"A noção de culpa, com todo o séquito das perturbações
que lhe são consequentes, agirá com os seus reflexos incessantes sobre a região
do corpo ou da alma que corresponda ao tema do remorso de que sejamos
portadores..."
Quando fugimos ao dever, precipitamo-nos no sentimento de
culpa, do qual se origina o remorso, com múltiplas manifestações, impondo-nos
brechas de sombra aos tecidos sutis da alma.
E o arrependimento, incessantemente fortalecido pelos
reflexos de nossa lembrança amarga, transforma-se num abscesso mental,
envenenando-nos, pouco a pouco, e expelindo, em torno, a corrente miasmática de
nossa vida íntima, intoxicando o hausto espiritual de quem nos desfruta o
convívio.
A feição do ímã, que possui campo magnético específico, toda
criatura traz consigo o halo ou aura de forças criativas ou destrutivas que lhe
marca a índole, no feixe de raios invisíveis que arroja de si mesma. É por esse
halo que estabelecemos as nossas ligações de natureza invisível nos domínios da
afinidade.
Operando a onda mental em regime de circuito, por ela
incorporamos, quando moralmente desalentados, os princípios corrosivos que
emanam de todas as Inteligências, encarnadas ou desencarnadas, que se entrosem
conosco no âmbito de nossa atividade e influência.
Projetando as energias dilacerantes de nosso próprio
desgosto, ante a culpa que adquirimos, quase sempre somos subitamente visitados
por silenciosa argumentação interior que nos converte o pesar, inicialmente
alimentado contra nós mesmos, em mágoa e irritação contra os outros.
É que os reflexos de nossa defecção, a torvelinharem junto
de nós, assimilam, de imediato, as indisposições alheias, carreando para a
acústica de nossa alma todas as mensagens inarticuladas de revolta e desânimo,
angústia e desespero que vagueiam na atmosfera psíquica em que respiramos,
metamorfoseando-nos em autênticos rebelados sociais, famintos de insulamento ou
de escândalo, nos quais possamos dar pasto à imaginação virulada pelas mórbidas
sensações de nossas próprias culpas.
É nesse estado negativo que, martelados pelas vibrações de
sentimentos e pensamentos doentios, atingimos o desequilíbrio parcial ou total
da harmonia orgânica, enredando corpo e alma nas teias da enfermidade, com a
mais complicada diagnose da patologia clássica.
A noção de culpa, com todo o séquito das perturbações que
lhe são consequentes, agirá com os seus reflexos incessantes sobre a região do
corpo ou da alma que corresponda ao tema do remorso de que sejamos portadores.
Toda deserção do dever a cumprir traz consigo o
arrependimento que, alentado no espírito, se faz acompanhar de resultantes
atrozes, exigindo, por vezes, demoradas existências de reaprendizado e restauração.
Cair em culpa demanda, por isso mesmo, humildade viva para o
reajustamento tão imediato quanto possível de nosso equilíbrio vibratório, se
não desejamos o ingresso inquietante na escola das longas reparações.
(...)
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