terça-feira, 26 de abril de 2011

Adrian Borland (6 December 1957 – 26 April 1999)

Há 12 anos atrás a cena alternativa perdia um dos seus maiores porta-vozes: Adrian Borland...Seu corpo se foi, mas a sua obra permeia, influenciando mesmo que timidamente aqueles músicos que fogem de alardes e se centram numa música sincera onde a simplicidade é a receita para um trabalho leal aos impulsos da alma...

Como a maioria dos jovens de sua geração, Adrian se curvou ao movimento punk e viu que este agito era um terreno fértil para extravasar suas angustias e talento. Em 1976 ele formou o The Outsiders, considerada por muitos, uma das bandas pioneiras do movimento – álbum Calling On Youth teria sido o primeiro LP punk a ser gravado e lançado por um selo próprio.

A banda esteve bastante ativa no circuito de Londres, chagando a tocar até em clubs lendários como Roxy. Num destes concertos, a banda recebeu a participação Iggy Pop que empolgado na platéia subiu ao palco quando interpretavam uma versão de "Raw Power" (The Stooges).

Em 1978 os Outsiders lançam mais um álbum, porém um ano depois Adrian decide a abandonar de vez o movimento punk. Inspirado pela saída de Howard Devoto dos Buzzcocks que partiu para formar o Magazine (uma das bandas pioneiras, ao lado do PIL, do nascente post-punk), Borland começou a prestar atenção nesta nova safra de bandas que mostravam novas possibilidades criativas já que parte do contingente punk da primeira geração permanecia musicalmente estagnado ou entregue as exigências mercadológicas da new wave...Ele decide então implodir o Outisiders, levando consigo o baixista Graham Bailey para formar o The Sound que se comprometeu a seguir um outro caminho apoiado numa sonoridade mais atmosférica e densa, propícia para as letras poéticas de Adrian que não se contentava mais em ser apenas um daqueles garotos que grunhiam criticas e protestos ingênuos de cunho político. O Sound tem seu line-up completo pela tecladista Bi Marshall e Michael Dudley (bateria).

Os primeiros ensaios e gravações da nova banda ocorreram na casa de Borland, tendo seu pai (Bob Borland) atuando como engenheiro de som. Este material raro (que por hora carrega o vigor punk dos velhos tempos do Outsiders) foi apresentado postumamente em 1999 com o titulo Propaganda. Já nos primeiros dias de existência já era possível perceber a evolução gradual do Sound que aos poucos deixava para trás suas melodias mais urgentes e cruas para ir de encontro sua própria identidade. Stephen Budd, do selo Tortch-R, que tinha lançado o projeto paralelo de “minimal wave” de Borland e Bailey (o Second Layer) teve acesso a estas demo tapes e viu que também era o momento hora de investir no The Sound ao lado de Nick Robbins, atuando como empresário e financiando as gravações em estúdio para o primeiro EP - Physical World lançado em 1979. Logo em seguida a banda inicia uma pequena turnê para a divulgação do disco.

O primeiro LP veio em 1980 pelo pequeno selo Korova (o mesmo que debutou Echo and The Bunnymen): Jeopardy gravado com um investimento modesto e de cara foi bem recebido pelos semanários musicais que o equiparam a discos de bandas de primeiro escalão como Joy Division. Apesar das atmosferas oferecidas pelos teclados frios de Marshall, “Jeopardy” pode considerado um disco essencialmente punk, porém não é nenhum exagero dizer que apresenta um potencial radiofônico, vide as faixas como “Heartland”, “Heydey” (segundo single da banda) e “I Can't Escape Myself” que injustamente ainda permanecem praticamente anônimas.


