(...) Nenhuma das objeções feitas ao pessimismo podem manter-se de pé diante da simples e antiqüíssima verificação da predominância das dores sobre os prazeres, na vida terrestre.
Essa predominância é, ai de mim, inegável!
Evidencia-se, primeiramente, para todos os homens um pouco
elevados!
Seus prazeres, exceções feitas, não são completos,
ressentem-se eles da limitação de realizar suas esperanças, bem como a de
atingir plenamente seus ideais.
Por outro lado, sua sensibilidade muito desenvolvida
multiplica-se as ocasiões dolorosas, e a própria dor e o instinto – ou a
consciência da universal solidariedade – obrigam-nos a se ressentirem de todas
as misérias, injustiças e sofrimentos, próximos ou afastados.
Para os medíocres, que constituem a massa da humanidade, as
conclusões pessimistas são menos evidentes. A existência terrestre com
freqüência parece oferecer-lhes um grau satisfatório de felicidade, uma vez que
suas faculdades físicas e psíquicas, sua elevação moral e sua sensibilidade são
adequadas às condições vitais ambientes.
Indubitavelmente, essas criaturas não são passiveis de
experimentar dessas grandiosas sensações de emotividade sublimada, que elevam o
ser esclarecido a um plano superior ao das realidades banais; vêem-se eles
abraçados por uma multidão de pequeninas satisfações, infinitamente mais
freqüentes e, para eles, plenamente satisfatórias.
Se não evitam o mal, permanecem, de um modo geral,
inacessíveis ou pouco sensíveis a numerosos motivos de sofrimentos que,
incessantemente, afetam os mais bem dotados seres.
Apesar de tudo, parece, de fato, que, mesmo em relação aos
homens medíocres, a soma de sofrimento equilibra-se com a dos prazeres.
Prova acessória, mas nem por isso pouco interessante, de que
a vida terrena confere satisfações reais, está na utilização perpetua e no
abuso que, em todos os tempos e lugares, a humanidade faz dos narcóticos.
(...)
(trecho do livro “O Ser Subconsciente” – Gustave Geley)
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