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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

conversa informal - usp x maconha x polícia

Eis uma transcrição de uma conversa que tive esses dias com um amigo já que a moda de hoje é apontar culpados, se eleger os "mimados" da clásse média, prender traficantes que alimentam o bolso de policiais corruptos, crucificar comediantes, endeusar o feto de uma pseudo-celebridade e se esquecer de calamidades públicas mais urgentes como a aprovação em silêncio da Código Florestal Brasileiro, a orgia dos estádios para a Copa, a epidemia de crack e a ladroagem nos Ministérios etc...

William:
O que acha destes maconheiros de merda da USP fazendo protestinho?
Rod: Então, acho que há exagero de ambas as partes...
Penso que a polícia tem largar mão de tratar usuário como criminoso. Se fosse assim já teriam fechado até faculdades particulares que viraram antros de cerveja x cocaína x putaria...No entanto acho que há exagero dos estudantes que se travestiram de ativistas revolucionários. Acho que está tudo errado.
William: O que te acontece se a polícia te pegar fumando um baseado? Seja em qual lugar for.
Rod: Mas está errado. Isso por não poderia mais acontecer. Eu sou a favor da descriminalização da maconha.
William: O que aconteceu originalmente foi que a PM pegou uns três deles fumando maconha e os repreendeu. Dai houve uma reação de outros estudantes.
Rod: A legislação atual prevê punições distintas a usuário e traficante.
William: Certo, mas até que esta descriminalização ocorra, a PM tem um procedimento a seguir.
Rod: Acho que é a lei 11.343 se não me engano...A merda é a seguinte: a maconha está em mão de cartéis de traficantes e essa é a grandíssima merda.
William: Acredito que isso não justifica fazer o que estão fazendo. Veja bem, há lugar pra todos. Há estudantes na USP que são a favor da permanência da PM e fizeram até protesto a favor disso. Enquanto isso do outro lado o pessoal protestou e ficou no quebra quebra regado a maconha e bebida. Entende? Há esta desvalorização de atitude porque é uma revolta apenas.
Rod: Quanto merda acontece por uso de álcool desenfreado?
William: Estes mesmos revoltados se forem assaltados sem parar pelos marginais locais, eles vão fazer protesto porque a PM nunca passa por ali. A bola da vez agora é protestar porque estão ali atrapalhando o momento deles.
Rod: Acho que existe muito preconceito contra maconha...Muito, mas acho que há também um "glamour" exagerado de gente deslumbrada...E também uma hipocrisia enorme de quem acha que todo maconheiro é safado. Se esquece até dos benefícios medicinais que são obscurecidos pela industria farmaceutica. Pura hipocrisia. Eu acho que existe por trás desta história alguns interesses políticos que ainda não foram bem esclarecidos...O Estado, por exemplo, está louquinho pra privatizar a USP...Em compensação há forças de extrema esquerda instigando estes alunos e por isso acho que o buraco é mais em baixo. Tem nêgo que cheira pra caralho, bebe igual um gambá mata aos montes nas ruas e estradas e ninguém fala nada...
William: Eu sou a favor daquela marcha da maconha, por ex. Deveria existir a descriminalização, não discordo disso. Mas não desta maneira
que estão fazendo, não porque foram repreendidos fazendo uso em público. Eles devem amar quando a polícia invade uma favela e sai prendendo todo mundo, mas a polícia também não pode seguir o mesmo procedimento para impedir o uso em público.
Rod: Se a PM foi colocada lá pra zelar pela segurança não deveria ficar vigiando quem fuma ou quem deixa de fumar...Maconha e USP já fazem “parceria” há séculos...
William: Todos eles têm muito dinheiro. Porque não vão estudar lá em Harvard? Terão todos os direitos possíveis...
Rod: Acho que isso é chuva em copo d'água. Sabe que eu acho? Que com as redes sociais todo mundo virou dedo duro. Vigilantes da boa moral. No fundo isso é um tremendo dedo no cu...Estão errados sim de fazer baderna, mas policial tem que caçar traficantes e não usuários. O viciado já é um problema de saúde pública. Só legalizar e esclarecer que acaba com a boa parte da violência.
William: Agora falando sério cara...O motivo do protesto deveria ser a descriminalização da maconha e não a presença da PM lá. Porque se formos mesmo na raiz do protesto e levar ao pé da letra, então daqui a pouco estaremos protestando contra a presença da polícia nas ruas, em qualquer lugar.
Rod: A polícia está despreparada. E outra, esse protesto pela maconha já foi tida pelo Supremo como um movimento de liberdade de expressão, somente. Quando houve das primeiras vezes a polícia desceu a borracha porque é muito atrasada.
William: Porque quem estiver usando drogas, seja em qual lugar for, se barrado pela polícia, enfrentará problemas. O álcool é liberado, mesmo existindo penalidades que sejam acionadas somente nas consequencias do mesmo.
Rod: O supremo garantiu qualquer viés de liberdade de expressão e não de apologia. É constitucional. O que acho errado é que tem gente que fica mais pirada com álcool, mais do qualquer peguinha de maconha. Maconha deve ser liberada pra uso próprio e acho que cada um poderia ter sua plantinha em casa e não mais depender de bandido pra consumir. Se você proíbe cai em mão errada igual como ocorreu durante a lei seca dos EUA nos anos de 1930, a explosão de máfias e assassinatos, é o que aconteu na Colombia há 20 anos atrás e que acontece agora no México.
William: Mas do álcool não podem reclamar cara...Bebem há séculos lá na USP e ninguém nunca falou nada.
Rod: Lógico, mas estou dizendo dos efeitos, as consequencia pra saúde....Ai no Sul se confirmou que os jovens bebem cada dia mais cedo. E isso está relacionado ao uso de drogas mais pesadas não é a toa que ai também tem um dos maiores índices de consumo de crack e cocaína do País.
William: Claro...Cultura aqui de final de semana é a família em volta de uma churrasqueira com uma cerveja em volta.
Rod: Dizem que a maconha é porta de entrada pra outras drogas. Eu discordo. Eu acho que, por tudo isso, é o álcool...Consequentemente a porta de entrada é o “dealer”. Olha este vídeo do Jabor http://www.youtube.com/watch?v=t58nD6PrtAw&feature=related
William: É que infelizmente mais da metade da população não enxerga o álcool como droga. Eles só enxergam as drogas que levam o vendedor e o usuário para a cadeia.
Rod: Tem muitos documentários e pesquisas que confirmam que de fato existe um exagero muito grande...Preconceitos contra a maconha. Neste vídeo, ele resume bem o que eu penso.
William: Eu ouvi. Olha cara. Tem razão...
Rod: Pra mim, em dosagens pequenas, a maconha abre a mente se usada com coerencia...Você escapa deste mundo idiota e careta que exige que você fique sempre ligado numa realidade que te colocaram goela a baixo. Cocaína eu acho uma merda do caralho.
William: Mas violência e quebra quebra não se justifica. Vejo hipocrisia neste protesto justamente pelo que disse...Estes...São os primeiros a protestar contra a ausência da PM lá caso os bandidinhos voltem a barbarizar os estudantes.
Rod: Nada justifica a violência de ambas as partes. A falta de diálogo e informação carece muito. E a policia é uma instituição que é intolerante por natureza...Você está ligado os podres que tem dentro de uma corporação até mesmo tráfico. Alguns não sabem nem ler direito.
William: haha When Dreams Fall Apart?
Rod: Ainda vou ter meu sitio e meu pézin...