Pouco tempo depois deste lançamento Bi Marshall deixa a banda e é substituída por Max Mayers. A mudança na formação não abalou em nada o Sound que logo entra em estúdio com o produtor Hugh Jones (que meses antes havia trabalhado com os Bunnymen no álbum Heaven Up Here) para gravar aquele que é o seu maior clássico e um item essencial para qualquer fã de pós-punk que se preze: From The Lion’s Mouth. Este disco possui, do inicio ao fim, composições impecáveis tecidas por uma sonoridade mais encorpada e climática. Logo em sua primeira faixa, o disco nos convida ao um desafio: mergulhar no clima turvo de suas músicas. Sua temática, embora com inclinação melancólica (por vezes furiosa), serve como uma reação ou alternativa aos problemas existenciais; "reaja ou se afunde" como é bem claro na faixa de abertura "Winning": "eu ia me afogar / então eu comecei a nadar / eu ia para baixo / então eu comecei vencer". Porém, há espaço aqueles que se viram vencidos aos próprios conflitos (que por ironia, o destino reservaria a Adrian o mesmo fim trágico): “Silent Air” é uma bela dedicatória à Ian Curtis. Como “Jeopardy”, o álbum foi muito aclamado pela crítica musical, mas tratado com indiferença pelo público.

Por este motivo começou a surgir uma certa pressão do selo Korova, que tinha expectativas que o Sound emplacasse algum hit ou que sucumbisse a um som mais acessível. Isso de fato nunca aconteceu e ao contrario do solicitado pela editora, eles voltaram a trabalhar com o produtor de Jeopardy (Nick Robbins). Por questões burocrática e tributarias, a banda foi transferida para a major WEA que ficou responsável pelo lançamento do terceiro álbum All Fall Down. Sem atender as exigências comerciais da gravadora, o álbum não recebe nenhum respaldo para sua divulgação. O rescisão com a WEA foi inevitável, forçando banda a cair num breve hiato, período em que aproveitam para repensar sua trajetória. Sondados por vários selos maiores, os rapazes acabam contratados pelo pequeno Statik.

Em paralelo a banda assina um contrato com a A&M que fica responsável pelo lançamento do EP Shock of Daylight nos EUA em 1984. No ano seguinte lançam “Heads and Hearts”, seu quarto álbum. Desiludidos pela industria fonográfica, em 1987 se despedem com o álbum Thunder Up”, editado pelo selo belga Play It Again Sam. É belo trabalho onde a banda consegue estabelecer uma sonoridade que pode ser considerada uma combinação de tudo que já haviam experimentado nos discos anteriores. Encerram a carreira em grande estilo. Títulos como “Prove Me Wrong” e “Kinetic” sugerem um tapa na cara dos grupos da atualidade que se gabam com seu preguiçoso “pós-punk-pastereurizado” que surpreendem apenas os ignorantes travestidos de descolados.

Após o fim do Sound, Bailey e Dudley abandonaram carreira musical e caem no ostracismo juntamente com Mayers, que morreu no começo da década de 1990 vítima de AIDS. Borland, por sua vez, continuou ativo no underground, gravando alguns álbuns por diversos selos, lançamentos os quais não devem ser ignorados de maneira alguma pelos antigos admiradores do Sound. O musico também atuou como produtor de bandas como Felt, Dole, Into Paradise, Red Harvest, Steve Lake, Cassell Webb e The Prudes.

Mesmo a meio a tantos compromissos, ele passava por uma fase conturbada marcada por crises de depressão potencializadas pelo alcoolismo. No dia 26 de abril de 1999, após outras tentativas de suicídio, Borland se atirou à frente de um trem na estação Winbledon em Londres. Um mês antes ele havia escrito uma carta para os seus fãs, onde mostrava muito entusiasmo com o álbum 700 Miles Of Desertt (do seu projeto White Rose Transmission) que estava em processo de gravação.

Foi uma perda irreparável, mas, como os grandes mestres, deixa uma extensa e rica discografia a ser apreciada por gerações.

ESQUELETOS
Há um buraco boquiabrindo no caminho em que nós estamos
Com mais nada a preenchê-lo
Sem carne sem sangue apenas osso quebrado
Uma moldura para pendurar nossas vidas
Estamos vivendo como esqueletos
Será que alguém acordará o morto em mim?
Será que alguém sacudirá minha poeira?
Dê-me água dê-me pão
Mas não me dê aos mortos
Estamos vivendo como esqueletos

(“Skeletons” - From The Lion’s Mouth).

