quinta-feira, 25 de junho de 2009

mais presentes e suas notas


Esses eu ganhei do Gheirart. Merciiii!

O Homem revoltado (Albert Camus)

Quando foi publicado pela primeira vez em 1951, O Homem Revoltado valeu a Albert Camus um verdadeiro linchamento promovido por intelectuais franceses encabeçado pelo romancista e filósofo Jean-Paul Sartre. O ataque de Camus aos crimes perpetrados em nome da revolta repercutiu mal, e ele ainda foi acusado de defender a liberdade de forma simplista, privilegiando a questão individual. Foi assim que, por várias décadas, a complexidade de seu pensamento foi reduzida a uma tese de direita.
Stálin ainda vivia, muita ente começava a se desentender com o Partido Comunista, mas apesar disso Camus não podia ser perdoado ao criticar igualmente a violência e o totalitarismo de direita e esquerda. Não podia aceitar a crítica tão forte contra as prisões e os assassinatos perpetrados em nome da revolução. O novo humanismo de Camus – talvez por vezes contraditório, mas certamente sincero – era repudiado radicalmente.
A amargura do consagrado autor de O Estrangeiro e A Peste foi canalizada então em 1956 com A Queda, romance-monólogo de impressionante expressividade e força. No ano seguinte, Camus era reconhecido pela Academia Sueca e recebia o Nobel de Literatura. Ainda assim, suas idéias na chegaram a ser “reabilitadas” pelo que as atacaram. Livro ambicioso que é talvez um dos mais enfáticos e apaixonados libelos antiautoritários já escritos, O Homem Revoltado continuou sendo tratado com frieza e acomodação que critica tão veemente.
Mais de 50 anos depois de sua primeira publicação, com as disputas ideológicas e o questionamento existenciais da humanidade radicalmente deslocados de seus eixos, o livro adquire uma dimensão especial. Não é possível mais ignorar crimes contra a humanidade sejam quais forem seus pretextos revolucionários,
A revolta não desculpa tudo. É assim que o humanismo proposto por Camus revela-se fundamental para aqueles que preferem defender os seres humanos antes de defender sistemas teóricos abstratos. E é por isso e muito mais que O Homem Revoltado é um dos livros mais importantes do século.
(João Domenech Oneto)

trecho:

“Há crimes de paixão e crimes de lógica. O código penal distingue um do outro, bastante comodamente, pela premeditação. Estamos na época da premeditação e do crime perfeito. Nossos criminosos não são mais aquelas crianças desarmadas que invocam a desculpa do amor. São, ao contrário, adultos, e seu álibi é irrefutável; a filosofia pode servir para tudo, até mesmo para transformar assassinos em juízes”.

“A História do Diabo” (Vilém Flusser)

Parodiando textos sagrados, Vilém Fusser faz neste livro um longo elogio do Diabo, príncipe tão glorioso que a tantos entusiasmou no decorrer da história humana, em louvor do tantos enfrentaram as chamas” com dedicação ardente. Procura suspender os nossos preconceitos a respeito do Diabo para tentar conhecer esse personagem que identificará com a própria História: É possível a afirmativa de que o tempo começou com o Diabo, que o seu surgir ou a sua queda representam o início do drama do tempo, e que diabo e história sejam dois aspectos do mesmo processo.
Chama de “influência divina” tudo o que procure superar ou negar o tempo, o chama de “influência diabólica” tudo o que procure preservar o mundo do tempo. Concebe o divino como aquilo que age dentro do mundo para dissolvê-lo e transformá-lo em puro Ser, logo, em intemporalidade. Por oposição, concebe o diabólico como aquilo que age dentro do mundo para preservá-lo, evitando que seja dissolvido. Do ponto de vista de Deus, o divino é o criador enquanto o diabólico é o aniquilador – nas do ponto de vista do homem no mundo o Diabo é o princípio conservador e Deus é o princípio destruidor. Cabe ao diabo manter o mundo no tempo, o que nos força a simpatizarmos com ele: reconhecemos no Diabo espírito semelhante ao nosso, e talvez tão infeliz quanto o nosso.
(Gustavo Bernardo)


trecho:

(Capítulo “A Luxúria’ – O Amor ao Ler e ao Escrever).

"3.8.2 É da própria essência do pecado afundar a mente numa torrente de desejos que aumentam à medida que estão sendo satisfeitos. Quanto mais bebe, tanto mais sedenta é a mente pecaminosa. Cada copo que traz aos lábios conta mais uma gosta daquele veneno que lhe aumenta a sede. Atrás de toda amante que abraça Don Juan, estende-se a fileira infinita e sempre crescente de amantes a serem abraçadas. Na boca que beija sente ainda o gosto dos lábios já beijados, mas já está pressentindo o gosto das bocas que estão lá, prontas a serem beijadas. É verdade que toda amante representa um desafio diferente. Cada uma exige uma tática diferente para ser conquistada. Mas de que adianta essa conquista? Serve somente de degrau para a conquista seguinte. Considerações frias e racionais como esta não ajudam, no entanto, ao inebriado a superar a sua sede. São existencialmente improdutivas. Ele se precipita, com ela ou sem elas, sempre mais fundo para dentro do seu pecado."

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