terça-feira, 12 de janeiro de 2010
prece da desistência
Ele acordava como se estivesse tido apenas um piscar rápido. O dia exaustivo, tantas palavras jogadas fora. Imagens vulgares e sem sentido. O útero lembra a noite, por isso repousava de olhos abertos, tentando desenhar nas paredes ásperas algumas imagens ou palavras novas como fazia na infância. Evocar personagens que ele sempre quis ter como companhia. Sabia de outros tempos que toda alegria de fato é muito triste, pois deixa marcas de profundas de caricias abstratas. Dormir era um fato estranho, uma calma plena quase blasfêmica pois não conseguiria entender como tantos tem um privilegio penoso de gozar de uma escuridão profunda quando jogados subitamente aos braços da morte. Um quarto um reduto, um bunker de imaginações complexas, cúmplice de pecados, segredos eternos. A raiva de si, de uma condição amarga causada por erros empoeiradas ao nada. Como era estranho sentir liberdade em quatro paredes. Mas era um conforto, pois olhar os seus rabiscos era como reafirmar sua própria fidelidade. Era criar a partir de si seu melhor companheiro - que estaria ali representando seu vazio, a feiúra cativa e fielmente amada. Uma voz que acompanha há anos, parecia inofensiva, parecia ser uma ferida invisível sob a pele. Era um câncer de mágoas, doenças suspensas em sua real incapacidade continuar - aqui são as marcas do carrasco se transformando em vítima (pus em sua garganta). O eterno descanso se aproxima, feche a porta e peça para que ele nunca mais volte.
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