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Remembrance (Gotham Alternative Pub)

Inaugurado em fevereiro de 2001, o pequeno Gotham Alternative Pub (em Pinheiros) abrigou diversos projetos voltados ao som EBM, 80's, future pop, gothic tendencies etc..O espaço era bem agradável e intimista; dois andares com lounge, bar e uma pequena pista de dança, onde até Wayne Hussey (ex-The Mission) chegou a se apresentar como DJ. A casa iniciou suas atividades como "Te Gusta?" e durante seu funcionamento quem arquitetava boa parte de sua programação eram os DJ's Alex Twin (Individual Industry e 3 Cold Men) e Pherro. Umas das festas primordiais foi a "Gotham Fashion" que, devido a sua boa repercussão, acabou dando o nome definitivo ao local.

Aos domingos (esporadicamente, aos sábados) quem comandava as pick ups eram os DJ's e amigos de longa data Ricardo "Kova" Izidoro e Luiz Soncini (que hoje vive em Portugal). Residentes dos extintos clubs Morcegóvia, The The e Umbral, a dupla de veteranos (aliás trio, pois a colaboração da esposa de Luiz, Luciana Ribeiro, sempre foi fundamental) promoveu sub a marca da L&L Project importantes eventos da cena gótica de São Paulo no começos dos anos 2000, incluindo até um festival (1st The Arc of Descent Festival) que contou, além de bandas tupiniquins, com a atração internacional Absurd Minds (Alemanha). O L&L Project foi uma forma que estes parceiros encontraram para divulgar e expandir a "cultura gótica", seja através de suas festas, do zine periódico The Arc of Descent ou de seu catálogo repleto de compilações feitas em K7 ou CD-r.

No Gotham, eles apresentavam discotecagens temáticas que atendiam os mais variados gostos dentro da música obscura. As noites "The Spiritual Way" eram voltadas a bandas de ethereal, dark wave, synth pop, principalmente as que tinhas vocais femininos (as tais "heavly voices"). Já as "Shadowland" atraiam os fãs de vertentes mais pesadas como doom, goth metal, crossover...Isso só para citar uma parte de uma lista com pelo menos seis festas que eles organizavam mensalmente por lá. Obviamente os domingos em que rolavam "Remembrance" eram os meus prediletos, pois em sua programação desfilavam velharias e lados B do gothic rock, pós-punk, cold wave e EBM "old school". Em uma delas me surpreendi com o som de Gene Loves Jezebel (acho que foi o único lugar que escutei "Shaving My Neck" na pista), Danse Society, Virgin Prunes saindo dos amplificadores...Como a sua proposta saudosista era muito semelhante ao recém-criado Batzone, não demorou para que eu recebesse o convite para eu tocar como guest na edição seguinte (no dia 28/04/2002 - mais informações e download dos set lists num próximo post). Além desta gentileza sonora, era comum que nestas festas se distribuísse gratuitamente coletâneas em K7 para as primeiros dez pessoas que chegassem. Garimpando meu acervo de fitas achei duas do "Remembrance" cujos os sets em mp3 divido agora com vocês. Como os K7's Black Sundays, estes não apresentam nenhuma raridade, no entanto tratam-se de mais um daqueles aperitivos de clássicos que no mínimo desperta boas recordações daqueles que perambulavam pelo circuito alternativo paulistano até a metade da década retrasada. O Gotham fechou suas portas no dia 13 de outubro de 2002. Foi um fim prematuro, já que tinha de tudo para dar certo. O que nos resta é mesmo relembrar...

