seguir em frente. Era nítido perceber que sua intensidade poética ficou ainda mais apurada a partir dos projetos pós-Sound ou em carreira solo, onde mostrou que estava seu auge criativo. Para tirar a prova dos nove, a velha fórmula teve que ser deixada um pouco de lado (ou, melhor, ficou mais diluída, o que emblematicamente se comprova mesmo nas releituras acústicas de clássicos do Sound). Brotaram assim harmonias mais coesas, o que evidenciava que o guitarrista e cantor estava mesmo no mesmo patamar de grandes letristas dos anos de 1980’s como Ian Curtis, que foi de fato o grande responsável por Adrian introduzir a veia ultra-romântica em suas canções quando extinguiu os Outsiders para ser um dos principais alicerces do pós-punk (na verdade é muito difícil dissociar o cenário do protagonista, já que a tragetória de Adrian se confunde com a história do próprio “movimento”). 

Embora ele estivesse mais introspectivo nesta aposta “individual”, as bases destas novas composições eram embaladas por melodias mais leves, para não dizer na lata, com grande potencial comercial. Basta ouvir peças como “Light The Sky”, “Rogue Beauty” e a arrebatadora balada “Destiny Stopped Screaming“ para se comprovar isto.

O que ofereço aqui é uma compilação das minhas músicas prediletas a partir do projeto The Citizens até culminar em sua derradeira e inspirada carreira solo, ignorada injustamente pelos charts da época. Ainda que ele tenha colaboraco no início do White Rose Transmission, preferi deixar as composições desta fase de fora, uma vez que, em minha opinião, não carregava tanto aquela áurea de “trovador-pós-punk” que eu tanto admiro em seus passos solitários.

Track list:
1. Light The Sky*
2. Long Dark Train
3. Dangerous Stars
4. Stranger In The Soul
5. Wild Rain (acoustic session)
6. Under Your Black Sun (demo)
7. AWalking in the Opposite Direction (acoustic session)
8. Baby Moon
9. Cinematic
10. I'm Your Freedom
11. Prisoners Of The Sun
12. Rogue Beauty
13. Destiny Stopped Screaming
14. Shadow Of Your Grace*
15. We Are the Night (live acoustic)
16. Love Is Such a Foreign Land (acoustic session)
17. Hand of Love (acoustic session)
18. No Ethereal
*Adrian Borland & The Citizens


*download here*

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Ouvidos chamuscados para 2012

O ano de 2011 se foi e alguns relançamentos passaram quase batidos. Porém, é bom lembrar que para este ano teremos mais "novidades". Antes de mais nada (há muito ia comentar isso por aqui), como muitos, fiquei bastante decepcionado com a volta do Danse Society. Na verdade era de se esperar um desastre, como já vem acontecendo há algum tempo com as bandas da fase áurea do "goth punk", que de forma mercenária e vulgar tentam em agradar os neófitos deathrockers sem referência (isso me lembra aqueles circos do interior que anunciam uma atração falsa para alegria de gente carente de cultura)...Se eu fosse destas bandas, ficaria bem quietinho no meu canto e honraria o meu passado...No caso do Danse Society a coisa extrapolou a breguice - o baixista Paul Nash (o único remanescente da formação original) foi o mentor desta palhaçada toda. Ele recrutou uma perigótica para os vocais, bebeu da fonte "metal gótica" e manchou a discografia da banda com Change Of Skin, álbum lançado no semestre passado e que deve de qualquer modo ser evitado...Uma prova disso está no clipe promocional do single "Revelation", que pode ser descrito como "no mínimo constrangedor". Eu cheguei a postar diversas frases indignadas no Youtube até ser bloqueado (Paul Nash perdeu a noção e virou um convicto ignorante)...Sei que os outros membros que não participam desta desastrosa investida devem pensar o mesmo que eu. No entanto, para compensar a carga de críticas negativas (talvez para acalmar os ânimos mais exaltados dos fãs mais antigos), Nash decidiu desengavetar as demos da banda gravadas entre 1983 e 1984, durante a gestação do álbum Heaven in Waiting na coletânea Demos Vol. 1, colocada a venda em formato em mp3 no site oficial da banda. Alguns meses depois o selo americano Dark Entries resolveu licenciá-la e fez uma bela edição em vinil, que trás um encarte repleto de fotos, letras e notas do jornalista Mick Mercer. É um disco fundamental para colecionadores que apreciam raridades deste tipo. Além deste item do Danse Society, eu recomendo que dêem uma checada no restante do catálogo da Dark Entries repleto de muita coisa boa e que nunca imaginei que um dia fosse ver no formato "bolachão", como o cultuado duo belga "minimal wave" Vita Noctis que ganhou uma coletânea dupla com todas as músicas lançadas (em K7 e num único 12") durante a sua efêmera existência.


