sábado, 2 de outubro de 2010

o pecado e sacrifício do "Christian Death"

As vésperas de desembarcar pela primeira vez em SP no dia 23/10 com sua Necro Sexual Tour, Valor Kand nunca mediu palavras e esforços para justificar a sua tomada ao nome "Christian Death". Eis aqui uma rara entrevista cedida por ele à um fanzine francês chamado Noir Marine (n°4) após um concerto em Dingwalls, em Londres, no dia 10 de Setembro de 1985, onde explica a repentina "saída" de Rozz Williams da banda e a tentativa de continuar tocando como Sin and Sacrifice, que por fim não acabou acontecendo, gerando assim muitas polêmicas, brigas judiciais até mesmo a cisão entre os fãs mais extremistas.

Você pode explicar a saída de Rozz?
Muito simples: ele não queria mais fazer rock. Já no ano passado, para fazer a turnê européia foi necessário convencê-lo. Com efeito, Christian Death acabou em 1982 após a lançamento do (álbum) Only Theatre of Pain. Rozz dizia que não queria mais fazer rock, mas em 1983 eu decidi reformar o grupo e aquilo foi bom, nós efetivamente trabalhamos e rendeu alguns concertos, em seguida Rozz quis parar de compor rock. Ele sempre considerou-se sobretudo um poeta e quis se envolver numa música mais industrial, no estilo Throbbing Gristle. Ainda fizemos dois shows e ele deixou o grupo. Nós o convencemos de fazer um último disco e foi Ashes, que ele considerava como a melhor coisa que fez na sua vida. Ele recomeçou a acreditar, fizemos muitos concertos nos EUA, incluindo o último em Los Angeles no Roxy que foi excelente, mas depois disso Rozz declarou que o grupo tinha atingido seu ápice e que não queria mais continuar. Tentei convencê-lo porque eu tinha um grande desejo de ir a Europa; ele disse “talvez”, então organizamos uma série de shows e duas semanas antes de partir ele disse “não, não tenho energia nem inspiração para fazê-lo”. Dissemos-lhe que respeitávamos o seu ponto de vista, mas queríamos realmente fazer esta turnê e que se necessário faríamos sem ele. Ele não acreditou em mim e quando partimos ele lamentou amargamente. E é por isso que agora cospe acima de nós. Ele muito influenciável, encontrou pessoas que o persuadiram o não nos seguir; seguiu os seus conselhos, mas ele é realmente temperamental, depressivo. Antes ele gostava muito de Paris e Amsterdã, onde agendamos de tocar sem ele. Ele vingou-se telefonando para algumas pessoas para falar mal de nós…Penso que ele se reparará por isso. Nós tínhamos um contrato a cumprir, deveríamos viajar e promover Ashes. Se não tivéssemos partido teríamos perdido muito dinheiro. Ele, além de não perder nada ganha sem nada fazer.

Onde ele está agora, em Los Angeles?
Sim, faz o que bem entende por lá…Ele é muito influenciável, como uma criança. Penso que ele lamenta, ele não acreditou que o grupo poderia sobreviver sem ele e isto o irrita. Por todo lugar onde tocamos as pessoas gostaram, mas não quero que ele seja infeliz. Sofremos e trabalhamos muito para o Christian Death e não queríamos que fosse para o nada. Foram dois anos de nossas vidas.

Porque manter o nome Christian Death?

Porque é a nossa propriedade. Foi registrado legalmente há dois anos e representa David, Gitane, Rozz e eu. Por esse motivo, mesmo sem Rozz, há direito porque pertencemos ao grupo por muito tempo e sobretudo porque é conhecido internacionalmente, graças a Catastrophe Ballet, que co-escrevi com Rozz. Respeito o fato de que Rozz tenha criado este nome, é por isso que tentamos agora impor o nome Sin and Sacrifício; espero que seja o nome sob o qual sejamos reconhecidos em 1986 e que não tenha mais a necessidade de citar o outro como referência.

O que você acha se Rozz reformar o Christian Death?
Não o fará porque nos deixou claro que tinha se cansado da música. Mas o adoramos, para nós é ainda um amigo. De qualquer modo temos direitos iguais sobre as partes, dado que ele escreveu as letras e eu, a música.

Havia um concerto previsto em Paris…

Havia mesmo cinco datas previstas, mas foram canceladas por Vasco (manager francês) quando soube que Rozz não vinha. É realmente estúpido porque as pessoas teriam vindo aos concertos mesmo assim e também porque Ashes venderia mais. Não há nada de mais, supliquei para que Rozz viesse. Ele é o meu melhor amigo, fiquei chateado pela forma como ele deixou-se influenciar. Não podia tomar em carga todos os problemas psicológicos e materiais. Não sei explicar o quanto gosto dele e o respeito, mas ele agiu como uma criança. Sei que neste momento ele me odeia, mas crescerá, evoluirá e retornará comigo. Espero voltar fazer música com ele, é meu maior desejo. O conheci há muito tempo, no início do Christian Death quando eu era cantor de uma banda chamada Pompei 99 e sempre fazíamos shows juntos, depois disso eles ficaram populares com Only Theatre of Pain. Para mim não é difícil cantar e, com modéstia, escrever, pois eu sempre fui influenciado por Rozz, a quem admiro muito a liberdade de ser ele mesmo, de fazer qualquer coisa e ser indiferente aos outros.

E o contrato com L'nvitation au Suicide?
Terminou. O cara responsável por esse selo nunca pagou-nos nada pelo Ashes que vendeu 20.000 exemplares, nem a parte do adiantamento. Yann Farcy é ligeiramente ultrapassado, tem uma organização insuficiente no seu trabalho. Quebramos o contrato; ele continua frequentemente nos chamando, prometendo dar-nos o dinheiro quem nunca vem. Infelizmente para os nossos fãs franceses, será necessário comprar os nossos discos em importadoras.

Para terminar, quais são os seus projetos de discos?
O K7 Decomposition of Violets (ROIR) acaba de sair, foi registrado quando Rozz estava ainda na banda. Um EP com quatro faixas saiu na Itália, chama-se The Wind Kissed Pictures, e um disco chamado Atrocities sairá em janeiro de 86 nos EUA e na Alemanha.

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