quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Happy Birthday Rozz!


Assim que resolvemos fazer a revista “Invocations of Rozz Williams”, pedimos para que alguns amigos participarem do seu editorial, escrevendo um depoimento ou impressões sobre o artista. Este foi escrito pelo meu irmão que ainda serve como uma bela homenagem...

Quando os editores desta publicação me pediram para escrever um texto “depoimento” sobre Rozz Williams fiquei lisonjeado, porém, preocupado com a forma que teria um texto como este e como representaria por meio de palavras certas, toda identificação que tenho com o trabalho de Rozz. Decidi, então, tomar liberdade da escrita, sem tantos padrões ou até mesmo linearidade. E foi o que fiz.

O que me fascinava em Rozz Williams era sua autenticidade e capacidade de criação; como conseguia exteriorizar tantos sentimentos em relação ao nosso mundo de formas tão diferentes. A sua postura era muito natural e o impacto que causava suas atitudes era simplesmente uma conseqüência.


Foi muito grande a diversidade de idéias de Rozz Williams. Incrível como pode trabalhar com tantas possibilidades da música, seja no seu lado mais punk, “glam”, death-rock, elementos clássicos ou experimentais. Sua arte era evidente nos momentos em que recitava poesias em “Every Kind A Bartard Soon” e “The Whorses Mouth” ; em suas performances com EXP ou Premature Ejaculation, Heltir , etc.; no  cinema em “PIG” e até mesmo em suas “colagens” que serviram como capas para alguns de seus álbuns. Desse modo, desponta um artista completo na figura de Rozz Williams.


As músicas de Rozz não foram simplesmente músicas. Foram gritos de desespero frente aos problemas mundanos e do próprio inconsciente do ser; gritos também de manifesto a falsidade das instituições religiosas, como em “Only Theatre of Pain”, época em que Rozz praticamente iniciava sua respeitável carreira.

O que é tão surpreendente é a “aparente” tranqüilidade de Rozz em “Dream for a Heartache” de Rozz e Gitane Demone e “From the Heart” do Shadow Project, opondo-se totalmente aos seus trabalhos experimentais. O projeto Premature Ejaculation, por exemplo, é uma verdadeira viagem à um mundo agônico e atormentador. Um mundo, creio eu, que se encarado de maneira extremamente séria, torna-se atraente à nossa própria morte. As várias mudanças musicais e estéticas sempre fizeram parte do trabalho de Rozz, no entanto, sua essência era permanente e sempre esteve viva - a vida estava em sua arte.

Em uma ocasião, meu querido irmão Rodrigo disse-me uma coisa que deixou-me pensativo e que estou de acordo. Na sua opinião, Rozz cantava como se fosse Cristo, porém Cristo já morto. A imagem que Rozz nos deixou parecia-me de angústia e tristeza quase que constantes, principalmente nos momentos em que as “lágrimas negras” escorriam de seus olhos, dando sinal de que Rozz chorou seu sonho x realidade, assim como Cristo “chorou” pela salvação dos pecadores.

Na realidade, a arte de Rozz atenta meus olhos e mente para algumas questões que nos rodeiam. Suas “spoken words” são perfurações no corpo que não causam dor, mas sim arrepios, dando-me uma sensação de leveza, melancolia e prazer.

Entristece-me reconhecer que o dia da mentira do ano de 1998 não passou de uma verdade. Foi um dia que não fez jus ao nome. Tento achar uma explicação para o desligamento de Rozz deste mundo, mas não há uma clara resposta. Será que sua morte ocorreu devido ao fato de viver em um lugar que passou a limitar suas formas de expressão, já que muito havia sido feito em vida? Quisera ele encontrar um espaço em que se enquadrasse as idéias não pertinentes a este mundo? Anseio que Rozz esteja agora, neste exato tempo, num mundo único, só seu. A arte não morre, nem mesmo a de Rozz Williams, apenas o corpo se foi; sua arte é minha triste história favorita que não será esquecida.
(André de Araújo)

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