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Maconha, uma planta medicinal

A atual legislação do país sabota a pesquisa e impede a exploração assistida das baratíssimas propriedades medicinais da maconha

Houve época em que o uso de determinadas plantas medicinais era considerado bruxaria, e às almas das bruxas restava receber benevolente salvação nas fogueiras da Inquisição. Atualmente, o estigma que a maconha carrega faz, para muitos, soar como blasfêmia lembrar que se trata, provavelmente, da mais útil e bem estudada planta medicinal que existe.

Pior, no Brasil, se alguém quiser automedicar-se com essa planta, mesmo que seja para aliviar dores lancinantes ou náuseas insuportáveis, será considerado criminoso perante uma lei antiética, sustentada meramente por ignorância, moralismo e intolerância.

Apesar de sua milenar reputação medicinal ser inequivocamente respaldada pela ciência moderna, no Brasil, a maconha e seus derivados ainda são oficialmente considerados drogas ilícitas sem utilidade médica. Constrangedoramente, acaba de ser anunciado, na Europa e nos EUA, o lançamento comercial do extrato industrializado de maconha, o Sativex, da GW Pharma.

Enquanto isso, nossa legislação atrasada impede tanto o uso do extrato quanto o uso da planta in natura ou de seus princípios isolados.

Consequentemente, pessoas em grande sofrimento são privadas das mais de 20 propriedades medicinais comprovadas nessa planta.

Um vexame para o governo brasileiro, já que, em países como EUA, Canadá, Holanda e Israel, tais pessoas poderiam, tranquila e dignamente, aliviar seus sofrimentos com o uso da maconha e ver garantido seu direto de fazê-lo com o devido acompanhado médico.

Ingeridos ou inalados por meio de vaporizadores (que não queimam a planta), os princípios ativos da maconha podem levar ao alívio efetivo e imediato de náuseas e falta de apetite em pacientes sob tratamento quimioterápico, de espasmos musculares da esclerose múltipla e de diversas formas severas de dor -muitas vezes resistentes aos demais analgésicos.

Pesquisas recentes indicam também o potencial da maconha para o tratamento de doença de Huntington, do mal de Parkinson, de Alzheimer e de algumas formas de epilepsia e câncer. A redução da ansiedade e os efeitos positivos sobre o estado emocional são valiosas vantagens adicionais, que elevam sobremaneira a qualidade de vida dessas pessoas e, por conseguinte, seus prognósticos.

A maconha não serve para todos: há contraindicações e grupos de risco, como gestantes, jovens em crescimento e pessoas com tendência à esquizofrenia. Em menos de 10% das pessoas o uso descontrolado pode gerar dependência psicológica reversível. Mas, ponderados riscos e benefícios, para a grande maioria das pessoas, a maconha continua a ser remédio seguro.

A biotecnologia brasileira tem todas as condições para desenvolver variedades com diferentes proporções de princípios ativos, reduzindo efeitos colaterais e aumentando a eficácia das plantas (ou de seus extratos) para cada caso.

Indiferente, contudo, à ciência e à ética médica, a atual legislação brasileira sabota nossa pesquisa básica, clínica e biotecnológica nessa área de ponta e impede por completo a exploração assistida das preciosas e baratíssimas propriedades medicinais dessa planta.

É hora de virar esta página carcomida pelo obscurantismo e pelo desdém com o sofrimento humano, fazendo valer não apenas direitos fundamentais dos indivíduos mas também as próprias diretrizes da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, que, segundo o Ministério da Saúde, tem por objetivo: "garantir à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional".

Renato Malcher Lopes, neurobiólogo, mestre em biologia molecular e doutor em neurociências, é professor adjunto do departamento de fisiologia da Universidade de Brasília e coautor, com Sidarta Ribeiro, do livro "Maconha, Cérebro e Saúde".