Nota 1: Numa das últimas edições do "Remembrance" foram distribuídas cinco cópias de um CD-R (com o subtítulo "Nights 1") que era na verdade um híbrido dos dois K7 citados com o acréscimo de alguns "bônus". Sendo assim, disponibilizei apenas estas faixas extras deste item (indicadas com asterisco em seu track list abaixo) já que seria redundante e desperdício de espaço no disco virtual montar uma pasta com quase os mesmos arquivos dos outros volumes. So, do it yourself.
Nota 2: Em cada pasta há a capa da fita/cd original e colorida digitalizada. Divirtam-se.

Obrigado ao Twin e Luiz que gentilmente me passaram algumas informações.

REMEMBRANCE VOL. 1

A 1. Cocteau Twins - Blind Dumb Deaf
A 2. This Mortal Coil - 16 Days (reprise)
A 3. Trisomie 21 - Relapse 2
A 4. Twilght Ritual - Closed Circuit
A 5. Death in June - Rose Clouds of Holocaust
A 6. Absolute Body Control - Is There an Exit?
B 1. Sex Gang Children - Sebatian
B 2. Virgin Prunes - Pagan Love Song
B 3. Gene Loves Jezebel - Shaving My Neck
B 4. Play Dead - The Tenent
B 5. Bauhaus - Boys
B 6. The Damned - Shadow of Love
B 7. Rosetta Stone - If Only and Sometimes
B 8. Christian Death - Deathwish (1992 Version)

*download it here*

REMEMBRANCE VOL. 2

A 1. Pink Industry - Pain of Pride
A 2. Vita Noctis - Hade
A 3. Cranes - Inescapable
A 4. Dead Can Dance - Avatar
A 5. Opera Multi Steel - Cathédrale
A 6. Mecano - Room for Two
A 7. Malaria - Keltes Klares Wasser
B 1. Gitane Demone - Incediary Lovers
B 2. Nosferatu - Inside The devil
B 3. Garden of Delight - Spirit Invocation
B 4. Paralysed Age - Dark
B 5. Asmond Bizarr - Remember Dorian
B 6. Red Lorry Yellow Lorry - Cut Down
B 7. The Sisters of Mercy - Poison Door

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REMEMBRANCE (NIGHTS 1)

1. Wolfsheim - Blind*
2. Cocteau Twins - Blind Dumb Deaf
3. Pink Industry - Pain of Pride
4. Dead Can Dance - Avatar
5. Siouxsie and The Banshees - Lunar Camel*
6. Malaria - Keltes Klares Wasserr
7. Mecano - Room for Two
8. Opera Multi Steel - Cathédrale
9. Trisomie 21 - Breaking Down*
10. Twilght Ritual - Closed Circuit
11. Clan of Xymosx- No Words*
12. Joy Division - Atmosphere*
13. Bauhaus - Boys
14. Sex Gang Children - Sebastianne
15. Virgin Prunes - Pagan Love Song
16. Gene Loves Jezebel - Shaving My Neck
17. The Damned - Shadow of Love
18. The Sisters of Mercy - Poison Door
19. Red Lorry Yellow Lorry - Cut Down
20. Christian Death - Deathwish (1992 Version)
21. Rosetta Stone - If Only and Sometimes

*download it here*

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Grebo Rock: que porra é esta?

Entre tantos movimentos e estilos inventados pelos semanários ingleses New Musical Express, Sound e Malody Maker, o grebo rock ocupa o lugar entre os mais desconhecidos e menos lembrados. Para alguns foi tão nulo quanto o chamado positive punk (expressão que tentava amontoar alguns dissidentes mais “sombrios e místicos” do anarco-punk com outros entusiastas do “early-goth-batcave” ou mesmo gente que não tinha nada a ver com o assunto). De qualquer forma, essa categoria foi responsável (ou serviu de intermédio) para o aparecimento e a consolidação de outros gêneros que começaram a dar as caras no final dos anos de 1980 e início dos 90, como o lurch- um grunge com sotaque britânico que não chegou a decolar, mas foi bem representado, entre muitos outros, por nomes como Tabitha Zu, Sunshot, Homage Freaks e Daisy Chainsaw.

