quarta-feira, 30 de junho de 2010
That's Entertainment
Um carro de policia com uma sirene barulhenta
Uma britadeira pneumática rasgando o concreto
Um bebê chorando e o uivo de um vira-lata
O barulho dos freios e as lâmpadas de um poste piscando
Isso é entretenimento
O vidro sendo esmagado e as passadas de uma bota
Um trem elétrico e a destruição de uma cabine telefônica
Os muros pichados e o choro de um gato
Um blackout e bolas sendo chutadas
Isso é entretenimento
Dias rápidos e as segundas feiras lentas
O mijo descendo com a chuva e as quartas feiras tristes
Assistir ás noticias e não tomar seu chá
Um apartamento frio e a umidade das paredes
Isso é entretenimento
Acorda às seis da manha em uma manha fria
Abrir a janela e respira poluição
Uma banda amadora ensaiando num terreno próximo
Assistir a televisão pensando nos seus feriados
Isso é entretenimento
Acorda de um pesadelo e fumar uns cigarros
Acariciar uma garota e sentir seu perfume amanhecido
Dias quentes de verão e o asfalto preto grudento
Alimentar patos no parque e deseja esta longe da li
Isso e entretenimento
Dois amantes se beijam perto da meia-noite
Dois amantes perdendo a tranquilidade da solidão
Pegar um táxi e viajar de ônibus
Ler os grafites sobre negócios escrito nas cadeiras
Isso e entretenimento.
(The Jam)
quinta-feira, 24 de junho de 2010
sexta-feira, 11 de junho de 2010
do "Livro do Desassossego" (Fernando Pessoa)
E assim sou, fútil e sensível, capaz de impulsos violentos e absorventes, maus e bons, nobres e vis, mas nunca de um sentimento que subsista, nunca de uma emoção que continue, e entre para a substância da alma. Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância – irmãos siameses que não estão pegados.
quinta-feira, 10 de junho de 2010
SSSP
Em São Paulo, você não sabe se desvia de buracos ou de pessoas.
Nestas calçadas relicham vozes, cambaleios...Cantos que coagulam vestígios...
Papeis e bugigangas estendidas como tapetes, são meras provocações (eles querem de te roubar ou te vender?).
Comunicações móveis em coletivos te expõem involuntariamente em histórias paralelas que não te interessam. Terá um dia uma empresa que venda privacidade? Somos uma platéia enfileirada, seja onde for...Uma tosse feia que ecoa em outros pulmões, uma música de mau gosto denuncia os carentes deslumbrados pela cidade...
Lapso concreto das marchas solitárias...arrastadas das cores caqui e dos obesos conformados.
Olhos do céu se fechando...Uma lua que ainda grita, o diabo caolho...Escuridão dos sentidos...Um corpo empacotado, uma história pro dia seguinte...
Um “deus te abençoe” é um desejo de azar das infelizes e o pretexto ridículo dos que acham que prosperam.
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