segunda-feira, 11 de abril de 2011

Grebo Rock: que porra é esta?

Entre tantos movimentos e estilos inventados pelos semanários ingleses New Musical Express, Sound e Malody Maker, o grebo rock ocupa o lugar entre os mais desconhecidos e menos lembrados. Para alguns foi tão nulo quanto o chamado positive punk (expressão que tentava amontoar alguns dissidentes mais “sombrios e místicos” do anarco-punk com outros entusiastas do “early-goth-batcave” ou mesmo gente que não tinha nada a ver com o assunto). De qualquer forma, essa categoria foi responsável (ou serviu de intermédio) para o aparecimento e a consolidação de outros gêneros que começaram a dar as caras no final dos anos de 1980 e início dos 90, como o lurch- um grunge com sotaque britânico que não chegou a decolar, mas foi bem representado, entre muitos outros, por nomes como Tabitha Zu, Sunshot, Homage Freaks e Daisy Chainsaw.

A origem deste fenômeno podia ser, em parte, uma resposta à ressaca causada pelo declínio da segunda geração gótica (bandas pós-Batcave, surgidas a partir da metade dos anos 1980), embora, musicalmente, o grebo ainda tomava para si algumas referências rítmicas vindas do inicio do pós-punk. O jornalista Mick Mercer apontou que no fim dos anos de 1980, o rock gótico tinha mudado significantemente e sua diluição deu origem, entre outras manifestações, ao próprio grebo.

O fato era realmente que cena alternativa da terra da Rainha passava por uma recessão e profundas transformações que tiveram inicio em 1985, ano em que a darkisse dava sinais de óbito, pois tudo que fora experimentado dentro daquele padrão estético parecia estar esgotado e a própria imprensa musical já não levava mais a sério quem insistia em percorrer a carreira pelas sombras. O grande templo do pós-punk, a Factory (em Manchester), já promovia suas festas regadas a ácido e new beat. Os goths moribundos que procuravam ouvir rock não tinham mais a Batcave como refugio. Houve uma eminente necessidade de inovar. Depois que o The Cult lançou o álbum Love (um trabalho em que se ousava falar de amor num período em que a ordem era enaltecer a autodestruição) abriu-se espaço para novos-velhos hippies como The Mission, All About Eve, Crazyhead, Balaam & The Angel e Gaye Biker on Acid que não viam nada de mais em arriscar a fazer mais barulho, agregando elementos do hard rock sem frescura, numa clara saudação a seus ídolos de duas décadas anteriores com direito a guitarras psicodélicas, cabelos compridos e outros adereços flower power que serviram de base e inspiração ao que estava por vir.

A aderência de muitas bandas às peculiaridades neo-psicodélicas (a retomada dos os ideais de paz e amor, mas sem a ingenuidade dos anos 60) foi uma forma de ir à contra mão e preencher um vazio, já que tudo que estava acontecendo no cenário musical ainda carregava os rastros fúteis da era new wave lembrada pelo uso exagerado de recursos eletrônicos, o que ainda era bastante visível nas programações das rádios e nas paradas de sucesso. A música sintetizada continuava a fazer a cabeça da primeira "geração MTV" que se via curvada à ditadura do mainstream por onde desfilavam caras novas inexpressivas que logo desapareciam em função do hype. Porém, há quem tirou proveito disso, pois o underground voltou a ser marginalizado e um espaço livre e fértil para quem ainda queria fazer um trabalho honesto. A partir do final dos anos de 1980 a ordem entre alguns outsiders era voltar a fazer rock de maneira crua, deixando o ar soturno de lado para se dedicar a canções, cujos acabamentos e os arranjos pouco importavam. Isto virou uma febre entre as bandas independentes que despontavam principalmente na costa meridional da Inglaterra.

As bandas mais influentes da cena foram o Pop Will Eat Itself (que tinham músicas temáticas como "Oh Grebo I Think I Love You" e "Grebo Guru"), The Wonder Stuff, Ned's Atomic Dustbin, Carter USM, Batfish (esta conhecida anteriormente como The Batfish Boys, formada depois que o vocalista Simon Denbigh deixou o March Violets), Blyth Power e as vindas da cidade Leicester como Crazyhead, The Bomb Party (umas das bandas mais chapadas que apareceram...), The Hunters Club, Scum Pups e Gaye Bykers on Acid. A banda londrina Medicine Factory (depois rebatizada de Stark) também foi uma das mais ativas nesta cena. O termo também serviu para descrever o Jesus Jones no inicio de carreira, mas a banda era muito “limpinha” se comparada à porra-louquice dos demais fanfarrões. Rejeitados, os rapazes acabaram por fim percorrendo caminhos mais comerciais (na linha EMF), alcançando um significante sucesso na Inglaterra, nos Estados Unidos e Brasil, onde se apresentou no festival Hollywood Rock de 1992. Entre tantos nomes o Zodiac Mindwarp & the Love Reaction foi considerado o papa da filosofia grebo, seja na atitude (esculhambado e beirando ao clichê do hard rock poser) quanto o som que era absolutamente agressivo e ensurdecedor, o que agradou muito os motoqueiros de plantão. Seu álbum Tattoed Messiah (1988) é considerado um clássico.

O estilo musical destas bandas era bem variado e sofria muita influencia de garage rock dos anos 60, pop, hip-hop, psychobilly, swamp blues (tipo Gun Club e The Scientists) e incursões eletrônicas (visto que no período a cultura rave estava ascensão e quase ninguém ficou imune a isso). Em resumo, os tais grebo rockers era um bando de anarquistas que cresceram ouvindo punk e se apoiaram, de forma freak e desleixada, na hora de criar uma sonoridade apunhalada e bastante receptiva às acepções do heavy metal ou do rock n’ roll mais direto, com letras bem humoradas de fundo místico-nacissista, em que o sexo e as viagens lisérgicas aparecem como única e final solution.

A moda grebo incluía dreadlocks (alguns não lavavam os longos cabelos para que estas tranças aparecessem naturalmente), cabeças raspadas (com rabo de cavalo), roupas largas, botas surradas, camisas xadrez (será que antecederam o que a moçada de Seatle tinha como marca registrada?), jeans desbotados, jaquetas de couro, adereços camuflados, chapéus estranhos e lenços de pescoço.

O movimento, embora breve, fez um razoável sucesso naquele período e influenciou muitas bandas que surgiram mais tarde e que foram responsáveis pela reformulação da música pesada ocorrida nos anos de 1990.

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