Ainda na linha "muito gótico para ser punk e muito punk para ser gótico" a Jungle Records finalmente cumpriu a promessa de relançar material do Bone Orchard. Lembro que na pequena biografia que escrevi no Junkeria Nefasta eu pedia que a Jungle ou a Cherry Red Records nos presenteassem com alguma reedição em cd. Eis que para aqueles que sobreviveram, as preces foram atendidas. Stuffed To The Gills & Other Fishy Tales a versão turbinada do EP Stuffed To The Gills que foi o primeiro lançamento da banda concebido em 1983 e que continha material gravado numa Peel Session (era de praxe muitas bandas desta geração reaproveitar o material destas sessões em sua discografia oficial). Além das músicas deste disco, esta coletânea contém material extraído de outros singles e do seu álbum de estréia, Jack (1984). O melhor de tudo que as canções foram remasterizadas e como bônus o case vem com um dvd contendo clipes promocionais (a maioria inédito, já que dois deles já tinham feito parte dos dois volumes do dvd In Goth Daze, da Cherry) e uma pequena apresentação ao vivo no Amsterdam Paradiso. Para aqueles que não conhecem, o Bone Orchard foi uma banda inglesa de gothabilly formada em 1983, por Chrissy McGee (uma versão feminina dos vocais de Nick Cave), Mark Horse (guitarra), Troy Tyro (guitarra), Paul Henrickson (baixo) e Mike Finch (bateria, logo substituído por Ben Tisball). Sua carreira foi bem curta, porém bem intensa - durou um pouco mais de dois anos, chegando a lançar quatro singles, dois álbuns e uma coletânea não oficial e homônima na Espanha. As ilustrações das capas dos seus discos, sem exagero, são verdadeiros “quadros” de neo-expressionismo, que já davam uma idéia do contexto poético e insano de sua sonoridade. Além da parte instrumental e das letras, a banda se preocupava bastante com o lado visual/artístico, chegando a ter alguns dos seus clipes (cujo o imaginário surrealista carrega fortes influênias de David Lynch) dirigidos por gente de renome no meio underground de Brighton, cidade onde a banda emergiu.


O The Sound foi uma banda que só teve a discografia relembrada e reeditada digitalmente em 2001 pelo selo inglês Renascent. Foram 11 cd's no total, contando com as captações ao vivo da série The Dutch Radio Recordings. Depois de expirar a licença, a Warner (a dona do selo Korova) reclamou os direitos dos dois primeiros álbuns e a Renascent foi obrigada a tirá-los de seu catalogo. Boatos sobre uma nova reedição pela major surgiram há uns dois anos atrás...Até que o seu novo selo independente, intitulado 1972, anunciou para o dia 31 deste mês a recolocação de Jeopardy e From The Lions Mout nas prateleiras. Ainda não se sabe se estas novas versões também sairão em vinil como aconteceu com Echo and the Bunnymen que teve os discos Porcupine e Ocean Rain discos relançados pela 1972. De qualquer maneira, se forem apenas em cd se espera um acabamento do seu encarte seja bem melhor que aquele digipack furreca que a Renascent apresentou...Banda na altura do Sound, merece coisa melhor; no estilo deluxe, remasterizado e com vários bônus tracks. Que assim seja...Ah, já ia me esquecendo - os primórdios do The Sound (quando Adrian Borland e cia se denominavam The Outsiders) poderão ser conferidos em fevereiro em dois cd's imperdíveis pelas Cherry Records.

Se eu fosse enumerar o tanto de discos bons dando as caras novamente gastaria horas escrevendo. O vinil lá fora voltou contudo e, ironicamente, ressurge como uma centelha de esperança na falida industria fonográfica. Aqui no Brasil o mercado, principalmente de rock, também está pra lá de murcho (seria a volta do vinil a salvação?). As grandes gravadoras abriram mão de relançar bandas de rock independente internacional, mesmo aquelas que andam fazendo a cabeça dos mais antenados. Semana passado eu li a notícia que um selo carioca está fazendo um trabalho legal e colocando a cara pra bater; o Lab 344. Discos consagrados do The White Stripes estrearam uma séria chamada Lab.Rocks que pretende lançar até março, cd's e dvds de bandas como Pixies e The Cult. Quais os títulos? Ainda não sei, mas já estou ansioso, esperando que haja algum atrativo que valha a aquisição. O The Cult anunciou um novo álbum para este ano e bem provável que se trate mesmo de material inédito.