A origem deste fenômeno podia ser, em parte, uma resposta à ressaca causada pelo declínio da segunda geração gótica (bandas pós-Batcave, surgidas a partir da metade dos anos 1980), embora, musicalmente, o grebo ainda tomava para si algumas referências rítmicas vindas do inicio do pós-punk. O jornalista Mick Mercer apontou que no fim dos anos de 1980, o rock gótico tinha mudado significantemente e sua diluição deu origem, entre outras manifestações, ao próprio grebo.

O fato era realmente que cena alternativa da terra da Rainha passava por uma recessão e profundas transformações que tiveram inicio em 1985, ano em que a darkisse dava sinais de óbito, pois tudo que fora experimentado dentro daquele padrão estético parecia estar esgotado e a própria imprensa musical já não levava mais a sério quem insistia em percorrer a carreira pelas sombras. O grande templo do pós-punk, a Factory (em Manchester), já promovia suas festas regadas a ácido e new beat. Os goths moribundos que procuravam ouvir rock não tinham mais a Batcave como refugio. Houve uma eminente necessidade de inovar. Depois que o The Cult lançou o álbum Love (um trabalho em que se ousava falar de amor num período em que a ordem era enaltecer a autodestruição) abriu-se espaço para novos-velhos hippies como The Mission, All About Eve, Crazyhead, Balaam & The Angel e Gaye Biker on Acid que não viam nada de mais em arriscar a fazer mais barulho, agregando elementos do hard rock sem frescura, numa clara saudação a seus ídolos de duas décadas anteriores com direito a guitarras psicodélicas, cabelos compridos e outros adereços flower power que serviram de base e inspiração ao que estava por vir.

A aderência de muitas bandas às peculiaridades neo-psicodélicas (a retomada dos os ideais de paz e amor, mas sem a ingenuidade dos anos 60) foi uma forma de ir à contra mão e preencher um vazio, já que tudo que estava acontecendo no cenário musical ainda carregava os rastros fúteis da era new wave lembrada pelo uso exagerado de recursos eletrônicos, o que ainda era bastante visível nas programações das rádios e nas paradas de sucesso. A música sintetizada continuava a fazer a cabeça da primeira "geração MTV" que se via curvada à ditadura do mainstream por onde desfilavam caras novas inexpressivas que logo desapareciam em função do hype. Porém, há quem tirou proveito disso, pois o underground voltou a ser marginalizado e um espaço livre e fértil para quem ainda queria fazer um trabalho honesto. A partir do final dos anos de 1980 a ordem entre alguns outsiders era voltar a fazer rock de maneira crua, deixando o ar soturno de lado para se dedicar a canções, cujos acabamentos e os arranjos pouco importavam. Isto virou uma febre entre as bandas independentes que despontavam principalmente na costa meridional da Inglaterra.

As bandas mais influentes da cena foram o Pop Will Eat Itself (que tinham músicas temáticas como "Oh Grebo I Think I Love You" e "Grebo Guru"), The Wonder Stuff, Ned's Atomic Dustbin, Carter USM, Batfish (esta conhecida anteriormente como The Batfish Boys, formada depois que o vocalista Simon Denbigh deixou o March Violets), Blyth Power e as vindas da cidade Leicester como Crazyhead, The Bomb Party (umas das bandas mais chapadas que apareceram...), The Hunters Club, Scum Pups e Gaye Bykers on Acid. A banda londrina Medicine Factory (depois rebatizada de Stark) também foi uma das mais ativas nesta cena. O termo também serviu para descrever o Jesus Jones no inicio de carreira, mas a banda era muito “limpinha” se comparada à porra-louquice dos demais fanfarrões. Rejeitados, os rapazes acabaram por fim percorrendo caminhos mais comerciais (na linha EMF), alcançando um significante sucesso na Inglaterra, nos Estados Unidos e Brasil, onde se apresentou no festival Hollywood Rock de 1992. Entre tantos nomes o Zodiac Mindwarp & the Love Reaction foi considerado o papa da filosofia grebo, seja na atitude (esculhambado e beirando ao clichê do hard rock poser) quanto o som que era absolutamente agressivo e ensurdecedor, o que agradou muito os motoqueiros de plantão. Seu álbum Tattoed Messiah (1988) é considerado um clássico.