Notas rápidas: o selo franco-americano pelo visto Season Of Mist congelou os relançamentos do Christian Death (Valor). Depois de Ashes e Catastrophe Ballet , acredito que Valor esteja dando problema nas negociações. Espero que eu esteja errado, porque dentro deste "pacote" teríamos até um dvd com aqueles clipes gravados nos anos de 1980 que são verdadeiros shows de horror (leia-se cafonas). A Malaise Music desde setembro também não solta nada do série The Lost Recordings do Premature Ejaculation; o último foi Dead Whorse Riddle (MAL9). Será a crise? Depois de assinar com a Prophecy e lançar um single e um álbum inédito, o Sol Invictus vem relançando ininterruptamente sua discografia completa em caprichadas edições em cd remasterizados, capas em digipack, bonus track, aquele capricho todo pra fã nenhum botar defeito.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Adrian Borland (6 December 1957 – 26 April 1999)

Há 12 anos atrás a cena alternativa perdia um dos seus maiores porta-vozes: Adrian Borland...Seu corpo se foi, mas a sua obra permeia, influenciando mesmo que timidamente aqueles músicos que fogem de alardes e se centram numa música sincera onde a simplicidade é a receita para um trabalho leal aos impulsos da alma...

Como a maioria dos jovens de sua geração, Adrian se curvou ao movimento punk e viu que este agito era um terreno fértil para extravasar suas angustias e talento. Em 1976 ele formou o The Outsiders, considerada por muitos, uma das bandas pioneiras do movimento – álbum Calling On Youth teria sido o primeiro LP punk a ser gravado e lançado por um selo próprio.

A banda esteve bastante ativa no circuito de Londres, chagando a tocar até em clubs lendários como Roxy. Num destes concertos, a banda recebeu a participação Iggy Pop que empolgado na platéia subiu ao palco quando interpretavam uma versão de "Raw Power" (The Stooges).

Em 1978 os Outsiders lançam mais um álbum, porém um ano depois Adrian decide a abandonar de vez o movimento punk. Inspirado pela saída de Howard Devoto dos Buzzcocks que partiu para formar o Magazine (uma das bandas pioneiras, ao lado do PIL, do nascente post-punk), Borland começou a prestar atenção nesta nova safra de bandas que mostravam novas possibilidades criativas já que parte do contingente punk da primeira geração permanecia musicalmente estagnado ou entregue as exigências mercadológicas da new wave...Ele decide então implodir o Outisiders, levando consigo o baixista Graham Bailey para formar o The Sound que se comprometeu a seguir um outro caminho apoiado numa sonoridade mais atmosférica e densa, propícia para as letras poéticas de Adrian que não se contentava mais em ser apenas um daqueles garotos que grunhiam criticas e protestos ingênuos de cunho político. O Sound tem seu line-up completo pela tecladista Bi Marshall e Michael Dudley (bateria).

Os primeiros ensaios e gravações da nova banda ocorreram na casa de Borland, tendo seu pai (Bob Borland) atuando como engenheiro de som. Este material raro (que por hora carrega o vigor punk dos velhos tempos do Outsiders) foi apresentado postumamente em 1999 com o titulo Propaganda. Já nos primeiros dias de existência já era possível perceber a evolução gradual do Sound que aos poucos deixava para trás suas melodias mais urgentes e cruas para ir de encontro sua própria identidade. Stephen Budd, do selo Tortch-R, que tinha lançado o projeto paralelo de “minimal wave” de Borland e Bailey (o Second Layer) teve acesso a estas demo tapes e viu que também era o momento hora de investir no The Sound ao lado de Nick Robbins, atuando como empresário e financiando as gravações em estúdio para o primeiro EP - Physical World lançado em 1979. Logo em seguida a banda inicia uma pequena turnê para a divulgação do disco.

O primeiro LP veio em 1980 pelo pequeno selo Korova (o mesmo que debutou Echo and The Bunnymen): Jeopardy gravado com um investimento modesto e de cara foi bem recebido pelos semanários musicais que o equiparam a discos de bandas de primeiro escalão como Joy Division. Apesar das atmosferas oferecidas pelos teclados frios de Marshall, “Jeopardy” pode considerado um disco essencialmente punk, porém não é nenhum exagero dizer que apresenta um potencial radiofônico, vide as faixas como “Heartland”, “Heydey” (segundo single da banda) e “I Can't Escape Myself” que injustamente ainda permanecem praticamente anônimas.


Pouco tempo depois deste lançamento Bi Marshall deixa a banda e é substituída por Max Mayers. A mudança na formação não abalou em nada o Sound que logo entra em estúdio com o produtor Hugh Jones (que meses antes havia trabalhado com os Bunnymen no álbum Heaven Up Here) para gravar aquele que é o seu maior clássico e um item essencial para qualquer fã de pós-punk que se preze: From The Lion’s Mouth. Este disco possui, do inicio ao fim, composições impecáveis tecidas por uma sonoridade mais encorpada e climática. Logo em sua primeira faixa, o disco nos convida ao um desafio: mergulhar no clima turvo de suas músicas. Sua temática, embora com inclinação melancólica (por vezes furiosa), serve como uma reação ou alternativa aos problemas existenciais; "reaja ou se afunde" como é bem claro na faixa de abertura "Winning": "eu ia me afogar / então eu comecei a nadar / eu ia para baixo / então eu comecei vencer". Porém, há espaço aqueles que se viram vencidos aos próprios conflitos (que por ironia, o destino reservaria a Adrian o mesmo fim trágico): “Silent Air” é uma bela dedicatória à Ian Curtis. Como “Jeopardy”, o álbum foi muito aclamado pela crítica musical, mas tratado com indiferença pelo público.

Por este motivo começou a surgir uma certa pressão do selo Korova, que tinha expectativas que o Sound emplacasse algum hit ou que sucumbisse a um som mais acessível. Isso de fato nunca aconteceu e ao contrario do solicitado pela editora, eles voltaram a trabalhar com o produtor de Jeopardy (Nick Robbins). Por questões burocrática e tributarias, a banda foi transferida para a major WEA que ficou responsável pelo lançamento do terceiro álbum All Fall Down. Sem atender as exigências comerciais da gravadora, o álbum não recebe nenhum respaldo para sua divulgação. O rescisão com a WEA foi inevitável, forçando banda a cair num breve hiato, período em que aproveitam para repensar sua trajetória. Sondados por vários selos maiores, os rapazes acabam contratados pelo pequeno Statik.

Em paralelo a banda assina um contrato com a A&M que fica responsável pelo lançamento do EP Shock of Daylight nos EUA em 1984. No ano seguinte lançam “Heads and Hearts”, seu quarto álbum. Desiludidos pela industria fonográfica, em 1987 se despedem com o álbum Thunder Up”, editado pelo selo belga Play It Again Sam. É belo trabalho onde a banda consegue estabelecer uma sonoridade que pode ser considerada uma combinação de tudo que já haviam experimentado nos discos anteriores. Encerram a carreira em grande estilo. Títulos como “Prove Me Wrong” e “Kinetic” sugerem um tapa na cara dos grupos da atualidade que se gabam com seu preguiçoso “pós-punk-pastereurizado” que surpreendem apenas os ignorantes travestidos de descolados.

Após o fim do Sound, Bailey e Dudley abandonaram carreira musical e caem no ostracismo juntamente com Mayers, que morreu no começo da década de 1990 vítima de AIDS. Borland, por sua vez, continuou ativo no underground, gravando alguns álbuns por diversos selos, lançamentos os quais não devem ser ignorados de maneira alguma pelos antigos admiradores do Sound. O musico também atuou como produtor de bandas como Felt, Dole, Into Paradise, Red Harvest, Steve Lake, Cassell Webb e The Prudes.

Mesmo a meio a tantos compromissos, ele passava por uma fase conturbada marcada por crises de depressão potencializadas pelo alcoolismo. No dia 26 de abril de 1999, após outras tentativas de suicídio, Borland se atirou à frente de um trem na estação Winbledon em Londres. Um mês antes ele havia escrito uma carta para os seus fãs, onde mostrava muito entusiasmo com o álbum 700 Miles Of Desertt (do seu projeto White Rose Transmission) que estava em processo de gravação.

Foi uma perda irreparável, mas, como os grandes mestres, deixa uma extensa e rica discografia a ser apreciada por gerações.

ESQUELETOS
Há um buraco boquiabrindo no caminho em que nós estamos
Com mais nada a preenchê-lo
Sem carne sem sangue apenas osso quebrado
Uma moldura para pendurar nossas vidas
Estamos vivendo como esqueletos
Será que alguém acordará o morto em mim?
Será que alguém sacudirá minha poeira?
Dê-me água dê-me pão
Mas não me dê aos mortos
Estamos vivendo como esqueletos

(“Skeletons” - From The Lion’s Mouth).