O estilo musical destas bandas era bem variado e sofria muita influencia de garage rock dos anos 60, pop, hip-hop, psychobilly, swamp blues (tipo Gun Club e The Scientists) e incursões eletrônicas (visto que no período a cultura rave estava ascensão e quase ninguém ficou imune a isso). Em resumo, os tais grebo rockers era um bando de anarquistas que cresceram ouvindo punk e se apoiaram, de forma freak e desleixada, na hora de criar uma sonoridade apunhalada e bastante receptiva às acepções do heavy metal ou do rock n’ roll mais direto, com letras bem humoradas de fundo místico-nacissista, em que o sexo e as viagens lisérgicas aparecem como única e final solution.

A moda grebo incluía dreadlocks (alguns não lavavam os longos cabelos para que estas tranças aparecessem naturalmente), cabeças raspadas (com rabo de cavalo), roupas largas, botas surradas, camisas xadrez (será que antecederam o que a moçada de Seatle tinha como marca registrada?), jeans desbotados, jaquetas de couro, adereços camuflados, chapéus estranhos e lenços de pescoço.

O movimento, embora breve, fez um razoável sucesso naquele período e influenciou muitas bandas que surgiram mais tarde e que foram responsáveis pela reformulação da música pesada ocorrida nos anos de 1990.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Vítima do Dualismo (Augusto dos Anjos)


Ser miserável dentre os miseráveis
- Carrego em minhas células sombrias
Antagonismos irreconciliáveis
E as mais opostas idiosincrasias!

Muito mais cedo do que o imagináveis
Eis-vos, minha alma, enfim, dada às bravias
Cóleras dos dualismos implacáveis
E à gula negra das antinomias!

Psique biforme, O Céu e o Inferno absorvo...
Criação a um tempo escura e cor-de-rosa,
Feita dos mais variáveis elementos,

Ceva-se em minha carne, como um corvo,
A simultaneidade ultramonstruosa
De todos os contrastes famulentos!

sexta-feira, 1 de abril de 2011

13-34

Há 13 anos atrás Rozz deixava este mundo (mas será que em algum momento faz de fato parte dele?)...Eu iria preparar uma homenagem mais longa, mas em breve postarei uma caprichada matéria sobre um dos seus projetos prediletos (e meu também): Premature Ejaculation....Segue a tradução livre de "A World Apart", uma das mais belas e emotivas composições do artista, gravada em 1995 com Gitane Demone para o álbum Dream Home Heartache, que dispensa comentários...

"Um Mundo Em Pedaços"

Como posso adormecer tranquilo num coração enfraquecido
Pelas consequencias da incompreensão?
As vezes me reprimo por engano
Horas passam intensamente pela chama do ódio humano
Um rio de desejo turvo, agora mais nítido
Alguns homens olham para dentro de suas almas,
Para dentro dos ventos fugazes de um novo dia,
Alguns homens olham para dentro dos seus corações,
Para dentro do abandono completo, cheio de ecos, de sonhos,
Mundo dentro de um mundo
Um mundo em pedaços, um mundo dentro de um mundo
Você sabe como eu sinto, tão inexperiente, embora feliz desta maneira
E a propósito, nós temos tudo a nossa volta, imagens enforcadas de nós mesmos
O que importa se partimos agora?
Alguns homens o olham para dentro de suas mentes,
Para dentro da morte do amor e do além
Alguns homens olham para dentro da escuridão,
Sem lamento, nada encontram Um mundo dentro de um mundo, um mundo em pedaços
Um mundo dentro de um mundo, a vida é breve, confusa, mesmo quando falamos
Eu me deito ferido, continuo nos mundos dentro de um mundo
Embora sejamos mundos em pedaços